quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mudanças Climáticas e Crise Ambiental: possibilidades, probabilidades e esperança



*por Maurício Novaes Souza

As notícias dos efeitos das mudanças climáticas estão em toda a imprensa mundial. Isso porque, é sabido, que os impactos da mudança climática pioraram em quase todos os anos desde 1980, de acordo com um estudo divulgado no início de dezembro de 2009, pela Agência Reuters. Foi inspirado no índice de ações Dow Jones e que representa o aquecimento global em números. O novo índice da mudança climática é baseado nas temperaturas do mundo, na extensão do gelo no Ártico no verão, na concentração de dióxido de carbono na atmosfera e no nível dos mares, de acordo com o Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP). Para Sybil Seitzinger, diretora-executiva do IGBP, em entrevista coletiva durante a conferência sobre mudanças climáticas da ONU, em Copenhague, o sistema climático está mudando na direção do aquecimento do planeta. Ou seja, vivemos essa realidade e, muito poucos sabem, de fato, o que está acontecendo. Esse artigo tem a intenção de apresentar uma fotografia instantânea do aquecimento global para ajudar na compreensão do que são e são os responsáveis pelas questões climáticas. Muitas respostas ainda não existem, mas a verdade é que o desmatamento continua aumentando, acelera-se a acidez dos oceanos, ou agravam-se a frequência de eventos climáticos extremos.

A cada dia, temos a sensação de que vivemos uma catástrofe nova; ou simplesmente nos perguntamos se já vimos tais cenas degradantes no ano anterior, como no caso das enchentes? Será que elas só acontecem nos dias atuais? De verdade, o planeta Terra conheceu no passado catástrofes naturais, como o fim da época primária, que significou a destruição de 95% das espécies vivas. A novidade é que hoje está a caminho uma catástrofe que é resultante do desenvolvimento humano. Pessoalmente, acho que o aquecimento climático não é o mais importante, ainda que o seja; o problema real é que estamos em um processo combinado de destruição do planeta que nos leva a uma catástrofe geral ou a várias catástrofes combinadas. O desastre, então, anuncia-se. Devemos concluir, então, que não se pode continuar muito tempo por este caminho.

Fica, então, uma pergunta: como mudar? É um problema difícil. Primeiro porque não podemos mudá-lo com uma única decisão pessoal, ou mesmo uma única decisão coletiva; devemos pensar como se processaram as grandes mudanças do passado... Toda grande mudança tem um peso e uma forma que em seu início é muito humilde; pense em Jesus Cristo, em Maomé… Um desvio cria uma tendência e esta tendência pode mudar o caminho… Creio que as denúncias contra a mundialização do capitalismo são boas, mas não basta denunciar, é preciso anunciar. A enunciação não é um programa, é uma ideia mestra. Por exemplo, devemos insistir sobre a qualidade da vida, não sobre a quantidade; é uma boa ideia… Fiz algumas dessas enunciações na minha tese de mestrado e em vários de meus artigos. Qual deverá ser a política da civilização? Sabe-se que precisamos buscar e seguir um novo caminho, ou melhor, é preciso buscar alguns caminhos que sejam sustentáveis.

Na conferência do clima realizada na Dinamarca, no mês de dezembro, falaram do clima de desesperança que pesa sobre nós. Será que a política pode nos tirar este peso? Quem sabe. As velhas gerações têm a sensação de que foram enganadas em sua fé no comunismo, em uma sociedade democrática harmoniosa, civilizada; no progresso como lei da história… Tudo isso se desintegrou e hoje os jovens estão totalmente desorientados… A análise que faço é que há possibilidades, não probabilidades, de esperança. E a esperança não se encontra no coração da desesperança. Hölderlin dizia: “Ali onde cresce o perigo cresce também a salvação”; isso significa que o crescimento do perigo nos remete à consciência do que acontece e nos enuncia o que deve ser feito… Antes da esperança era uma fé; agora é apenas esperança. É muito importante, porque se não houver esperança não haverá projeção no futuro. É muito bom refletirmos sobre esses fatos no início do ano....

Heráclito, famoso filósofo grego, pré-socrático, falava de buscar o inesperado. Então, o que seria o inesperado neste momento? O inesperado é sair desta via mortal que seguimos, buscando novos caminhos. Se buscarmos, encontraremos outra via. Será possível encontrar harmonia? Se a procuramos é porque ela não existe. É claro que há momentos de harmonia no âmbito privado, no amor, quando seu time vence… Pedaços de harmonia: a poesia da vida… Não penso que a política sozinha possa dar a harmonia: a compreensão humana, a solidariedade, depende de nós, e daí virá a harmonia. Tudo há de recomeçar. É algo terrível, mas é também maravilhoso, porque necessitamos de um estímulo. Esta ideia nos ajuda a viver. Eu, particularmente, sou otimista e pessimista. É preciso que tenhamos momentos de grandeza. Dessa forma haverá esperança.

E os intelectuais, a academia, o IFET, o que devem fazer? Creio que hoje o seu papel é mais importante do que no passado. Mas se produziu muito academicismo… Devem colocar sobre a mesa os problemas fundamentais, e não fazê-lo de uma maneira superficial.... O comércio e a indústria poderão contribuir? Certamente que sim. Inicialmente, as empresas, as comunidades, as instituições e os países devem se posicionar claramente em relação ao assunto. O governo brasileiro já conhece o problema das mudanças climáticas e o efeito que terá no clima, na economia e na sociedade brasileira em geral. O passo seguinte é que coordene uma iniciativa que faça frente ao fenômeno, envolvendo toda a sociedade, já que o problema afetará a todos.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor-Geral do IFET São João del-Rei. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Plásticos Biodegradáveis ou Educação no Uso e na Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos?


*por Maurício Novaes Souza

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define “lixo” como todo e qualquer resíduo sólido que tenha sido produzido pela atividade humana e que não seja reaproveitado. O lixo que produzimos pode ser classificado de acordo com a fonte que o originou. Essa classificação é usada para calcular o volume de lixo gerado e serve como base para seu gerenciamento, definindo quem é responsável pelo tratamento e destino final dos resíduos. É dividido em lixo comercial, domiciliar, público, industrial, serviços de saúde, sistema de transporte, entulhos da construção civil, agrícola e eletrônico. Pergunta: para onde vai o lixo que produzimos no cotidiano na cidade onde moramos? Existem diferentes destinos do lixo: lixão, aterro controlado, aterro sanitário, incineração, compostagem e a reciclagem.

O Ministério das Cidades divulgou os números mais recentes do manejo de resíduos sólidos urbanos no Brasil, referentes a 2007. Com base em dados de 306 municípios, que representam 55% da população urbana, o levantamento mostra que a cobertura média de coleta de lixo nas cidades pesquisadas é de 90%. Já a coleta seletiva só chega a 56,9% dos municípios da amostra, que inclui todas as capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes. Cerca de 64% do lixo coletado vão para aterros sanitários, 26,6% são levados para aterros controlados e 9,5% dos resíduos ainda vão para os lixões. Dos 587 aterros catalogados, 46% não têm qualquer tipo de licença ambiental.

Um dos itens de particular preocupação na composição do lixo é o plástico, com diversos registros demonstrando sua dominância dentre os resíduos sólidos presentes, inclusive, nos ambientes marinho e costeiro. Os “plastic pellets” são grânulos de plásticos que correspondem à forma principal com que as resinas plásticas são produzidas e comercializadas e estão entre os resíduos mais abundantes em praias no mundo. Eles são pequenos e geralmente imperceptíveis na areia da praia, mas pode causar sérios danos à fauna marinha, como contaminação química, que podem causar disfunções fisiológicas ou alterações hormonais nos animais que os ingerem. Estima-se uma quantidade de cerca de 2,4 bilhões de pellets para os 7,5 km de praia da Enseada de Santos. Mas de onde vêm esses pellets? Segundo dados da literatura, podem ser perdidos nas atividades de produção, transporte e uso, para o ambiente estuarino/marinho ou para os sistemas de drenagem urbana e, na sequência, para os rios, os quais acabam desaguando no mar.

E a questão das sacolas plásticas? Quantas você usou ontem? E durante toda a semana? Se o cálculo se estender pelo ano todo, os números começam a assustar. Segundo uma estimativa divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente, a cada hora, são consumidas cerca de 1,5 milhão de sacolas plásticas no Brasil. Ao final de um dia essa conta chega a 36 milhões. Anualmente são descartadas inadequadamente 500 bilhões de sacolas em todo o mundo. Esse material, além de poluente, pode causar outros impactos ambientais, como entupir bueiros e provocar enchentes.

Considerando que o lixo é um problema com um impacto social e ambiental muito negativo, há quem considere que um meio de lidar com este problema é utilizar o plástico biodegradável. À primeira vista pode parecer aceitável, mas será realmente melhor para o ambiente? Inicialmente, o que significa biodegradabilidade? Quer dizer a capacidade de um material ser degradado sob a ação de elementos vivos. O que significa plástico biodegradável? É plástico que pode ser degradado por microorganismos (bactérias ou fungos) na água, dióxido de carbono (CO2) e algum material biológico.

Contudo, há de se considerar, que o plástico biodegradável requer condições específicas para poder degradar-se corretamente (microorganismos, temperatura e umidade) e, se não houver um grande cuidado em manejá-lo, pode tornar-se para o ambiente pior do que o plástico convencional. Quando o plástico biodegradável é lançado numa lixeira, o que em todo o caso deve ser sempre evitado, produz gases com efeito de estufa ao degradar-se. É importante reconhecer que o plástico biodegradável não é necessariamente produzido por material biológico, ou seja, por plantas. Vários plásticos biodegradáveis são igualmente produzidos a partir do petróleo como os convencionais. Então, pode-se afirmar que o uso do plástico biodegradável é bom? Por princípio, o plástico tem valor pela sua capacidade de criar produtos resistentes e duráveis. A biodegradabilidade deve, pois, ser encarada como uma funcionalidade adicional, quando a sua aplicação exige uma forma barata de destruição do produto, depois de ter cumprido a sua função.

A capacidade de ser biodegradável é uma propriedade material que depende muito das circunstâncias do ambiente biológico (o corpo humano é diferente do solo). Considerando isto, poder-se-ia dizer que fazer um produto, como um saco de plástico compostável, não faz muito sentido porque esta capacidade de se biodegradar não resolve a questão do lixo. A biodegradação não é, portanto, resultado de uma simples ação de microorganismos, porque as condições nas quais eles atuam estão relacionadas com todas as características do meio.

Se considerarmos a problemática da eliminação dos resíduos sólidos, a simples perda das propriedades de um material, sem redução de sua massa, não possui grande interesse. A perda de massa deve ser quase total. Existem diferentes possibilidades de degradação dos polímeros:

a) Fotodegradação - nesse fenômeno, o fator determinante da degradação é a ação da luz e, mais particularmente, dos raios ultravioletas. As aplicações mais conhecidas são os filmes agrícolas fotodegradáveis para recobrimento do terreno em culturas rasteiras. O problema, nesses casos, é que somente a parte exposta à luz se degrada, ou seja, a parte enterrada fica intacta ou fracionada, tornando difícil sua extração ao final da colheita. Por outro lado, isso acaba sendo somente uma foto-fragmentação onde as macromoléculas não foram transformadas, mas sim cortadas pela fragilização dos aditivos. O resultado é um pó do plástico que estará presente em quantidade quase idêntica à massa de filme utilizada e essa se mistura ao solo cultivado ano após ano. Não há inconveniente para o meio ambiente, pois esse processo de eliminação é assimilado; no entanto, não há qualquer vantagem ambiental; e

b) Quimiodegradação - somente esse modo de degradação é susceptível de modificar a estrutura física do material e de transformá-la em substâncias assimiláveis pelo meio natural. A maior parte do tempo, ele consiste em uma oxidação, uma digestão ou uma hidrólise, mais ou menos complexa.

Entretanto, nos dias atuais, há várias pesquisas em andamento. Um estudo do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP produziu plástico biodegradável a partir do amido de mandioca, obtendo os chamados amidos termoplásticos (TPS). O estudo, realizado pela química Eliangela Teixeira, também mostrou a viabilidade do uso de resíduos da industrialização do amido para produzir termoplástico reforçado com fibras celulósicas. Os plásticos com amido poderão ser aplicados principalmente na indústria de embalagens. De acordo com a química, os amidos termoplásticos apresentam um grande potencial de aplicações, especialmente no setor de embalagens, contribuindo para melhorar o gerenciamento do lixo e reduzindo o impacto ambiental dos plásticos não-biodegradáveis. O material também pode ser adotado na confecção de tubetes de plantio para o setor agrícola. Outra linha de pesquisa do estudo dessa pesquisadora foi direcionada à obtenção de nanofibras de celulose a partir das microfibras contidas no resíduo, para aumentar a resistência dos amidos termoplásticos.

Deve-se ter cuidado com os falsos biodegradáveis, parcialmente degradáveis ou fragmentáveis; eles não apresentam, a não ser em raras exceções, função outra que não seja a exploração publicitária pseudo-ecológica. O cúmulo da exploração abusiva das pretendidas qualidades ecológicas se encontra em certas aplicações dos polímeros hidrossolúveis. Fora de seus usos específicos, é injustificada sua aplicação. Algumas vezes, eles são apresentados como tendo a propriedade de "desaparecer" na água sendo, assim, qualificados como biodegradáveis.

Há quem afirme que os processos de reutilização do plástico normal são incontestavelmente mais ecológicos que os da biodegradação. Já o composto obtido após a biodegradação teria uma qualidade muito ruim como fertilizante em razão da ausência dos oligoelementos e dos compostos de nitrogênio que encontramos normalmente nas biomassas. Já os materiais plásticos normais possuem múltiplos modos de valorização: reuso, reutilização, reciclagens mecânica, química e valorização energética. A re-introdução dos resíduos plásticos no ciclo de fabricação de um produto ou de uma energia permite obter redução dos recursos naturais não renováveis muito superiores a qualquer coleta de metano proveniente da degradação dos biodegradáveis. Mesmo levando em consideração os conceitos do Desenvolvimento Sustentável, os processos de reutilização do plástico normal são incontestavelmente mais ecológicos que os da biodegradação.

Por último, considere-se que o lixo é fundamentalmente um problema de comportamento irresponsável, e que deve ser tratado mais pela mudança de atitudes das pessoas do que propriamente pela alteração dos produtos. A criação de produtos biodegradáveis pode, de fato, piorar o problema do lixo, porque leva as pessoas a pensar que é correto dispor de qualquer forma recursos com valor, como o plástico.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor-Geral do IFET São João del-Rei. É Conselheiro do COPAM e do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

Mudanças Climáticas, Produção Agropecuária e Agrometeorologia


* por Maurício Novaes Souza

Dados recentes apontam que o mundo enfrentará um crescente risco de mudanças climáticas bruscas e irreversíveis em função do aquecimento global mais forte que o previsto. Tal afirmação é resultado de que situação? Anos atrás, sob condições de população escassa e exploração industrial mínima, parecia que a Terra poderia ser o provedor inesgotável dos recursos naturais. Entretanto, a população cresceu, a industrialização se expandiu, as florestas foram destruídas, os solos erosionados, os depósitos minerais exauridos, o ar e a água se tornam cada vez mais poluídos, e cada vez mais estamos preocupados com as limitações dos recursos da Terra.

Paralelamente, existe uma grande necessidade de aumento na produção de alimentos, para atender aos crescentes aumentos populacionais e de consumo em função da melhoria da renda dos países emergentes, como aqueles que compõem o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Para isso, é necessário que as perdas agrícolas e pastoris sejam minimizadas e a eficiência da produção agropecuária melhorada. Sabe-se que essa atividade é altamente dependente das condições do clima e do tempo em uma dada região. Entretanto, o aumento da produção de alimentos vem sendo feito por intermédio da exploração inadequada dos recursos naturais, prejudicando o ambiente, o solo, a água e o ar. Existe uma ciência que pode contribuir para o entendimento dessas questões e auxiliar o mundo e o produtor rural – a Agrometeorologia.

Antes de falar dessa ciência, faz-se necessário alguns comentários sobre clima. Os maiores problemas relacionados ao aquecimento global e às mudanças climáticas, associados ao efeito estufa, refere-se à sua aceleração. Várias notícias de cientistas renomados têm mostrado imagens tenebrosas de tais efeitos, alertando para o derretimento das geleiras e aumento do nível das águas, descongelamento do subsolo e florestas mais suscetíveis a insetos e queimadas. A verdade é que não mais existe incerteza com relação a esses fatos. Os cientistas afirmam que o verão do Ártico poderá não ter gelo antes de meados do século, abrindo as rotas marítimas do Norte, mas ameaçando a existência de mamíferos que dependem da existência do gelo para viver. Outros assinalaram os efeitos do aquecimento nos peixes, florestas e na tundra.

Isso ocorrerá porque o aquecimento global tornará o clima quente e seco, gerando com decorrer do tempo um superaquecimento global. Inexoravelmente, quebrará gradativamente o ciclo hidrológico. Isso porque, mesmo existindo intenso calor, com a umidade relativa do ar sendo baixa, será impossível formar chuva, pois para que exista a sua formação, será preciso que a umidade do meio ambiente esteja saturada. Além disso, é preciso também, que esta referida umidade saturada, encontre uma massa de ar frio, para se condensar e se precipitar em forma de chuva. Entretanto, o efeito estufa, tira essa condição. Pois, “teoricamente” dissipa (aquece) a massa de ar frio, que funcionaria como elemento condensador do vapor da água (umidade ambiental), que estaria se saturando, ou melhor, deixando esta massa de ar, mencionada anteriormente, quente e seca.

Quebrando o ciclo hidrológico, irá piorar as condições ambientais, para existência de vidas vegetais, animais e humana. Principalmente as espécies animais e vegetais, devido às condições ambientais adversas, do que a espécie humana: por ser um animal racional e se adaptar momentaneamente às condições adversas ambientais. Há de se considerar o fato de que a espécie humana é a principal depredadora do meio ambiente (fauna e flora). Isto, certamente, levará a biosfera terrestre a um ciclo involutivo, o qual já está se processando. Estão se observando um contínuo e vertiginoso declínio das espécies animais e vegetais, que pouco a pouco vão perdendo suas biodiversidades e, paradoxalmente, este quadro degenerativo do meio ambiente global vem se agravando. As questões que ainda precisam ser respondidas são quanto do aquecimento é causado pelos humanos, e o quanto drástico serão os efeitos a longo prazo.

Assim, percebe-se, que a desordem ambiental no mundo chegou a um ponto em que, ou se conscientizam as pessoas – e principalmente, os governos – para o tamanho da catástrofe que se avizinha, ou iremos pagar um custo alto pela sobrevivência – se ela for viável. Não há mais certezas com relação ao clima em nenhum lugar do mundo. E isto é apenas um sintoma. Cidades do norte da Europa que sempre consumiram energia para prover aquecimento, hoje estão preocupadas em instalar sistemas de refrigeração; nevascas intensas, e comuns no auge do inverno, surpreendem Nova York no meio do outono; o verão parece não ter se acabado ainda no sul da Europa, as temperaturas sobem a níveis inéditos. No Brasil, no início da primavera, tem-se observado chuvas típicas de verão.

Os pesquisadores tem insistentemente avisado, mas ainda grande parte da população não se atenta para os assuntos relativos às mudanças climáticas. Uma pesquisa recentemente publicada nos Estados Unidos mostrou que a proporção de norte-americanos convencidos de que o homem é responsável por boa parte do aquecimento global caiu 40% desde o ano passado. O site do “Correio Brasiliense” perguntou aos internautas se eles acreditam que os participantes da COP-15 (Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) chegarão a algum acordo, em dezembro, na Dinamarca. O resultado apontou que 66,67% acreditam que não e apenas 33,33% acreditam que sim. As principais autoras do estudo, Debika Shome e Sabine Marx, concluíram que, para os leigos, as questões climáticas parecem confusas, opressivas e ligadas a negociações políticas. Segundo essas autoras, boa parte da culpa está na forma como a mídia trata o tema. Para elas, é preciso aproximar o aquecimento global da realidade do público (EcoDebate, 09/11/2009).

De fato, na raiz de todo esse problema, está a predação obstinada em busca do crescimento sem limites, a qualquer custo. É evidente que, no cenário que se estuda, há fenômenos que são cíclicos na natureza, de transformação de florestas em desertos por processos naturais, mas os cientistas, com base nos parâmetros cada vez mais assustadores, avisaram ao mundo que nos aproximamos do caos. Com o Tratado de Quioto, em vigor desde fevereiro de 2005, houve um sopro de esperança; contudo, logo seguido do desencanto pela recusa dos Estados Unidos, o maior emissor de carbono do mundo, em acatar as propostas de redução desse avanço em direção à insensatez, com o seguinte o argumento: prejudicaria o desenvolvimento do país.

Bem recente, existe um documento que sintetiza mais de 1.400 estudos apresentados na conferência sobre o clima realizada em março passado, em Copenhague, onde, em dezembro próximo, será realizada a reunião das Nações Unidas para negociar um acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Segundo esse documento, a superfície global e a temperatura dos oceanos, os níveis do mar, os acontecimentos climáticos extremos e o degelo do Ártico estão se intensificando mais significativamente e mais rápido do que haviam previsto os especialistas há apenas alguns anos. O relatório revela que as emissões de gases de efeito estufa e outros indicadores climáticos estão próximos dos limites previstos pelo Painel Intergovernamental da ONU sobre a Mudança Climática (IPCC), que em 2007, foi o ponto de referência para as turbulentas conversações na ONU.

Também há novas provas de que o próprio planeta começou a contribuir para o aquecimento global em consequência da atividade humana. Grande quantidade de gases, como o metano, retida durante milênios na camada subterrânea do gelo ártico, pode estar começando a serem lançados na atmosfera, acelerando o processo de aquecimento. A capacidade natural dos oceanos e das florestas de absorver o CO2 originado pela queima de combustíveis fósseis também está em perigo. Esse novo documento, escrito e revisado por muitos dos cientistas que compilaram o documento do IPCC, pede que os políticos tomem atitudes urgentes para evitar que a temperatura média global aumente mais de dois graus centígrados em comparação com os níveis pré-industriais. Uma moderação rápida, sustentável e efetiva é necessária para evitar a perigosa mudança climática. Uma elevação das temperaturas de mais de dois graus dificultará a vida das sociedades futuras e é provável que causem maiores transtornos ambientais e sociais durante e a partir do próximo século.

O IPCC diz que para alcançar este objetivo é necessário que as nações industrializadas diminuam drasticamente as emissões de gás de efeito estufa entre 20 e 45% em comparação com os níveis de 1990. O novo documento sugere que são essenciais novos e profundos cortes nas emissões, um dos assuntos mais espinhosos colocados sobre a mesa nas conversações da ONU. Objetivos menores para 2020 aumentam o risco de impactos sérios, incluindo a superação da barreira a partir da qual as forças naturais começam a empurrar as temperaturas para cima, inclusive mais rapidamente. Muitos cientistas acreditam que, se forem superados esses limites, será difícil, talvez impossível, reverter o processo.

O novo documento não tem o mesmo peso que o informe do IPCC, que se baseou em uma quantidade ainda maior de estudos e - o mais importante - é um documento de consenso, o que significa que até os pontos de vistas mais conservadores foram levados em conta. Mas os dados do IPCC remontam a pelo menos quatro a cinco anos e uma avalanche de novas pesquisas sugere que os impactos da mudança climática podem ser ainda piores, e que chegarão mais cedo do que mais tarde. Os especialistas em clima do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), por exemplo, calcularam recentemente que, apesar dos grandes esforços feitos para reduzir drasticamente a poluição, a temperatura da superfície da Terra aumentará 5,2o C até 2010, mais que o dobro do que predisseram em 2003.

Como ficaria a agropecuária brasileira? Sabemos que o Brasil tem uma das maiores indústrias agropecuárias do Mundo. A importância da contribuição do Agronegócio no PIB brasileiro é imensa e inquestionável. Por essas questões, existe uma grande necessidade de informações meteorológicas e climatológicas específicas que capacitem os agropecuaristas a fazerem decisões operacionais. A Agrometeorologia é uma combinação de ciências físicas e biológicas que estuda as relações entre os elementos climáticos, o solo e os seres vivos e avalia os fenômenos climáticos que influenciam a produção e a produtividade agrícola. Isto faz da agrometeorologia uma técnica indispensável na formação dos profissionais que trabalham nas áreas agropecuárias, e fundamentais aos produtores rurais. Assim, pode-se considerar que o principal objetivo da Agrometeorologia é colocar a ciência da meteorologia a serviço da agropecuária para melhorar o uso da terra, para ajudar a produzir o máximo de alimentos e evitar o abuso irreversível dos recursos naturais (água e solo).

Em face dessas questões, em décadas recentes, o uso da Agrometeorologia na agropecuária vem aumentando. Isto tem sido devido, largamente, aos estudos de laboratório, casa de vegetação e de campo, nos quais as respostas biológicas têm sido medidas sob condições controladas. Existem diversas aplicações das técnicas meteorológicas às operações de campo. Alguns exemplos importantes: a) previsão e proteção contra geadas; b) avisos contra fogo nas florestas; c) planejamento da irrigação; d) calendários de plantio e colheitas; e) seleção de lugares para as culturas; f) controle de insetos; e g) controle de doenças e muitas modificações microclimáticas, como a utilização da prática de quebra-ventos.

Com tantos argumentos irrefutáveis, percebe-se que as mudanças climáticas poderão aumentar a freqüência de vários tipos de desastres naturais. Fortalece-se, assim, o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”, que pressupõe maior conhecimento do sistema climático e, em conseqüência, maior capacidade de prever as mudanças climáticas futuras e seus possíveis efeitos nas atividades sócio-econômicas e no meio ambiente. Dessa forma, os serviços meteorológicos devem estar aptos a satisfazer pelo menos quatro tipos de exigências dos agricultores e pecuaristas: a) Previsões do tempo detalhadas, na ocasião exata e adaptadas para operações agrícolas comuns; b) Serviços de extensão para ensinar aos agricultores usar as informações do item anterior; c) Observações especializadas de clima no lugar onde as culturas são realizadas; e d) Um sistema de comunicações para levar as informações atualizadas sobre o clima por intermédio do rádio, da televisão e dos jornais.

Com tantos fatos e argumentos incontroversos, percebe-se que as atividades antrópicas causaram alterações sem precedentes nos ecossistemas nas últimas décadas para atender às crescentes demandas por espaço, alimentos, água, fibras e energia. É incontestável que essas alterações ajudaram a melhorar a vida de bilhões de pessoas; entretanto, paralelamente, enfraqueceram a capacidade da natureza de prover esses e outros serviços fundamentais. A indispensável proteção do meio ambiente global depende de mudanças estruturais na economia e na cultura do consumo.

A tecnologia e o conhecimento de que dispõe hoje a sociedade humana podem reduzir consideravelmente os impactos nos ecossistemas, mas sua utilização em todo o seu potencial permanecerá reduzida enquanto os serviços oferecidos por esses ambientes naturais continuarem a ser percebidos como gratuitos e ilimitados e não receberem seu devido valor. Verifica-se a insustentabilidade dos caminhos atuais da civilização humana.

Portanto, o modelo de produção, agrícola e urbano-industrial, precisa ser redesenhado, bem como as políticas públicas precisam ser revistas. A pesquisa deverá estar direcionada e sustentada, fundamentalmente, por princípios éticos. Em cenários onde se deslumbra a possível realidade de mudanças climáticas e aquecimento global, o atual modelo de produção agrícola tornar-se-á insustentável. A ciência “Agrometeorologia” poderá ser uma ferramenta importante para auxiliar os produtores rurais a enfrentarem essa nova realidade.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor-Geral do IFET São João del-Rei. É Conselheiro do COPAM e do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

Mudanças Climáticas e a Importância da Agrometeorologia na Produção Agropecuária



* por Maurício Novaes Souza


Anos atrás, sob condições de população escassa e exploração industrial mínima, parecia que a Terra poderia ser o provedor inesgotável dos recursos naturais. Entretanto, a população cresceu, a industrialização se expandiu, as florestas são destruídas, os solos erosionados, os depósitos minerais exauridos, o ar e a água se tornam cada vez mais poluídos, e cada vez mais estamos preocupados com as limitações dos recursos da Terra.

Paralelamente, existe uma grande necessidade de aumento na produção de alimentos. Para isso, é necessário que as perdas agrícolas e pastoris sejam minimizadas e a eficiência da produção agropecuária melhorada. Sabe-se que essa atividade é altamente dependente das condições do clima e do tempo em uma dada região. Entretanto, o aumento da produção de alimentos vem sendo feito por intermédio da exploração inadequada dos recursos naturais, prejudicando o ambiente, o solo, a água e o ar.

A Agrometeorologia é uma combinação de ciências físicas e biológicas que estuda as relações entre os elementos climáticos, o solo e os seres vivos e avalia os fenômenos climáticos que influenciam a produção e a produtividade agrícola. Isto faz da agrometeorologia uma técnica indispensável na formação dos profissionais que trabalham nas áreas agropecuárias, bem como para os produtores rurais.

Os maiores problemas relacionados ao aquecimento global e às mudanças climáticas, associados ao efeito estufa, refere-se à sua aceleração. Tornará o clima quente e seco, gerando com decorrer do tempo um superaquecimento global. Inexoravelmente, quebrará gradativamente o ciclo hidrológico. Isso porque, mesmo existindo intenso calor, com a umidade relativa do ar sendo baixa, será impossível formar chuva, pois para que exista a sua formação, será preciso que a umidade do meio ambiente esteja saturada. Além disso, é preciso também, que esta referida umidade saturada, encontre uma massa de ar frio, para se condensar e se precipitar em forma de chuva. Entretanto, o efeito estufa, tira essa condição. Pois, “teoricamente” dissipa (aquece) a massa de ar frio, que funcionaria como elemento condensador do vapor da água (umidade ambiental), que estaria se saturando, ou melhor, deixando esta massa de ar, mencionada anteriormente, quente e seca.

Quebrando o ciclo hidrológico, irá piorar as condições ambientais, para existência de vidas vegetais, animais e humana. Principalmente as espécies animais e vegetais, devido às condições ambientais adversas, do que a espécie humana: por ser um animal racional e se adaptar momentaneamente às condições adversas ambientais. Há de se considerar, o fato de que a espécie humana é a principal depredadora do meio ambiente (fauna e flora). Isto, certamente, levará a biosfera terrestre a um ciclo involutivo, o qual já está se processando, principalmente a partir dos séculos XIX e XX. Estão se observando um contínuo e vertiginoso declínio das espécies animais e vegetais, que pouco a pouco vão perdendo suas biodiversidades e, paradoxalmente, este quadro degenerativo do meio ambiente global vem se agravando, com o advento da Revolução Industrial.

Assim, percebe-se que a desordem ambiental no mundo chegou a um ponto em que, ou se conscientizam as pessoas – e principalmente, os governos – para o tamanho da catástrofe que se avizinha, ou iremos pagar um custo alto pela sobrevivência – se ela for viável. Não há mais certezas com relação ao clima em nenhum lugar do mundo. E isto é apenas um sintoma. Cidades do norte da Europa que sempre consumiram energia para prover aquecimento, hoje estão preocupadas em instalar sistemas de refrigeração; nevascas intensas, e comuns no auge do inverno, surpreendem Nova York no meio do outono; o verão parece não ter se acabado ainda no sul da Europa, as temperaturas sobem a níveis inéditos.

Na raiz de tudo, a predação obstinada em busca do crescimento sem limites, a qualquer custo. É evidente que, no cenário que se estuda, há fenômenos que são cíclicos na natureza, de transformação de florestas em desertos por processos naturais, mas os cientistas, com base nos parâmetros cada vez mais assustadores, avisaram ao mundo que nos aproximamos do caos. Com o Tratado de Quioto, em vigor desde fevereiro de 2005, um sopro de esperança logo seguido do desencanto pela recusa dos Estados Unidos, o maior emissor de carbono do mundo, em acatar as propostas de redução desse avanço em direção à insensatez - prejudicaria o desenvolvimento do país.

Sabemos que o Brasil tem uma das maiores indústrias agropecuárias do Mundo. Por isso, existe uma grande necessidade de informações meteorológicas e climatológicas específicas que capacitem os agropecuaristas a fazerem decisões operacionais. Assim, pode-se considerar que o principal objetivo da Agrometeorologia é colocar a ciência da meteorologia a serviço da agropecuária para melhorar o uso da terra, para ajudar a produzir o máximo de alimentos e evitar o abuso irreversível dos recursos naturais (água e solo).

Em face dessas questões, em décadas recentes o uso da Agrometeorologia na agropecuária vem aumentando. Isto tem sido devido, largamente, aos estudos de laboratório, casa de vegetação e de campo, nos quais as respostas biológicas têm sido medidas sob condições controladas. Existem diversas aplicações das técnicas meteorológicas às operações de campo. Alguns exemplos importantes: a) previsão e proteção contra geadas; b) avisos contra fogo nas florestas; c) planejamento da irrigação; d) calendários de plantio e colheitas; e) seleção de lugares para as culturas; f) controle de insetos; e g) controle de doenças e muitas modificações microclimáticas, como a utilização da prática de quebra-ventos.

Os serviços meteorológicos que precisamos devem estar aptos a satisfazer pelo menos quatro tipos de exigências dos agricultores: a) Previsões do tempo detalhadas, na ocasião exata e adaptadas para operações agrícolas comuns; b) Serviços de extensão para ensinar aos agricultores usar as informações do item anterior; c) Observações especializadas de clima no lugar onde as culturas são realizadas; e d) Um sistema de comunicações para levar as informações atualizadas sobre o clima por intermédio do rádio, da televisão e dos jornais.



* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor-Geral do IFET São João del-Rei. É Conselheiro do COPAM e do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

A Importância da Agrometeorologia na Produção Agropecuária


* por Maurício Novaes Souza

Anos atrás, sob condições de população escassa e exploração industrial mínima, parecia que a Terra poderia ser o provedor inesgotável dos recursos naturais. Entretanto, a população cresceu, a industrialização se expandiu, as florestas são destruídas, os solos erosionados, os depósitos minerais exauridos, o ar e a água se tornam cada vez mais poluídos, e cada vez mais estamos preocupados com as limitações dos recursos da Terra.

Paralelamente, existe uma grande necessidade de aumento na produção de alimentos. Para isso, é necessário que as perdas agrícolas e pastoris sejam minimizadas e a eficiência da produção agropecuária melhorada. Sabe-se que essa atividade é altamente dependente das condições do clima e do tempo em uma dada região. Entretanto, o aumento da produção de alimentos vem sendo feito por intermédio da exploração inadequada dos recursos naturais, prejudicando o ambiente, o solo, a água e o ar.

A Agrometeorologia é uma combinação de ciências físicas e biológicas que estuda as relações entre os elementos climáticos, o solo e os seres vivos e avalia os fenômenos climáticos que influenciam a produção e a produtividade agrícola. Isto faz da agrometeorologia uma técnica indispensável na formação dos profissionais que trabalham nas áreas agrícolas, como aqueles dos cursos de Agroecologia e Zootecnia.

Em décadas recentes o uso da Agrometeorologia na agropecuária foi aumentando. Isto tem sido devido, largamente, aos estudos de laboratório, casa de vegetação e de campo, nos quais as respostas biológicas têm sido medidas sob condições controladas. Existem diversas aplicações das técnicas meteorológicas às operações de campo. Alguns exemplos importantes: a) previsão e proteção contra geadas; b) avisos contra fogo nas florestas; c) planejamento da irrigação; d) calendários de plantio e colheitas; e) seleção de lugares para as culturas; f) controle de insetos; e g) controle de doenças e muitas modificações microclimáticas, como a utilização da prática de quebra-ventos.

Sabemos que o Brasil tem uma das maiores indústrias agropecuárias do Mundo. Por isso, existe uma grande necessidade de informações meteorológicas e climatológicas específicas que capacitem os agropecuaristas a fazerem decisões operacionais. Portanto, pode-se considerar que o principal objetivo da agrometeorologia é colocar a ciência da meteorologia a serviço da agropecuária para melhorar o uso da terra, para ajudar a produzir o máximo de alimentos e evitar o abuso irreversível dos recursos naturais (água e solo).

Os serviços meteorológicos que precisamos devem estar aptos a satisfazer pelo menos quatro tipos de exigências dos agricultores: a) Previsões do tempo detalhadas, na ocasião exata e adaptadas para operações agrícolas comuns; b) Serviços de extensão para ensinar aos agricultores usar as informações do item anterior; c) Observações especializadas de clima no lugar onde as culturas são realizadas; e d) Um sistema de comunicações para levar as informações atualizadas sobre o clima por intermédio do rádio, da televisão e dos jornais.

sábado, 7 de novembro de 2009

Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos: uma questão de atitude



*por Maurício Novaes Souza

No início de novembro de 2009 a Prefeitura Municipal de Rio Pomba foi notificada pela Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SUPRAM) a ter de isolar o “Lixão” da cidade. Terá de providenciar um novo local para a disposição dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), popularmente chamados de “lixo”. Por força da lei, terá de construir um aterro dentro dos padrões exigidos pelos órgãos ambientais. O custo do empreendimento é elevado e a vida útil do aterro dependerá de seu manejo. Há de se considerar que essa vergonha reflete o descuido das administrações municipal anteriores. Na verdade essa não é uma vergonha exclusiva de nossa cidade, mas da maioria dos municípios brasileiros.

O lixo que produzimos pode ser dividido em: comercial, domiciliar, público, industrial, serviços de saúde, sistema de transporte, entulhos da construção civil, agrícola e eletrônico. E para onde vai o lixo que produzimos na cidade em que moramos? Existem diferentes destinos do lixo: lixão, aterro controlado, aterro sanitário, incineração, compostagem e a reciclagem. Quanto maior for o volume de lixo encaminhado ao aterro, menor será sua vida útil. Uma das alternativas que aumentam a sua vida útil se refere à coleta seletiva do lixo e a reciclagem. Já existem bons exemplos em todo o mundo. O troféu no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, por exemplo, foi destaque mundial por ter sido fabricado durante a prova, a partir de plásticos reciclados coletados no Autódromo de Interlagos. Para a produção, foi instalada uma mini usina de reciclagem. De acordo com informações da Plastivida, o Brasil recicla hoje 21% do plástico que produz.

E a questão das sacolas plásticas? Quantas você usou ontem? E durante toda a semana? Se o cálculo se estender pelo ano todo, os números começam a assustar. Segundo uma estimativa divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente, a cada hora são consumidas cerca de 1,5 milhão de sacolas plásticas no Brasil. Ao final de um dia essa conta chega a 36 milhões. Anualmente são descartadas inadequadamente 500 bilhões de sacolas em todo o mundo. Esse material, além de poluente, pode causar outros impactos ambientais, como entupir bueiros e provocar enchentes.

O governo vem buscando alternativas. O Ministério do Meio Ambiente vai estimular o trabalho do catador de materiais recicláveis com o Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos (PSAU) e garantia de preço mínimo para os produtos. Dentre os ganhos ambientais gerados pela coleta correta do lixo está a redução da quantidade de resíduos no ambiente, impedindo a poluição da água e do solo. Esse material é direcionado para locais em que podem ser reciclados e voltar a ser utilizados. Dentro de uma nova visão, pode-se verificar que o lixo é matéria prima fora do lugar. Há de se ressaltar que a coleta do lixo deveria começar dentro de casa: infelizmente, apenas 3% do lixo doméstico é reciclado.

O Ministério das Cidades divulgou os números mais recentes do manejo de resíduos sólidos urbanos no Brasil, referentes a 2007. Com base em dados de 306 municípios, que representam 55% da população urbana, o levantamento mostra que a cobertura média de coleta de lixo nas cidades pesquisadas é de 90%. Já a coleta seletiva só chega a 56,9% dos municípios da amostra, que inclui todas as capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes. Cerca de 64% do lixo coletado vão para aterros sanitários, 26,6% são levados para aterros controlados – que têm estrutura melhor que lixões, mas onde há trabalho de catadores – e 9,5% dos resíduos ainda vão para os lixões, considerados a pior solução para o destino final.

De acordo com o Departamento de Articulação Institucional do Ministério das Cidades, em muitos casos, os locais de depósito do lixo não têm autorização ambiental para funcionar. Dos 587 aterros catalogados, 46% não têm qualquer tipo de licença ambiental. O Plano Diretor Municipal de Rio Pomba deveria estabelecer um Programa De Coleta E Destinação Final Dos Resíduos Sólidos. Caso implementado, estaríamos em um cenário prometedor diante de um problema que mais afeta o meio ambiente e a saúde humana no país e no mundo: a falta de tratamento adequado do lixo que produzimos. O Secretário de Meio Ambiente, Gilberto Quintão, tem planos para transformar essa idéia em realidade.

Há ainda outras soluções: a Lei de Consórcio nº 11.107/2005, o Decreto nº 6.017/2007 e a Lei de Saneamento Básico nº 11.445/2007 são instrumentos jurídicos que possibilitam que as prefeituras consorciem. Nesse contexto, os consórcios públicos surgiram como um novo arranjo institucional para a gestão municipal. A formação de consórcios, com a participação do respectivo estado, para garantir a sustentabilidade das unidades de depósito de lixo a serem construídas, é o pré-requisito para que os municípios recebam recursos para viabilização dos empreendimentos.

Contudo, não basta falarmos de transparência. Precisamos garantir a visibilidade dos documentos em questão e um amplo diálogo com a sociedade na busca de soluções mais exeqüíveis com relação aos aspectos socioambientais, econômicos, moral e ético. O problema do lixo que produzimos é nosso e não podemos nos desresponsabilizar desta situação que se agrava a cada dia que passa. O tempo urge e soluções emergências precisam ser tomadas para sanar os problemas mais gritantes na geração de resíduos sólidos de Rio Pomba, sem que a politicagem feita por politiqueiros de plantão venha interferir num diálogo fraterno e necessário para o bem do meio ambiente e dos seres humanos.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor-Geral do IFET São João del-Rei. É Conselheiro do COPAM e do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Separar Política e Economia do Meio Ambiente é Evidenciar a Insustentabilidade do Modelo



* Por Maurício Novaes Souza

Em todo o mundo, nos gabinetes e escritórios onde se manipulam os complexos emaranhados que determinam os rumos do capitalismo, ninguém fala em mudança na ordem econômica mundial. Vai tudo muito bem, desde que grandes volumes de dinheiro continuem fluindo na direção das grandes empresas, entupindo os bancos e alimentando a indecência das mega-fortunas. Contudo, de fato, uma grande e decisiva virada precisa ser dada no modelo que hegemonicamente vem dando as cartas, sob pena de se abreviar a história da raça humana na Terra.

O “Sistema”, essa entidade invisível e todo-poderosa, faz a sociedade acreditar que é possível seguir consumindo ilimitadamente. Impõe como paradigma a necessidade de crescimento continuado e entroniza como sagrado um instrumento de aferição: o PIB (Produto Interno Bruto). A ordem é girar a roda da economia cada vez mais velozmente afirmando que é preciso consumir, investir, importar, exportar, lucrar... não importando os indícios de destruição que ficam a partir da adoção desses procedimentos.

A conta, porém, é alta... e já está sendo cobrada: por exemplo, a queima de combustíveis fósseis para movimentar fábricas e automóveis, a devastação dos ambientes naturais pelas atividades de mineração ou para ampliar as fronteiras da agricultura e da pecuária, a utilização de produtos poluentes que se perpetuam na natureza, tudo isso está determinando a destruição pausada do planeta.

Segundo estudo da organização humanitária OXFAM, as vítimas de desastres naturais provocados pelas mudanças climáticas aumentarão em mais de 50 por cento nos próximos cinco anos. No calendário desse holocausto, o amanhã já chegou. As inundações, as secas e furacões estão se sucedendo com frequência e intensidade jamais vistas. Teme-se que se tenha tornado irreversível... principalmente quando avaliamos as questões éticas e políticas.

É sabido que foi mérito dos filósofos gregos terem construído uma arquitetônica ética fundada em algo universal, exatamente na razão, presente em todos os seres humanos. As normas que regem a vida pessoal chamaram de ética; e as que presidem a vida social chamaram de política. Por isso, para eles, POLÍTICA É SEMPRE ÉTICA. Não existe, como entre nós, política sem ética.

Quando analisamos a história e vislumbramos o futuro, percebemos que nenhuma sociedade no passado ou no presente vive sem uma ética. Como seres sociais, precisamos elaborar certos consensos, coibir certas ações e criar projetos coletivos que dão sentido e rumo à história. O planeta, a natureza, a humanidade, os povos, o mundo da vida estão demandando cuidado e responsabilidade. Se não transformarmos estas atitudes em valores normativos, dificilmente evitaremos catástrofes em todos os níveis. Os problemas do aquecimento global e o complexo das várias crises, só serão equacionados no espírito de uma ética do cuidado e da responsabilidade coletiva.

E a questão política? Política pode ser definida como estratégia de ação (e neste sentido todos nós fazemos política, quando nos posicionamos diante de alguma situação), exige-nos um constante exercício evolutivo. A atuação política está relacionada ao conflito do terceiro estado de consciência (Mandar x Obedecer), precisando, ainda, evoluir para o quarto estado de consciência (afetivo), quinto (raciocínio lógico), intuitivo e espiritual. Pensando apenas sob o ponto de vista monetário, o Brasil poderia ter aproveitado melhor a situação favorável que teve diante da crise econômica, caso tivéssemos hoje um sistema de ciência e tecnologia na rota do que precisa ser feito. Sem dúvida, estaríamos aproveitando isso justamente para nos tornarmos em pouco tempo mais competitivos na linha da sustentabilidade, que é o elemento decisivo neste século. Contudo, sabemos que sustentabilidade é um processo, não acontece da noite para o dia.

Há de se considerar, ainda o conceito “moral” - configura o conjunto de padrões comportamentais tidos como corretos, segundo as regras de boa convivência e educação, podendo variar de cultura para cultura. Dessa forma, as questões éticas e morais deveriam ter sido uma das maiores bandeiras dos governos atuais. Infelizmente, as negociações e tratados estabelecidos nas últimas duas décadas para proteger o meio ambiente foram inúteis. A culpa tem recaído apenas sobre os governantes. Sabe-se que por trás dos argumentos políticos, escondem-se interesses econômicos que impedem decisões em assuntos cruciais... no longo prazo, problemas ligados ao meio ambiente serão tão ameaçadores quanto o terrorismo.

Na verdade, nestes 60 minutos que demorei a escrever este artigo, devemos ter perdido 1.600 hectares de floresta tropical. Certamente mais desertos se espalharam, gases que prejudicam o clima foram emitidos, assim como poluentes tóxicos. É uma evidência da urgência da questão ambiental. Levando esses valores em consideração, novos paradigmas poderão ser construídos e, quem sabe, ainda haja tempo de refrear a corrida rumo ao abismo. É hora de dar atenção àquelas vozes que ecoam mensagens de uma lucidez desconcertante: mais respeito à natureza, menos ambição, mais ética e solidariedade, menos consumo, menos PIB, mais FIB (Felicidade Interna Bruta).


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor do IFET São João del-Rei. É Conselheiro do COPAM e do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

sábado, 19 de setembro de 2009

O Princípio do Desenvolvimento Econômico associado ao princípio da preservação do meio ambiente: análises e reflexões das crônicas de Luc Vankrunkels


*Por Egídio Freitas de Morais Junior¹; Maria de Fátima Vieira Aguiar²; Maurício Novaes Souza³


Introdução

São muitas as evidências de que a ação antrópica interfere de forma drástica na natureza. Luc Vankrunkelsven consultor da Fetraf sul e da Wervell, em suas viagens pelo Brasil nos apresenta fatos vivenciados, junto aos agricultores da região sul do Brasil. Pretende-se com este trabalho colocar as questões de ordem jurídicas, de forma que, os leitores se identificando com o fato, pois o mesmo não é de exclusividade da região pesquisada, possam se valer das orientações de um especialista na área do direito, o Sr. Egídio Morais Freitas.
São raros os artigos, que de forma explícita, revelam às artimanhas do poder para favorecer uns poucos - a elite oligárquica. Sendo assim, apresentam-se os capítulos a seguir com intuito de esclarecer e orientar juridicamente os que trabalham com a biodiversidade na agricultura familiar.

A pobreza socioeconômica tem sido usada como pretexto há dezenas de anos para a utilização desordenada dos recursos florestais e hídricos. Empresas multinacionais, bem como latifundiários e grandes produtores de milho e de soja, utilizam dos recursos naturais disseminando na mídia informações procurando convencer os órgãos estatais e a opinião pública que os benefícios advindos da exploração desordenada dos recursos naturais são infinitamente superiores aos prejuízos ocasionados ao meio ambiente. Argumentam que o progresso econômico sobrepõe as querelas levantadas por ambientalistas ou ecos chatos, como vulgarmente são conhecidos os defensores do meio ambiente, que constantemente são hostilizados verbalmente pelos meios de comunicação e até mesmo fisicamente pelas comunidades carentes diretamente envolvidas na discussão.

Apesar da circulação de riquezas, observa-se facilmente que a realidade das comunidades diretamente atingidas pouco se modifica, haja vista que a circulação de riqueza recai na mão de uma restrita minoria, enquanto a comunidade carente continua vivendo em condições precárias. Tem-se como agravante a dependência desta população com a utilização desordenada dos recursos naturais, sendo as mesmas as maiores prejudicadas, em decorrência de sofrerem diretamente os efeitos nefastos do desmatamento e da poluição dos recursos hídricos, por manuseio de agrotóxicos e pesticidas. Observa-se mundialmente, e de maneira uniforme, que os ônus dos danos ambientais são arcados, principalmente, para não dizer unicamente pelas populações carentes diretamente e indiretamente envolvidas com a exploração desordenada dos recursos naturais, restando a estes a parte não aproveitável do bolo, socializando apenas os prejuízos.

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece no artigo 170 que a ordem econômica tem por finalidade assegurar a todos existência digna conforme os ditames da Justiça Social desde que observado o princípio da defesa do meio ambiente. O artigo 225 da Constituição estabelece que todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Verifica-se no entanto que ao relatar as experiências vivênciadas por Vankrunkelsven, a CCF/88 está sendo ignorada.


Capítulo 1

Biodiversidade: mantenedora de espécies

No norte do Paraná, próximo a Londrina cafeicultores acostumados a utilizar o equilíbrio da natureza para se estabelecerem na lavoura, utilizam-se da população de insetos, mantida de forma equilibrada pelos pássaros, obtendo desta forma, safras produtivas. A economia e a comunidade usufruíam de grande conforto, até que na década de 1970, relata o Sr. José Antônio da Silva Marfil Muela ao Sr. Luc Vankrunkelsven, fora imposto a comunidade o uso de produtos químicos para combater doenças que assolavam as lavouras dos agricultores da região.
O problema não foi resolvido, muito pelo contrário, o êxodo rural acabou ocorrendo, pois os pássaros morreram, ou migraram, desapareceram: os tico-ticos, rolinhas, entre outros, a dependência de sementes e agrotóxico aumentaram, e o lucro cada vez menor levaram muitas famílias, inclusive a do Sr. José Antônio Muela, a deixar suas propriedades. O Sr. Muela ainda hoje se questiona, o porquê de introduzirem os pesticidas na lavoura e torná-los dependentes das sementes e agrotóxicos. Surgiram muitos desempregados na área urbana de Curitiba. A economia e a vida do mundo rural não subsistiram, e ele acreditava que não fora o acaso, mas provocada pelo sistema capitalista. Segundo Sr. Ruela, no ônibus de Curitiba a Guarapuava, o vizinho suspirava dizendo: “No Brasil, enquanto um trabalha, dez são obrigados a ficar de braços cruzados.”
A região empobreceu e para restabelecer o desenvolvimento, foi lançado o Programa “Territórios da Cidadania”, onde 15 ministérios coordenaram 135 ações. Segundo os relatos de Muela, esta proposta do governo, seria para reduzir as desigualdades sociais no país. A previsão para 2008 seria de um investimento de 11,3 bilhões de reais. Para manter as pessoas no campo, e evitar o surgimento de favelas em área urbana, a região de Guarapuava elaborou projetos. Os projetos no Brasil possibilitam várias entidades trabalhar a anos na ‘inclusão’ social, ao invés de ‘exclusão’.
Contudo, Segundo o Luc Vankrunkelsven, a ONU – Organização das Nações Unidas, divulgaram um relatório chocante. Conclusão: ‘O Brasil é corrupto, violento e racista’. Questiona-se a relação destes fatos com o número de vítimas, pois o relatório afirma que o número entre adolescentes de 15 a 19 anos quadruplicou nos últimos 20 anos. A UNICEF confirma que, em 2003, foi alcançado o triste recorde de 7.900 mortes. É um triste relato de pessoas que presenciaram a natureza e suas vidas se exaurirem de forma tão cruel.


Capítulo 2

Monocultura: Sacrifício aos deuses

Em uma entrevista de Blairo Maggi - maior sojicultor do mundo, em 2000, quando o mesmo disse aos incansáveis defensores da terra: “Se os movimentos ambientalistas e os sindicatos continuarem criando problemas vão plantar soja na África. Lá não há resistência”, despertou o interesse do Sr. Luc Vankrunkelsven. O Sr. Blairo Maggi se tornou governador do estado do Mato Grosso, e em sua política, desmatar 54% da área para produzir soja e gado é prioridade, e detendo o poder político e econômico, ninguém se atrevia a fazer manifestos contra, segundo Maggi, “tudo está dentro da legalidade”.

Segundo Vankrunkelsven, exitou, mas, se entusiasmou num segundo momento, ao receber o convite de Maria José Adão e seu amigo belga Luc Kruvfthooft, presentes em uma exposição de livros em Bruxelas, para ir a Cuiabá, montar um programa completo e quebrar o silêncio em relação à destruição da biodiversidade provocada pelas empresas do Sr. Maggi. Luc resolveu se deslocar das lavouras de Cascavel, Paraná, para a maior área de plantação de soja do Brasil. Na nova Califórnia brasileira os primeiros contatos foram difíceis, pois ninguém contesta o sucesso das empresas que atuam no agronegócio de soja, milho, aves e algodão. Existem ilhas que persistem em buscar mudanças como os Srs. Degair Aparecido de Oliveira e Maria José Adão, Carlos Raimundo dos Santos e Cleonice Terezinha Fernandes e contando com o apoio dos Serviços do SEBRAE- MT, às Micro e Pequenas Empresas do mato Grosso. Quando questionamos ao órgão SEBRAE, se nossas manifestações na Europa surtem efeito quando Maggi vai ao exterior se promover, eles admitem que sim; portanto, vemos a oportunidade durante as crises como a de 1973, para disseminar novas idéias para superar os processos produtivos que levam ao sacrifício a terra e os seres humanos. Mas como proteger os biomas desta região? Segundo Vankrunkelsven (2008):

1. O Pantanal se inicia no Mato Grosso do Sul, mas a maior parte se encontra no estado ao norte, Mato Grosso. Não é possível plantar soja lá, mas a região está sendo cercada pelo Ouro Verde, provocando uma perigosa redução no nível do lençol freático do Pantanal.
2. O Cerrado, com sua biodiversidade única, ‑ este sim ‑ está sendo rapidamente coberta de soja... felizmente, ainda é possível salvar uma parte.
3. Ao norte: o Portal para a Região Amazônica.
4. O Rio Araguaia. Esta região rica em rios e com praias únicas geralmente não é mencionada, mas, às vezes, é catalogada como um quarto ecossistema.

Ao relatar as experiências, Vankrunkelsven (2008) que durante três dias percorreu a estrada que atravessa a reserva da Chapada dos Guimarães, junto com Alonso Lamas, que trabalha há 21 anos com espécies tropicais davam risadas por ver a região impregnada de rochas ...“É, vai ser difícil plantar soja aqui.” Sentiam-se aliviados, pois aquela área de cerrado é mais rica em biodiversidade do que a Floresta Amazônica. Verificou-se também durante a viagem que o SEBRAE, contrata especialistas e formam uma equipe para apoiar novos trabalhos.

Capítulo 3

Um oásis em deserto


Aqui se produzem soja, milho e algodão que alimentam aves e suínos. Estamos trilhando o Caminho de Verde, em Mato Grosso do Sul, revela Sr. Luc. E continua a esclarecer que muitas famílias, desde 1995, recebem apoio para ocupar as pequenas áreas e produzir de forma familiar. Há 1200 famílias que moram em assentamentos, e que aos poucos, legalizam-se as terras. A equipe do SEBRAE visitou um assentamento do MST: São sete famílias, como um oásis. Ainda em 2007, iniciaram o cultivo de espécies tropicais num sistema agroflorestal. Impressiona a equipe, a variedade de plantas formadas a partir de quatro ‘biomas/ecossistemas’.
Segundo Alonso Lamas, há muita procura na Europa e nos Estados Unidos destas espécies de plantas tropicais, e o Brasil produz 80%, e entre as espécies podemos citar a petúnia, originária do Paraná, mas cultivada pelos japoneses, mas foi um belga há 127 anos que começou a comercializar a petúnia brasileira, e hoje a espécie é considerada um tesouro. O Sr. Lamas relata com entusiasmo, e faz-se analogia, “o renascer das cinzas o trabalho que trás orgulho e esperanças à muitas famílias”. Em forma de cooperativa, comerciantes de plantas, paisagistas, decoradores, entre outros, e com o apoio do SEBRAE. Produz-se de forma ecológica, e o assentamento torna-se a prova viva de que a agroecologia apresenta melhores resultados do que os demais métodos. Utiliza-se dos sistemas agroflorestais, promovendo renda e emprego, com menor investimento. O quadro abaixo revela a pesquisa realizada pelo departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais:


Sistema

Agr. Convencional (a)
Agroecológico (b)
Agroflorestal (c)
Produtividade/ano
3.000 kg/ha (a)
5.000 kg/ha (b)
10.000 kg/ha (c)
Receita (R$ por kg produzido)
0,30/kg (a)
0,50/kg (b)
0,80/kg (c)
Custo dos insumos (em termos de percentual da renda)
70% (*) (a)
30% (b)
5% (c)
Geração de trabalho
1 emprego/70 ha (a)
1 emprego/8 ha (b)
1 emprego/3 ha (c)


(*) este valor não inclui os elevados custos dos danos ambientais e sociais


Luc Vankrunkelsven relata: “Sabe-se que muitos trabalhadores gostariam de se manifestar sobre os problemas da região, mas receosos somente ouvem, e adquirem os livros como “Aurora no campo, Soja diferente”, demonstrando a aprovação de nosso trabalho.


Conclusão

Os artigos supramencionados demonstram a importância do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Deve ser considerado irrenunciável, inalienável por qualquer ser humano, não podendo ser desvirtuado e corrompido por interesses puramente financeiros de grupos materialistas. Tais agentes, que divulgam na mídia promessas de desenvolvimento econômico e social extremamente rápido, que na realidade demonstram-se bonito na forma, porém insuficiente e vazio de conteúdo.

A CF/88, aliada com uma série de Leis Federais, Estaduais e Municipais, tem enfatizado a necessidade de que o desenvolvimento econômico e social esteja de mãos dadas com a conservação/preservação dos recursos naturais. Tal preceito é conhecido como o princípio do desenvolvimento sustentável, permitindo a exploração dos recursos naturais utilizando técnicas de manejo sustentável. Tem por objetivo o desenvolvimento econômico e social de um lado, e a manutenção da flora, fauna e dos recursos hídricos, possibilitando a comunidade carente exploradora dos recursos naturais, não apenas um bem estar financeiro, mas principalmente a harmonia do homem com a natureza. Desta forma, tornam letra viva as normas constitucionais que asseguram indistintamente aos indivíduos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

1- Especialista em Direito Privado, Consultor Jurídico Empresarial, Procurador Jurídico do Instituto Ambiental Sol do Campo.

2- Licenciada em Geografia, Especialista em Educação-concentração em Geografia e Gestão Ambiental. Técnica em Meio Ambiente/ Professora de Ensino Básico do Estado de Minas Gerais. Professora de Educação Ambiental e Geografia Econômica. Vice - presidente do Instituto Ambiental Sol do Campo. E-mail: fátima@soldocampo.com

3- Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela UFV. É professor do IFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente, EAD em Gestão Ambiental e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É consultor do IBAMA e Conselheiro do COPAM da Zona da Mata, MG. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Rio Formoso

*Por Elaine dos Santos 1 e Maurício Novaes Souza


Tabuleiro é um município de MG, situado na Zona da Mata, às margens do Rio Formoso. Possui relevo montanhoso e seus principais rios são: Ribeirão Queira-Deus e o Rio Formoso, ambos pertencentes à Bacia do Rio Paraíba do Sul. Dentre um dos problemas da cidade, vale à pena ressaltar os impactos que vem sido causados no rio.

As principais causas são o esgoto a céu aberto, poluição urbana, poluição industrial, poluição causada pelos agricultores, poluição pelas pocilgas.

As consequências destes atos são visíveis: mortandade dos peixes, degradação das margens do rio, contaminação das águas, assoreamento entre outros.

Para se evitar que este problema aumente, é preciso que a população tenha consciência. Quanto aos esgotos, é preciso que haja tratamento, uma vez que este é lançado diretamente no rio. Devem-se revitalizar as margens do rio, já que a única vegetação encontrada é o capim braquiária.

É preciso ainda que haja uma fiscalização constante para que os infratores sejam punidos.

Para compensar os danos causados ao meio ambiente, em caso específico do Rio Formoso, é necessário que os principais poluentes tenham a consciência do mal que estão causando e tentem de alguma forma evitar que o problema aumente.

A maior dificuldade encontrada para solucionar o problema é a conscientização da comunidade, em especial das pessoas que moram próximas as margens do Rio. Há de se considerar, também, as fábricas, que jogam seus dejetos diretamente nas águas.

Contudo, cabe a cada um de nós estarmos empenhados na preservação do Meio Ambiente. Para que com isso nossos recursos naturais sejam preservados atendendo assim as nossas necessidade e a das gerações futuras.
* 1. Aluna do curso de Segurança no Trabalho do IFET - RIO POMBA.

A exploração dos recursos naturais

Por Elviane de Paula 1, Tatiana da Silva 2 e Maurício Novaes Souza

Devido ao privilégio excessivo do nosso bem-estar, estamos acabando com os recursos naturais. Devemos estimular a educação ambiental como forma de aprendermos a preservar o sustento e a sobrevivência das novas gerações. Devemos parar de ser egoístas e pensarmos somente no presente. Devemos acreditar que podemos inovar sustentavelmente.

A exploração dos recursos naturais é bem crítica: perfuramos, cortamos árvores, explodimos montanhas, extraímos minerais, consumimos toda a água e exterminamos animais, fazendo tudo isso por luxo, não por questão de sobrevivência. Não sabemos usar o suficiente. Por esse fato, ultrapassamos os limites do crescimento e estamos pondo em risco nossos recursos naturais.

As políticas públicas não se importam com as riquezas naturais que nossa terra oferece. Verificam-se medidas que visam à exploração máxima dos recursos. Para minimizar, vêm sendo implantados projetos como reciclagem e recuperação de áreas degradadas, mas abaixo da real necessidade que o momento exige.

Temos que seguir o desenvolvimento imposto pelo progresso para nos integrar às exigências da sociedade, mas nos preocuparmos com os processos industriais. Precisamos buscar tecnologias limpas para que de fato ocorra o desenvolvimento sustentável. Vivemos numa época onde a dominância dos modelos produtivos deverão nos encaminhar para essa busca.

Desta forma, devemos exigir um modelo de crescimento responsável, consciente e cobrarmos do governo fiscalização rígida. A educação e a gestão ambiental são ferramentas que mostrarão a importância da necessidade e compromisso que temos com o meio ambiente. Adotando tais práticas, vamos conseguir mudar e preservar as atuais e futuras gerações.

* Alunas do curso de Segurança no Trabalho do IFET-RIO POMBA.

domingo, 13 de setembro de 2009

Gestão e preservação dos recursos naturais: estratégia para o desenvolvimento sustentável

Por Maurício Novaes Souza1 e Camilo Silva Cantanhede2

Durante o período das chamadas “Revolução Industrial” e “Revolução Verde”, em todo o mundo, não houve preocupação com as questões ambientais. Isso porque os recursos naturais eram abundantes e a poluição não era foco da atenção da sociedade industrial e intelectual da época. Com o crescimento acelerado e desordenado da produção e da população humana mundial, que resultaram na aceleração dos impactos e degradação ambientais, o resultado que se tem é a escassez dos recursos naturais. Surge então, recentemente, o conflito da sustentabilidade dos sistemas econômico e natural, fazendo do meio ambiente um tema literalmente estratégico e urgente. O homem começa a entender a impossibilidade de transformar as regras da natureza e perceber a importância da reformulação de suas práticas ambientais.

Infelizmente, mesmo sabendo que toda a matéria-prima utilizada nos processos produtivos é proveniente da natureza, a importância estratégica dos recursos naturais ainda não é bem reconhecida no Brasil, onde a ausência de políticas públicas e o desconhecimento por parte da população, não assegura o seu uso controlado e a sua gestão racional. Dessa forma, como não são respeitados os conceitos de “Limites do Crescimento”, a humanidade está usando 20% a mais de recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. Ou seja, como estamos usando os recursos além de sua capacidade de reposição, significa que se ultrapassaram a capacidade de suporte, de autodepuração e de regeneração dos sistemas. Assim, estão-se avançando sobre os estoques naturais da Terra, o que inviabilizará o desenvolvimento humano e econômico do país, comprometendo as gerações atuais e futuras.

A preservação da diversidade ecológica e dos recursos naturais, frente ao quadro de destruição da natureza em escala global, deveria consistir na base do desenvolvimento da nação. A possibilidade de usar tais recursos, como no turismo ecológico e na pesquisa e desenvolvimento de produtos fito-farmacológicos, são apenas dois dos vários pontos que corroboram a necessidade de utilizar a natureza em favor do desenvolvimento. Entretanto, a preservação dos recursos naturais se torna impossível frente à falta de saneamento básico, particularmente o tratamento dos resíduos sólidos urbanos e do esgoto doméstico/comercial, principais responsáveis pela poluição ambiental. Apesar da melhoria na coleta de tais resíduos, a falta de destinação adequada para os mesmos consiste em um dos maiores entraves para vincular o desenvolvimento econômico com a preservação da natureza, gerando graves impactos de ordem sócio-econômica e ambiental.

A população tem sua parcela de culpa? Claro que sim. O consumismo desenfreado, por exemplo, é um grave problema que precisa ser encarado de frente, quando se tem em mente a preservação dos recursos naturais. A falta de consciência por parte da sociedade faz com que inúmeros utensílios sejam fabricados em larga escala e descartados logo em seguida por outros mais avançados. Esta dinâmica exige a utilização de matéria-prima específica, que não raro, implica em devastação do ambiente para acessar as reservas desses minérios: o rápido descarte destes produtos, sem reciclagem, significa mais “lixo” descartado no ambiente.

Agindo dessa maneira, todos os dons recebidos pelo homem, por intermédio de seu conhecimento da natureza e de seus progressos advindos do desenvolvimento tecnológico nos mais diversos setores, tais como a química, a informática e a medicina, tudo aquilo que parecia poder atenuar o sofrimento humano e melhorar sua vida, tende, por um espantoso paradoxo, a arruinar a humanidade. Ela ameaça fazer algo que, normalmente, não costuma acontecer em outros sistemas vivos, ou seja, sufocar a si mesma.

Por estas questões, a gestão e a preservação dos recursos naturais devem ser vistas como estratégias para o desenvolvimento sustentável. Questões como saneamento básico necessita de mais atenção por parte das autoridades competentes. Entretanto, há de se considerar, que a conservação da natureza e dos recursos naturais, dos quais todos nós dependemos, será fruto, principalmente, da tomada de consciência individual no que diz respeito ao nosso modo de vida e suas implicações e consequências sobre o meio ambiente.

* 1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET/Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente, EAD em Gestão Ambiental e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Conselheiro do COPAM e consultor do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

2. Bacharelando em Agroecologia do IFET/RIO POMBA. E-mail: camiloaju@yahoo.com.br.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Gerenciamento da sustentabilidade do projeto como processo auxilia de planejamento e execução

* Por Anna Sophia Barbosa Baracho



A busca de um produto que seja desenvolvido de forma sustentável nas esferas econômica, social e ambiental já faz parte do escopo de muitas empresas que produzem estratégias capazes de viabilizar as suas responsabilidades socioambientais, através de projetos específicos para a área ambiental, principalmente para aquelas potencialmente poluidoras. Mas apesar disso, ainda é comum profissionais perderem o controle do prazo e do custo – chegando a afetar a qualidade do(s) produto(s) – devido à má utilização ou falta de metodologias aplicadas no gerenciamento de seus processos.



A elaboração de projetos ambientais ainda é feita sem a devida sistematização das informações necessárias à implantação do projeto e resultados esperados: passagem pelas fases dos processos, das ferramentas e técnicas mais apropriadas para o planejamento e execução.
O devido acompanhamento dos projetos ambientais que garanta o princípio de sustentabilidade nos negócios deve ser focado no padrão PMI desde o início da sua concepção, pois, permite detectar possíveis falhas, além de ir de encontro com as atuais exigências de gerenciamento e transformações do mercado.



Palavras chaves: Gerenciamento da Sustentabilidade, Metodologia e Sistematização PMBoK, Responsabilidade Social Corporativa.



INTRODUÇÃO: OPORTUNIDADES PARA A SUSTENTABILIDADE



Organizações de todo o mundo estão cada vez mais procurando meios de melhorar seu desempenho global considerando aspectos da qualidade, meio ambiente e saúde, como parte integrante de sua gestão integrada. A incorporação da sustentabilidade nos negócios demanda, atualmente, por instrumentos objetivos que permitam às organizações trilharem, de forma prática, os caminhos necessários às mudanças nos modelos mentais e de gestão. Tendo como ponto de partida da análise os projetos como agentes potenciais de mudança, objetiva-se uma avaliação desta prática de gestão e como ela pode ser revisada, incorporando premissas e diretrizes do desenvolvimento sustentável.



A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) como forma de orientar as empresas rumo a um modelo de desenvolvimento sustentável tem sido o grande desafio de gestão já vivenciado pelas empresas no mundo todo. Ao serem colocados nas mesmas posições os aspectos econômicos, sociais e ambientais, busca-se um equilíbrio de variáveis que usualmente fogem ao modelo praticado pelas organizações: a perspectiva sistêmica, a noção do longo prazo, dentre outros.



Diversas são as estratégias de se repensar os negócios a partir das premissas do desenvolvimento sustentável, entretanto, poucas delas têm focado um aspecto importante no dia-a-dia das organizações: os projetos.Se projetos promovem mudanças, então pode-se dizer que estas levam as empresas a novos rumos em seus negócios. Mas quais rumos são esses? E quanto esses projetos trouxeram as diretrizes para a sustentabilidade? Adotando-se que os modelos de gestão estão usualmente baseados em melhores práticas a serem incorporadas em suas realidades, deve-se perguntar quais são estas melhores práticas associadas aos projetos e o quanto elas estão levando em consideração as diretrizes para o desenvolvimento sustentável.



O objetivo aqui consiste em colocar de forma mais enfática os aspectos positivos, ou seja, o quanto o produto ou serviço potencializa as questões sociais e ambientais. Todo esse processo de questionamento demanda de um roteiro que facilite sua compreensão e entre todos os roteiros desenvolvidos destaca-se o sugerido pelo Project Management Institute (PMI)© (http://www.pmi.org/). O roteiro vem somar às demais técnicas já propostas e utilizadas no campo da gestão, agregando quando o tema são os investimentos ligados aos projetos empresariais e sustentabilidade.



Modernizar, competir, rentabilizar, aprimorar, são palavras cotidianas no mundo dos negócios. E este é o primeiro ponto: com que freqüência, a cada projeto novo iniciado nas organizações, é questionado o quanto ele contribui para o caminho a um modelo de desenvolvimento sustentável e simultaneamente corporativamente responsável?



Pode-se pensar em projetos dos mais variados tipos dentro das organizações: aprimorar modelos de gestão, implantar novos sistemas de informação, entrar em novos mercados, lançar novos produtos, ou seja, existem projetos de todos os tipos, portes e impactos. Entretanto, há uma natureza de projetos que está no caminho crítico de qualquer negócio: são os projetos relacionados aos produtos ou serviços. Estes projetos são particularmente importantes, pois justificam a organização perante seu mercado, oferecem a ela as condições de permanecer existindo, de gerar seus resultados econômicos, de se mostrarem para seus clientes da forma verdadeira. E, são estes mesmos projetos os principais responsáveis pelos impactos, positivos ou negativos, no negócio em termos econômicos, ambientais e sociais.



Há que se ressaltar que o tema de projetos alinhado com a questão do desenvolvimento sustentável pode ser considerado como um “tipo de inovação”. Entretanto, sua implementação no modelo de gestão atual pode ser considerada como uma ação de certa complexidade, ao mesmo tempo em que aponta questões de ordem prática ligadas ao tema da sustentabilidade no cotidiano das empresas e pode apresentar impactos relevantes estruturais ou na decisão final por determinados investimentos.



DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CAMINHO SEM VOLTA



Diversos são os sinais e constatações da insustentabilidade do modelo econômico atual. Como implementar mudanças que alinhem as três esferas (econômico, social e ambiental) no contexto da gestão empresarial? Muitos têm sido os esforços para o “repensar” do modelo dos negócios, principalmente no que se refere ao posicionamento estratégico das organizações e do modelo de gestão. Porém, tem-se notado que as criações de novos paradigmas no campo da sustentabilidade encontram maiores dificuldades do que o esperado em processos usuais de mudanças no mundo corporativo. Tem-se conseguido demonstrar em que aspectos a gestão dos negócios deve mudar, contudo, não se consegue ter o mesmo sucesso na explicitação de formas que levem à criação de um novo paradigma que sustente o modelo proposto.



Em grande parte, as organizações explicitam sua intenção de agir pautadas pelas três dimensões (econômico, social e ambiental), porém as atitudes, em sua maioria, são direcionadas pelo paradigma da dimensão econômica. Todo esse processo de mudança encontra questionamentos ao longo do percurso de transformação de uma organização rumo à sustentabilidade: o que faz determinadas lideranças empresariais considerarem a sustentabilidade nos negócios como evidente, ao mesmo tempo que para outras é difícil a forma de geri-los.



Porém, muitas organizações que já adotaram a sustentabilidade como diretriz estratégica apresentam melhores resultados econômicos. Este é o contexto no qual se insere o tema de projetos. Sabe-se que um projeto é uma mudança, entretanto, é preciso sempre entender as motivações e as reais possibilidades de rumar na direção desejada.



ESTRATÉGIAS, PROJETOS E SUSTENTABILIDADE



A proposta apresentada para o encaminhamento dos projetos no contexto da sustentabilidade parte da seguinte visão geral:











No centro da figura encontra-se a estrutura clássica de gestão empresarial,onde, no topo da pirâmide, constam os princípios do negócio. No lado direito, as dimensões da Responsabilidade Social Corporativa adotadas por algumas empresas e, no lado esquerdo, as dimensões da Sustentabilidade. A tríade econômico, social e ambiental está representada no modelo, tendo na base a necessidade de Integração, Alinhamento e Coerência.


Um projeto que esteja neste contexto, durante sua concepção necessita responder a algumas questões ligadas aos aspectos econômicos do negócio, como por exemplo, se alterará ou não a proposta de valor da empresa frente aos seus mercados, se alterará ou não a estrutura organizacional da empresa, etc.


Agrega-se aos projetos um conjunto de novas questões que, somadas às questões usuais aplicadas a estes, despertam a possibilidade de colocar o tema em pauta, principalmente aos stakeholders do projeto. Em todo o processo de aprovação de investimentos em projetos podem ser inseridas estas questões como parte dos critérios de aprovação dos mesmos. O objetivo é que, todo projeto de investimento acima de um determinado valor, seja aprovado pelas instâncias com poderes para tal, aplicando como questionamento as propostas contidas no roteiro do projeto.




Figura 2: Novas questões a serem inseridas nos projetos quando da montagem de seu escopo, referindo-seao potencial de inserção dos temas de gestão como parte integrante do planejamento e execução.


AVALIAÇÃO DOS PROJETOS COM O ENFOQUE DA SUSTENTABILIDADE


Que novos processos devem ser pensados para a gestão da sustentabilidade? Quais são as técnicas, as ferramentas e as informações que devem ser adicionados àqueles já previstos pelas áreas de conhecimento? Ou seja, como garantir que os padrões de gerenciamento de projetos reflitam preocupações relacionadas à sustentabilidade?


Visando facilitar a aplicação dos conceitos apresentados no campo da sustentabilidade, foram desenvolvidas duas planilhas com base no modelo proposto pelo PMBoK®. Para a elaboração do check-list foram mapeados os resultados que derivam das fases de planejamento e execução do ciclo de gerenciamento dos projetos, inserindo questões que contemplam a temática da Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e do desenvolvimento sustentável tomando como referência os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (http://www.pnud.org.br/milenio/index.php).

PROCESSOS DE PLANEJAMENTO DO PROJETO

Aprovado o Termo de Abertura, dá-se início ao planejamento do projeto. Esta etapa do ciclo demanda um maior detalhamento e confere materialização às questões da sustentabilidade tratadas na etapa de Iniciação do Projeto.

PROCESSOS DE EXECUÇÃO DO PROJETO

Findo o planejamento do projeto e aprovado seu detalhamento junto à alta administração, inicia-se a etapa de execução.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estabelecidos os parâmetros utilizados para a avaliação e condução de projetos, os aspectos apresentados influenciam os resultados de cada uma das diferentes etapas que derivam de cada uma das fases do ciclo de processos de gerenciamento dos projetos.

Como em todo processo de inovação, a construção de um novo modelo de gerenciamento de projetos, que leve em conta o desenvolvimento sustentável, a incorporação de novas sugestões e observações, dentro do conjunto de aspectos específicos das diretrizes estratégicas da empresa, terão como resultados destes aprimoramentos: a contribuição positiva para imagem da empresa, considerando a exposição na mídia, pública e a percepção dos clientes; a observação de critérios, protocolos e declarações ambientais e de gestão de expressão internacional, passíveis de certificação ou não; a redução dos impactos ambientais nos processos; a melhoria da qualidade de trabalho para funcionários, com fornecedores e clientes; a aplicação de conceitos de consumo consciente, cidadania corporativa, ética, qualidade de vida e desenvolvimento local.

Dentro do universo das empresas, grande parte delas deve entender que os temas tratados sobre a sustentabilidade são relevantes, e virá para a pauta estratégica do negócio por necessidade e pressão interna e/ou externa. Afinal é esperado das organizações que incorporem em sua visão a perspectiva da sustentabilidade como eixo central de sua estratégia de sobrevivência e crescimento; que incorporem em suas atitudes e práticas de gestão novas perspectivas de análise e tomada de decisão, que considerem e integrem equilibradamente os aspectos econômicos, sociais e ambientais; que baseados nessas mudanças, possam apresentar resultados significativos em termos de impactos produzidos no contexto socioambiental em que atuam, minimizando impactos negativos e potencializando impactos positivos, de forma contínua e progressiva; que sejam agentes multiplicadores desta perspectiva de desenvolvimento em toda sua cadeia, influenciando e fortalecendo suas relações com os stakeholders.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. 191 p.CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DO INSTITUTO ETHOS 2006. Gestão de projetos para sustentabilidade. Disponívelem:<http://www.ethos1.org.br/>. Acesso em 12/12/2008.
LEAL, Guilherme. Crise financeira pode abrir espaço para que o modelo de desenvolvimento seja repensado de forma mais sustentável. Disponível em:<http://www.funbio.org.br/publique/web/cgi/cgilua.exe/sys/start.htminfoid=6234&sid=17>. Acesso em 09/01/2009.
NBR ISO 14001. Sistemas de gestão ambiental: especificação e diretrizes para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 1996. 14p.OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/milenio/index.php> Acesso em 10/12/2008.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um guia do conjunto de conhecimentos em gerenciamento de projetos: guia PMBOK. 3ª ed. Newton Square: PMI, c2004. 388 p.

SOUZA, Maurício Novaes. Degradação e recuperação ambiental e desenvolvimento sustentável. Dissertação de Mestrado. Viçosa: UFV, 2004.

VARGAS, Ricardo Viana. Manual prático do plano de projeto: utilizando o PMBOK Guide. 3ª ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2007. 226 p.

* Arquiteta e Urbanista (PUCMINAS); Especialista em Meio Ambiente e Arquitetura Bioclimática (Universidad Politécnica de Madrid); Especialista em Engenharia Ambiental Integrada (IETEC); Pós-graduanda em MBA Administração de Projetos pelo IETEC.

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: ÉTICA NA PRÁTICA DO DIA A DIA

* Por Maria de Fátima Vieira Aguiar

Ter o conhecimento e colocá-lo em prática há uma diferença muito grande, principalmente no que se refere à utilização da água. Nossos hábitos culturais estão arraigados. Ariscamos muitas vezes a interromper processos nos quais necessitamos para dar continuidade a uma vida saudável. Desperdiçamos, consumimos exageradamente, colocamos em risco nossa saúde e a dos nossos semelhantes. Preferimos não olhar a nossa volta e continuar a caminhar como se nada pudesse nos impedir de viver. Mas sabemos da nossa fragilidade e interdependência. O que acontece conosco então?

Refletir sobre artigos que nos alertam sobre nosso comportamento em relação à utilização dos recursos naturais e escrever sobre os mesmos, tem como finalidade a Educação Ambiental. É uma forma de alertar o leitor de que, apesar de termos uma consciência reflexiva, nossas ações muitas vezes, não condizem com nosso conhecimento e necessidades. E para essa prática, escolhemos estes dois artigos que poderão ser apreciados.

O artigo, “Dia Mundial da água: vamos comemorar?”; da engenheira civil e ambiental, Rosa Helena Borges Peres, e o artigo: “A economia, o ambiente e os limites do crescimento” do engenheiro agrônomo, Maurício Novaes Souza, refletem bem o grau de complexidade relacionada à adequação de um sistema, no qual insistem na insustentabilidade. E nos alegra ler trabalhos de profissionais de áreas diferentes, que possuem a mesma consciência ética relacionada ao meio ambiente. Esses profissionais, e tantos outros com a mesma postura, parecem estar na contramão no que diz respeito a visão do sistema organizacional, defendem a ética na utilização dos recursos naturais.

A professora Rosa pergunta-nos: como merecia ser comemorado o dia da água? Parece que está sendo comemorado, segundo Peres, (2009), com bolo e vela, se comparado ludicamente. Mas com água farta para todos? Até nos embriagar se fosse possível? Água límpida? Colocam-na em pauta quase todos os dias, mas ao utilizarmos o recurso hídrico, talvez por estarmos em região que ainda não é possível sentir sua escassez de fato, nos fartamos desta fonte de vida, sem lucidez.

O professor Maurício em sua visão holística sugere que se façam políticas públicas voltadas para a questão social e ambiental. Que o poder público ao legislar consiga efetivar as propostas dentro de parâmetros éticos, visando pesquisas voltadas a proteção dos ecossistemas, no qual estamos inseridos. Pensar desta forma, é ser estratégico, é estar em sintonia com a realidade econômica, no qual depende totalmente dos resultados dessa interação.

Para comemorar o dia da água, a "resurgência" da vida, a cada dia deveríamos estar repensando de como se apropriar deste recurso de forma a contribuir para que esta prática nunca se esgote. Proteger aquela que nos alimenta, nossa extensão. Numa festa sem fim, dia após dia. Acordar e “acordar” a cada minuto para que nossos hábitos sejam compatíveis com as nossas necessidades individuais, humanizados, interagindo bem com a natureza.


* Licenciada em Geografia, Especialista em Educação-concentração em Geografia e Gestão Ambiental. Técnica em Meio Ambiente/ Professora de Ensino Básico do Estado de Minas Gerais. Orientadora do curso de especialização de Geografia (EVATA). Vice - presidente do Instituto Ambiental Sol do Campo. E-mail: fatima@soldocampo.com

A superpopulação, o modelo de crescimento e a importância da consciência ambiental


* Por Maurício Novaes Souza1 e Maria Angélica Alves da Silva2


Durante o período das chamadas “Revolução Industrial” e “Revolução Verde” não havia preocupação com as questões ambientais. Isso porque os recursos naturais eram abundantes e a poluição não era foco da atenção da sociedade industrial e intelectual da época. Com o crescimento acelerado e desordenado da produção e da população humana mundiais, que resultaram na aceleração dos impactos e degradação ambientais, o resultado que se tem é a escassez dos recursos naturais. Surge então, recentemente, o conflito da sustentabilidade dos sistemas econômico e natural, fazendo do meio ambiente um tema literalmente estratégico e urgente. O homem começa a entender a impossibilidade de transformar as regras da natureza e perceber a importância da reformulação de suas práticas ambientais.

Cabe considerar o conceito “Limites do Crescimento” - de acordo com Marilena Lino de Almeida Lavorato, a humanidade está usando 20% a mais de recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. Ou seja, como estamos usando os recursos além de sua capacidade produtiva, significa que os limites do crescimento não foram observados, ultrapassaram-se a capacidade de suporte, de autodepuração e de regeneração dos sistemas. Assim, estão-se avançando sobre os estoques naturais da Terra, comprometendo as gerações atuais e futuras, segundo o Relatório Planeta Vivo 2002 elaborado pelo WWF. De acordo com o relatório, o planeta tem 11,4 bilhões de hectares (ha) de terra e espaço marinho produtivos - ou 1,9 ha de área produtiva per capita. Contudo, a humanidade está usando o equivalente a 13,7 bilhões de ha para produzir os grãos, peixes e crustáceos, carne e derivados, água e energia que consome. Cada um dos 6 bilhões de habitantes da Terra, portanto, usa uma área de 2,3 ha; ou seja, essa é a pegada ecológica de um dos habitantes do Planeta. O fator de maior peso na composição da Pegada Ecológica, nos dias atuais, é a energia, sobretudo nos países mais desenvolvidos.

A Pegada Ecológica de 2,3 ha é uma média. Há grandes diferenças entre as nações mais e menos desenvolvidas, como mostra o Relatório Planeta Vivo, que calculou a Pegada de 146 países com população acima de um milhão de habitantes. Os dados de 1999 mostram que enquanto a Pegada média do consumidor da África e da Ásia não chega 1,4 hectares por pessoa, a do consumidor da Europa Ocidental é de cerca de 5,0 ha e a dos norte-americanos de 9,6 ha. Embora a Pegada brasileira seja de 2,3 ha – dentro da média mundial, está cerca de 20% acima da capacidade biológica produtiva do planeta; ou seja, vivemos a época do horror econômico e ambiental – a época do contra senso.

De acordo com Konrad Zacharias Lorenz, que criou o conceito de "imprinting", ou cunhagem, todos os dons recebidos pelo homem por intermédio de seu profundo conhecimento da natureza e de seus progressos advindos do desenvolvimento tecnológico, nos mais diversos setores, tais como a química, a informática e a medicina, tudo aquilo que parecia poder atenuar o sofrimento humano, tende, por um espantoso paradoxo, a arruinar a humanidade. Segundo esse mesmo autor, ela ameaça fazer algo que, normalmente, não costuma acontecer em outros sistemas vivos, ou seja, sufocar a si mesma. O pior, nesse processo apocalíptico, é que as qualidades e as faculdades mais nobres do homem são as que parecem destinadas a desaparecer em primeiro lugar, justamente aquelas que mais estimamos, e que são, com justeza, as mais especificamente humanas.

Segundo esse autor, os que vivem em países civilizados de grande densidade demográfica, ou mesmo em grandes cidades, não se têm idéia do quanto nos falta o amor ao próximo, sincero e caloroso. É preciso ter pedido hospitalidade numa região pouco habitada, onde vários quilômetros de estrada ruim separam vizinhos uns dos outros, para medir o quanto o ser humano é hospitaleiro e capaz de simpatizar com os outros quando suas faculdades de contato não são constantemente e excessivamente solicitadas. Na verdade, para esse autor, o ajuntamento humano nas cidades modernas é em grande parte responsável por não sermos mais capazes de distinguir o rosto do próximo nessa fantasmagoria de imagens humanas que mudam, se superpõem e se apagam continuamente. Diante dessa multidão e dessa promiscuidade, nosso amor pelos outros se desgasta a tal ponto que os perdemos de vista. Os que querem ainda ter para com seus semelhantes sentimentos calorosos e benévolos são obrigados a se concentrar em um pequeno número de amigos.

Em artigo recente do jornalista Fernando Martins, “O mito do homem bom e do homem mau”, uma pergunta inicial: o ser humano é bom ou mau por natureza? A resposta a essa pergunta, tão antiga como o homem, moldou todas as instituições políticas e econômicas atuais e a forma como elas nos governam. Também ajudou a reforçar mitos dos quais a sociedade atual não consegue escapar. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588–1674) entendia que o homem é naturalmente egoísta. Para ele, sem um Estado forte que limite as pretensões individuais, haveria uma guerra de todos contra todos. Suas teorias justificaram o absolutismo dos reis europeus, e, posteriormente, todas as formas de autoritarismo e totalitarismo. Mas as idéias “atenuadas” de Hobbes de certa forma também inspiram nações democráticas que crêem no papel de um governo forte para definir os rumos de uma sociedade.

De fato, para Lorenz, nos é impossível amar toda a humanidade, apesar da justeza dessa exigência moral. Somos, portanto obrigados a fazer uma escolha, ou seja, a manter a distância, emocionalmente, numerosos seres dignos de nossa amizade. É um processo absolutamente inevitável para cada um de nós, mas já manchado de desumanidade. Levando mais adiante esse tipo de defesa voluntária contra as relações humanas, veremos que, de conformidade com os fenômenos de exaustão do sentimento, conduz às espantosas manifestações de indiferença que os jornais relatam diariamente. Quanto mais somos levados a viver na promiscuidade das massas, mais cada um de nós se sente acuado pela necessidade de não se envolver. É assim que hoje em dia os ataques à mão armada, o assassinato e o estupro podem acontecer em plena luz do dia, justamente no centro das grandes cidades, nas ruas cheias de gente, sem que sequer um “transeunte” intervenha. Amontoar os homens em espaços limitados leva de forma indireta a atos de desumanidade provocados pelo esgotamento e desaparecimento progressivo dos contatos, e é a causa direta de todo um comportamento agressivo.

Segundo esse mesmo autor, numerosas experiências realizadas em animais nos ensinaram que a agressividade entre congêneres pode ser estimulada amontoando-os em espaço limitado. Quem nunca teve experiência semelhante, quer em cativeiro, quer em situação análoga em que muitas pessoas vivem juntas por força das circunstâncias, não pode avaliar o grau de intensidade a que cega a irritabilidade. E se a pessoa tenta se controlar, se esmera no contato de cada dia, de cada hora, para ter uma atitude delicada e, portanto amigável, para companheiros pelos quais não tem qualquer amizade, a situação vira suplício. A falta de amabilidade generalizada, que podemos observar em todas as grandes cidades, é claramente proporcional à densidade das massas humanas aglomeradas em determinado lugar. Atinge proporções aterradoras nas grandes estações, ou nos terminais de ônibus e de metrô de Nova Iorque, Tóquio e São Paulo, por exemplo.

A superpopulação, que na verdade é produto das chamadas “Revolução Industrial” e “Revolução Verde”, contribui diretamente para gerar todos os problemas, todos os fenômenos de decadência. Acreditar na possibilidade de produzir, graças a um “condicionamento” apropriado, um novo tipo de homem, armado contra as conseqüências nefandas do empilhamento num espaço limitado, me parece uma ilusão perigosa. Isso já é bem registrado em pesquisas com animais. De acordo com José Saramago, há muito tempo que os especialistas em virologia estão convencidos de que o sistema de agricultura intensiva da China meridional foi o principal vetor da mutação gripal: tanto da “deriva” estacional como do episódico “intercâmbio” genômico. Há seis anos que a revista Science publicou um artigo importante em que mostrava que, depois de anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte havia dado um salto evolutivo vertiginoso. A industrialização, por grandes empresas, da produção pecuária rompeu o que até então tinha sido o monopólio natural da China na evolução da gripe.

De acordo com Saramago, nas últimas décadas, o setor pecuário se transformou em algo que se parece mais à indústria petroquímica que à bucólica “rocinha familiar” que os livros de texto na escola buscam descrever. Em 1966, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de suínos distribuídos por um milhão de granjas. Atualmente, 65 milhões de porcos se concentram em 65.000 instalações. Isso significou passar das antigas pocilgas às incomensuráveis granjas/depósitos fecais atuais, nos quais, entre o esterco e sob um calor sufocante, prontos para intercambiar agentes patogênicos à velocidade imprevisível, se amontoam dezenas de milhões de animais com mais do que debilitados sistemas imunitários. Não será, certamente, a única causa, mas não poderá ser ignorada.

Voltando a falar de consumo de energia, tem-se de pensar em emissões de poluentes. Nesse aspecto, as diferenças dos índices emitidos pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento também são significativas: um cidadão médio norte-americano, por exemplo, responde pela emissão anual de 20 toneladas anuais de dióxido de carbono; um britânico, por 9,2 toneladas; um chinês, por 2,5; um brasileiro, por 1,8; já um ganês ou um nicaragüense, só por 0,2; e um tanzaniano, por 0,1 tonelada anual (Wolfgang Sachs, do Wuppertal Institute).

Nos países industrializados cresce cada vez mais o consumo de recursos naturais provindos dos países em desenvolvimento - a ponto daqueles países já responderem por mais de 80% do consumo total no mundo. Segundo Sachs, 30% dos recursos naturais consumidos na Alemanha vêm de outros países; no Japão, 50%; nos países Baixos, 70%. Dessa forma, o grande desafio da humanidade é promover o desenvolvimento sustentável de forma rápida e eficiente. Este é o paradoxo: sabemos que o tempo está se esgotando, mas não agimos para mudar completamente essa situação antes que seja demasiado tarde.

A escritora Viviane Forrester, em seu livro “O horror econômico”, comenta: depois da exploração do homem pelo homem em nome do capital, o neoliberalismo e seu braço operacional, que é a globalização, criaram, mantêm e ampliam, em nome da sacralidade do mercado, a exclusão de grande parte do gênero humano. O próximo passo será a eliminação? Caminhamos para um holocausto universal, quando a economia modernizada terá repugnância em custear a sobrevivência de quatro quintos da população mundial? Depois de explorados e excluídos, bilhões de seres humanos, considerados supérfluos, devem ser exterminados? Diante a situação em que vivemos, o raciocínio é bem mais do que uma hipótese.

Viu-se no filme “Uma verdade Inconveniente” que uma rã posta na água fervente saltará rapidamente para fora, mas se a água for aquecida gradualmente, ela não se dará conta do aumento da temperatura e tranqüilamente se deixará ferver até morrer. Situação semelhante pode estar ocorrendo conosco em relação à gradual destruição do ambiente natural e dos rumos ditados pelos modelos de desenvolvimento econômico. Hoje, grande parte da sociedade se posiciona como mero espectador dos fatos, esquecendo-se de que somos todos responsáveis pelo futuro que estamos modelando. Como diz Leonardo Boff, devemos exercer a cidadania planetária, e rapidamente.

A conscientização ambiental de massa só será possível com percepção e entendimento do real valor do meio ambiente natural em nossas vidas, que é o fundamento invisível das diferenças socioeconômicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O dia em que cada brasileiro entender como esta questão afeta sua vida de forma direta e irreversível, o meio ambiente não precisará mais de defensores. A sociedade já terá entendido que preservar/conservar o meio ambiente é garantir a própria vida. Fragilizar o meio ambiente é fragilizar a economia, o emprego, a saúde, e tudo mais. Esta falta de entendimento compromete a adequada utilização de nossa maior vantagem competitiva frente ao mundo: recursos hídricos, matriz energética limpa e renovável, biodiversidade, a maior floresta do mundo, e tantas outras vantagens ambientais que nós brasileiros temos e que atrai o olhar do mundo.

Mas, se nada for feito de forma rápida e efetiva, as próximas gerações serão prejudicadas duplamente: pelos impactos ambientais e pela falta de visão de nossa geração em não explorar adequadamente a vantagem competitiva de nossos recursos naturais. As sugestões encontradas nos modelos de gestão ambiental, além de despertarem a consciência ambiental que se faz indispensável nesse momento de crise, podem garantir um modelo de desenvolvimento que seja sustentável.

* 1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET/Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente, EAD em Gestão Ambiental e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Conselheiro do COPAM e consultor do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

2. Pedagoga e Especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É professora das disciplinas Sociologia e Artes do IFET - Rio Pomba. E-mail: gecamau@yahoo.com.br.

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