* Silvane de Almeida Campos
No Brasil
existem 5,4 milhões de equinos (IBGE, 2014). Nas propriedades rurais, estes
animais são utilizados em atividades de produção, trabalho, transporte como
montaria, esportes, entre outras. Desta forma, possuem importância fundamental na agricultura e pecuária.
O setor de equinocultura vem apresentando um crescimento expressivo de
competições, leilões e turismo (ANUALPEC, 2012).
Com relação aos
animais ruminantes, dados do IBGE de 2014 demonstram que o Brasil possui 212,3 milhões
de bovinos, 17,6 milhões de ovinos, 8,8 milhões de caprinos e 1,3 milhão de
bubalinos. Estes animais exercem papel importante, devido a sua capacidade de
converter materiais não utilizáveis pelo homem em produtos de origem animal
(carne, leite) de elevado valor biológico em função da ação fermentativa
microbiana em seu trato gastrintestinal (SILVA et al., 2010).
Sendo assim, os
ruminantes têm grande contribuição na produção pecuária e de seus derivados
para atender a crescente demanda em virtude do aumento populacional. Com isso,
tem-se emergido estudos e iniciativas em busca de sistemas de produção mais
sustentáveis que garantem a sobrevivência da população mundial que, conforme
Marcondes (2012) tem previsão para atingir nove bilhões de pessoas até 2050.
Os sistemas
agroflorestais podem ser uma alternativa para aumentar a produtividade com
maior nível de sustentabilidade no sistema de produção (LAMÔNICA, 2008). Dentre
as modalidades de sistemas agroflorestais, os sistemas silvipastoril e
agrossilvipastoril apresentam em comum os componentes forrageiro, animal e arbóreo-arbustivo.
As árvores de
modo geral podem permitir inúmeros benefícios a estes
sistemas tais como bem estar animal (NICODEMO et al., 2012), conservação
do solo e água (PORFÍRIO-DA-SILVA, 2007), fixação biológica de nitrogênio (no caso de
leguminosas), reciclagem de nutrientes, quebra-vento, além de proporcionar uma
fonte de madeira, recurso essencial numa
propriedade agrícola (MOREIRA, 2014). No entanto, no estabelecimento dos sistemas
silvipastoril e agrossilvipastoril alguns critérios devem ser considerados visando
à escolha adequada de espécies arbóreas-arbustivas a serem mantidas ou introduzidas
na pastagem, tendo como um dos critérios a seleção de plantas não tóxicas aos
animais.
Planta tóxica
de interesse pecuário é aquela que quando ingerida naturalmente pelos animais,
possui potencial em causar danos à saúde ou mesmo ocasionar a morte (TOKARNIA
et al., 2012), mas sua toxicidade deve ser comprovada cientificamente (SOUSA et
al., 2014). Há espécies consideradas hepatotóxicas,
nefrotóxicas, cianogênicas, que causam perturbações nervosas, degeneração e
necrose musculares, morte súbita, fotossensibilização,
afetam o funcionamento do coração, do tubo digestivo
e a reprodução dos animais (RIET-CORREA, 2007; SCHONS et al., 2012; MAGALHÃES
et al., 2013).
No geral, os
surtos de intoxicação natural verificados em animais de produção decorrem da
falta de conhecimento dos produtores sobre o potencial tóxico de árvores e
arbustos encontrados nas pastagens, de forma natural ou invasora. Segundo
Barbosa et al. (2007), a exposição destes animais a plantas tóxicas se dá sobretudo
por sua presença nas pastagens, contaminação acidental do alimento e
oferecimento como alimento. Segundo Ferreira et al. (2015), em
épocas de severa estiagem, a administração de plantas de toxicidade
desconhecida pelos produtores é uma das formas mais frequentes de intoxicação
de animais de produção na região Nordeste do Brasil.
A ocorrência,
frequência e distribuição geográfica das intoxicações por plantas podem ser
determinadas por diversos fatores desencadeadores das intoxicações como aceitabilidade,
facilitação social (no caso de plantas não aceitáveis), fome, sede, desconhecimento,
transporte, acesso às plantas tóxicas, dose tóxica, período de ingestão,
variações de toxicidade e brotação após as primeiras chuvas (RIET-CORREA et
al., 2012) e resistência/susceptibilidade dos animais às intoxicações (PESSOA
et al.,2013).
No que se
refere à dose, levando em consideração uma mesma planta, a dose que apresenta
toxicidade e/ou letalidade para uma espécie animal pode não ser para a outra. Becker
et al. (2013) avaliando a toxicidade de Amorimia
pubiflora em ovinos e bovinos, cujo princípio tóxico é o monofluoracetato
de sódio, constataram que as doses letais para ovinos foram de 2, 3 e 5 g/kg de
folhas jovens da planta, enquanto, para bovinos foi de 3 g/kg. A planta ocorre na
região Centro-Oeste, nos Estados de Minas Gerais e São Paulo (MAMEDE, 2016).
No Brasil, o
número de plantas conhecidas como tóxicas para ruminantes e equinos aumenta
continuamente. Em 2012, existiam 131 espécies e 79 gêneros (RIET-CORREA et al.,
2012). Faz-se necessária a divulgação de tais plantas com vistas à redução dos
riscos de intoxicação animal e de perdas econômicas aos produtores. Com relação
às perdas econômicas, a mortalidade de animais promovida por plantas tóxicas é
o que mais chama a atenção, especialmente quando afeta um grande percentual do rebanho
(BARBOSA et al., 2007).
Palicourea
marcgravii (erva-de-rato), considerada a
principal planta tóxica de interesse pecuário no Brasil, encontra-se
distribuída por quase todo o país, com exceção do Mato Grosso do Sul e da
região Sul. A planta apresenta boa aceitabilidade, elevada toxidez e efeito
acumulativo, tendo como princípio tóxico o ácido monofluoracético (TOKARNIA et
al., 2012).
A leguminosa arbórea Prosopis juliflora (algaroba) tem sido utilizada como forrageira em
sistemas silvipastoris. As vagens desta planta constituem uma fração importante
da alimentação durante a época seca, quando há maior carência de forragem, nos
municípios do Agreste e Sertão Pernambucano (CÂMARA et al., 2009) uma vez que a planta concentra seu valor nutritivo
nas vagens (RÊGO et al., 2011). Entretanto, Câmara
et al. (2009) descreveram os achados clínicos e
laboratoriais de surtos de intoxicação por vagens de algaroba em bovinos
pastejando áreas invadidas pela planta ou que ingeriram as mesmas como alimento
concentrado.
Tetrapterys acutifolia
conhecida como cipó-preto é responsável por significativo número de mortes em
bovinos, especialmente, nos Estados de Rio de Janeiro e São Paulo. Caldas et
al. (2011) realizaram um estudo buscando comprovar o efeito abortivo desta planta
em bovinos e a caracterização das
alterações clínico-patológicas nas vacas e nos fetos, antes e após o
abortamento, em Barra do Piraí, RJ. Os autores concluíram que a ingestão de
cipó-preto é capaz de induzir aborto e, dependendo da dose, ainda causar a
morte das vacas que abortarem.
O pereiro (Aspidosperma pyrifolium) possui várias
utilidades como planta ornamental, madeira para carvão, cerca e lenha, indicada
na recuperação de áreas degradadas, inclusive em matas ciliares (SOUSA et al.,
2014) bem como na medicina veterinária popular para tratamento de
ectoparasitoses dos animais domésticos (SANTOS, 2010). Porém, a planta é
responsável por abortamentos em ovinos, bovinos e, notadamente, em caprinos,
sendo mais consumida pelos animais nos períodos de seca ou quando há escassez
de forragem no Sertão Paraibano, onde existe abundantemente (ASSIS et al.,
2009).
Crescentia
cujete é uma árvore que produz frutos grandes
e arredondados, sendo muito utilizados para produção de cuias, feitas com a
casca do fruto conhecido como cabaça. Há relatos de que esta planta seja tóxica
para bovinos, causando morte pouco tempo após o consumo da polpa da fruta, além
da ocorrência de abortos em bovinos que ingeriram os frutos da planta,
extremamente aceitáveis, sobretudo, quando maturados (ASSIS et al., 2009).
Diante disso, estes autores, comprovaram a toxicidade da planta em caprinos.
A
intoxicação por planta em ruminantes e equinos depende do potencial tóxico da
espécie, dose ingerida e tempo de administração. Deste modo, alguns animais
recuperam-se após a suspensão do consumo da planta, enquanto, outros evoluem
para o óbito. Porém, há alguns casos de resistência individual a intoxicação,
para a mesma espécie animal.
A maioria dos
casos de intoxicação animal decorre da ingestão de plantas tóxicas em áreas de
pastagem com insuficiência de forragem, no período da seca. Para evitar
prejuízos econômicos, os produtores deverão realizar medidas cabíveis de
controle destas plantas ou a remoção dos animais no período propício a intoxicação.
Tabela 1. Espécies arbóreas-arbustivas que tiveram
a sua toxicidade comprovada para animais ruminantes e equinos.
Planta
|
Nome comum
|
Município ou
região
do surto
|
Espécie afetada
|
Referências
|
Amorimia
exotropica
|
cipó
|
Rio Grande do Sul
|
bovina
|
Bandinelli et al.
(2014)
|
Anacardium
occidentale
|
cajueiro
|
Rio Grande do Norte
|
bovina
|
Ribeiro Filho
&
Soto-Blanco
(2012)
|
Baccharis coridifolia
|
mio-mio
|
Aceguá/RS
|
equina
|
Alda et al. (2009)
|
Cestrum
intermedium
|
coerana
|
Jupiá/SC
|
bovina
|
Furlan et al.
(2008)
|
Cestrum laevigatum
|
dama-da-noite
|
Itaguaí/RJ
|
bubalina
|
Barbosa et al. (2010)
|
Cycas revoluta
|
palmeira-sagu
|
Agreste/PE
|
bovina
|
Ferreira et al. (2015)
|
Enterolobium contortisiliquum
|
timbaúba
|
Afogados da Ingazeira/PE
|
bovina
|
Olinda et al. (2015)
|
Eugenia uvalha Cambess
|
uvaieira
|
Planalto e
Oeste Catarinense
|
ovina
|
Emmerich et al. (2014)
|
Hovenia dulcis
|
uva-Japão
|
Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina
|
bovina
|
Cardoso et al. (2015)
|
Indigofera
suffruticosa
|
anil
|
Patos/PB
|
caprina
e ovina
|
Figueiredo et al.
(2012)
|
Ipomoea carnea
subsp. Fistulosa
|
canudo
|
Ilha do Marajó, PA
|
caprina
|
Oliveira et al.
(2009)
|
Jatropha ribifolia
|
pinhão rasteiro
|
Semiárido nordestino
|
caprina
|
Pimentel et al. (2012)
|
Metternichia
princeps
|
café-do-mato
|
Itaguaí/RJ
|
Bovina
|
Caldas et al.
(2012)
|
Mimosa tenuiflora
|
jurema preta
|
-
|
ovina
|
Santos et al. (2012)
|
Nerium oleander
|
espirradeira
|
Patos/PB
|
bovina
|
Assis et al.
(2010)
|
Opuntia
fícus-indica
|
palma
|
Patos/PB
|
caprina
|
Assis et al.
(2010)
|
Poiretia punctata
|
-
|
Sergipe
|
ovina
|
Nascimento et al.
(2014)
|
Pseudocalymma elegans
|
-
|
Rio Bonito/RJ
|
bovina
|
Helayel et al.
(2009)
|
Pterodon
emarginatus
|
sucupira
|
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
|
bovina
|
Cruz et al.
(2012)
|
Ricinus communis
|
mamona
|
Salgado de São Félix/PB
|
bovina
|
Albuquerque et al. (2014)
|
Senna obtusifolia
|
fedegoso
|
Pantanal Sul do MT
|
bovina
|
Carvalho et al.
(2014)
|
Simarouba
versicolor
|
caixeta
|
Água Clara/MS
Mato Grosso do Sul
|
ovina
bovina
|
Santos et al.
(2013)
Carvalho et al.
(2013)
|
Solanum glaucophyllum
|
espichadeira
|
Pantanal
Matogrossense
|
bubalina
|
Santos et al. (2011)
|
Stryphnodendron fissuratum
|
rosquinha
|
-
|
caprina
|
Mendonça et al. (2010)
|
Talisia esculenta
|
pitomba
|
Crato/CE
|
ovina e
bovina
|
Riet-Correa et
al. (2014)
|
Trema micranta
|
crindiúva
|
-
|
equina
|
Bandarra et al. (2011)
|
Turbina cordata
|
capoteira
|
Patos/PB
|
caprina e
equina
|
Assis et al.
(2010)
|
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