segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Mudanças Climáticas e a Importância da Agrometeorologia na Produção Agropecuária



* por Maurício Novaes Souza


Anos atrás, sob condições de população escassa e exploração industrial mínima, parecia que a Terra poderia ser o provedor inesgotável dos recursos naturais. Entretanto, a população cresceu, a industrialização se expandiu, as florestas são destruídas, os solos erosionados, os depósitos minerais exauridos, o ar e a água se tornam cada vez mais poluídos, e cada vez mais estamos preocupados com as limitações dos recursos da Terra.

Paralelamente, existe uma grande necessidade de aumento na produção de alimentos. Para isso, é necessário que as perdas agrícolas e pastoris sejam minimizadas e a eficiência da produção agropecuária melhorada. Sabe-se que essa atividade é altamente dependente das condições do clima e do tempo em uma dada região. Entretanto, o aumento da produção de alimentos vem sendo feito por intermédio da exploração inadequada dos recursos naturais, prejudicando o ambiente, o solo, a água e o ar.

A Agrometeorologia é uma combinação de ciências físicas e biológicas que estuda as relações entre os elementos climáticos, o solo e os seres vivos e avalia os fenômenos climáticos que influenciam a produção e a produtividade agrícola. Isto faz da agrometeorologia uma técnica indispensável na formação dos profissionais que trabalham nas áreas agropecuárias, bem como para os produtores rurais.

Os maiores problemas relacionados ao aquecimento global e às mudanças climáticas, associados ao efeito estufa, refere-se à sua aceleração. Tornará o clima quente e seco, gerando com decorrer do tempo um superaquecimento global. Inexoravelmente, quebrará gradativamente o ciclo hidrológico. Isso porque, mesmo existindo intenso calor, com a umidade relativa do ar sendo baixa, será impossível formar chuva, pois para que exista a sua formação, será preciso que a umidade do meio ambiente esteja saturada. Além disso, é preciso também, que esta referida umidade saturada, encontre uma massa de ar frio, para se condensar e se precipitar em forma de chuva. Entretanto, o efeito estufa, tira essa condição. Pois, “teoricamente” dissipa (aquece) a massa de ar frio, que funcionaria como elemento condensador do vapor da água (umidade ambiental), que estaria se saturando, ou melhor, deixando esta massa de ar, mencionada anteriormente, quente e seca.

Quebrando o ciclo hidrológico, irá piorar as condições ambientais, para existência de vidas vegetais, animais e humana. Principalmente as espécies animais e vegetais, devido às condições ambientais adversas, do que a espécie humana: por ser um animal racional e se adaptar momentaneamente às condições adversas ambientais. Há de se considerar, o fato de que a espécie humana é a principal depredadora do meio ambiente (fauna e flora). Isto, certamente, levará a biosfera terrestre a um ciclo involutivo, o qual já está se processando, principalmente a partir dos séculos XIX e XX. Estão se observando um contínuo e vertiginoso declínio das espécies animais e vegetais, que pouco a pouco vão perdendo suas biodiversidades e, paradoxalmente, este quadro degenerativo do meio ambiente global vem se agravando, com o advento da Revolução Industrial.

Assim, percebe-se que a desordem ambiental no mundo chegou a um ponto em que, ou se conscientizam as pessoas – e principalmente, os governos – para o tamanho da catástrofe que se avizinha, ou iremos pagar um custo alto pela sobrevivência – se ela for viável. Não há mais certezas com relação ao clima em nenhum lugar do mundo. E isto é apenas um sintoma. Cidades do norte da Europa que sempre consumiram energia para prover aquecimento, hoje estão preocupadas em instalar sistemas de refrigeração; nevascas intensas, e comuns no auge do inverno, surpreendem Nova York no meio do outono; o verão parece não ter se acabado ainda no sul da Europa, as temperaturas sobem a níveis inéditos.

Na raiz de tudo, a predação obstinada em busca do crescimento sem limites, a qualquer custo. É evidente que, no cenário que se estuda, há fenômenos que são cíclicos na natureza, de transformação de florestas em desertos por processos naturais, mas os cientistas, com base nos parâmetros cada vez mais assustadores, avisaram ao mundo que nos aproximamos do caos. Com o Tratado de Quioto, em vigor desde fevereiro de 2005, um sopro de esperança logo seguido do desencanto pela recusa dos Estados Unidos, o maior emissor de carbono do mundo, em acatar as propostas de redução desse avanço em direção à insensatez - prejudicaria o desenvolvimento do país.

Sabemos que o Brasil tem uma das maiores indústrias agropecuárias do Mundo. Por isso, existe uma grande necessidade de informações meteorológicas e climatológicas específicas que capacitem os agropecuaristas a fazerem decisões operacionais. Assim, pode-se considerar que o principal objetivo da Agrometeorologia é colocar a ciência da meteorologia a serviço da agropecuária para melhorar o uso da terra, para ajudar a produzir o máximo de alimentos e evitar o abuso irreversível dos recursos naturais (água e solo).

Em face dessas questões, em décadas recentes o uso da Agrometeorologia na agropecuária vem aumentando. Isto tem sido devido, largamente, aos estudos de laboratório, casa de vegetação e de campo, nos quais as respostas biológicas têm sido medidas sob condições controladas. Existem diversas aplicações das técnicas meteorológicas às operações de campo. Alguns exemplos importantes: a) previsão e proteção contra geadas; b) avisos contra fogo nas florestas; c) planejamento da irrigação; d) calendários de plantio e colheitas; e) seleção de lugares para as culturas; f) controle de insetos; e g) controle de doenças e muitas modificações microclimáticas, como a utilização da prática de quebra-ventos.

Os serviços meteorológicos que precisamos devem estar aptos a satisfazer pelo menos quatro tipos de exigências dos agricultores: a) Previsões do tempo detalhadas, na ocasião exata e adaptadas para operações agrícolas comuns; b) Serviços de extensão para ensinar aos agricultores usar as informações do item anterior; c) Observações especializadas de clima no lugar onde as culturas são realizadas; e d) Um sistema de comunicações para levar as informações atualizadas sobre o clima por intermédio do rádio, da televisão e dos jornais.



* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IFET Rio Pomba e Diretor-Geral do IFET São João del-Rei. É Conselheiro do COPAM e do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

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