* Por Maurício Novaes Souza
Nesta quarta-feira de cinzas, segundo relatório divulgado
pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em
Paris, que avaliou a situação de 64 nações, o Brasil é o segundo pior país (ficou
atrás apenas da Indonésia) em alunos que apresentam baixo rendimento escolar em
matemática, leitura e ciência. De acordo com esse levantamento, 1,7 milhão de
estudantes brasileiros com 15 anos não têm capacidades elementares para
compreender o que leem, nem conhecimentos essenciais de matemática e ciências: mais de 25% dos
estudantes têm notas ruins nas referidas disciplinas.
A OCDE incentiva os
países a investir na educação para um retorno econômico mais favorável. Segundo
a OCDE, "os maus resultados escolares têm consequências em longo prazo,
com um alto risco de abandono desses jovens e um crescimento econômico
inferior. Alguns países se encontram, inclusive, em um estado de recessão permanente". Segundo o Pisa (Programa
Internacional de Avaliação de Alunos), que realizou a pesquisa para a OCDE, a
luta contra os maus resultados escolares, que dizem respeito a 28% dos alunos
de 15 anos, é onerosa, mas uma medida rentável em longo prazo. Os dados
reunidos este ano serviram de base para o novo relatório chamado
"Estudantes com baixo desempenho: por que eles ficam para trás e como
ajudá-los?". O fato é que os benefícios da luta contra esse fenômeno
"superam de longe os custos da melhoria".
Para se fazer uma
projeção de como tal realidade poderá influenciar a economia, se dos dias
atuais até 2030 cada aluno de 15 anos conseguir "adquirir uma bagagem
mínima de competências fundamentais" em literatura e matemática nos países
de alta renda da OCDE, os benefícios a longo prazo para a economia destes
países poderão alcançar "aproximadamente 1,5 vezes seus PIBs atuais".
Uma boa notícia: entre 2003 e 2012, a OCDE fez o censo de nove países que
conseguiram reduzir sua proporção de alunos com resultados ruins em matemática,
entre eles, está o Brasil! Como entre estes não há muitos pontos em comum, a
organização chega à conclusão de que "todos os países podem melhorar os
resultados de seus alunos" se decidirem que é uma "prioridade de sua
política educacional" e fornecerem os recursos suplementares.
De
acordo com a OCDE, "é preciso envolver os pais e as coletividades
locais, incentivar os estudantes a aproveitar as possibilidades de educação
oferecida, identificar os alunos com maus resultados e dar apoio aos alunos,
aos estabelecimentos de ensino e às famílias". A
OCDE também defende "programas específicos para os alunos imigrantes, que
falam uma língua minoritária ou que vivam na zona rural, a luta contra os
estereótipos de gênero e a redução das desigualdades de acesso à
educação".
Vários fatores podem
contribuir para que os alunos tenham resultados ruins: a probabilidade de estar
nessa situação é 2,5 vezes maior para os jovens procedentes da migração e quando
se vive no campo ou em uma família monoparental. Quando se acumulam vários
fatores de risco, a possibilidade de ter maus resultados em matemática é de 76%
para uma menina procedente da imigração, que fala em casa outro idioma, que
vive numa família monoparental e na zona rural. Não apenas os fatores de risco
são maiores para os alunos de setores sociais desfavorecidos, como também
"têm uma incidência mais forte em seus resultados". Como
a inclusão se dá incorporando alunos que estão na base da pirâmide social, em
classes mais desfavorecidas, seus primeiros anos de educação são mais
problemáticos, por frequentarem escolas com menos recursos, como ocorre em
regiões rurais. Na média, mais de um terço da diferença dos resultados
em matemática entre alunos é atribuível à diferença entre os estabelecimentos de
ensino.
Outra constatação do estudo
é de que o Brasil está no “top 10” de países mais desiguais do mundo no que diz
respeito à diferença de desempenho entre estudantes de classes sociais altas e
baixas.
Por fim, os alunos com más classificações faltam mais as aulas do que os
demais, têm menos perseverança e menos confiança em si mesmo, o que não é
surpreendente. Para romper o ciclo de baixo nível educacional, a OCDE
recomenda que os governos nacionais identifiquem os estudantes com baixa performance e lhes ofereçam estratégias
para recuperação de nível. Entre as propostas da entidade, a maior parte tem
caráter estrutural: reduzir a desigualdade no acesso à educação, estimular a
inscrição escolar o mais cedo possível, envolver os pais na comunidade escolar
e fornecer programas de auxílio financeiro às instituições de ensino e às
famílias carentes.
* Engenheiro
Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão
Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV), é professor do IF Sudeste campus Rio Pomba. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.
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