José Graziano da Silva*
De geração em
geração, os agricultores familiares transmitem conhecimentos e habilidades,
preservando e melhorando muitas das práticas e tecnologias que podem apoiar a
sustentabilidade Agrícola
Hoje
estamos em uma encruzilhada: aproximadamente 842 milhões de pessoas sofrem de
fome crônica porque não conseguem comer adequadamente, apesar de não haver
escassez de alimentos no mundo.
A busca atual é por sistemas agrícolas verdadeiramente sustentáveis, que possam satisfazer as necessidades de alimentos no planeta. E nada se aproxima mais do atual paradigma do que a produção sustentável de alimentos que a Agricultura familiar.
As Nações Unidas estabeleceram 2014 como Ano Internacional da Agricultura familiar. É uma oportunidade perfeita para destacar o papel dos agricultores familiares na erradicação da fome e na conservação dos recursos naturais, elementos centrais do futuro sustentável que queremos.
O apoio à Agricultura familiar não faz oposição à Agricultura especializada de grande escala, que também tem um papel importante para garantir a produção mundial de alimentos e enfrenta seus próprios desafios, incluindo a adoção de enfoques sustentáveis.
Temos muito que aprender sobre as práticas sustentáveis dos agricultores familiares, já que a maior parte da experiência mundial em sistemas de Agricultura sustentável foi adquirida pela Agricultura familiar.
De geração em geração, os agricultores familiares transmitem conhecimentos e habilidades, preservando e melhorando muitas das práticas e tecnologias que podem apoiar a sustentabilidade Agrícola.
Com o uso de técnicas inovadoras, como a construção de terraços e a adoção de práticas de Lavoura zero, os agricultores familiares conseguiram manter a produção em terras muitas vezes marginais.
A conservação e o uso sustentável dos recursos naturais têm suas raízes na lógica produtiva da Agricultura familiar e essa é a diferença da Agricultura especializada de grande escala. A natureza altamente diversificada das atividades agrícolas coloca a Agricultura familiar em função central de promoção da sustentabilidade ambiental e na proteção da biodiversidade, e contribui para uma dieta mais saudável e mais equilibrada.
Os
agricultores familiares também têm um papel fundamental nos circuitos locais de
produção, comercialização e consumo, que são importantes não só na luta contra
a fome, mas também na criação de emprego, geração de renda e no fomento e na
diversificação das economias locais.
Estima-se que existam 500 milhões de tipos de Agricultura familiar no mundo, que representam, em média, mais de 80% das explorações agrícolas. Tanto nos países desenvolvidos, como nos em desenvolvimento, são os principais produtores de alimentos de consumo local e os "administradores" principais da segurança alimentar.
No passado, com bastante frequência, os agricultores familiares eram considerados um problema que tinha que ser solucionado e objeto de políticas sociais com potencial limitado. Essa é a mentalidade que temos que mudar. Os agricultores familiares não são parte do problema. Ao contrário, fazem parte da solução para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável.
O que os agricultores familiares precisam é similar em todo o mundo:
ü Assistência técnica e políticas baseadas em seus
conhecimentos que reforcem o aumento da sustentabilidade da produtividade;
ü Tecnologias apropriadas; insumos de qualidade que
respondam a suas necessidades e respeitem sua cultura e tradições;
ü Especial atenção às mulheres e aos jovens agricultores;
ü Fortalecimento das organizações e cooperativas de
produtores;
ü Melhor acesso à terra, à água, ao crédito e aos mercados;
e
ü Esforços para melhorar a participação na cadeia de
valores.
O Ano Internacional da Agricultura familiar 2014 nos brindará com a oportunidade única de revitalizar esse setor crítico, para o bem da alimentação de toda a humanidade.
* Agrônomo, é diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
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