segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O marketing e a importância da informação socioambiental



* Por Mauricio Novais Souza1 e Vilmar Berna2

As escolhas da sociedade tenderão a ser tanto melhores quanto melhores forem as informações ambientais que conseguirem chegar ao povo. Se estas informações forem insuficientes, falsas, tendenciosas ou dominadas pelas forças que desejam manter os atuais rumos insustentáveis de consumismo e poluição, isso certamente influenciará em nossas decisões. Por isso é tão importante, na verdade fundamental e estratégico para a sustentabilidade, refletirmos sobre a comunicação e a publicidade que são apenas ferramentas: tanto podem estar a serviço de um modelo consumista e desperdiçador ou a serviço da sustentabilidade, dependendo dos valores que motivam nossas escolhas. Entretanto, um dos motivos que impede a democratização da informação socioambiental comprometida com valores sustentáveis, é a falta de financiamento para esta informação. Portanto, assegurar tais recursos não se trata de uma reivindicação meramente comercial, mas de uma estratégia em opor-se à informação baseada no consumismo e no desperdício como valores em nossa sociedade.

A ausência de políticas públicas e, consequentemente, verbas públicas para campanhas de propaganda e marketing ambientais, que ofereçam um contraponto à propaganda e ao marketing comprometido com o consumismo crescente e ilimitado, reforça na sociedade brasileira a permanência por escolhas tradicionais, insustentáveis, consumistas e desperdiçadoras. Hoje, quem financia a publicidade é a lógica do mercado que está comprometida com lucros, também crescentes e, de preferência, ilimitados. Para aumentar as vendas, usam-se das ferramentas da propaganda e do marketing para criar necessidades e desejos onde as pessoas nem sabiam que tinham, transformar em mercadorias sentimentos e o psicológico das pessoas (por exemplo, o medo da violência em venda de armas e sistemas de segurança). Um mesmo consumidor é estimulado a trocar um produto em bom estado de funcionamento, por outro quase igual, mas com um pequeno diferencial. Isso quando o mercado não providencia para que um produto que poderia durar muito mais já saia da fábrica programado para durar menos: assim o consumidor terá de comprar de novo e descartar o usado que ainda poderia servi-lo.

A mesma ferramenta da propaganda e marketing que tem sido usada a serviço da destruição e do mau uso dos recursos do Planeta, pode e deve ser usada para sensibilizar as pessoas para a necessidade de mudar seus hábitos de consumo. Deverão levar as pessoas a refletirem e fazerem escolhas melhores no próprio ato de consumir, recusando produtos poluidores, de obsolescência planejada, desperdiçadores de recursos naturais, não recicláveis, com elevadas emissões de carbono, por outros, mais sustentáveis e também solidários no sentido de promover a inclusão social.

O Brasil abarcou essa ideia e incluiu na lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que criou a Política Nacional de Educação Ambiental, o art. 5º, inciso II, que garante a democratização das informações ambientais como um dos objetivos fundamentais da educação ambiental. Durante a Eco 92, o Governo Brasileiro assinou, também, na Agenda 21, o compromisso de (artigo 40.18) "sempre que exista impedimento econômico ou de outro tipo que dificultem a oferta de informação e o acesso a ela, deve-se considerar a criação de esquemas inovadores para subsidiar o acesso a essa informação ou para eliminar os impedimentos não econômicos." De fato assinou, mas não se cumpre, ainda. Para tirar estes compromissos e direitos do papel, os governantes precisam perceber a mobilização da sociedade em torno da causa, já que são tantas as prioridades e o cobertor do orçamento geralmente é curto. Atualmente, apenas a chamada Grande Mídia, não especializada em meio ambiente, recebe o aporte das verbas públicas por meio da publicidade de empresas do Governo Federal. Um pequeno percentual disso poderia estar financiado as mídias ambientais, como sugeridos em moção aprovada por mais de 2.000 representantes da sociedade civil durante a II Conferência Nacional de Meio Ambiente.

E como está o nível de informação ambiental da população brasileira? A pesquisa “O que o brasileiro pensa do meio ambiente”, do ISER/MMA, citado no Portal do Meio Ambiente, tem constatado que a conscientização do brasileiro em relação ao meio ambiente aumentou 30% nos últimos 15 anos e cresceu o número de brasileiros que não consideram exagerada a preocupação com o meio ambiente (42% em 97; 46% em 2001 e 49% em 2006). Por outro lado, outra pesquisa, também do ISER/MMA, realizada com 1.141 dos 1.337 delegados participantes da “II Conferência Nacional de Meio Ambiente”, em fevereiro de 2005, constatou que a falta de informação sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental está incluída por estes multiplicadores de opinião entre os três principais problemas ambientais brasileiros.


1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. www.mauriciosnovaes@blogspot.com.

2. Escritor e jornalista, editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente. www.escritorvilmarberna.com.br.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O desafio da sustentabilidade para o comércio varejista


* Por Maurício Novaes Souza


A tão discutida retomada do crescimento, intensamente discutida nos dias atuais, não é suficiente para a solução dos diversos problemas e não é a melhor alternativa para se chegar ao Desenvolvimento Sustentável. É necessário que haja, paralelamente à transformação da estrutura produtiva que garanta a recuperação do dinamismo econômico, políticas que promovam uma maior equidade social.

Há de se considerar que a ideia de objetivar o desenvolvimento sustentável revela, inicialmente, a crescente insatisfação com a situação criada e imposta pelos modelos vigentes de desenvolvimento e de produção das atividades humanas. Resulta de emergentes pressões sociais pelo estabelecimento de uma maior eqüidade social. De acordo com Luiz Carlos de Macedo, Assessor do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e Professor de pós-graduação e co-autor de livros e artigos sobre Responsabilidade Social Empresarial, Sustentabilidade, Varejo Sustentável e Comunicação, o setor varejista brasileiro, cheio de dilemas e problemas encontrados pelo caminho, tem encontrado na sustentabilidade um aprendizado constante.

Para esse mesmo autor, pelo fato de ser muito diversificado e possuir muitos ramos de atuação, as empresas estão em estágios distintos em relação às práticas sustentáveis. As micro e pequenas empresas, apesar de sempre estarem envolvidas com alguma iniciativa, ainda realizam mais projetos ligados à filantropia, tendo a comunidade do entorno como público-alvo. Já as médias e grandes empresas estão avançando para um estágio mais elevado, introduzindo aos poucos a sustentabilidade nas suas operações diárias e fazendo com que critérios sustentáveis sejam adotados e praticados por todos os seus públicos de interesse (“stakeholders”), principalmente, os funcionários, consumidores e fornecedores.

Esse resultado é reflexo de trabalho realizado, desde 2003, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), conhecido como “Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo”. Desde então, tem-se acompanhado diversas iniciativas de empresas varejistas brasileiras com o objetivo de ajudá-las a inserir práticas sustentáveis na gestão dos seus negócios. Atualmente o banco de práticas da FGV, disponível no Portal Varejo Sustentável, conta com centenas de projetos de responsabilidade social e sustentabilidade de varejistas de todas as regiões do Brasil.

Para Macedo, isso demonstra que o varejo está praticando a sustentabilidade de maneira constante. Contudo, isso não quer dizer que essas empresas são plenamente sustentáveis. No sentido de incorporar a sustentabilidade no dia a dia do seu negócio, grandes cadeias de varejo têm desempenhado um grande papel, no intuito de envolver toda a sua cadeia de valor para cumprir uma série de metas sustentáveis. Da mesma forma, outras redes, têm estimulado fortemente seus consumidores a entender e aplicar os conceitos de sustentabilidade no cotidiano. Essas redes estão disseminando os valores sustentáveis nas suas lojas “verdes”, bem como estão adotando soluções alternativas no oferecimento de embalagens nos pontos de venda.

É fato que o consumismo é atualmente um dos males da humanidade. Agrava os problemas ambientais. Como promotor do consumo, o varejo está assumindo a promoção do consumo consciente em vez de somente estimular o consumo desenfreado e irresponsável. O consumidor, mesmo que ainda de forma tímida, deseja que os produtos e serviços que consome contribuam positivamente para o seu bem estar e para as futuras gerações do planeta. Ele quer saber a origem e a história dos produtos, e a tendência é que esse comportamento aumente nos próximos anos.

Pela sua capilaridade e pela sua intensa relação com os consumidores, o varejo terá um leque de opções em aberto para assumir sua responsabilidade frente a uma série de assuntos relevantes para a sociedade e para a sobrevivência do seu negócio, com uma grande oportunidade de se beneficiar das atitudes sustentáveis como diferencial competitivo. Justamente por sua característica de agente intermediário na cadeia produtiva, o varejo pode dar uma contribuição muito significativa no campo da sustentabilidade. Hoje as empresas varejistas podem e devem promover o consumo consciente em suas ações de comunicação e no ponto de venda. Abaixo, segue uma lista de sugestões da Fundação Getúlio Vargas:

• O setor varejista pode reformar ou construir novas lojas com materiais e equipamentos que reduzam o consumo de recursos naturais e diminuam a emissão de gases, muitas vezes reduzindo também o custo da operação no médio e longo prazo.
• As empresas varejistas também têm a possibilidade de influenciar diretamente seus fornecedores para que sejam parceiros de suas iniciativas sustentáveis.
• Podem estimular parceiros a seguir critérios de fornecimento que levem em consideração o respeito à legislação fiscal e trabalhista, favorecendo a erradicação do trabalho infantil e escravo da cadeia produtiva.
• O varejo também pode estimular que os produtos comercializados dos fornecedores não sejam provenientes da exploração predatória dos recursos naturais.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

O consumismo e o papel do comércio varejista nos processos de inovação e educação


* Mauricio Novais Souza1 e Celso da Silveira de Barros2

A Revolução Industrial desenvolveu os processos de fabricação até chegar à produção em escala, substituindo a produção artesanal. Estes produtos proporcionam conforto para a população e de maneira direta ou indireta criam dispositivos que facilitam e dinamiza vários sistemas produtivos, como o comércio varejista. Contudo, esse processo iniciado com tal revolução e achegado ao sistema financeiro (consolidação do capitalismo) e a propaganda (marketing), em poucas décadas, transformou o cidadão em um consumista voraz e descomprometido, causando enorme degradação ambiental.

Evidentemente quando se compara os possíveis confortos que o homem poderia desfrutar no início da Revolução Industrial com os disponíveis nos dias atuais, a diferença é imensa. A indústria, abastecida com capital e a procura de lucros, teve crescimento rápido em produtividade e qualidade. Foi capaz de manter a filosofia de cada vez mais atender todas as exigências dos consumidores, dando-lhes inclusive a oportunidade de escolha ao oferecer-lhe um produto recém desenvolvido, mas com outro mais moderno já na planta da fábrica. Para se ter a ideia dos absurdos praticados, em todo o mundo, apenas nos Estados Unidos, atualmente, jogam-se fora 400 mil celulares por dia.

O consumidor, principalmente o mais jovem, oriundo de uma sociedade que valoriza a aparência em detrimento ao conteúdo, e instigado pela mídia, consome compulsivamente. O sistema mercadológico é tão estrategicamente bem elaborado, que desenvolveu armadilhas pouco perceptíveis para estimular ainda mais o consumidor: oportunidade de comprar sem dinheiro, parcelamento, cartão de crédito, cheque pré-datado, crediário e muitas outras supostas facilidades. Este tipo de consumismo, que geralmente promove a aquisição de supérfluos e não a aquisição de produtos para atenderem às necessidades básicas, gera uma série de consequências desastrosas: do ponto de vista ambiental, pelo excesso de resíduos gerados que irão sobrecarregar os “lixões” e aterros; e do ponto de vista financeiro, principalmente nas classes menos favorecidas, o endividamento futuro e a impossibilidade de honrar seus compromissos.

Analise que esse sistema produtivo consumiu, nas últimas décadas, aproximadamente 30% de todo patrimônio natural do planeta, acumulado ao longo de milhões anos. Além disso, está poluindo todos os sistemas naturais: há países que não têm mais local para estocar o próprio lixo. Considere-se ainda, que socialmente é excludente, pois os imensos lucros ficam com poucas pessoas ou grandes grupos financeiro-econômicos.

Nos dias atuais, tempos de crise econômica em países da Europa e dos EUA, os dirigentes mostram-se preocupados com a sua situação financeira e esquece-se de administrar os recursos e serviços oferecidos gratuitamente pela natureza e imprescindíveis para a manutenção da vida. Para reverter o quadro de lucro a qualquer preço e do consumismo ilimitado, não é tarefa das mais fáceis. Os pais e os educadores terão papel fundamental na educação. É fundamental que a população se informe sobre a situação e assuma as rédeas nas decisões por meio da escolha de dirigentes íntegros e que sejam realmente focados em suavizar as diferenças sociais e os impactos ambientais. O próprio comércio e a mídia poderão contribuir.

Daí a importância do comércio varejista: dada a sua capilaridade e pela sua intensa relação com os consumidores, o varejo terá um leque de opções em aberto para assumir sua responsabilidade frente a uma série de assuntos relevantes para a sociedade e para a sobrevivência do seu próprio negócio. Terá uma grande oportunidade de se beneficiar das atitudes sustentáveis como diferencial competitivo, nesses tempos em que se falam tanto de inovação tecnológica. Há de se considerar, que inovação por si só, não vale nada se não for concebida sob a ótica da sustentabilidade.

A inovação tem de ser social, não só de máquinas ou artefatos. Tem de ser inovação de processos. Tanto que hoje, quando se falam de “design”, o termo não se limita à confecção de objetos, inclui projetos e ideias. O “design” pode desenhar novas cidades e novas gestões dentro das empresas. Existe subjetividade na inovação. A inovação é cada vez mais intangível, subjetiva e desmaterializada. Estamos entrando no mundo da invenção das soluções, mas soluções não propriamente para atender às necessidades de consumo; e sim soluções para atender às necessidades do mundo.

Justamente por sua característica de agente intermediário na cadeia produtiva, o varejo pode dar uma contribuição muito significativa no campo da sustentabilidade. Hoje as empresas varejistas podem e devem promover o consumo consciente em suas ações de comunicação e no ponto de venda. Será que os profissionais que trabalham em sua indústria, em sua fazenda, em seu comércio, já têm essa visão de futuro? Têm a capacidade (e o desejo) de receber, decodificar e disseminar informações sob uma perspectiva mais humanista e ambiental e menos financista e técnica?

1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

2. Graduando do Curso de Bacharel em Agroecologia do IF Sudeste MG campus Rio Pomba. E-mail: celsopirauba@yahoo.com.br.

Sustentabilidade das organizações: gestão ética e responsabilidade social


* Por Maurício Novaes Souza1, Maria Angélica Alves da Silva2 e Gabriela Alves de Novaes3

O dilema entre desenvolvimento econômico e preservação/conservação da natureza é tema de discussões no país há tempos remotos. Em períodos recentes, permanece a dificuldade de se fazer uma parceria Estado/Sociedade para uma solução equilibrada. De acordo com José Luiz de Andrade Franco, da Universidade de Brasília, autor de Proteção à natureza e identidade nacional no Brasil (FIOCRUZ), “No Brasil há um padrão histórico: as preocupações com o meio ambiente, em geral, resultaram da atuação de grupos de cientistas, intelectuais e funcionários públicos que, por meio de suas inserções no Executivo, procuraram influenciar as decisões dos governantes em favor da valorização da natureza”. Em função dessa situação, o andamento das políticas de proteção à natureza sempre dependeu mais de ligações com governos e apenas secundariamente do eco que as pessoas preocupadas com as questões ambientais alcançam na sociedade.

Nos dias atuais, o envolvimento do mundo corporativo será essencial para se atingir o desenvolvimento sustentável. As empresas devem agir como agentes transformadores. Devem ser capazes de alterar o modelo que visava o lucro imediato para o modelo que busca o Desenvolvimento Sustentável. Esse fato é importante porque as empresas exercem uma enorme influência sobre os recursos humanos, financeiros, tecnológicos, econômicos, sociais e ambientais. Diante desta nova realidade, surge o conceito de empresas socialmente responsáveis - são aquelas que procuram colaborar para o fortalecimento dos referidos setores, por meio da adoção de posturas éticas, agindo de forma transparente e tendo como objetivo o bem-estar coletivo e a justiça social.

Neste novo modelo os empresários se tornam cada vez mais aptos a compreender e participar das mudanças estruturais que abrangem os aspectos econômicos, ambientais e sociais. As companhias estão sendo incentivadas pela administração pública a gerenciar seu sistema produtivo de tal forma que se evite a ocorrência de impactos ambientais e sociais, por meio de estratégias apropriadas. Nos últimos anos houve progressos surpreendentes na área de gerenciamento ambiental. Mais recentemente, o mesmo ocorreu quanto à conscientização sobre a responsabilidade social e a crescente compreensão dos desafios de se produzir sustentavelmente. Sabe-se que para atingir esse objetivo, no médio e longo prazo, dependerá da capacidade das empresas em reverter a disposição de promover o crescimento econômico a qualquer custo.

Sabe-se que todas as empresas gostariam de ser reconhecidas pela sociedade, por seus funcionários, pelos parceiros de negócios e pelos investidores. O grande problema é estar disposto a encarar os desafios que se colocam no caminho de uma companhia realmente cidadã. O primeiro deles é o desafio operacional. Uma empresa responsável pensa nas consequências que cada uma de suas ações pode causar ao meio ambiente e à sociedade. De nada adiantaria investir em um projeto comunitário e poluir os rios próximos de suas fábricas; ou dar benefícios e oportunidades aos seus funcionários e não ser transparente com seus consumidores.

Neste sentido, responsabilidade social é a integração voluntária pelas empresas das preocupações sociais e ambientais nas suas atividades comerciais e nas suas relações com todas as partes. É a complementação das soluções legislativas e contratuais a que as empresas estão ou podem vir a estar obrigadas e que se aplicam às questões, por exemplo, ao desenvolvimento da qualidade de emprego, a adequada informação, a consulta e participação dos trabalhadores, bem como o respeito e promoção dos direitos sociais e ambientais e a qualidade dos produtos e serviços.

A responsabilidade social das empresas é, essencialmente, um conceito segundo o qual as empresas decidem, de forma voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Para isso deverá implantar um sistema de gestão ambiental que proporcione que o seu desenvolvimento seja sustentável, necessitando, portanto, de profissionais que incorporem tecnologias de produção inovadoras.

O desenvolvimento econômico e o meio ambiente estão intimamente ligados. Os novos tempos se caracterizam por uma rígida postura dos clientes, que têm a expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável. A internacionalização dos padrões de qualidade ambiental, a globalização dos negócios, a conscientização crescente dos atuais consumidores e a disseminação da educação ambiental nas escolas permitem antever que a exigência futura que farão os consumidores em relação à preservação ambiental e à qualidade de vida deverão se intensificar.
Empresas experientes identificam resultados econômicos e resultados estratégicos no engajamento da organização em causas ambientais. Há de se considerar que estes resultados não se viabilizam de imediato: há necessidade que sejam corretamente planejados e organizados todos os passos para a interiorização da variável ambiental na organização para que ela possa atingir o conceito de excelência ambiental, trazendo com isso vantagem competitiva.

O atual momento exige que as empresas adotem a educação e a gestão ambiental em seus programas de rotina, condicionados e geridos por princípios éticos, exigindo que estas possuam criatividade e condições internas que possam transformar as restrições e ameaças ambientais em oportunidades de negócios. Várias empresas têm demonstrado que é possível ganhar dinheiro, proteger o meio ambiente e ser socialmente responsável: é uma questão de opção e atitude.

1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

2. Pedagoga e Especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Diretora de Desenvolvimento Educacional do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: gecamau@yahoo.com.br.

3. Estudante do Curso de Administração de Empresas da Universidade Federal de Viçosa, Brasil. E-mail: gabianovaes@gmail.com.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Que é Ecologia Profunda?


Por Carlos Cardoso Aveline

A natureza, cuja evolução é eterna, possui valor em si mesma, independentemente da utilidade econômica que tem para o ser humano que vive nela. Esta idéia central define a chamada ecologia profunda – cuja influência é hoje cada vez maior – e expressa a percepção prática de que o homem é parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive.

Na nova era global, milhões de pessoas voltam a perceber que o sentimento de comunhão com a natureza é um dos mais elevados de que o ser humano é capaz, e fonte de grande felicidade. Não é coisa do passado ou um costume do tempo das cavernas. Ao contrário, deverá marcar as civilizações do futuro. Em qualquer tempo histórico, o convívio direto com a natureza foi e será um fator decisivo para o bem-estar físico e psicológico do ser humano.

A expressão ecologia profunda foi criada durante a década de 1970 pelo filósofo norueguês Arne Naess, em oposição ao que ele chama de "ecologia superficial" – isto é, a visão convencional segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua importância para o ser humano.

Ao nível superficial, o homem coloca-se como centro do mundo e quer preservar os rios, o oceano, as florestas e o solo porque são instrumentos do seu próprio bem-estar. Quando olha para o meio ambiente com esta preocupação, o homem só enxerga os seus próprios interesses, já que, inconscientemente, se considera a coisa mais importante que há no universo. Olha a árvore e vê madeira. Olha o solo e vê o potencial agrícola ou a possível exploração de minérios. Olha o rio e vê um curso d’água navegável por barcos de determinado porte. Ele sabe que deve preservar os chamados recursos naturais, porque são preciosos. A natureza para ele é um grande cofre, abarrotado de riquezas renováveis, mas que deve ser cuidadosamente preservado. Daí a necessidade de autoridades ambientais atuantes e uma boa legislação que preserve o meio ambiente.

Este nível da consciência ecológica tem importância, porque faz com que os seres humanos questionem seu comportamento econômico e comecem a perceber mais claramente que a ética, afinal, dá bons resultados. A postura mais primitiva, de mera pilhagem, vem sendo deixada de lado em grande parte da economia. As políticas públicas de meio ambiente têm reforçado até hoje prioritariamente este primeiro nível, claramente insuficiente, de consciência ambiental. A multa, a repressão, a aplicação da legislação ambiental e a fiscalização seriam instrumentos muito úteis a curto prazo, se no Brasil a política nacional de meio ambiente não tivesse sido tão persistentemente esvaziada.

Mas as boas notícias são mais fortes que as más. Uma nova consciência empresarial já repensa o conjunto das atividades econômicas a partir da meta de administrar sabiamente, a longo prazo, os recursos naturais. As gerações mais recentes de empresários e executivos trazem consigo uma forte consciência ambiental. Sua atitude é compatível com a descrição holista do universo e com a ecologia profunda. Progresso econômico e bem-estar material deixam de ser inimigos da preservação ambiental ou da busca espiritual. As novas tecnologias permitem aumentar a produção, ao mesmo tempo que se diminui, radicalmente, o impacto ambiental. O verdadeiro progresso econômico – surge agora um consenso em torno disso – deve ser socialmente justo e ecologicamente sustentável. As medidas convencionais e de curto prazo para a preservação ambiental combatem os efeitos da devastação e pressionam pela gradual adaptação das atividades econômicas às leis da natureza. Mas a ecologia profunda dá um sentido maior às estratégias convencionais de preservação. Atacando as causas ocultas da devastação, projeta e estimula o surgimento de uma nova civilização culturalmente solidária, politicamente participativa e ecologicamente consciente.

Em última instância, as causas da destruição ambiental são o individualismo ingênuo, o sentimento de cobiça material sem freios e a ilusão de que o ser humano está separado do meio ambiente, podendo agir sobre ele sem sofrer as conseqüências do que faz. Ter isto claro é importante. No entanto, não basta uma percepção teórica deste dilema ético. Além de compreender intelectualmente o princípio da unidade ecológica de tudo o que há, é oportuno vivenciar e deixar-se inspirar pelo sentimento da comunhão com a natureza. Deste modo, aprende-se a colocar cada um dos processos econômicos e sociais a serviço da vida, já que é absurdo pretender inverter o processo e colocar a vida a serviço deles.

Não há, pois, oposição real entre a ecologia convencional ou de curto prazo e a ecologia profunda ou mística. São dois níveis diferentes de consciência. Ambos são indispensáveis, e são mutuamente inspiradores. Foi em meados da década de 1980 que diversos pensadores – Warwick Fox, Henryk Skolimowski e Edward Goldsmith, além do próprio Arne Naess – começaram a produzir textos variados a partir do ponto de vista da ecologia profunda. A nova física e a nova biologia, com Fritjof Capra, Gregory Bateson, Rupert Sheldrake, David Bohm, e também os trabalhos científicos de James Lovelock e Humberto Maturana, entre outros, deram legitimidade científica à ecologia profunda. Em sua vertente religiosa, esta corrente de pensamento tem ampla base de apoio na tradição mística de todas as grandes religiões da humanidade. São Francisco de Assis, padroeiro da ecologia, está longe de ser uma figura isolada.

Cauteloso, Arne Naess recusou-se a criar um sistema racionalmente coerente – um circuito fechado de idéias – capaz de limitar o conceito de ecologia profunda, e manteve-o como uma idéia aberta segundo a qual a variedade da vida é um bem em si mesma. Para Naess, esta ecologia surge do reconhecimento interior da nossa unidade com a natureza. O fato nem sempre requer explicações e muitas vezes não pode ser descrito com palavras. Mas a ação freqüentemente mostra com clareza o que é ecologia profunda.

Em certa ocasião, um rio da Noruega foi condenado à destruição para que fosse construída uma grande hidrelétrica. As margens do curso d’água seriam inundadas para que se fizesse o lago da barragem. Um nativo do povo Sami recusou-se, então, a sair do lugar. Quando, finalmente, foi preso por desobediência e retirado dali à força, ele não teve opção. Mais tarde a polícia perguntou-lhe por que se recusara a sair do rio. Sua resposta foi lacônica:

"Este rio faz parte de mim mesmo".

O indígena estava certo. O meio ambiente faz, realmente, parte de nós mesmos. São dele o ar que respiramos e a água que compõe 70 por cento do nosso corpo físico. Dele vêm os nutrientes que renovam a cada instante as nossas células. Esta unidade dinâmica não está limitada ao plano material da vida, mas também é psicológica e espiritual, mesmo que alguns de nós não tenham plena consciência disso.

A Vida Secreta da Natureza reúne textos publicados inicialmente nas revistas Planeta, Planeta Nova Era e outras publicações. A seguir, veremos experiências de contato direto com o mundo natural como fonte de inspiração para a alma humana em seu crescimento interior. E também reflexões sobre a proposta de um desenvolvimento ecologicamente sustentável; sobre a cidadania local e global como base para a construção de uma civilização solidária; e sobre a poderosa combinação atual entre o pensamento ecológico, a ciência moderna e a tradição esotérica.
Fonte :http://fabioxoliveira.blog.uol.com.br/

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

BRASIL É PRIORIDADE NA POLÍTICA EXTERNA AMERICANA


As relações comerciais internacionais ainda formam a base sólida da estrutura econômica de inúmeros países, incluindo o Brasil. E alguns setores se destacam por envolver diretamente um tema prioritário nos dias atuais: o meio ambiente.

Em recente visita, o vice-secretário de Estado do governo americano, James Steinberg, disse que a relação com o Brasil é uma das prioridades na política externa do governo Barack Obama. De acordo com o secretário, as várias viagens da secretária de Estado, Hillary Clinton, para a América Latina e a participação do presidente Obama na reunião de Cúpula das Américas mostram a importância atribuída pela administração ao relacionamento com a região.

Nesta relação está um segmento que até a pouco não havia merecido a devida atenção. O uso racional das florestas, através de manejo sustentável e redução de desperdício já é uma prática comum nos Estados Unidos , que introduziu regras e conscientizou seus usuários há várias décadas.

Assim, o uso de madeiras duras provenientes dos Estados Unidos, como alternativa para espécies tropicais limitadas, está se tornando mais usual na indústria brasileira. Móveis de alto estilo, revestimento nobre em lâmina, pisos e decoração de interior para escritórios ou residências são algumas das aplicações de madeiras como carvalho, nogueira, bordo, freixo, entre outras.

Para orientar e incentivar o uso destas madeiras a AHEC - American Hardwood Export Council, entidade que reúne a maior parte dos produtores de madeiras duras americana e conta também com a participação governamental, atua no mundo inteiro. Hoje os bosques americanos são 100% sustentáveis, com um inventário florestal que tem duas vezes o tamanho que tinha nos anos cinquenta.

Ambientalmente corretas, as madeiras americanas têm um argumento legítimo para incrementar o crescimento das exportações da madeira dura americana em todo o mundo. Além da aparência extremamente uniforme, podem ser facilmente reconhecidas porque são em número pequeno comercialmente. No caso de aplicações no Brasil se adaptam perfeitamente, não competem com as espécies tropicais amazônicas, possuem um forte apelo de sustentabilidade e podem contribuir para agregar valor ao produto final. Maiores informações sobre suas características e usos estão no site www.ahec-mexico.orgou www.porthuseventos.com.br/ahec.

Serviço:
Jornalista responsável: Clovis Rech
Contato (54) 3226-4113
clovis@remade.com.br

domingo, 5 de setembro de 2010

Opulência e miséria: causas e consequências da degradação sócio-ambiental



* Por Maurício Novaes Souza

O relatório "Previsões sobre a População Mundial 2006", do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, adverte que a população mundial aumentará 37,3% até 2050, passando dos atuais 6,7 bilhões de habitantes para 9,2 bilhões (2,5 bilhões a mais). Segundo os peritos da ONU, a previsão do aumento total da população mundial para a metade do século equivale à população mundial de 1950. Este aumento será absorvido, na sua maioria, pelos países em desenvolvimento, que devem passar de 5,4 bilhões de habitantes em 2007 para 7,9 bilhões de habitantes em 2050. Tal crescimento preocupa em termos de trabalho e de produção de alimentos que garantam a segurança alimentar.

Prevê-se que os Impactos e externalidades ambientais serão incalculáveis. Um artigo publicado na Folha Online (22/01/2008) discutiu o dano ambiental que ações de países desenvolvidos causaram aos países em desenvolvimento. Afirma, um grupo de ecólogos e economistas dos Estados Unidos liderados pelo economista Richard Norgaard, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que o consumo e a destruição de recursos da natureza por parte dos ricos entre as décadas de 1960 e 1990 deverão impor ao longo do século XXI uma perda de US$ 7,4 trilhões da economia de países de renda per capita baixa e média. A dívida externa dos países pobres nesse mesmo período atingiu US$ 1,7 trilhão. O estudo aponta ainda um novo número do prejuízo que o dano ambiental no período estudado causará à humanidade: US$ 47 trilhões.

Há de se considerar ainda, como agravante, os efeitos das mudanças climáticas. Em estudo na revista "PNAS", os autores afirmam ter feito "estimativas conservadoras" para os custos ambientais de atividades humanas ligadas ao aquecimento global, destruição da camada de ozônio, expansão da agricultura, desmatamento, pesca predatória, danos a mangues e em outros ecossistemas aquáticos. Afirmam que o aquecimento global e o a destruição da camada de ozônio representam mais de 97% das perdas.

Historicamente percebe-se que a perturbação e a degradação do solo e da água, resultantes das atividades antrópicas, ocorrem desde tempos remotos, sendo que as causas que produziram tais distúrbios foram as mais variadas: a) o desmatamento e a pecuária, causaram problemas severos de erosão durante os períodos clássicos grego e romano; b) o modelo inca desmoronou por questões político-militares; c) o modelo agrícola dos sumérios, esgotou-se devido à salinização dos solos decorrente da prática incorreta da irrigação; d) o modelo romano, pelo desprovimento de cuidados com as florestas e sua preocupação única com conquistas; e e) vários modelos ou sistemas agrícolas fracassaram ou foram destruídos por pressões provocadas pelo aumento da população.

Em tempos recentes, a demanda cada vez mais acentuada por terras férteis, planas e agricultáveis, tem reduzido de forma acentuada as formações vegetais, pressionando drasticamente os recursos naturais. A expansão demográfica atingiu grandes proporções nestas últimas décadas, como no período de 1990-1999, quando a população mundial passou de 5.250 para 5.947 bilhões de habitantes; ou seja, quase 700 milhões, em apenas uma década.

Dessa forma, percebe-se atualmente que a situação social se tornou incontrolável. Os centros urbanos se agigantam e o desemprego e a violência é uma realidade em diversas cidades, de diversos países. Na verdade, a aceleração dos processos de degradação ambiental e social se acelerou a partir da Revolução Industrial, e se intensificou após a II Guerra Mundial. Esses problemas se tornam mais graves nos países subdesenvolvidos ou periféricos, onde a crise sócio-ambiental está diretamente associada ao esgotamento de sua base de recursos.

Opulência e miséria

Perguntam-se de que forma, quando e quanto o Brasil poderá ser afetado. Segundo dados do IBGE (2006), cerca de 14 milhões de pessoas convivem com a fome em nosso país e mais de 72 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar - ou seja, dois em cada cinco brasileiros não têm garantia de acesso à alimentação em quantidade, qualidade e regularidade suficiente.

Uma reportagem da Rede Record (20/01/2008), programa Domingo Espetacular, apresentou sequencialmente cinco matérias, resumidas a seguir:

1) Iates no Brasil – A reportagem mostra centenas de iates na baía da Ilha Grande, RJ, com valores que variam entre 1 a 30 milhões de reais. Em um deles, um jovem e orgulhoso empresário, apresenta à repórter os detalhes de sua embarcação. Tudo minuciosamente planejado. Talheres, ferramentas, recipientes para bebidas (todos imantados presos às paredes para evitar os riscos do balanço do mar); quartos, banheiros, jogos de cama, tapetes....tudo impecável. A comida, camarão, lagosta,.... geralmente é pedida por rádio aos donos de restaurantes que fazem a entrega no iate do cliente. Uma jovem especialista em decoração de iates comenta que no ano anterior decorou mais de 50....;

2) Catadores de lixo no CEASA – D. Mônica, uma senhora de aproximadamente 60 anos, com 2 netos, cata restos da feira para sobreviver. D. Angélica, mãe de 5 filhos e marido desempregado, moradora de uma localidade que fica a 50 km do CEASA, faz esse percurso 2 vezes por semana, catando lixo e sobras de feira, também para sobreviver. Estima-se que aproximadamente 20 a 40% das 5.000 toneladas comercializadas diariamente são lançadas ao lixo, não sendo reaproveitadas..........;

3) Seca no Piauí e no semi-árido nordestino – Não existe água sequer para o consumo humano. As criações morrem de sede e fome. Aqueles que podem, e quando podem, usam sua aposentadoria para comprar uma “carrada” de água (5.000 litros), por R$30,00. Outros se servem de açudes que estão praticamente secos, e compartilham a água com animais: água totalmente contaminada e indevida para o consumo humano. As plantações estão totalmente perdidas, e a população reza..........;

4) Enchentes na grande São Paulo e no litoral paulista – nas áreas urbanas, a população pobre da periferia perdeu todos os seus já limitados pertences: em São José dos Campos foi terrível a situação; em Peruíbe também. Nas áreas rurais, os produtores perderam suas culturas por excesso de chuva..........;

5) Saudade da minha gente – nessa última matéria do referido bloco, o “seu” Astério, um senhor de aproximadamente 80 anos, conta que criou a neta Rosemeire. Saiu de Canavieira, Bahia, ainda moça, e havia 18 anos que não recebia notícias dela. A equipe da Record a localizou em Osasco, SP. Tem 34 anos, casada com 4 filhos e marido desempregado. Ela, sabendo do avô, chora, conta saudades e as dificuldades familiares: falta de dinheiro e alimentos (os filhos choram), desemprego, barraco alugado..... Fala da humilhação pela qual os filhos têm passado. Lembra que ela e a família passaram 4 dias se alimentando de arroz gelado, único alimento ali disponível. Perguntada sobre a possibilidade de voltar para casa, disse que gostaria imensamente. Tal desejo foi facilitado pela emissora: ela, filhos e marido, reencontram o avô e o restante da família.

O que se verifica de forma clara nessas matérias é que esses cenários representam a degradação social e ambiental: a riqueza e a pobreza; a opulência e a miséria. Considere-se que estamos comentando sobre casos de um país rico em recursos naturais como o Brasil. Dessa forma, percebe-se que apesar do “progresso”, da maior conscientização das pessoas e da pesquisa ter evoluído significativamente nos últimos tempos, os problemas sociais e ambientais vêm se agravando de forma considerável. Esse fato se deve, em grande parte, a ausência de princípios éticos e ao individualismo de atitudes que o modelo de desenvolvimento e produção gerou.

Na verdade, os governos, as comunidades e os indivíduos não têm efetivamente adotado uma postura proativa. O mercado exige que o homem continue interagindo com o ambiente à sua volta, modificando-o e transformando-o de acordo com suas necessidades - uma nítida visão antropocêntrica. Os resultados dessas ações são facilmente perceptíveis ao longo de toda a biosfera. Os reflexos, geralmente desastrosos, podem ser facilmente observados diariamente nos noticiários, jornais e “sites”, como nessa reportagem agora discutida. Talvez essa seja a origem de tais questões nos anos mais recentes: a Revolução Industrial criou o modelo de capitalismo atual, cujos processos de produção consideravam como pólos excludentes o homem e a natureza, com a concepção desta como fonte ilimitada de recursos à sua disposição.

Contudo, com o contínuo aumento da população, alterações dos hábitos de consumo e com a evolução da ciência, fica evidente que o nosso planeta é um sistema econômico fechado em relação aos seus materiais constituintes. Na medida em que a sociedade amadurece, redobra a consciência de que os seus recursos são finitos e se tornam cada vez mais escassos. Em todo sistema produtivo, para a manutenção dos sistemas vitais, ocorre o aumento da produção de energia. Caso o sistema se torne deturpado ou desordenado como resultado de um estresse, natural ou antrópico, aumenta a entropia do sistema, ou seja, passa a existir uma maior “desordem”. Dessa forma, cria-se um obstáculo físico ou uma limitação para um sistema fechado e sustentável.

Perspectivas

Recentemente, em um artigo de minha autoria sobre o Perfil que deveria ter o profissional hoje formado pelas universidades, faculdades e centros técnicos e tecnológicos, questionei se os profissionais atuais, de todas as áreas, estão efetivamente recebendo informações suficientes sobre educação e gestão ambiental. Na verdade, pode-se observar que apesar dos problemas ambientais provenientes do enorme descuido humano, as soluções já existem. É necessário antes de tudo, cuidado e atitude. Segundo Leonardo Boff, o que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, de preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. Contudo, a simples palavra cuidado, na prática, tem sido de difícil entendimento e aplicação.

Na verdade, as pessoas têm apresentado um comportamento extremamente individualista. São necessárias iniciativas individuais com cobrança direta aos governantes para que propostas concretas de políticas públicas sejam implementadas. Contudo, os governos, de todos os países, estão cada vez mais envolvidos com seus macroproblemas, fazendo com que o movimento para o Desenvolvimento Sustentável fique enfraquecido por esta crise globalizada.

O grande desafio para se atingir o Desenvolvimento Sustentável, que é atualmente o grande desafio do ser humano, consiste em aprender a combinar trabalho com cuidado. Leonardo Boff comentou em uma entrevista recente que esses conceitos não se opõem, mas se compõem. Limita-se mutuamente e ao mesmo tempo se complementam. Juntos constituem a integralidade da experiência humana: por um lado, ligada à materialidade e, por outro, à espiritualidade. O equívoco consiste em opor uma dimensão à outra e não vê-las como comportamento do único e mesmo ser humano.

Essas questões nos fornecem uma idéia do que significa os dias atuais em que vivemos. Os conceitos ecológicos e toda a sua dimensão, como também os seus princípios, precisam ser melhores entendidos e aplicados. Darão suporte às tomadas de decisões que poderão auxiliar nas profundas mudanças pela qual o Planeta deverá passar. O momento é de evitar e reduzir os impactos ambientais e a perda da biodiversidade. Essas atitudes devem ser praticadas como se fosse uma religião.

Precisamos compreender que a humanidade não é o centro da vida no planeta. Vivemos sob uma ética utilitária e antropocêntrica onde tudo no mundo existe para o homem dispor. Ela predomina há séculos, sendo a responsável pela recusa da diversidade cultural, racial e natural. Entre os princípios do Desenvolvimento Sustentável, prega-se a ética ecológica. A nova ética proposta é ecocêntrica, deseja o equilíbrio da comunidade da Terra com a natureza, visa harmonia, respeito e reverência. Ética significa a ilimitada responsabilidade por tudo que existe e vive. Comportamento ético, portanto, é a responsabilidade com o mundo, fundamentado na solidariedade, na alteridade, nas diferenças e na compaixão com o outro.

É sabido que a humanidade herdou um acúmulo de 3,8 bilhões de anos de capital natural. Nas últimas três décadas se consumiu um terço dos recursos da Terra, ou seja, de sua riqueza natural. Qualquer componente que é extinto compromete todo o universo. Mantendo-se os padrões atuais de consumo e degradação, muito pouco há de restar até o fim do século XXI. Contudo, há de se considerar, que o homem com a sua inteligência e sua habilidade, possui também capacidade suficiente para solucionar os problemas que ele mesmo criou, gerando soluções, propondo modelos e aplicando novos conceitos, onde devem ser consideradas uma melhor distribuição de renda e a redução da enorme iniquidade sócio-ambiental.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do IF Sudeste campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei; Conselheiro do COPAM e do IBAMA; e Membro da Câmara de Assessoramento de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais da FAPEMIG. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

A economia e os limites do crescimento


* Por Maurício Novaes Souza

Nos últimos dois anos, a preocupação está voltada para a crise financeira americana, que trouxe reflexos na economia de todos os países do Planeta. Contudo, a questão ambiental, que deveria ser a prioridade posto ser a fonte de todos os recursos utilizados nos processos produtivos, vem sendo relegada ao segundo plano. Na prática, o antigo discurso da necessidade de crescimento econômico para a geração de emprego e renda acaba prevalecendo. Ou seja, continua vigorando a visão imediatista, de curtíssimo prazo, cujos resultados finais são conhecidos e previsíveis. De fato, a economia global está perdendo mais dinheiro com a destruição dos recursos naturais do que com a atual crise financeira global, segundo conclusões de um estudo financiado pela União Européia.

Segundo dados dessa pesquisa, intitulada “A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade”, calcula-se que os desperdícios anuais, apenas com o desmatamento, variam de US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões. O número inclui o valor de vários serviços oferecidos pelas florestas, como água limpa e a absorção do dióxido de carbono. O estudo foi discutido durante várias sessões do Congresso Mundial de Conservação, realizado em Barcelona. De acordo com o coordenador do relatório, Pava Sukhdev, o custo resultante da degradação da natureza ultrapassa o dos mercados financeiros globais. Cabe ainda uma consideração sobre os custos ambientais: pelo fato de serem contínuos, seus reflexos no longo prazo serão ainda maiores e de difícil quantificação.

Na verdade, os economistas desconhecem ou simplesmente desconsideram os serviços ambientais prestados pela natureza. Tais serviços ou funções, como o armazenamento de água e a regulação do ciclo de carbono, entre outros, cria condição para um meio ambiente saudável, oferecendo não só água e ar limpos, chuvas, produtividade oceânica, solo fértil e elasticidade das bacias fluviais, como também certas funções menos valorizadas, mas imprescindíveis para a manutenção da sustentabilidade, tais como: a) o processamento de resíduos (naturais e industriais); b) a proteção contra os extremos do clima; e c) a regeneração atmosférica. Por estas questões, o homem em suas atividades produtivas deve sempre considerar que os ecossistemas são sistemas abertos e integrados por todos os organismos vivos, inclusive ele próprio, e os elementos não viventes de um setor ambiental definido no tempo e no espaço, cujas propriedades globais de funcionamento (fluxo de energia e ciclagem da matéria) e auto-regulação (controle) derivam das relações entre todos os seus componentes, tanto pertencentes aos sistemas naturais, quanto aos criados ou modificados pelo Homem.

De fato, o desconhecimento dos profissionais da área econômica sobre conceitos básicos de ecologia e de economia dos recursos naturais e renováveis, os impedem de perceber que existem limites ao crescimento. Sabe-se que qualquer atividade antrópica é capaz de gerar algum tipo de impacto. O homem, na ânsia de sucesso e maximização de suas atividades, força o ambiente a realizar um esforço amplificador a fim de produzir um determinado resultado desejado; contudo, os ecossistemas têm sua capacidade de suporte e de regeneração que dependerá da sua resistência e da sua resiliência. Ocorrido um estresse, caso seja ultrapassado o seu limite, podem-se criar efeitos secundários que acabam reduzindo o ritmo e as chances de sucesso que uma determinada atividade vinha alcançando. Como consequência, ocorre que depois de uma expansão inicial, o crescimento se torna uniforme e com o tempo pode ficar tão lento que a espiral de reforço pode se inverter. Percebe-se então, que o importante é não forçar o crescimento, mas sim conhecer o ambiente e conviver dentro da possibilidade e dos fatores que o limitam.

Contudo, não é assim que o modelo de desenvolvimento vem se comportando. É comum se observar que no início das atividades os eventos vão bem. Dessa forma, a tendência do modelo atual é repetir o que estamos fazendo até atingirmos um ponto onde os resultados positivos cessam. Nesse ponto, as tentativas de mudança se tornam inúteis. Nessas situações que limitam o crescimento, a alternativa correta está em se buscar uma situação que trouxesse novo equilíbrio e não estimular a situação que gerou a condição de estresse. Dessa forma, para modificar o comportamento do sistema, é necessário identificar e alterar o fator limitante. No entanto, essa é uma ação contínua, pois quando eliminamos uma fonte de limitação, o crescimento acaba encontrando outra (num fenômeno parecido com a transferência de “gargalos”).

Considere-se a situação dos ecossistemas aquáticos. De fato, a qualidade das águas de praticamente todos os rios do Brasil e de todo o mundo piorou nos últimos anos. Esse fato, que é o resultado do modelo de desenvolvimento atual e que afeta drasticamente as populações, foi um dos temas discutidos no Fórum Social, em Belém, Brasil. Nesse encontro se estabeleceram metas para a elaboração de um novo modelo de desenvolvimento e crescimento econômico, com a pretensão de apresentar respostas para escassez do recurso provocada pelo crescimento da população, o desperdício, o consumo excessivo e o aumento da necessidade de energia. Tal encontro reuniu um número de participantes jamais vistos - 28.000 (vinte e oito mil) pessoas de mais de 180 (cento e oitenta) países. O Fórum analisou os problemas da escassez de água, o risco de conflito por enfrentamentos entre países por recursos hídricos e a melhor maneira de proporcionar água limpa à população mundial. Segundo Loïc Fauchon, presidente do Conselho Mundial da Água, o comportamento humano com relação ao uso deste recurso é cada vez mais irrefletido e inconsequente. Aumentar indefinidamente a demanda por água, nos diais atuais, além de colocar em perigo o meio natural, torna-se cada vez mais caro o seu tratamento e distribuição em um contexto de evolução do clima e crise financeira.

Tal análise se justifica pelo fato de que a economia e o meio ambiente estão passando por uma crise sem precedentes. Para agravar ainda mais a situação, a atual crise econômica mundial tem trazido como solução, por parte dos principais economistas e governantes mundiais, o estímulo ao consumo – situação ainda mais ameaçadora às atuais situações ambientais. Esse modelo visa, efetivamente, a geração de lucros imediatos, não considerando os limites do crescimento; portanto, socialmente e ambientalmente não é sustentável. Do ponto de vista social, é sabido que os 20% (vinte por cento) da população mais rica utilizam ¾ dos recursos naturais, trazendo o esgotamento e, ou, a degradação dos recursos naturais. Do ponto de vista ambiental, considerando a Pegada ecológica (índice que expressa a área produtiva necessária para sustentar o consumo de recursos e assimilação de resíduos de uma dada população) mostra que há 1,8 hectare de área disponível para cada habitante, dentro do padrão que se pode considerar sustentável. No entanto, o consumo global atual apresenta uma média de consumo relativo a 2,2 hectares por habitante. Ou seja, o ambiente está sendo usado além de sua capacidade de suporte e de reposição.

Analisando os EUA, verifica-se que o seu padrão de consumo é de 9,6 hectares por habitante, sendo que sua capacidade é de apenas 4,7 hectares por habitante. Pergunta-se, então, de onde eles retiram esses recursos para manter consumo tão elevado? A resposta está na exploração de outros países que tem uma capacidade produtiva de recursos naturais superior, como o Brasil. Se todos os habitantes tivessem o mesmo padrão de consumo dos EUA, seriam necessários 6 planetas iguais a Terra para atender à tal demanda... e continuam estimulando o consumo como forma de saírem da atual crise financeira. A continuar dessa forma, as gerações futuras não terão onde e nem como produzir para se sustentarem.

Além da questão da água, grandes problemas ambientais e sociais estimularam os representantes dos 160 países que se encontraram no Fórum Social Mundial em Belém. Foram discutidos temas associados à crise financeira, ao aquecimento global, às doenças associadas à ausência de saneamento ambiental, entre outras. Esses encontros representam o início da mobilização da população mundial, embora saibamos que ainda há muito que se fazer. O Tratado de Quito é um exemplo da inconsequente irresponsabilidade dos países que têm elevada produção e liberação de gases poluentes e de efeito estufa, que não o ratificam e não o adotam.
Na verdade, o modelo de produção e consumo são os responsáveis pelas agressões cometidas sobre os diversos ecossistemas, responsáveis pela evolução do clima, que vem se somar às mudanças globais, responsáveis das tensões que reduzem a disponibilidade da água doce, indispensáveis para a sobrevivência da humanidade. A previsão é de que a população mundial, atualmente superior a 6,7 bilhões de habitantes, possa chegar a nove bilhões até meados deste século, o que aumentará consideravelmente a demanda de recursos hídricos, a 64 bilhões de metros cúbicos por ano, segundo dados da ONU.

Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), o número de pessoas com graves problemas para conseguir água chegará a 3,9 bilhões em 2030, ou seja, metade da população mundial. Os cálculos da OCDE não incluem o impacto da mudança climática, que pode já estar afetando as coordenadas da água, mudando a quantidade e a distribuição das chuvas e nevascas. Considere-se ainda que quase 2,5 bilhões de pessoas não têm acesso ao saneamento básico, o que contraria as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU. Sabe-se que as principais causas da crise relacionada à água são a irrigação sem planos de manejo, as falhas na distribuição urbana e a contaminação dos rios pelas atividades urbano-industriais e agropecuárias.

No dia 07 de abril, foi comemorado o Dia Mundial da Saúde. Tal data foi criada em 1948 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em função da preocupação de seus integrantes em manter o bom estado de saúde das pessoas do mundo, bem como alertar sobre os principais problemas que podem atingir a população. Segundo a OMS, ter saúde é garantir a condição de bem-estar das pessoas, envolvendo os aspectos físicos, mentais e sociais em harmonia. Sabe-se que a alimentação e saneamento são formas de prevenir doenças. Contudo, nos dias atuais, percebe-se que o crescimento urbano e industrial nem sempre significa desenvolvimento humano: particularmente nos países em industrialização, vem acompanhado de desigualdade de acesso aos itens básicos necessários a uma sobrevivência digna, tais como à educação, à alimentação e à saúde. A falta do saneamento nas cidades, em níveis mínimos que assegurem o bem-estar das populações, tem gerado um quadro de degradação do meio ambiente urbano sem precedentes, sendo os recursos hídricos um dos primeiros elementos integrantes da base de recursos naturais a sofrer tais efeitos. Infelizmente, o que se observa nas periferias das grandes cidades é uma total desinformação sobre higiene, aumento das doenças veiculadas pela água, lixões a céu aberto, entre outros. Os governos ainda não vêm realizando um trabalho preventivo, o que melhoraria a saúde da população e diminuiriam os gastos com a saúde pública.

Como consequência desse modelo econômico, o mundo está enfrentando intensas transformações globais, sem precedentes, incluindo aumento da população, migração, urbanização, mudanças climáticas, desertificação, seca, alteração do uso e degradação do solo, crises econômicas e alimentares. Caso continuemos a agir dessa forma, não respeitando os limites do crescimento, pouco restará para as gerações futuras. Como bem lembra Leonardo Boff, caso não se cuide do planeta a partir de uma visão sistêmica e holística, poderá submetê-lo à destruição de suas partes e inviabilizar a própria vida. Há inúmeras evidências que existem limites para o crescimento econômico, considerando que os recursos naturais são escassos.

Apesar das inúmeras iniciativas governamentais e organizacionais, os efeitos efetivos ainda são discretos. Deve-se refletir sobre a necessidade urgente de abandono às concepções anacrônicas ligadas à produção e ao consumo, adotando a sustentabilidade sócio-ambiental nas ações públicas e privadas, em todos os níveis, do local ao global. É preciso que sejam conhecidos e respeitados os limites do crescimento. Essas deverão ser as propostas de um novo modelo guiado pelos princípios do “Desenvolvimento Sustentável”. Contudo, o seu sucesso dependerá da participação e esforço de cada um dos habitantes de nosso planeta, posto que o somatório das atitudes individuais trará soluções sustentáveis para os problemas relativos às questões sociais e ambientais; mas é imprescindível que a economia entenda que o crescimento deve ter limites.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

A época dos horrores: econômico e socioambiental



* Por Maurício Novaes Souza1 e Maria Angélica Alves da Silva2

Não havia preocupação com as questões ambientais durante o período das chamadas “Revolução Industrial” e “Revolução Verde”. Isso porque os recursos naturais eram abundantes e a poluição não era foco da atenção da sociedade industrial e intelectual da época. Com o crescimento acelerado e desordenado da produção e da população humana mundiais, que resultaram na aceleração dos impactos e degradação ambientais, o resultado que se tem é a escassez dos recursos naturais. Surge então, recentemente, o conflito da sustentabilidade dos sistemas econômico e natural, fazendo do meio ambiente um tema literalmente estratégico e urgente. O homem começa a entender a impossibilidade de transformar as regras da natureza e perceber a importância da reformulação de suas práticas ambientais.

Cabe considerar o conceito “Limites do Crescimento”, onde se avaliou que a humanidade está usando 20% a mais de recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. Ou seja, como estamos usando os recursos além de sua capacidade produtiva, ultrapassaram-se a capacidade de suporte, de autodepuração e de regeneração dos sistemas. Considerando os fatores relativos à produção, o fator de maior peso na composição da “Pegada Ecológica”, cuja média é de 2,3 ha nos dias atuais, é a energia, sobretudo nos países mais desenvolvidos. Contudo, sabe-se que há grandes diferenças entre as nações mais ou menos desenvolvidas, como mostra o Relatório Planeta Vivo, que calculou a Pegada de 146 países com população acima de um milhão de habitantes. Os dados de 1999 mostram que enquanto a Pegada média do consumidor da África e da Ásia não chega 1,4 hectares por pessoa, a do consumidor da Europa Ocidental é de cerca de 5,0 ha e a dos norte-americanos de 9,6 ha. No Brasil, apesar de estamos dentro da média mundial, está cerca de 20% acima da capacidade biológica produtiva do planeta; ou seja, vivemos a época do horror econômico e ambiental – a época do contra senso.

De acordo com Konrad Zacharias Lorenz, que criou o conceito de "imprinting", ou cunhagem, todos os dons recebidos pelo homem por intermédio de seu profundo conhecimento da natureza e de seus progressos advindos do desenvolvimento tecnológico, nos mais diversos setores, tais como a química, a informática e a medicina, tudo aquilo que parecia poder atenuar o sofrimento humano, tende, por um espantoso paradoxo, a arruinar a humanidade. Segundo esse mesmo autor, ela ameaça fazer algo que, normalmente, não costuma acontecer em outros sistemas vivos, ou seja, sufocar a si mesma. O pior, nesse processo apocalíptico, é que as qualidades e as faculdades mais nobres do homem são as que parecem destinadas a desaparecer em primeiro lugar, justamente aquelas que mais estimamos, e que são, com justeza, as mais especificamente humanas.

Existe uma nova palavra - "normose" - que ainda não é encontrada nos dicionários. O significado dessa significativa palavra, que pode ser encontrada lendo "Jean Yves Le Loup", "Roberto Crema" e “Pierre Weil", escritores / poetas / psicanalistas, tem o significado da doença da normalidade, ou seja, acharmos normal àquilo que pelo hábito se tornou comum, porém é uma doença grave que traz sérios prejuízos ao homem nos mais diversos aspectos. Por exemplo: rouba, mas faz; os pivetes nos sinais de trânsito mendigando; o consumismo irracional; refugiados por efeitos de mudanças climáticas; a fome e desnutrição africana; certas cenas agressivas na TV, entre outras. De tanto vermos essas cenas, terminamos por criar o hábito de achar normal... e aí se instala a grave doença da NORMOSE.... e ela se infiltra nos mais diferentes aspectos da vida humana.

Segundo Lorenz, os que vivem em países civilizados de grande densidade demográfica, ou mesmo em grandes cidades, não se têm idéia do quanto nos falta o amor ao próximo, sincero e caloroso. Na verdade, para esse autor, o ajuntamento humano nas cidades modernas é em grande parte responsável por não sermos mais capazes de distinguir o rosto do próximo nessa “aglomeração” de imagens humanas que mudam, se superpõem e se apagam continuamente. Diante dessa multidão e dessa promiscuidade, nosso amor pelos outros se desgasta a tal ponto que os perdemos de vista. Os que querem ainda ter para com seus semelhantes sentimentos calorosos e benévolos são obrigados a se concentrar em um pequeno número de amigos.

Em artigo recente do jornalista Fernando Martins, “O mito do homem bom e do homem mau”, uma pergunta inicial: o ser humano é bom ou mau por natureza? A resposta a essa pergunta, tão antiga como o homem, moldou todas as instituições políticas e econômicas atuais e a forma como elas nos governam. Também ajudou a reforçar mitos dos quais a sociedade atual não consegue escapar. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588–1674) entendia que o homem é naturalmente egoísta. Para ele, sem um Estado forte que limite as pretensões individuais, haveria uma guerra de todos contra todos. Suas teorias justificaram o absolutismo dos reis europeus, e, posteriormente, todas as formas de autoritarismo e totalitarismo. Mas as idéias “atenuadas” de Hobbes de certa forma também inspiram nações democráticas que crêem no papel de um governo forte para definir os rumos de uma sociedade.

De fato, para Lorenz, nos é impossível amar toda a humanidade, apesar da justeza dessa exigência moral. Somos, portanto obrigados a fazer uma escolha, ou seja, a manter a distância, emocionalmente, numerosos seres dignos de nossa amizade. É um processo absolutamente inevitável para cada um de nós, mas já manchado de desumanidade. Levando mais adiante esse tipo de defesa voluntária contra as relações humanas, veremos que, de conformidade com os fenômenos de exaustão do sentimento, conduz às espantosas manifestações de indiferença que os jornais relatam diariamente. Quanto mais somos levados a viver na promiscuidade das massas, mais cada um de nós se sente acuado pela necessidade de não se envolver. É assim que hoje em dia os ataques à mão armada, o assassinato e o estupro podem acontecer em plena luz do dia, justamente no centro das grandes cidades, nas ruas cheias de gente, sem que sequer um “transeunte” intervenha. Amontoar os homens em espaços limitados leva de forma indireta a atos de desumanidade provocados pelo esgotamento e desaparecimento progressivo dos contatos, e é a causa direta de todo um comportamento agressivo.

Numerosas experiências realizadas em animais nos ensinaram que a agressividade entre congêneres pode ser estimulada amontoando-os em espaço limitado. Quem nunca teve experiência semelhante, quer em cativeiro, quer em situação análoga em que muitas pessoas vivem juntas por força das circunstâncias, não pode avaliar o grau de intensidade a que cega a irritabilidade. E se a pessoa tenta se controlar, se esmera no contato de cada dia, de cada hora, para ter uma atitude delicada e, portanto amigável, para companheiros pelos quais não tem qualquer amizade, a situação vira suplício. A falta de amabilidade generalizada, que podemos observar em todas as grandes cidades, é claramente proporcional à densidade das massas humanas aglomeradas em determinado lugar. Atinge proporções aterradoras nas grandes estações, ou nos terminais de ônibus e de metrô de Nova Iorque, Tóquio e São Paulo, por exemplo.

Tratando-se de mudanças climáticas, e voltando a falar de consumo de energia, tem-se de pensar em emissões de poluentes. Nesse aspecto, as diferenças dos índices emitidos pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento também são significativas: um cidadão médio norte-americano, por exemplo, responde pela emissão anual de 20 toneladas anuais de dióxido de carbono; um britânico, por 9,2 toneladas; um chinês, por 2,5; um brasileiro, por 1,8; já um ganês ou um nicaragüense, só por 0,2; e um tanzaniano, por 0,1 tonelada anual (Wolfgang Sachs, do Wuppertal Institute).

Nos países industrializados cresce cada vez mais o consumo de recursos naturais provindos dos países em desenvolvimento - a ponto daqueles países já responderem por mais de 80% do consumo total no mundo. Segundo Sachs, 30% dos recursos naturais consumidos na Alemanha vêm de outros países; no Japão, 50%; nos países Baixos, 70%. Dessa forma, o grande desafio da humanidade é promover o desenvolvimento sustentável de forma rápida e eficiente. Este é o paradoxo: sabemos que o tempo está se esgotando, mas não agimos para mudar completamente essa situação antes que seja demasiado tarde.

A escritora Viviane Forrester, em seu livro “O horror econômico”, comenta: depois da exploração do homem pelo homem em nome do capital, o neoliberalismo e seu braço operacional, que é a globalização, criaram, mantêm e ampliam, em nome da sacralidade do mercado, a exclusão de grande parte do gênero humano. O próximo passo será a eliminação? Caminhamos para um holocausto universal, quando a economia modernizada terá repugnância em custear a sobrevivência de quatro quintos da população mundial? Depois de explorados e excluídos, bilhões de seres humanos, considerados supérfluos, devem ser exterminados? Diante a situação em que vivemos, o raciocínio é bem mais do que uma hipótese.

Faz-se urgente uma nova postura das pessoas e das empresas com relação às questões de relação humana, que diretamente afetam o meio ambiente. Contudo, a conscientização ambiental de massa só será possível com percepção e entendimento do real valor do meio ambiente natural em nossas vidas, que é o fundamento invisível das diferenças socioeconômicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O dia em que as populações entenderem como esta questão afeta sua vida de forma direta e irreversível, o meio ambiente não precisará mais de defensores. A sociedade já terá entendido que preservá-lo / conservá-lo é garantir a própria vida. Fragilizá-lo é fragilizar a economia, o emprego, a saúde, e tudo mais. Esta falta de entendimento compromete a adequada utilização de nossos recursos naturais, que nos oferecem os serviços ecossistêmicos gratuitos, como o seqüestro de carbono e a produção de oxigênio, inúmeros benefícios proporcionados pela biodiversidade das florestas, e tantas outras vantagens ambientais que nós humanos desfrutamos.

Caso nada seja feito de forma rápida e efetiva, as próximas gerações serão prejudicadas duplamente: pelos impactos ambientais e pela falta de visão de nossa geração em não explorar adequadamente a vantagem competitiva oferecida pelos recursos naturais. Ao contrário do que muitos pensam, os principais motivos de tão grave crise ter surgido, devem-se aos fracassos nas áreas sociais e ambientais, apesar da enorme expansão econômica e do desenvolvimento dos últimos anos.

1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

2. Pedagoga e Especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Diretora de Desenvolvimento Educacional do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: gecamau@yahoo.com.br.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

II Simpósio Nacional sobre Produção Animal e Ambiente: em busca do equilíbrio



II Simpósio Nacional sobre Produção Animal e Ambiente: em busca do equilíbrio


Programação:



A comissão organizadora do II Simpósio Nacional de Produção Animal e Ambiente em busca do equilíbrio, a ser realizado na Escola de Veterinária da UFMG, nos dias 17, 18 e 19 de setembro de 2010, convida V.Sa. para participar deste evento que visa dar aos participantes a oportunidade de se atualizarem sobre importantes temas relacionados a impactos ambientais associados à produção animal e propõe alternativas de sistemas mais sustentáveis.

Atenção: Vagas limitadas. Fiquem atentos ao prazo de inscrição para grupos.

Aguardamos por vocês.

Atenciosamente,

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O desafio da sustentabilidade para o comércio varejista

* Por Maurício Novaes Souza

A tão discutida retomada do crescimento, intensamente discutida nos dias atuais, não é suficiente para a solução dos diversos problemas e não é a melhor alternativa para se chegar ao Desenvolvimento Sustentável. É necessário que haja, paralelamente à transformação da estrutura produtiva que garanta a recuperação do dinamismo econômico, políticas que promovam uma maior eqüidade social.

Há de se considerar que a ideia de objetivar o desenvolvimento sustentável revela, inicialmente, a crescente insatisfação com a situação criada e imposta pelos modelos vigentes de desenvolvimento e de produção das atividades humanas. Resulta de emergentes pressões sociais pelo estabelecimento de uma maior eqüidade social. De acordo com Luiz Carlos de Macedo, Assessor do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e Professor de pós-graduação e co-autor de livros e artigos sobre Responsabilidade Social Empresarial, Sustentabilidade, Varejo Sustentável e Comunicação, o setor varejista brasileiro, cheio de dilemas e problemas encontrados pelo caminho, tem encontrado na sustentabilidade um aprendizado constante.

Para esse mesmo autor, pelo fato de ser muito diversificado e possuir muitos ramos de atuação, as empresas estão em estágios distintos em relação às práticas sustentáveis. As micro e pequenas empresas, apesar de sempre estarem envolvidas com alguma iniciativa, ainda realizam mais projetos ligados à filantropia, tendo a comunidade do entorno como público-alvo. Já as médias e grandes empresas estão avançando para um estágio mais elevado, introduzindo aos poucos a sustentabilidade nas suas operações diárias e fazendo com que critérios sustentáveis sejam adotados e praticados por todos os seus públicos de interesse (“stakeholders”), principalmente, os funcionários, consumidores e fornecedores.

Esse resultado é reflexo de trabalho realizado, desde 2003, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), conhecido como “Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo”. Desde então, tem-se acompanhado diversas iniciativas de empresas varejistas brasileiras com o objetivo de ajudá-las a inserir práticas sustentáveis na gestão dos seus negócios. Atualmente o banco de práticas da FGV, disponível no Portal Varejo Sustentável, conta com centenas de projetos de responsabilidade social e sustentabilidade de varejistas de todas as regiões do Brasil.

Para Macedo, isso demonstra que o varejo está praticando a sustentabilidade de maneira constante. Contudo, isso não quer dizer que essas empresas são plenamente sustentáveis. No sentido de incorporar a sustentabilidade no dia a dia do seu negócio, grandes cadeias de varejo têm desempenhado um grande papel, no intuito de envolver toda a sua cadeia de valor para cumprir uma série de metas sustentáveis. Da mesma forma, outras redes, têm estimulado fortemente seus consumidores a entender e aplicar os conceitos de sustentabilidade no cotidiano. Essas redes estão disseminando os valores sustentáveis nas suas lojas “verdes”, bem como estão adotando soluções alternativas no oferecimento de embalagens nos pontos de venda.

É fato que o consumismo é atualmente um dos males da humanidade. Agrava os problemas ambientais. Como promotor do consumo, o varejo está assumindo a promoção do consumo consciente em vez de somente estimular o consumo desenfreado e irresponsável. O consumidor, mesmo que ainda de forma tímida, deseja que os produtos e serviços que consome contribuam positivamente para o seu bem estar e para as futuras gerações do planeta. Ele quer saber a origem e a história dos produtos, e a tendência é que esse comportamento aumente nos próximos anos.

Pela sua capilaridade e pela sua intensa relação com os consumidores, o varejo terá um leque de opções em aberto para assumir sua responsabilidade frente a uma série de assuntos relevantes para a sociedade e para a sobrevivência do seu negócio, com uma grande oportunidade de se beneficiar das atitudes sustentáveis como diferencial competitivo. Justamente por sua característica de agente intermediário na cadeia produtiva, o varejo pode dar uma contribuição muito significativa no campo da sustentabilidade. Hoje as empresas varejistas podem e devem promover o consumo consciente em suas ações de comunicação e no ponto de venda. Abaixo, segue uma lista de sugestões da Fundação Getúlio Vargas:

• O setor varejista pode reformar ou construir novas lojas com materiais e equipamentos que reduzam o consumo de recursos naturais e diminuam a emissão de gases, muitas vezes reduzindo também o custo da operação no médio e longo prazo.

• As empresas varejistas também têm a possibilidade de influenciar diretamente seus fornecedores para que sejam parceiros de suas iniciativas sustentáveis.

• Podem estimular parceiros a seguir critérios de fornecimento que levem em consideração o respeito à legislação fiscal e trabalhista, favorecendo a erradicação do trabalho infantil e escravo da cadeia produtiva.

• O varejo também pode estimular que os produtos comercializados dos fornecedores não sejam provenientes da exploração predatória dos recursos naturais.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Os descaminhos à sustentabilidade são revelados pelo “Estado do Mundo”


* Por Maurício Novaes Souza

No mês anterior escrevi um artigo para o jornal INFORMACIRP, da Associação Comercial de Rio Pomba, MG, intitulado “Um novo mercado e a necessária formação de gestores ambientais”. Nessa semana, o Instituto AKATU pelo Consumo Consciente lançou em português o relatório “Estado do Mundo-2010”, uma das mais importantes publicações periódicas mundiais sobre sustentabilidade. O livro, produzido pelo World Watch Institute (WWI) – organização com sede em Washington (EUA) - traz anualmente um balanço com números atualizados e reflexões sobre as questões ambientais. Neste ano, o tema é “Transformando Culturas – do Consumismo à Sustentabilidade” e aborda as mudanças no consumo, sob a ótica da economia, negócios, educação, mídia e movimentos sociais.

Segundo dados do referido relatório, na última década a humanidade aumentou seu consumo de bens e serviços em 28%. Somente em 2008, foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares. Para produzir tantos bens, é preciso usar cada vez mais recursos naturais. Entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, 14 vezes. Atualmente, um europeu consome em média 43 quilos em recursos naturais diariamente – enquanto um americano consome 88 quilos, mais do que o próprio peso da maior parte da população. Além de excessivo, o consumo é desigual.

Em 2006, os 65 países com maior renda, que somam 16% da população mundial, foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços. Somente os americanos, com apenas 5% da população mundial, “morderam” uma fatia de 32% do consumo global. Se todos vivessem como os americanos, o planeta só comportaria uma população de 1,4 bilhão de pessoas. Atualmente já somos quase 7 bilhões, e projetam-se 9 bilhões para 2050. A conclusão do relatório não deixa dúvidas: sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade e não o consumismo, não haverá esforços governamentais ou avanços tecnológicos capazes de salvar a humanidade dos riscos ambientais. De acordo com Mattar, presidente do AKATU, o “Estado do Mundo” é um choque de realidade. Vejamos importantes considerações encontradas no relatório sobre:

· Economia e Negócios - No âmbito da economia e negócios, uma dos aspetos fortemente recomendados pelo relatório é a “reavaliação do papel das grandes corporações”. O documento considera o poder de alcance do setor: “em 2006, as 100 maiores companhias transnacionais empregavam 15,4 milhões de pessoas com um volume de vendas de US$ 7 trilhões - o equivalente a 15% do produto mundial bruto” e conclui que “um sistema econômico sustentável dependerá de convencer as companhias, por meio de um conjunto de estratégias, de que a condução de seus negócios deverá ser conduzida de maneira sustentável”. No âmbito social, empresarial e pessoal, a compreensão e a adoção de práticas de sustentabilidade são limitadas. Mudar uma organização costuma ser um processo ainda mais longo do que o da mudança pessoal. Para alcançar esse nível de mudança, os líderes devem apresentar visões arrojadas e devem envolver suas organizações em discussões diversas, mais profundas, sobre o objetivo e a responsabilidade da empresa em oferecer valor verdadeiro para os clientes e a sociedade.

· Educação - Segundo o relatório, uma pesquisa anual com alunos de primeiro ano de faculdades nos Estados Unidos investigou durante mais de 35 anos as prioridades de vida dos alunos. No transcorrer desse tempo, a importância atribuída a ter boa situação financeira aumentou de pouco mais de 40% para quase 80%, enquanto a importância atribuída à construção de uma filosofia de vida plena de sentido diminuiu de 75% para pouco mais de 45%. E “este não é um fenômeno apenas americano”, ressalta o documento. Para romper com o padrão do consumismo, todos os aspectos da educação terão de ser pautados pela sustentabilidade. Hábitos, valores, preferências – todos são, em grande medida, formados na infância. E durante a vida, a educação pode ter um efeito transformador sobre quem aprende. Portanto, explorar essa instituição poderosa será essencial para redirecionar a humanidade para culturas de sustentabilidade. A partir de então, a educação funcionará como ferramenta poderosa para criar sociedades sustentáveis.

· Mídia - Segundo o relatório, 83% das residências no mundo têm aparelhos de televisão e 21 em cada 100 pessoas têm acesso à “internet”. Entretanto, a maior parte da mídia ainda reforça o consumismo, apesar de existirem esforços no mundo todo para que seu vasto poder e alcance seja utilizado para promover culturas sustentáveis.

Voltando ao artigo do mês anterior, a indicação era de se preparar um profissional que um novo mercado requer e precisa, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, que deverá saber e praticar a Gestão Ambiental, tendo como princípio básico a Ética - para que efetivamente se atinja o Desenvolvimento Sustentável. Os Benefícios imediatos de sua aplicação será a própria Sobrevivência Humana. Há de se considerar, ainda, que para atender as propostas do Desenvolvimento Sustentável, os profissionais deverão fundamentalmente compreender a complexidade e os descaminhos do mundo globalizado em que vivemos para que, então, comecemos, de fato, a mudá-lo.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João Del Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

domingo, 27 de junho de 2010

GESTÃO E AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL DA CAFEICULTURA IRRIGADA EM REGIÕES SELECIONADOS DO TERRITÓRIO BRASILEIRO

Maurício Novaes Souza1 , Maria Emilia Borges Alves2, Marcelo Rossi Vicente3, Everardo Chartuni Mantovani4

RESUMO: A irrigação já é uma realidade na cafeicultura brasileira, ocupando cerca de 10% da sua área plantada, permitindo situar o cafeeiro entre as principais culturas irrigadas do Brasil. Entretanto, a agricultura irrigada vem sendo considerada por alguns segmentos da sociedade e órgãos do governo, como a principal responsável pelo desperdício de água e pela contaminação dos solos e dos ecossistemas aquáticos. Portanto, para a implantação de um sistema de irrigação em uma determinada região, torna-se necessário um conjunto de informações de maneira a ser identificado o seu potencial de produção e as condições físicas e operacionais mais adequadas que podem selecionar alternativas a serem tomadas. A avaliação de impactos ambientais objetiva, essencialmente, fundamentar e otimizar processos decisórios envolvendo atividades transformadoras e apresentar prognósticos para minimizar possíveis impactos da atividade que será implantada. Deve usar indicadores de sustentabilidade para fazer avaliações e monitoramento, como o coeficiente de uniformidade do sistema de irrigação. Pôde-se observar que algumas propriedades apresentam o CUC e o CUD abaixo do desejado. Isso indica que pode estar havendo déficit de aplicação em alguns locais da cultura – prejuízos financeiros, como também está havendo excesso de aplicação em outros – prejuízos ambientais. Os objetivos principais desse trabalho foram estudar o potencial efetivo das principais regiões produtoras de café do Brasil, fazer a avaliação dos impactos ambientais provocados pela irrigação nessas regiões e usar o coeficiente de uniformidade como indicador de sustentabilidade. Para isso, foram verificadas as formas de expansão da agricultura e as condições de manejo adotadas nessas regiões, que sugeriram a necessidade da elaboração de um Plano de Manejo e a adoção de um Sistema de Gestão Ambiental amplo para a cafeicultura irrigada.

PALAVRAS-CHAVE: indicador de sustentabilidade, coeficiente de uniformidade, gerenciamento da irrigação.


INTRODUÇÃO

As exportações do Brasil em 2004 totalizaram US$96,4 bilhões. Desse total, o agronegócio foi responsável por US$39 bilhões (40,4% do total das vendas), significando um aumento com relação a 2003 de 27,35%. Além disso, o setor apresentou um superávit de US$34,1 bilhões, contra um superávit da balança comercial de US$ US$ 33,7 bilhões (FOLHA DE SÃO PAULO, 2005).

A estatística do agronegócio café evidencia que o Brasil é o primeiro produtor e o segundo maior consumidor de café do mundo (SAES & FARINA, 1999). A participação do café no total das exportações brasileiras é expressiva e oscila ao redor de 5%, correspondendo a mais de US$ 2,5 bilhões anuais. Esses números demonstram a importância da atividade cafeicultura dentro do agronegócio e na economia brasileira.

A prática da irrigação pode ser considerada como uma realidade na cafeicultura brasileira, ocupando cerca de 10% da sua área plantada, o que permite situar o cafeeiro entre as principais culturas irrigadas do Brasil. Levantamentos preliminares avaliaram um total de quase 200.000 ha irrigados, concentrados, principalmente, no Norte do Espírito Santo, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em Minas Gerais e Oeste da Bahia. Destacando importantes acréscimos na produtividade dos cafeeiros irrigados em relação aos não irrigados. Dessa forma, a cafeicultura irrigada tem sido uma importante estratégia para o incremento da produção, trazendo desenvolvimento ao campo, por meio da geração de empregos e renda de forma estável.

Entretanto, a agricultura irrigada vem sendo considerada por alguns segmentos da sociedade e órgãos do governo ligados à agropecuária, à ciência e tecnologia e ao meio ambiente, como a principal responsável pelo desperdício de água e pela contaminação dos solos e dos ecossistemas aquáticos. Para BERNARDO (1997), a irrigação tem criado impactos ambientais adversos às condições físicas, químicas e biológicas do solo, à disponibilidade e qualidade da água, à saúde pública, à fauna e flora, repercutindo, em alguns casos, de forma negativa nas condições sócio-econômicas do irrigante ou mesmo da comunidade local.

Em 1992, durante as reuniões preparatórias para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, ocorreram intensas discussões sobre as atividades e mecanismos econômicos especialmente impactantes para o meio ambiente e capazes de depauperar os recursos naturais. O documento denominado Agenda 21 é resultante dessas discussões, contendo inúmeras recomendações, inclusive aquelas que enfatizam a importância dos governos e organismos financeiros internacionais priorizarem políticas econômicas para estimular a sustentabilidade por meio da taxação do uso indiscriminado dos recursos naturais, da poluição e despejo de resíduos, da eliminação de subsídios que favoreçam a degradação ambiental e da contabilização de custos ambientais e de saúde (PULITANO, 2003).

Na medida em que a expressão “desenvolvimento sustentável” já está consolidada e referenciada aos problemas ambientais, procurando dar também um enfoque econômico, que é fundamental para a sustentabilidade das atividades, deve-se procurar reunir a eficácia do uso do fator de produção recursos naturais (como “desenvolvimento”), com sua estimulação (da eficácia) como meta, no mínimo, com a conservação do fator recursos naturais (como “sustentável”) (BELLIA, 1996).

Portanto, para a implantação de um sistema de irrigação em uma determinada região, torna-se necessário um conjunto de informações de maneira a ser identificado o seu potencial de produção e as condições físicas e operacionais mais adequadas que podem selecionar alternativas a serem tomadas. Nele, as condições a serem consideradas incluem a compatibilidade do tipo de solo, a qualidade e a quantidade de água, o clima e algumas influências externas e agronômicas. Também, o sistema de irrigação e o seu manejo devem ser compatíveis com o preparo do solo utilizado ou a utilizar na área, bem como com o cultivo e a colheita das culturas selecionadas.


MATERIAL E MÉTODOS:

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA): A avaliação ambiental objetiva, essencialmente, fundamentar e otimizar processos decisórios envolvendo atividades transformadoras, antrópicas ou não (TAUK et al., 1995). A avaliação relacionada a fatores ambientais está fundamentada no que certas atividades econômicas podem estar promovendo, como alterações positivas ou negativas para o meio ambiente. Neste sentido é fundamental que saiba avaliar se é mais importante implantar esta atividade que promoverá alteração ambiental, ou não realizá-la e optar pela permanência do ambiente saudável, evitando soluções onerosas para esses problemas que surgiriam. Segundo MOREIRA (1985), a AIA é um instrumento de política ambiental formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles devidamente considerados.

Isto significa conhecer os componentes ambientais e suas interações, caracterizando, assim, a situação ambiental dessas áreas antes da implantação do projeto. O mais importante, é que estes resultados servirão de base à execução das demais atividades (CUNHA e GUERRA, 1999).

Gestão Ambiental: O conceito de gestão ambiental passa a ganhar um maior número de adeptos no início da década de 90. Por ocasião da ECO-92 e a edição da série ISO 14000 que certifica o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da empresa. A implantação dos SGAs nas empresas torna possível a redução e o controle dos impactos causados ao meio ambiente por suas atividades produtivas, compatibilizando o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental, ou seja, visa a promoção do desenvolvimento sustentável (SOUZA, 2004).

O SGA exige que a organização tenha uma visão do futuro, um desenvolvimento duradouro e sustentável, requerendo uma compreensão sistêmica dos seus processos (NARDELLI e GRIFFITH, 2000).

Coeficiente de Uniformidade: O coeficiente de uniformidade caracteriza o sistema de irrigação e traduz o grau de regularidade da distribuição e aplicação. MANTOVANI & MEDEIROS (1995) mostraram que a relação entre a lâmina média de irrigação e lâmina de água necessária à cultura depende da uniformidade de distribuição de água e da relação entre o preço do produto e o custo da água. Com alto custo da água, o valor ótimo da lâmina de água necessária à cultura aumenta em relação ao aumento da uniformidade de distribuição, enquanto uma tendência oposta é observada para baixo custo da água. Os resultados também revelaram que o aumento da lâmina média de irrigação, para compensar a redução da produção pela baixa uniformidade, é uma estratégia aceitável quando o custo da água é baixo em relação ao preço do produto. A importância do custo da água diminui com o aumento da uniformidade.

A uniformidade de distribuição da água é quantificada por coeficientes de uniformidade. O coeficiente mais utilizado é o de Christiansen, modificado por Heermann & Hein (1968). Os fatores que afetam a uniformidade de distribuição da água podem ser classificados em climáticos e não-climáticos. Os fatores climáticos são: a) evaporação; b) temperatura do ar; c) umidade relativa; e d) condições locais do vento. Os fatores não-climáticos são os relacionados ao equipamento e ao método de avaliação (BERNARDO, 1995).


RESULTADOS E DISCUSSÃO:

A literatura é unânime em destacar a importância e os conceitos de uniformidade de irrigação (CHRISTIANSEM, 1942; DOORENBOS E PRUITT, 1977; CUENCA, 1989; BERNARDO, 1995), mas só recentemente tal conceito tem sido considerado de forma mais explicita no cálculo da eficiência de irrigação que transforma a lâmina liquida em lâmina bruta de irrigação (HEERMANN et al., 1992; KELLER E BLIESNER, 1992; MANTOVANI, 1993).

A avaliação da irrigação é uma análise feita em um sistema de irrigação baseada em medidas tomadas no campo sob as condições e práticas normalmente utilizadas. É necessária uma série de determinações que, para sistemas pressurizados, inclui umidade do solo antes da irrigação, medidas de vazões, uniformidade de aplicação, tempo de irrigação, entre outras (MERRIAN e KELLER, 1978).

A uniformidade de aplicação de água em sistemas de irrigação pressurizados pode ser expressa por meio dos Coeficientes de Uniformidade de Christiansen (CUC) e de Uniformidade de Distribuição (CUD), entre outros. O Grupo de Estudos e Soluções para a Agricultura Irrigada do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (GESAI-DEA/UFV) realizou avaliações de uniformidade de aplicação de água em praticamente todas as regiões onde se pratica a cafeicultura irrigada.

BONOMO (1999), avaliou a uniformidade e eficiência de irrigação para a cafeicultura irrigada das regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba de Minas Gerais (Quadro 1). Encontrando, valores de uniformidade abaixo do potencial dos sistemas implantados, principalmente por problemas de manejo e manutenção dos sistemas de irrigação. Resultados referentes à adequação da época e lâmina de irrigação indicam problemas na quase totalidade dos sistemas avaliados, refletindo a falta de qualquer sistema técnico de manejo da irrigação.

QUADRO 1: Resultados de uniformidade de irrigação para sistemas de irrigação na cafeicultura das regiões do Triângulo e Alto Paranaíba de Minas Gerais
Número de Avaliações Sistemas de Irrigação CUC
(%)
8 Pivô Central 86
5 Autopropelido 83
2 Canhão hidráulico 81
4 Tubo perfurado 80
FONTE: BONOMO, 1999.

SOUZA (2000) apresenta resultados de uniformidade de distribuição de água para 31 sistemas de irrigação localizado das regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba de Minas Gerais e para a Região Norte do Espírito Santo (Figura 1). Observam-se valores de uniformidade abaixo do potencial para esses sistemas de irrigação. Aproximadamente 40 % dos sistemas avaliados apresentaram valores de CUD acima de 90%, sendo classificados como excelente.

A região de cerrado de Minas Gerais apresentou maior número de sistemas (75%) com valores de CUD acima de 90%. Os sistemas de irrigação denominados alternativos apresentaram valores de uniformidade abaixo do recomendado, principalmente por problemas relativos ao dimensionamento.

Na região norte do Espírito Santo, na maior parte dos sistemas avaliados (56%), os coeficientes determinados foram abaixo de 80%.


FIGURA 1 – Distribuição do número de sistemas de irrigação localizada avaliados, para as duas regiões, de acordo com os valores determinados do coeficiente de uniformidade de distribuição.

SOUSA (2001), avaliando 10 sistemas de irrigação por pivô central utilizados na cafeicultura irrigada do Norte do Espírito Santo e Extremo Sul da Bahia, em propriedades produtoras de café conilon, verificou que os coeficientes de uniformidade de Christiansen foram, em média, superiores a 74%, indicando uma boa uniformidade de distribuição de água nos sistemas avaliados, vale ressaltar que apenas dois pivôs (20% dos casos) apresentaram uniformidade de aplicação de água abaixo do recomendado.

VICENTE et al. (2003), avaliando sistemas de irrigação por aspersão em malha na região de Viçosa - MG, encontrou valores de CUC variando de 76 a 82 %, valores estes considerados bons para este tipo de equipamento. Já TEIXEIRA (2003), estudando os sistemas de irrigação por pivô central equipados com emissores LEPA utilizados na cafeicultura irrigada do cerrado de Minas Gerais, encontrou valores de CUC e CUD variando de 79 a 93% e 67 a 90%, respectivamente.

VICENTE et al. (2005) determinou os coeficientes de uniformidade de aplicação de água em 27 sistemas de irrigação utilizados na cafeicultura na região Oeste da Bahia. De um total de 20 sistemas do tipo pivô central avaliados, 2 (10% dos casos) apresentaram pelo menos um dos coeficientes de uniformidade de distribuição de água (CUC ou CUD) com valores inadequados, já dos 7 sistemas de irrigação localizada por gotejamento avaliados apenas 3 sistemas apresentaram valores de CUD considerados excelentes para esse tipo de sistema, indicando problemas relacionados a adoção da irrigação por gotejamento na região. Ressalta-se que, para esta região, na AIA pôde-se perceber a retirada da cobertura vegetal nativa da região, em alguns casos ecótonos com espécies endêmicas, sendo substituídas por extensos monocultivos. Além da redução da biodiversidade, essa região possui as nascentes da rede que abastece o Rio Grande, o Rio Corrente e o Rio Cariranha, que são contribuintes do Rio São Francisco. Considerando a cidade de Barreiras, dentro da bacia do Rio Grande, que possui 45 rios perenes com água de qualidade C1S1 (potável).

Apesar das propriedades estudadas possuírem Outorga do uso da água, pode-se observar que algumas apresentam o CUC e o CUD abaixo do desejado. Isso indica que pode estar havendo déficit de aplicação em alguns locais da cultura, reduzindo o lucro dos produtores, como também está havendo excesso de aplicação em outros locais, perdendo-se água, fertilizantes e energia, aumentando o custo de produção e provocando danos ambientais com os nutrientes percolados com a água.


CONCLUSÃO:

O desenvolvimento sustentável tornou-se a meta da sociedade, com o apoio incondicional de toda a comunidade mundial, cabendo considerar, entretanto, ainda estar sendo manifestado em escalas diferenciadas pelos diversos países. Ao mesmo tempo, no Brasil, a sociedade demanda, em unanimidade, a retomada de uma política de crescimento. Por esse motivo, a questão não é mais “crescer ou não crescer”, mas “como crescer”. Observa-se, dessa forma, que o crescimento econômico, não mais pode ser pensado separadamente dos acontecimentos ambientais e de políticas claras de inclusão social, em virtude de que preterindo o meio ambiente e valorizando o desenvolvimento econômico, pode-se estar caminhando para uma possível exaustão dos recursos naturais. Há também que se considerar, que o descuido com as questões ambientais pode se transformar em barreiras que dificultarão ou mesmo impedirão a exportação.

A Avaliação de Impactos Ambientais e a implantação de Sistemas de Gestão Ambiental no Brasil ainda são fatos novos. Carecem de pesquisas e divulgação, dadas as suas importâncias no cenário mundial atual. O conhecimento da variabilidade espacial das culturas de café irrigadas no Brasil, associadas às características edafoclimáticas e condições sócio-econômicas e culturais das diversas regiões, permitem a elaboração de um Sistema de Gestão Ambiental Estratégico, que é a nova ordem mundial. No Brasil, esse tipo de avaliação ainda não está consolidado. Apesar de já estar concretizado o Zoneamento Ecológico-Econômico de inúmeras áreas nas diversas regiões brasileiras, não existe uma integração dessas informações com os órgãos locais e regionais de fiscalização.

A elaboração de uma nova política de Avaliação Ambiental Estratégica, associada à elaboração de um Sistema de Gestão Ambiental Estratégico, com o condicionamento da concessão do Licenciamento Ambiental, da Outorga do uso de água, e de um eficiente plano de manejo da irrigação, poderão reverter esse cenário. Deverá haver um trabalho junto aos produtores irrigantes de cada região. A definição de zonas de manejo de irrigações diferenciadas e simulações de viabilidade técnica e econômica poderão ser alcançadas com essas novas ferramentas e tecnologias disponíveis. O coeficiente de uniformidade pode ser considerado um bom indicador de sustentabilidade.


SUGESTÕES

É importante e fundamental que, durante o Estudo de Impacto Ambiental sejam selecionadas áreas de maior interesse ecológico e ambiental, criando-se Áreas de Interesse Ecológico (AIE).
Os resultados encontrados na avaliação da uniformidade e as observações nos aspectos gerais dessas regiões indicam que, apesar dos proprietários respeitarem as Áreas de Proteção Permanente (APP), as Áreas de Reserva Legal (ARL) e possuírem Outorga do Direito de Uso da Água, é preciso que seja desenvolvido um plano de manejo da irrigação com o auxílio, por exemplo, do Programa IRRIGA-GESAI, bem como realizar uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), na fase de elaboração do projeto.

A AAE tem sido muito utilizada na Europa. A sua grande vantagem com relação à AIA, é que esta realiza procedimentos sistemáticos e contínuos de avaliação da qualidade e das conseqüências ambientais de visões de médio e longo prazos, sustentadas por intenções e alternativas de desenvolvimento, estando incorporadas iniciativas políticas de planejamento e programas, assegurando a integração efetiva de considerações biofísicas, econômicas, sociais e políticas, antecipando-se aos processos públicos de tomada de decisão.

A implantação de Sistemas de Gestão Ambiental nas propriedades é fundamental para a sustentabilidade no longo prazo. Deverá possuir natureza estratégica nas decisões, com uma visão política de desenvolvimento sustentável nas fases de planejamento, com reformulações contínuas nas fases de monitoramento, e que possua múltiplas alternativas dentro de um processo estratégico de desenvolvimento sustentável. As organizações deverão ter uma visão do futuro, para que atinja um desenvolvimento duradouro e sustentável, requerendo, portanto, uma compreensão sistêmica de todos os processos envolvidos.

Considerando a crescente utilização da irrigação na cafeicultura brasileira, espera-se que ocorra a racionalização do uso dos recursos hídricos, evitando-se que as irrigações sejam conduzidas sem um embasamento técnico. Também, evitar-se-á a depleção do potencial produtivo da cultura e a degradação ambiental.

A definição de sistemas de irrigação e critérios de seu manejo possibilitará a difusão de critérios de estresse hídrico para uniformização da floração e da maturidade dos frutos; a sua influência no auxílio ao controle de doenças; e também para otimizar a produtividade e a qualidade da produção em função de um manejo eficiente da água, reduzindo efetivamente os impactos ambientais negativos.

Com a utilização da tecnologia adequada, e a adoção das medidas propostas, será possível melhorar a qualidade da produção e do produto, possibilitando uma cafeicultura de alta rentabilidade e ambientalmente sustentável.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELLIA, V. Introdução à economia do meio ambiente. Brasília: IBAMA, 1996. 262p.

BERNARDO, S. Impacto ambiental da irrigação no Brasil. In: SILVA, D. D.; PRUSKI, F. F. (Eds.) Recursos hídricos e desenvolvimento sustentável da agricultura. Brasília: MMA/SRH/ABEAS; Viçosa, MG: UFV/Departamento de Engenharia Agrícola, 1997. p.79-88.

BERNARDO, S. Manual de irrigação. 6. ed. Viçosa, MG: UFV, 1996. 657 p.

BONOMO, R. Análise da irrigação na cafeicultura em áreas de cerrado de Minas Gerais. Viçosa, MG: UFV, 1999. 224p. Tese (Doutorado em Engenharia Agrícola). Universidade Federal de Viçosa, 1999.

CHRISTIANSEN, J. E. Irrigation by Sprinkling. Berkley: University of Califórnia, 1942. 124p. (Bull, 670).

CUENCA, R. C. Irrigation systenm design: An eng. approach. New Jersey, EUA. 1989. 552p.

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