terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Consumo e o Desenvolvimento Insustentável: é possível mudar?



* Por Maurício Novaes Souza1, Maria Angélica Alves da Silva2 e Gabriela Alves de Novaes3

O Mundo caminha para o crescimento deseconômico. Tal afirmativa se fundamenta em face da generalizada convicção de que o crescimento econômico será a solução para todos os grandes problemas associados aos males econômicos do mundo moderno. Contudo, com um mínimo de bom senso, essas falácias nos soam como uma “heresia”. Vejamos algumas assertivas: Acabar com a pobreza? Para alguns, bastaria fazer a economia crescer, por meio do aumento da produção de bens e serviços, estimular os gastos dos consumidores, e o resultado seria a propagação da riqueza na sociedade. Para outros, reduzir o desemprego bastaria simplesmente intensificar a demanda por bens e serviços, baixar as taxas de juros e estimular os investimentos. Para outro grupo, controlar o crescimento populacional bastaria fomentar o crescimento econômico e confiar em que a transição demográfica resultante restrinja as taxas de nascimentos. E a fome?

Sabemos que a fome é uma constante em todas as sociedades históricas. Hoje, entretanto, ela assume dimensões vergonhosas e simplesmente desumanas. Principalmente quando se sabe que temos alimentos suficientes para toda a população do planeta. Isso revela que a humanidade perdeu a compaixão e a piedade. Para Boff (2010), erradicar a fome se configura como imperativos humanístico, ético, social e ambiental. Uma precondição mais imediata e possível de ser posta logo em prática é um novo padrão de consumo. A sociedade dominante consome não apenas o necessário, o que é justificável, mas o supérfluo, o que questionável. Esse consumismo só é possível porque as políticas econômicas que produzem os bens supérfluos são continuamente alimentadas, apoiadas e justificadas, interferindo diretamente no meio ambiente e causando um nível de degradação sócio-ambiental jamais visto.

De fato, é realmente uma alienação sem limites o que parte da humanidade vem fazendo com o meio ambiente. Interferirá na sobrevivência de todos. Alguns chamam tal condição de progresso. Muitos, menos informados ou com visão de curto prazo, teimam em chamar de crescimento econômico ou desenvolvimento sustentável. Mas é só ver os resultados alcançados por esse modelo que facilmente poderíamos classificá-lo de falso progresso ou simplesmente desenvolvimento insustentável. Para quem desconhece a expressão “crescimento deseconômico”, segue a definição do economista Herman Daly:

Crescimento deseconômico ocorre quando aumentos na produção se dão à custa do uso de recursos e sacrifícios do bem-estar que valem mais do que os bens produzidos. Isso decorre de um equilíbrio indesejável de grandezas denominadas utilidade e desutilidade. Utilidade é o nível de satisfação das necessidades e demandas da população; ou seja, o nível de seu bem-estar. Desutilidade se refere aos sacrifícios impostos pelo aumento de produção e consumo. Pode incluir o uso de força de trabalho, perda de lazer, esgotamento de recursos, exposição à poluição e concentração populacional. Sabemos, de forma evidente, que a Natureza é formada por um conjunto de sistemas e órgãos, interligados e interconectados, que funciona dentro da mais perfeita ordem para que o equilíbrio seja patente na vida de toda a humanidade.

Nos dias atuais, da forma como o capitalismo tem se mostrado, mesmo com todos os movimentos que estimulam a busca de um modelo responsável de produção e consumo, parece impossível construir um desenvolvimento sustentável sem um novo modelo educacional voltado para esse fim. De acordo com Claudemiro Godoy do Nascimento, Filósofo e Teólogo, Mestre em Educação pela Unicamp e Professor da Universidade Estadual de Goiás, esse desenvolvimento sustentável requer quatro condições básicas para se efetivar no cotidiano das pessoas: 1) que seja economicamente factível; 2) que seja economicamente apropriado; 3) que seja socialmente justo; 4) e que seja culturalmente equitativo, respeitoso e sem discriminação de gênero.

O desenvolvimento sustentável, mais do que um conceito científico, é uma idéia mobilizadora que surgiu pela primeira vez em 1987 (Relatório Brundtland) e que ganhou adeptos nesse início do Século XXI. Mas para que ele de fato seja uma regra, as pessoas e a sociedade civil, em parceria com o Estado, precisam dar sua parcela de contribuição para criar cidades e campos saudáveis, sustentáveis, com qualidade de vida. Nesta perspectiva, conclui-se que não pode haver desenvolvimento sustentável sem uma sociedade sustentável, cujas características são (Nascimento, 2009):

· Promoção da vida para desenvolver o sentido da existência: Deve-se partir de uma visão sistêmica e holística que vê a terra como único organismo vivo, de onde tiramos nosso sustento;

· Equilíbrio dinâmico para desenvolver a sensibilidade social: Entender a necessidade do desenvolvimento, mas com a conservação e a preservação dos ecossistemas;

· Congruência harmônica que desenvolve a ternura e o estranhamento: Significa sentirem-se como mais um ser - embora privilegiado - do planeta, convivendo com outros seres animados e inanimados;

· Ética integral: Deve ser entendida como conjunto de valores - consciência ecológica - que dá sentido ao equilíbrio dinâmico e a congruência harmônica e capacidade de auto-realização;

· Racionalidade intuitiva: A racionalidade técnica que fundamenta o desenvolvimento desequilibrado da economia clássica precisa ser substituída pela racionalidade emancipadora, intuitiva, que conhece os limites da lógica e não ignora a afetividade, a vida, a subjetividade, dando fim às desigualdades sociais;

· Consciência planetária que desenvolve a solidariedade planetária: Reconhecermos que somos parte da Terra e que podemos viver com ela em harmonia.

De fato, nosso futuro comum dependerá de nossa capacidade de entender hoje a situação dramática na qual se encontra o “Planeta Terra” devido à deteriorização do meio ambiente. Isto requer a formação de uma nova consciência planetária. Contudo, o problema está na nossa condição cultural. Parar ou mudar o foco parece algo impensável. Está marcado em nós, sujeitos em uma sociedade capitalista, que temos sempre que "crescer", a sociedade precisa "crescer", a economia precisa "crescer", "desenvolver", ilimitadamente. Sempre há "algo a mais" a ser descoberto, criado, realizado, apreendido e transformado – infelizmente em mercadorias e commodities. Porém, tudo isso tem um "custo" - desde a produção de alimentos, nada é "criação espontânea" - todos sabemos, a fonte de todos os bens, são os recursos naturais.

Infelizmente, temos esse antigo discurso que ainda é moda. Vivemos nessa época em que se exige velocidade em todas as mais diversas áreas, como se a pressa fosse uma alta qualidade e não o péssimo defeito demonstrado pela prática. O triste resultado foi visto no século passado, no qual se destruiu mais do que em todos os outros séculos anteriores somados. Ou seja, era de se esperar que, depois dessa correria destrutiva, já fosse tempo do ser humano ter a percepção de que agora é preciso focar a agilidade e rapidez no ataque às consequências devastadoras deste desenvolvimento sobre a natureza. O mundo agora tem que correr para reverter o mecanismo destrutivo que acabou sendo impulsionado pela exploração impensada dos recursos do planeta.

No entanto, lamentavelmente, diante da ganância e do egoísmo; da indiferença; da transferência, que nos faz achar que o mundo melhor que queremos e merecemos deve começar no outro; da reclamação sem ação, que passa a falsa idéia de se estar fazendo alguma coisa simplesmente pelo ato de se queixar; do medo, que nos faz recusar o novo mesmo quando o velho já demonstra não servir mais; da falta de competência e criatividade para percorrer novos caminhos; da falta de sonhos, que nos permite imaginar que as coisas podem mudar! Se o mundo fosse feito apenas de pessoas agem e pensam dessa forma, então não haveria lugar para as soluções, por que essas pessoas são o problema ou fazem parte dele!

Dessa forma, o mundo precisa agir com rapidez na aplicação de medidas práticas para ao menos encaminhar soluções nesta que é a questão mais grave enfrentada pelo ser humano, em todos os tempos. O problema é a vontade política, sobre a qual falava Ban Ki-Moon, secretário-geral das Nações Unidas, há cerca de dois anos, e que hoje também está em falta, mesmo já não havendo dúvida de que a situação climática é extremamente crítica. O planeta tem cada vez menos tempo, mas segue no apressado e equivocado modelo anterior: “Nosso pé está cravado no acelerador, e estamos rumando para o abismo”.

Pode-se afirmar que o grande problema da atualidade está no consumismo. Para enfrentá-lo, temos de ter a convicção de que o modelo precisa ser alterado. Para Boff (2010), há que se incorporar na vida cotidiana, os quatro “erres”: reduzir os objetos de consumo, reutilizar os que já temos usado, reciclar os produtos dando lhes outro fim, e finalmente rejeitar o que é oferecido pelo marketing com fúria ou sutilmente para ser consumido. Sem esse espírito de rebeldia consequente contra todo tipo de manipulação do desejo e com a vontade de seguir outros caminhos ditados pela moderação, pela justa medida e pelo consumo responsável e solidário, corremos o risco de cairmos nas armadilhas do consumismo, aumentando o número de famintos e empobrecendo o planeta já devastado.

Felizmente, existem pessoas que não desistiram de sonhar e, por causa disso, são criativas, empreendedoras, persistentes diante das dificuldades! São pessoas que não se movem apenas por dinheiro ou diante da expectativa de ganhar alguma vantagem pessoal e por isso são solidárias e conseguem olhar a floresta além das árvores! Graças a elas, que fazem parte da solução, ainda podemos ter esperança!


1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

2. Pedagoga e Especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Diretora de Desenvolvimento Educacional do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: gecamau@yahoo.com.br.

3. Administradora de Empresas formada na Universidade Federal de Viçosa, Brasil. E-mail: gabianovaes@gmail.com.

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