segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O eucalipto, o pinus e os sistemas agroflorestais: sustentabilidade e renda


* Por Maurício Novaes Souza1 e Silvane de Almeida Campos2

A alternativa de se utilizar de madeira proveniente de florestas nativas não se aplica mais ao atual modelo de sustentabilidade. Neste contexto, torna-se extremamente necessário que a sociedade passe a fazer uso de madeira proveniente de reflorestamentos, utilizando-se de espécies como o Eucalyptus sp. e Pinus sp. Em várias regiões do Brasil, o plantio destas florestas tem sido uma atividade cada vez mais frequente em pequenas e médias propriedades rurais.

O eucalipto tem sido escolhido devido ao seu acelerado crescimento aliado à multiplicidade de usos de sua madeira. Contudo, para que o empreendimento florestal seja conduzido com sucesso, há necessidade de se fazer um bom planejamento e adotar práticas silviculturais, tais como produção ou compra de mudas, preparo do solo, adubações, plantio e tratos culturais (capinas, desrama), além de conhecer as exigências de clima e solo das espécies a serem cultivadas. Os sistemas agroflorestais, tais como o silvipastoril e o agrossilvipastoril, enquadram-se neste modelo de produção mais sustentável.

O Sistema silvipastoril é uma modalidade que envolve consorciações de espécies arbóreas com pastagem, em uma mesma área, para a criação de animais domésticos ou silvestres. A importância deste sistema de produção pode ser evidenciada, principalmente, pelo (a): aumento da biodiversidade; produção de sombra, proporcionando um ambiente favorável aos animais; oferecimento de suplementação alimentar para os animais por meio de árvores forrageiras e, ou, frutíferas; fornecimento de madeira, lenha, postes, moirões que podem ser utilizados na propriedade rural e, ou, produtos de base florestal com agregação de valor econômico; diversificação de produtos florestais e pecuários na unidade produtiva; melhoria das qualidades físicas e químicas do solo; obtenção de receita adicional; controle da erosão; aumento do conteúdo de água no solo; oferta de pasto de melhor qualidade no período da seca; aumento na retenção de carbono; melhor aproveitamento da mão-de-obra na propriedade; melhoria nas condições para flora e fauna.

O produtor rural que implantar o Sistema Silvipastoril em sua propriedade terá inúmeros benefícios advindos deste sistema de produção em relação ao sub-bosque de reflorestamento de Eucalyptus sp. ou Pinus sp. estabelecido em modelo de monocultura, tais como: controle de vegetação espontânea proporcionado pelo pastejo, maior facilidade no controle de formigas cortadeiras, redução de gastos com mão-de-obra e herbicidas; melhor controle de incêndios florestais e obtenção de receita adicional com a venda dos animais. Os sistemas silvipastoris têm mostrado que a integração de animais aos reflorestamentos de Eucalyptus sp. reduz os custos de manutenção da floresta sem prejudicar o crescimento e a sobrevivência das árvores, desde que se observe a altura mínima das árvores (2,0m), no momento da introdução dos animais no sistema.

Tornam-se necessários os conhecimentos agronômicos das espécies de forrageiras a serem utilizadas nesta integração. O eucalipto é uma espécie adequada para as práticas silvipastoris, pois apresenta copas estreitas que deixam penetrar razoável quantidade de luz direta até o nível do solo, permitindo o desenvolvimento de plantas forrageiras e, ou, leguminosas (necessária para incrementar o aporte de nitrogênio ao ecossistema), quando em espaçamento e manejo adequados.

O sistema agrossilvipastoril é um dos sistemas agroflorestais mais completos. Contemplam consórcios com componentes arbóreos, agrícolas e forrageiros/animais, implantados e integrados em uma mesma área, em uma sequência temporal de atividades. Ao estabelecer esta modalidade de sistema produtivo, deve-se levar em consideração o espaçamento entre as espécies arbóreas e culturas agrícolas (arroz, milho, feijão, soja) nos primeiros anos e a pastagem a partir do terceiro ano. As linhas do eucalipto são plantadas no sentido leste-oeste, para obter maior insolação às culturas consorciadas nas suas entrelinhas. Os restos culturais deverão ser incorporados ao solo a fim de promover a ciclagem de nutrientes. É importante ressaltar que para o sucesso deste empreendimento agrossilvipastoril é necessário que, ao longo dos anos de implantação e manejo, sejam respeitadas as recomendações técnicas regionais prescritas para cada uma das espécies consorciadas, em cada uma de suas etapas de desenvolvimento.

Em relação ao eucalipto é desejável que se utilizem clones adaptados às condições de clima e solo locais, produtivos e de qualidade superior de madeira para fins de usos múltiplos. A aplicação do eucalipto ou pinus em sistemas silvipastoris e agrossilvipastoris é uma alternativa que busca atender a demanda por produtos florestais, garantindo sustentabilidade financeira aos produtores rurais que adotaram este modelo de produção ao longo da cadeia produtiva de todos os componentes (culturas agrícolas, arbóreas, animais) integrados, além do incremento de renda de suas propriedades.

1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João Del Rei. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

2. Técnica em Meio Ambiente e graduanda do Curso de Bacharel em Agroecologia do IFET/RIO POMBA. E-mail: silvaneacampos@yahoo.com.br.

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