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Por Maurício Novaes Souza
Em todo o mundo, mas particularmente
no Brasil, a preocupação está voltada para a crise financeira que atravessamos.
Contudo, a questão ambiental, que deveria ser prioridade posto ser a fonte de
todos os recursos utilizados nos processos produtivos, vem sendo relegada ao
segundo plano. Na prática, o antigo discurso da necessidade de crescimento
econômico para a geração de emprego e renda acaba prevalecendo. Ou seja,
continua vigorando a visão de curtíssimo prazo, cujos resultados finais são conhecidos
e previsíveis. De fato, a economia global está perdendo mais dinheiro com a destruição
dos recursos naturais do que com a atual crise financeira global.
Calcula-se que os
desperdícios anuais, apenas com o desmatamento, variam de US$ 3 trilhões a US$ 6
trilhões. O número inclui o valor de vários serviços oferecidos pelas
florestas, como água limpa e a absorção do dióxido de carbono. Já estimado, o
custo resultante da degradação da natureza ultrapassa o dos mercados
financeiros globais. Cabe ainda uma consideração sobre os custos ambientais:
pelo fato de serem contínuos, seus reflexos no longo prazo serão ainda maiores
e de difícil quantificação. Na verdade, os economistas desconhecem ou simplesmente
desconsideram os serviços ambientais prestados pela natureza.
Tais serviços ou funções,
como o armazenamento de água e a regulação do ciclo de carbono, cria condição
para um meio ambiente saudável, oferecendo não só água e ar limpos, chuvas,
solo fértil e elasticidade das bacias fluviais, como também certas funções
imprescindíveis para a manutenção da sustentabilidade, tais como: a) o
processamento de resíduos (naturais e industriais); b) a proteção contra os
extremos do clima; e c) a regeneração atmosférica. Por estas questões, o homem
em suas atividades produtivas deve sempre considerar que os ecossistemas são
sistemas abertos e integrados por todos os organismos vivos, inclusive ele
próprio, e os elementos não viventes de um setor ambiental, cujas propriedades
globais de funcionamento e controle derivam das relações entre todos os seus
componentes, tanto pertencentes aos sistemas naturais, quanto aos criados ou
modificados pelo Homem.
De
fato, o desconhecimento dos profissionais da área econômica e da maioria de
nossos gestores sobre conceitos básicos de ecologia e de economia dos recursos
naturais e renováveis, os impedem de perceber que existem limites ao
crescimento. O homem, na ânsia de sucesso e maximização de suas atividades, força
o ambiente a realizar um esforço amplificador a fim de produzir um determinado resultado
desejado; contudo, os ecossistemas têm sua capacidade de suporte e de
regeneração que dependerá da sua resistência e da sua resiliência. Ocorrido um
estresse, caso seja ultrapassado o seu limite, podem-se criar efeitos
secundários que acabam reduzindo o ritmo e as chances de sucesso que uma
determinada atividade vinha alcançando. Percebe-se então, que o importante é
não forçar o crescimento, mas sim conhecer o ambiente e conviver dentro da
possibilidade e dos fatores que o limitam.
Considere-se a situação dos
ecossistemas aquáticos. De fato, a qualidade das águas de praticamente todos os
rios do Brasil piorou nos últimos anos. Esse fato é o resultado do modelo de
desenvolvimento atual e que afeta drasticamente as populações. É preciso apresentar
respostas para escassez do recurso provocada pelo crescimento da população, o
desperdício, o consumo excessivo e o aumento da necessidade de energia. Aumentar
indefinidamente a demanda por água, nos dias atuais, além de colocar em perigo
o meio natural, torna-se cada vez mais caro o seu tratamento e distribuição em
um contexto de mudança do clima e crise financeira.
Apesar das inúmeras iniciativas
governamentais e organizacionais, os efeitos efetivos ainda são discretos. Devemos
refletir sobre a necessidade urgente de abandono às concepções antiquadas
ligadas à produção e ao consumo, adotando a sustentabilidade socioambiental nas
ações públicas e privadas, em todos os níveis, do local ao global. É preciso
que sejam conhecidos e respeitados os limites do crescimento. Essas deverão ser
as propostas de um novo modelo guiado pelos princípios do “Desenvolvimento
Sustentável”. Contudo, o seu sucesso dependerá da participação e esforço de
cada um dos habitantes, de cada comunidade, posto que o somatório das atitudes
individuais trará soluções sustentáveis para os problemas relativos às questões
sociais e ambientais.
* Engenheiro
Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão
Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de
Viçosa (UFV), é professor do IF Sudeste campus Rio Pomba. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.
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