Degradação social e ambiental - condição ou questão de atitude?
* Por Maurício Novaes Souza e Maria Angélica Alves da Silva
Dados revelados pelo relatório da ONU "Previsões sobre a População Mundial 2006", afirma que a população mundial aumentará 37,3% até 2050, passando dos atuais 6,7 bilhões de habitantes para 9,2 bilhões. Este aumento será absorvido, na sua maioria, pelos países em desenvolvimento, como o Brasil. Em outro artigo publicado pela Folha Online, discutiu-se o dano ambiental que ações de países desenvolvidos causaram aos países em desenvolvimento, como o consumo e a destruição de recursos da natureza entre as décadas de 1960 e 1990 deverão impor ao longo do século XXI uma perda de US$ 7,4 trilhões da economia de países de renda per capita baixa e média.
Há de se considerar ainda, como agravante, os efeitos das mudanças climáticas. Os custos ambientais de atividades humanas ligadas ao aquecimento global, destruição da camada de ozônio, urbanização sem planejamento e saneamento, expansão da agricultura, desmatamento, pesca predatória e danos aos ecossistemas aquáticos. O estudo aponta ainda um novo número do prejuízo que o dano ambiental no período estudado causará à humanidade: US$ 47 trilhões. Prevê-se que os impactos sócio-ambientais serão inestimáveis.
Perguntam-se de que forma, quando e quanto o Brasil poderá ser afetado. Segundo dados do IBGE (2006), cerca de 14 milhões de pessoas convivem com a fome em nosso país e mais de 72 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar - ou seja, dois em cada cinco brasileiros não têm garantia de acesso à alimentação em quantidade, qualidade e regularidade suficiente. Uma recente reportagem da Rede Record apresentou matérias, resumidas a seguir, que nos faz refletir sobre a situação brasileira:
1) A reportagem mostra centenas de iates no município de Angra dos Reis e Paraty, RJ, com valores que variam entre 1 e 30 milhões de reais. As refeições, sempre sofisticadas, é pedida por rádio aos donos de restaurantes que fazem a entrega no iate do cliente....;
2) D. Mônica, uma senhora de aproximadamente 60 anos, com 2 netos; e D. Angélica, mãe de 5 filhos e marido desempregado, moradora de uma localidade distante 50 km do CEASA, faz esse percurso 2 vezes por semana, catam restos da feira para sobreviverem. Sabe-se que de 20 a 40% das 5.000 toneladas comercializadas diariamente são lançadas ao lixo......;
3) Em algumas regiões do Nordeste não existe água sequer para o consumo humano. As criações morrem de sede e fome, e as plantações são totalmente perdidas. Alguns se servem de açudes praticamente secos, e compartilham a água com animais. Já na grande São Paulo e no interior de Minas Gerais, enchentes nas áreas urbanas levam a população pobre a perderem seus limitados pertences; e nas áreas rurais os produtores perderam suas culturas por excesso de chuva..........
O que se verifica nessas matérias é que esses cenários representam a degradação social e ambiental: a riqueza e a miséria. Considere-se que comentamos sobre um país rico em recursos naturais como o Brasil. Dessa forma, percebe-se que apesar do “progresso”, da maior conscientização das pessoas e da pesquisa ter evoluído de forma significativa nos últimos tempos, os problemas sociais e ambientais vêm se agravando de forma considerável. Esse fato se deve ao individualismo de atitudes que o modelo de desenvolvimento e produção gerou.
Recentemente, em um artigo de minha autoria sobre o Perfil que deveria ter o profissional hoje formado pelas universidades, faculdades, centros técnicos e tecnológicos, questionei se eles estão efetivamente recebendo informações suficientes sobre educação e gestão ambiental: infelizmente, percebe-se que a maioria não. Na verdade, apesar dos problemas ambientais provenientes do descuido humano ser complexo, as soluções existem, e estão relacionadas ao cuidado. Segundo Leonardo Boff, cuidar representa uma atitude de ocupação, de preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.
Contudo, a efetivação do cuidado, tem sido de difícil entendimento e aplicação. As pessoas têm apresentado um comportamento individualista. O grande desafio para se atingir o Desenvolvimento Sustentável consiste em aprender a combinar trabalho com cuidado. O momento é de evitar e reduzir os impactos ambientais. Essas atitudes devem ser praticadas como se fosse uma religião, fortemente fundamentada por princípios éticos. A nova ética proposta deseja o equilíbrio da comunidade com a natureza, visa harmonia, respeito e reverência. Comportamento ético, portanto, é a responsabilidade com o mundo, fundamentado na solidariedade e na compaixão com o outro.
Nas últimas três décadas o homem consumiu um terço dos recursos da Terra. Mantendo-se os padrões atuais de uso e degradação, muito pouco há de restar até o fim do século XXI. Contudo, há de se considerar, que o homem com a sua inteligência e sua habilidade, possui também capacidade suficiente para solucionar os problemas que ele mesmo criou, gerando soluções e aplicando novos conceitos, onde devem ser consideradas uma melhor distribuição de renda e a redução das desigualdades sócio-ambientais.
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutorando em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do CEFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.
* Por Maurício Novaes Souza e Maria Angélica Alves da Silva
Dados revelados pelo relatório da ONU "Previsões sobre a População Mundial 2006", afirma que a população mundial aumentará 37,3% até 2050, passando dos atuais 6,7 bilhões de habitantes para 9,2 bilhões. Este aumento será absorvido, na sua maioria, pelos países em desenvolvimento, como o Brasil. Em outro artigo publicado pela Folha Online, discutiu-se o dano ambiental que ações de países desenvolvidos causaram aos países em desenvolvimento, como o consumo e a destruição de recursos da natureza entre as décadas de 1960 e 1990 deverão impor ao longo do século XXI uma perda de US$ 7,4 trilhões da economia de países de renda per capita baixa e média.
Há de se considerar ainda, como agravante, os efeitos das mudanças climáticas. Os custos ambientais de atividades humanas ligadas ao aquecimento global, destruição da camada de ozônio, urbanização sem planejamento e saneamento, expansão da agricultura, desmatamento, pesca predatória e danos aos ecossistemas aquáticos. O estudo aponta ainda um novo número do prejuízo que o dano ambiental no período estudado causará à humanidade: US$ 47 trilhões. Prevê-se que os impactos sócio-ambientais serão inestimáveis.
Perguntam-se de que forma, quando e quanto o Brasil poderá ser afetado. Segundo dados do IBGE (2006), cerca de 14 milhões de pessoas convivem com a fome em nosso país e mais de 72 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar - ou seja, dois em cada cinco brasileiros não têm garantia de acesso à alimentação em quantidade, qualidade e regularidade suficiente. Uma recente reportagem da Rede Record apresentou matérias, resumidas a seguir, que nos faz refletir sobre a situação brasileira:
1) A reportagem mostra centenas de iates no município de Angra dos Reis e Paraty, RJ, com valores que variam entre 1 e 30 milhões de reais. As refeições, sempre sofisticadas, é pedida por rádio aos donos de restaurantes que fazem a entrega no iate do cliente....;
2) D. Mônica, uma senhora de aproximadamente 60 anos, com 2 netos; e D. Angélica, mãe de 5 filhos e marido desempregado, moradora de uma localidade distante 50 km do CEASA, faz esse percurso 2 vezes por semana, catam restos da feira para sobreviverem. Sabe-se que de 20 a 40% das 5.000 toneladas comercializadas diariamente são lançadas ao lixo......;
3) Em algumas regiões do Nordeste não existe água sequer para o consumo humano. As criações morrem de sede e fome, e as plantações são totalmente perdidas. Alguns se servem de açudes praticamente secos, e compartilham a água com animais. Já na grande São Paulo e no interior de Minas Gerais, enchentes nas áreas urbanas levam a população pobre a perderem seus limitados pertences; e nas áreas rurais os produtores perderam suas culturas por excesso de chuva..........
O que se verifica nessas matérias é que esses cenários representam a degradação social e ambiental: a riqueza e a miséria. Considere-se que comentamos sobre um país rico em recursos naturais como o Brasil. Dessa forma, percebe-se que apesar do “progresso”, da maior conscientização das pessoas e da pesquisa ter evoluído de forma significativa nos últimos tempos, os problemas sociais e ambientais vêm se agravando de forma considerável. Esse fato se deve ao individualismo de atitudes que o modelo de desenvolvimento e produção gerou.
Recentemente, em um artigo de minha autoria sobre o Perfil que deveria ter o profissional hoje formado pelas universidades, faculdades, centros técnicos e tecnológicos, questionei se eles estão efetivamente recebendo informações suficientes sobre educação e gestão ambiental: infelizmente, percebe-se que a maioria não. Na verdade, apesar dos problemas ambientais provenientes do descuido humano ser complexo, as soluções existem, e estão relacionadas ao cuidado. Segundo Leonardo Boff, cuidar representa uma atitude de ocupação, de preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.
Contudo, a efetivação do cuidado, tem sido de difícil entendimento e aplicação. As pessoas têm apresentado um comportamento individualista. O grande desafio para se atingir o Desenvolvimento Sustentável consiste em aprender a combinar trabalho com cuidado. O momento é de evitar e reduzir os impactos ambientais. Essas atitudes devem ser praticadas como se fosse uma religião, fortemente fundamentada por princípios éticos. A nova ética proposta deseja o equilíbrio da comunidade com a natureza, visa harmonia, respeito e reverência. Comportamento ético, portanto, é a responsabilidade com o mundo, fundamentado na solidariedade e na compaixão com o outro.
Nas últimas três décadas o homem consumiu um terço dos recursos da Terra. Mantendo-se os padrões atuais de uso e degradação, muito pouco há de restar até o fim do século XXI. Contudo, há de se considerar, que o homem com a sua inteligência e sua habilidade, possui também capacidade suficiente para solucionar os problemas que ele mesmo criou, gerando soluções e aplicando novos conceitos, onde devem ser consideradas uma melhor distribuição de renda e a redução das desigualdades sócio-ambientais.
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutorando em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do CEFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.
* Maria Angélica Alves da Silva, pedagoga, especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É professora de Sociologia e Artes do CEFET/RP.
Publicado em Outubro de 2007, Rio Pomba. Informativo da Associação Comercial e industrial.