Estudo de Caso: Instituto
Terra
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Curso:
Bacharel em Agroecologia
Disciplina:
Recuperação de Áreas Degradadas
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Professor: Maurício Novaes Souza
Aluna: Suzane Paiva Melo
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Maio, 2014
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Resumo executivo
O Instituto Terra foi fundado em abril de 1998, em
Aimorés (MG), por Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado, com o
objetivo de desenvolver ações de recuperação e educação ambiental e promover o
desenvolvimento sustentável no Vale do Rio Doce.
O Instituto fica localizado na Fazenda Bulcão, em
Aimorés, Minas Gerais, com área de 676 ha e reconhecida como Reserva Particular
de Patrimônio Natural (RPPN). Por sinal, foi a primeira RPPN criada em uma área
totalmente alterada, apenas portando um bom programa ambiental (conjunto de
metas e projetos) dedicado a reabilitá-la em todos os seus aspectos.
As iniciativas do Instituto Terra apoiadas pelo
programa BNDES Mata Atlântica incluem a restauração de dois sítios de reflorestamento
na região, originalmente cobertos pelo bioma Mata Atlântica que, ao longo de
décadas, foi sendo substituída por pastagens e lavouras. Atualmente, os
fragmentos florestais remanescentes são raros no Vale do Rio Doce, e os
problemas com o solo e com o balanço hidrológico estão mais acentuados.
Na RPPN Fazenda Bulcão, o projeto apoiado pelo BNDES
consiste no enriquecimento da vegetação em 55 hectares da mata ciliar, além da
implantação de um Laboratório de Sementes – um núcleo de pesquisa para seleção
de espécies florestais mais resistentes e favoráveis à atividade de
reflorestamento em áreas degradadas.
Com o objetivo de reconstruir o ecossistema florestal
da região, por meio de diferentes formas de intervenção, recuperando os
processos ecológicos e contribuindo para a manutenção da biodiversidade local,
foi fundado o Instituto Terra, uma associação civil sem fins lucrativos voltada
para preservação do meio ambiente com ênfase em reflorestamento, educação e
pesquisa, onde em menos de 10 anos já foram plantadas 1 milhão de mudas. O
Instituto é aberto a visitações, oferece cursos e desenvolve a extensão rural
nas comunidades.
Área do projeto
A região do Vale do Rio Doce, onde está localizada a
Fazenda, era originariamente coberta pelo bioma da Mata Atlântica em estado
primitivo. No entanto, quando foi adquirida pelo casal, sua mata encontrava-se
em acelerado estágio de desmatamento, havia perdas expressivas de nutrientes em
seus solos expostos, sua fauna específica evadira-se e ocorriam graves ameaças
às nascentes situadas em seu sítio.
Entre as alterações ambientais que motivaram esses
impactos estavam (i) o processo de colonização da região, com a exploração
comercial de madeira; (ii) o desmatamento generalizado; e (iii) atividades
agrícolas e pecuárias mal planejadas e fadadas ao fracasso ambiental.
O conjunto das edificações do Instituto Terra está
localizado num vale de cerca de 30 ha, criando assim um pequeno centro urbano,
rodeado por florestas e dentro de um grande jardim. O antigo curral e sua balança
foram transformados em escritórios, sala de exposição e refeitório.
Atrás, o Centro de Educação e de Recuperação
Ambiental, com uma sala polivalente para 180 lugares, é ao mesmo tempo,
auditório, cinema e teatro. Três salas de aulas com capacidade para 25 pessoas
cada uma. A biblioteca, o laboratório e a secretaria do Centro. O almoxarifado,
com uma grande varanda que serve de refeitório para os trabalhadores do campo.
O alojamento dos professores, com seis suítes duplas. O alojamento dos alunos,
com capacidade para 36 pessoas. Todos os edifícios têm acesso para pessoas com
deficiências.
Em agosto de 2004 foi inaugurada uma área de
residência dos alunos como parte da infraestrutura de um Centro de Reabilitação
Ambiental e de Desenvolvimento Rural, com capacidade para receber até 30
alunos.
Descrição da organização executora do projeto e
parcerias
O casal, que foi exilado na época da ditadura, ao
voltar para o Brasil após a anistia, cansados de ver toda aquela degradação
resolveram substituir as pastagens por florestas. O pai de Sebastião Salgado,
assim como a maioria da população de Aimorés, achava um absurdo plantar
florestas.
Foram anos de pesquisa até que a idéia foi crescendo
junto com o apoio dos amigos, até que se criou o Instituto Terra, uma RPPN - Reserva
Particular do Patrimônio Natural, uma associação civil sem fins lucrativos, com
reconhecimento difícil pelo histórico do local.
O Instituto
Terra hoje é o segundo maior empregador de Aimorés, contando com um quadro de
55 funcionários com carteira assinada. Os projetos são financiados por empresas
públicas e privadas além de fontes externas vindas de países como Itália,
Espanha e EUA e também de doações de pessoas físicas e jurídicas.
Descrição do meio físico
O relevo do município de Aimorés é predominantemente
ondulado. A altitude máxima encontra-se na Serra da Mata Fria, situada a sul do
município, que chega aos 1.118 metros, enquanto que a altitude mínima está no
Rio Doce, chegando a 83 metros acima do nível do mar, em um trecho a nordeste da
cidade.
O clima aimoreense é caracterizado, como tropical
quente semiúmido, ou tropical com estação seca (tipo Aw segundo Köppen), tendo
temperatura média anual de 25,2 °C com invernos secos e amenos e verões
chuvosos com temperaturas elevadas.18 19 O município é conhecido por ser a
cidade mais quente do estado de Minas Gerais. A precipitação média anual é de 1
062,6 mm, sendo julho o mês mais seco, quando ocorrem apenas 17,9 mm. Em
dezembro, o mês mais chuvoso, a média fica em 202,0 mm.
O solo encontrado no local onde se deu início ao
projeto era bem degradado, com pouca matéria orgânica, sem a presença de
horizonte O e quase nada do horizonte A, marcado pela utilização inadequada de
técnicas agrícolas, como aração do morro abaixo, topos de morros desmatados,
gados circulando em áreas de nascentes.
A cidade era cortada pelo Rio Doce, que há alguns anos
diminui significativamente sua vazão, se tornando quase inexistente, devido a
transposição de parte de suas água para a criação de uma usina. Este cenário alertava
aos moradores para a importância de se ter água em sua propriedade, mas pouco
era feito para mantê-las, causando a extinção de nascentes e pequenos córregos.
Justificativa
O enriquecimento da mata ciliar vai favorecer o
projeto de recuperação de Mata Atlântica em curso na Fazenda Bulcão e que está
entre os maiores do Brasil em termos de área contínua. São 709,84 hectares que
estão sendo reflorestados, sendo que 608,69 hectares se constituem em Reserva
Particular de Patrimônio Natural – título recebido pelo Instituto Terra em 1998
e que conserva seu ineditismo por se tratar da primeira RPPN constituída em uma
área degradada de Mata Atlântica com o compromisso de vir a promover um
processo de recuperação ambiental associado a atividades educacionais.
Objetivos
Geral
Reconstituir o ecossistema florestal da região, por
meio de diferentes formas de intervenção, recuperando os processos ecológicos e
contribuindo para a manutenção da biodiversidade local.
Específicos
·
Reconstituir o bioma
original da Mata Atlântica;
·
Contribuir para a
recuperação da biota e da biodiversidade de fauna e flora;
·
Recuperar as águas do
córrego Bulcão e Constância e de outras nascentes;
·
Recuperar as bacias
hidrográficas da região;
·
Enriquecer a
vegetação em 55 hectares da mata ciliar;
·
Implantar de um
Laboratório de Sementes;
·
Criar corredores
ecológicos para facilitar o trânsito da fauna;
·
Conscientizar a
população da importância de se recuperar e preservar áreas de matas
Metodologia
É essencial demonstrar às pessoas sobre as questões do
ambiente. Como produzir com ele, como conservá-lo, como preservá-lo, bem como
fazer uma reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento adotado para a
produção no campo brasileiro.
Através do Centro de Educação e de Recuperação
Ambiental, unidade de treinamento do Instituto Terra, são ministrados cursos em
módulos sobre temas tais como: ecologia, alteração ambiental, manejo florestal,
agroecologia, sistemas agroflorestais, silvicultura, permacultura, educação
ambiental, combate a incêndios, pronta-resposta a acidentes e outros.
A estratégia é trabalhar o público que demonstrava
relevância na formação e difusão de ideias ambientais, tais como professores do
ensino médio, prefeitos, secretários do ambiente, lideranças da sociedade civil
e, sobretudo, os próprios produtores rurais.
O trabalho consistiu inicialmente, no isolamento da
área ao redor e na retirada dos gados do pasto. Foram criadas parcerias com as
escolas da cidade que ajudaram no primeiro plantio que teve de mudas de
árvores, até então doadas, nos morros que cercavam a propriedade. A partir
disso, passou a se fazer o monitoramento dessas plantas e a manutenção, pois os
indivíduos dominantes eram, basicamente, capim colonião, uma gramínea bastante
agressiva. Com o estabelecimento destas primeiras espécies, passou a ser
implantada a técnica da muvuca, que constituía em uma mistura de terra, adubos
e sementes.
Nesta mistura, também havia espécies armadilhas, ou
seja, elas eram implantadas com a finalidade de atrair formigas cortadeiras e
diminuir o ataque das mesmas em espécies florestais. Essa muvuca era espalhada
ao longo dos terraços de base estreita que eram feitos em épocas de chuva,
facilitando a germinação e pegamento das plântulas. Técnicas de nucleação por
galhadas também foram implantadas, assim como o plantio aleatório, de
espaçamento 2m x 2m, intercalando mudas pioneiras e secundárias.
Na propriedade são produzidas as mudas das árvores,
assim como a coleta de sementes que é realizada nas proximidades pela equipe
responsável. No viveiro onde se tinha problemas com a dormência das sementes,
hoje se tem registrado mais de 300 espécies, contendo nome cientifico, popular,
se tem ou não dormência e como tratar essa dormência. No último ano foram
gastos 2.300 kg de sementes. São produzidas hoje mudas de mais de 60 espécies
como Pau Brasil, Paracatu, Jequitibá entre outras. As mudas são plantadas na
época das chuvas, com espaçamento de 4 m² por planta, sendo umas 2.300 plantas
por há, na proporção de 60 pioneiras, 30 secundarias e 10 climax, com um custo
variando entre R$ 7.000,00 por ha.
O projeto com a ajuda de um empresário da cidade é
“vendido” para empresas de vários países, que passam a financiá-lo, em troca do
crédito de carbono. Uma compensação ambiental que, para o município e seus
moradores é de grande valor, econômico e ambiental, gerando renda e garantindo além de uma melhor
qualidade de vida daqueles, sua permanência na região.
Apresentação dos resultados
Em pouco mais de uma década, o sonho do casal já
rendeu muitos frutos. Por conta da atuação do Instituto Terra, mais de 7.000
hectares de áreas degradadas estão em processo de recuperação na região e mais
de 4 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica já foram produzidas em seu
viveiro para abastecer tanto os plantios na RPPN Fazenda Bulcão quanto os
projetos de restauração que desenvolve na região.
A antiga fazenda de gado, antes completamente
degradada, hoje abriga uma floresta rica em diversidade de espécies da flora de
Mata Atlântica. A experiência comprova que junto a recuperação do verde,
nascentes voltam a jorrar e espécies da fauna brasileira, em risco de extinção,
voltam a ter um refúgio seguro.
Com o reflorestamento da RPPN Fazenda Bulcão, cujo
primeiro plantio foi realizado em dezembro de 1999, o Instituto Terra está
perto de concluir um projeto de recuperação de Mata Atlântica sem precedentes
no Brasil em termos de área contínua.
Considerações Finais
O projeto desenvolvido pelo casal Lélia e Sebastião
mostra o quão é possível que iniciativas de recuperação saiam do papel. Além de
que, demonstram para a população daquele local e demais curiosos as vantagens
da regeneração da Mata Atlântica e, principalmente, que esta regeneração pode
acontecer em conjunto com as atividades econômicas da propriedade em questão,
aumentando a renda e melhorando a qualidade de vida dos indivíduos.