quinta-feira, 7 de dezembro de 2017


*Silvane de Almeida Campos

Diagnosis of the pastures of the municipality of Rio Pomba, MG


Resumo: O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico das pastagens do município de Rio Pomba, MG. Foi realizada pesquisa bibliográfica e entrevista a 20 produtores rurais do município com aplicação de questionário com perguntas abertas. Procedeu-se a programação das visitas às propriedades dos produtores sorteados aleatoriamente. Foram abordados temas referentes ao uso, conservação e degradação das pastagens e o grau de conhecimento dos produtores sobre algumas alternativas agroecológicas. A partir desta pesquisa, fez-se uma avaliação do nível de conhecimento dos produtores e análise de todos os dados levantados nesta pesquisa. Pela visita aos estabelecimentos rurais, concluiu-se pela observação que as pastagens do referido município se encontram em diferentes estádios de degradação, predominando o nível mais crítico, com tendência à exaustão dos recursos naturais, tornando a pecuária local inviável economicamente. A maioria dos produtores rurais entrevistados desconhece os processos de degradação das pastagens e os métodos de recuperação e conservação.

Palavras-chave: Pastagem. Degradação ambiental. Agroecologia. Sustentabilidade.

Abstract: The aim of this study was a diagnosis of pastures of Rio Dove, MG. Bibliographic search was performed and an interview with 20 farmers in the municipality with a questionnaire with open questions. Proceeded to schedule visits to the properties of randomly selected producers. Were discussed regarding the use, conservation and pasture degradation and degree of knowledge of producers about some agroecological alternatives. From this research, it was an assessment of the level of knowledge of producers and analysis of all data collected in this study. By visiting the farms, it was concluded by observing that the pastures of the municipality are at different stages of degradation, predominantly the most critical level, with a tendency to exhaustion of natural resources, making the local livestock uneconomical. Most farmers interviewed are unaware of the processes of degradation of pastures and the methods of recovery and conservation.

Keywords: Pasture. Environmental degradation. Agroecology. Sustainability.


Introdução

Na região Zona da Mata Mineira como em todo Brasil a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades (MARTINS, 2009). O cenário de destruição da Mata Atlântica deu origem à implantação de lavouras, especialmente de café (Coffea arabica L.), que ao longo dos anos foi sendo substituída por áreas de pastagem e tornando-se a fonte mais comum de alimentação animal. A partir da década de 1970, ocorreu no país o processo de renovação das pastagens tropicais com a substituição de pastagens nativas degradadas por espécies exóticas provenientes do continente africano, tais como gramíneas dos gêneros Brachiaria, Panicum e Andropogon que se adaptaram bem as condições edafoclimáticas da Zona da Mata de Minas Gerais. Nos primeiros anos os produtores obtiveram ganho na produtividade, mas a falta de adubação e a ausência de manejo adequado, entre outros fatores, ocasionaram o processo de degradação, que ao longo dos tempos se intensificou (OLIVEIRA, 2007).
O município Rio Pomba, localizado na Zona da Mata Mineira, destaca-se pela degradação das pastagens como resultado do manejo inapropriado dos recursos naturais. Nestas condições, verifica-se a baixa capacidade produtiva da atividade pecuária, a forte descapitalização dos produtores, o desestímulo destes frente a esta atividade econômica e o indesejável êxodo rural. A degradação de pastagens é o processo evolutivo de perda de vigor, de produtividade, capacidade de recuperação natural para sustentar os níveis de produção e a qualidade exigida pelos animais. Além disso, perde-se a capacidade de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras, surgem áreas com solo exposto, favorecendo o processo erosivo, culminando com a degradação avançada dos recursos naturais, em razão do manejo inadequado (KONDO e RESENDE, 2001).
Em Rio Pomba - MG, o cenário de degradação das pastagens não difere do restante do país. Práticas como desmatamento; queimadas; aração vertical; cultivo exclusivo de Brachiaria spp.; formação de pastagem sem prévia análise de fertilidade do solo; falta de adubação de reposição; taxa de lotação incompatível com a capacidade suporte (superlotação animal) e o pastejo contínuo não permitem a manutenção do equilíbrio do complexo solo-forrageira-animal que é responsável pela produtividade satisfatória da pastagem em longo prazo. Estas técnicas insustentáveis passaram de geração a geração causando muita agressão ao ambiente e prejuízos econômicos aos produtores rurais. Segundo OLIVEIRA (2007), há necessidade de adotar mudanças no paradigma atual para promover a conservação e a sustentabilidade às próximas gerações.
De acordo com ARRUDA JÚNIOR (2008), com a degradação dos ecossistemas se torna um desafio viabilizar sistemas de produção com eficiência energética e conservação do ambiente. Neste contexto, a pecuária leiteira enfrenta um grande desafio em aumentar a produção com redução de custos.  Alternativas agroecológicas como construções de terraços em nível e de Barraginhas, consórcio leguminosa-gramínea, arborização de pastagem, manejo da regeneração natural, Sistemas Agroflorestais e Pastoreio Racional Voisin têm potencial para reverter este quadro de degradação das pastagens, mediante ação antrópica, tendo a natureza como sua aliada.
Entender o fenômeno da degradação de pastagem e as suas causas é essencial para formular estratégias de recuperação da produtividade dessas áreas, reduzindo, assim, as pressões de desmatamento que visam à formação de novas pastagens (DIAS-FILHO, 2007).
O objetivo principal deste trabalho foi realizar um diagnóstico das pastagens do município de Rio Pomba – MG.


Localização do município

O município de Rio Pomba localiza-se na região Zona da Mata de Minas Gerais (Figura 1). Está distante 244 Km da capital, na Latitude 21º16'31” S e Longitude 43°10'38” W. Ocupa uma área de 251,760 Km² (Instituto de Geociências Aplicadas – IGA, 2009) e apresenta uma população de 17.359 habitantes (IBGE,  estimativa 2009), temperatura média de 21º C, numa altitude média de 441 m (IBGE, 2006). Apresenta o índice médio pluviométrico anual de 1.581mm.



FIGURA 1 - Localização geográfica de Rio Pomba, MG. Fonte: Prefeitura municipal de Rio Pomba, MG, 2010.

O principal recurso hídrico do município é o Rio Pomba, pertencente à Bacia do Paraíba do Sul. O relevo apresenta 5% de sua área plana, 25% ondulada e 70% montanhosa. O solo predominante é o Latossolo Vermelho-amarelo de textura média.
O município é composto de 19 (dezenove) comunidades rurais, onde residem 923 famílias sendo a maioria de trabalhadores rurais (EMATER-MG, Rio Pomba, 2009). Apresenta 466 estabelecimentos agropecuários, sendo 85% pequenos produtores (entre 1 - 50 ha), 11% médios produtores (entre 51-100 ha) e 4% grandes produtores (entre 101 - 200 ha), (IBGE – Censo Agropecuário, 2006). Concentra 20% de sua população na Zona Rural sendo predominantemente constituída por agricultores familiares que representam um significativo número dos estabelecimentos agropecuários com bovinos (IBGE – Censo Agropecuário, 2006).  Atualmente, a atividade agropecuária se destaca em 4º lugar da economia agrícola do município. Os proprietários rurais tradicionalmente exercem a bovinocultura de leite e corte com predominância na pecuária leiteira, somando um total de 428 pecuaristas, ocupando uma área de 9.491 ha de pastagens naturais e 3.801 ha de pastagem formada (EMATER – MG, 2009).
O município é ocupado predominantemente por pastagens de Brachiaria spp.  exclusiva que possuem baixa produtividade provocada pelo extrativismo da pecuária extensiva. Estas pastagens, na maioria das vezes, são estabelecidas em áreas menos nobres das propriedades (áreas marginais), em locais de topografia acentuada, em solos de baixa fertilidade e muito ácidos, enfim, em áreas da propriedade que não são utilizadas para agricultura.
Um dos indícios de que uma pastagem se encontra em estádio de degradação é quando, em período favorável ao crescimento e desenvolvimento da forrageira, período chuvoso, esta não consegue atingir a condição de rebrota normal, havendo necessidade de intervenção antrópica como medidas de recuperação do agroecossistema.
O cenário atual mostra que a degradação ambiental vem aumentando devido à utilização de áreas indevidas para agropecuária, situação agravada pelo manejo inadequado das pastagens, solo e água. Como consequência, a perda de fertilidade natural do solo acarreta na diminuição da produtividade dos pastos que vem decrescendo ano após ano, fazendo com que aumente o empobrecimento dos produtores (OLIVEIRA, 2007).
Vale ressaltar que a exploração do solo no município de Rio Pomba – MG de forma extrativista, onde ocorre somente a retirada dos nutrientes do solo e nada é reposto a fim de restabelecer as condições de sustentabilidade natural, vem de muitas décadas, permanecendo até os dias atuais. A prática do fogo empregada, anos após anos, como sendo a alternativa mais econômica de eliminar as espécies invasoras das pastagens, ao invés de se contratar mão-de-obra para a roçada, contribuiu para o depauperamento dos recursos edáficos das propriedades do município e, consequentemente, dos recursos hídricos.


Metodologia

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para se conhecer as possíveis causas de degradação das pastagens, as práticas conservacionistas do solo e água e algumas técnicas agroecológicas em prol do desenvolvimento rural sustentável.
Aplicou-se um questionário com perguntas abertas a 20 produtores rurais do município de Rio Pomba – MG do total de 626 produtores cadastrados na EMATER-MG Rio Pomba, para levantamento do que diz respeito à formação, degradação, recuperação e manutenção das pastagens. Durante a aplicação do questionário, teve-se o cuidado de permitir total liberdade aos entrevistados, de modo, a não exercer nenhuma influência nas respostas.
A relação dos produtores rurais foi disponibilizada pela EMATER-MG Rio Pomba, onde foi realizada a escolha aleatória dos produtores. A partir desse momento, foi elaborada a programação das visitas aos estabelecimentos rurais e ao término das entrevistas foi feita a análise dos dados levantados nas pesquisas.


Resultados e discussão
Nível de escolaridade dos produtores rurais
Pode-se observar pela Figura 2 que entre os 20 produtores rurais entrevistados no município de Rio Pomba – MG, 80% possuem 1º Grau incompleto, 10% concluíram o ensino fundamental e 10% concluíram curso superior.


FIGURA 2 - Nível de escolaridade dos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Os que possuem 1º Grau incompleto alegaram que na época em que deveriam ter estudado não tiveram oportunidade, pois precisavam ajudar os pais a trabalharem no campo e não recebiam incentivos para os estudos.
Serviço de Assistência Técnica
No transcurso da pesquisa foi perguntado aos produtores rurais se conheciam os órgãos de Assistência Técnica que prestam serviços ao município de Rio Pomba - MG. Foi perguntado também se a propriedade recebia assistência técnica e se a mesma é programada, ou seja, se há um calendário; e se as propriedades recebiam assistência técnica na formação, recuperação e manutenção das pastagens.
Observa-se pela Figura 3 que 100% dos produtores entrevistados responderam que conhecem o engenheiro agrônomo da EMATER-MG Rio Pomba. Destes, 90% recebem assistência técnica gratuita e ocasional somente pela EMATER-MG do município, enquanto, os 10% restantes recebem assistência gratuita e ocasional deste mesmo órgão e também da Prefeitura Municipal de Rio Pomba - MG com um programa relacionado à inseminação artificial de bovinos, completamente gratuito. Embora os produtores rurais recebam assistência técnica ocasional esta ainda é deficiente.


FIGURA 3 - Serviço de Assistência Técnica prestado aos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Alguns produtores relataram que quando precisam de orientação técnica para sanar alguma dúvida comparecem a EMATER-MG. Contudo, observou-se a insatisfação de um produtor rural quanto ao programa de assistência técnica do município:

“O extensionista da EMATER-MG, de vez em quando, aparece aqui na minha propriedade. Muito raramente”. (Pequeno produtor, 1º Grau incompleto).

A capacitação dos produtores e o acompanhamento da assistência técnica são fatores primordiais para que haja o uso sustentável das pastagens. Entretanto, essa condição não vem sendo alcançada ou devidamente promovida.

Projeto relacionado à formação, reforma ou manutenção de pastagem com acompanhamento técnico

Pode-se analisar pela Figura 4 que no município de Rio Pomba – MG os 20 produtores rurais entrevistados não possuem projeto de formação, reforma e manutenção de pastagens com acompanhamento técnico.


FIGURA 4 - Falta de projeto relacionado à formação, reforma ou manutenção de pastagem com acompanhamento técnico para os produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Grande parte das áreas de pastagem foi formada apenas com conhecimento dos próprios produtores e utilizaram o modelo convencional (aração, gradagem e semeadura). Os produtores não se pronunciaram a respeito de reforma ou manutenção da pastagem.

Exploração pecuária: objetivo da propriedade

A Figura 5 demonstra que 80% dos produtores entrevistados apresentam como objetivo da propriedade a pecuária leiteira e 20% destes a pecuária de corte.
A maioria destes produtores segue a tradição de trabalhar com a pecuária leiteira. Essa cultura herdada de pais para filhos ainda é preservada mesmo que a renda proveniente do leite não seja satisfatória. Os gastos com concentrados e medicamentos para o rebanho (bovinos) e outros insumos adquiridos para a produção do leite elevam os custos de produção e o preço do produto (leite) é estipulado pelo mercado, tornando essa alternativa inviável economicamente aos trabalhadores rurais. Os produtores permanecem desestimulados e buscam novas alternativas para incrementar a renda. Estes somente conseguem sobreviver no campo com renda adicional, diferentemente da pecuária, como o cultivo de algumas espécies (fumo, pimenta); criação de animais (suínos e aviários); aposentadoria; prestação de serviços à prefeitura (transporte de alunos); produção de queijos para queijaria Santa Maria; confecção de biscoitos caseiros e doces de frutas comercializados em feiras livres. Um dos produtores entrevistados é vereador. Outro produtor alegou que a esposa precisa trabalhar em Tabuleiro - MG para ajudar nas despesas domiciliares. Um dos entrevistados exerce a profissão de engenheiro agrônomo.


FIGURA 5 - Objetivo da propriedade em relação à exploração pecuária de Rio Pomba, MG.

Um produtor demonstrou o seu descontentamento em relação ao seu rendimento, argumentando que:
“A renda mensal proveniente da venda do leite, após o pagamento de ração e remédio para o gado, o que sobra não paga a conta de luz da minha casa”. (Médio produtor rural, 1º Grau incompleto, 65 anos).

Degradação da pastagem

Pela Figura 6 percebe-se que 25% dos produtores rurais entrevistados foram informados sobre a degradação de pastagens, as possíveis causas e os prejuízos que esta degradação ocasiona aos proprietários rurais. A maioria dos entrevistados (75%) não foi informada quanto ao processo de degradação da pastagem.


FIGURA 6 - Informação sobre degradação de pastagem aos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Estes desconhecem completamente as causas que levam a degradação deste agroecossistema. Isto ajuda a explicar o motivo pelo qual as pastagens do município se encontram em diferentes estádios de degradação com predomínio do nível mais elevado de degradação física, química e biológica do solo.
Há, portanto, uma necessidade de informar os produtores rurais sobre este assunto e conscientizá-los da importância de se preservar e conservar os recursos naturais.

Formação da pastagem

Na Figura 7, observa-se que a maioria dos entrevistados (55%) disse que formaram suas pastagens num período de 12 a 20 anos; 20% destes formaram num período de 5 a 12 anos e 25% dos entrevistados não sabem quando suas áreas de pastejo foram implantadas, pois no momento em que adquiriram as propriedades as pastagens já existiam. Do total dos produtores que sabem o tempo de formação de suas pastagens (75%), a maioria representada por 73,33% estabeleceram a forrageira baseados no conhecimento popular e também porque a maioria dos vizinhos ou conhecidos usava o sistema convencional; 20% dos que responderam a pesquisa contaram que receberam orientação técnica ao procurarem pela EMATER-MG do município e somente um produtor (6,67%) detinha conhecimento técnico suficiente para implantar sua pastagem e, além disso, neste período, prestava serviço voluntário a EMATER-MG.


FIGURA 7 – Tempo de formação das pastagens do município Rio Pomba - MG.

A maioria dos produtores formou as pastagens de modo convencional (aração, gradagem, adubo químico e semeadura), alegando ser a técnica mais rápida e menos onerosa em relação à contratação de mão-de-obra para trabalho manual. Alguns pecuaristas, representados pela minoria, escolheram técnicas de produção mais sustentáveis: a) semearam a lanço a Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha cv. Marandu (capim Braquiarão) na plantação do milho (Zea mayz L.). b) Arrancaram as espécies invasoras, jogaram as sementes e as misturaram na terra com auxílio da enxada, deixando as invasoras sobre a pastagem com intuito de incorporar matéria orgânica no sistema; afirmaram que este procedimento é mais demorado e a pastagem foi formada, gradativamente, somente com uso de mão-de-obra familiar. c) Um produtor utilizou arado de tração animal e semeou Brachiaria spp. a lanço. d) Um pequeno produtor trabalhou com integração lavoura-pecuária, quando após a colheita do milho, formou o pasto semeando a lanço um coquetel de forrageiras (Brachiaria decumbens, Brachiaria brizantha cv. Marandu, Tifton, Tanzânia, capim gordura - Melinis minutiflora).

Recuperação e conservação de pastagem

Por intermédio da Figura 8 nota-se que somente 15% dos produtores que responderam a pesquisa obtiveram alguma informação sobre recuperação e conservação de pastagem. A maioria dos produtores, representada por 85%, não foi informados sobre o procedimento de recuperar e conservar o pasto.


FIGURA 8 - Informação sobre recuperação e conservação de pastagem aos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

A tomada de decisão para proceder à recuperação de uma pastagem e a escolha da tecnologia a ser aplicada dependerá do estádio de degradação em que esta se encontra e dos recursos financeiros disponíveis pelo produtor.  
O uso da adubação para recuperar a fertilidade do solo ou adaptar meios para isso com auxilio de algumas práticas como integração lavoura-pecuária, uso de leguminosas, adubação verde, arborização de pastagens, emprego dos sistemas agroflorestais (silvipastoril e agrossilvipastoril) torna-se uma estratégia agroecológica para recuperar ambientes alterados, reduzindo custos quando comparados aos sistemas de produção tradicionais. A adoção de técnicas agroecológicas será indispensável no processo de recuperação e conservação das pastagens do município, a médio e longo prazo, por meio do aporte de matéria orgânica no agroecossistema, fixação biológica de nitrogênio pelas espécies leguminosas e uso de práticas conservacionistas nas pastagens.


Conclusão

A maioria dos produtores rurais entrevistados desconhece os processos de degradação das pastagens e os métodos de recuperação e manutenção.
Os produtores não realizam práticas sustentáveis, por questões diversas como a falta de: informação; recursos financeiros; apoio dos órgãos competentes (incentivos governamentais, subsídios estatais) e assistência técnica.
A recuperação de pastagens degradadas requer investimento muito elevado, em alguns casos semelhantes àqueles referentes ao seu estabelecimento. Desta forma, a busca de sistemas de produção sustentável é premente. Torna-se importante que os produtores modifiquem suas estratégias de utilização das pastagens incorporando novas técnicas de manejo.
As alternativas agroecológicas mencionadas neste trabalho têm potencial para reverter o panorama de degradação em que as pastagens do referido município se encontram, em médio e longo prazo, proporcionando sustentabilidade sócio-econômica e ambiental às famílias rurais. Para isso, efetivamente, deverão ser elaboradas e implementadas políticas públicas com tais características, ou seja, com caráter marcadamente sócio-ambiental, e com disposição descentralizadora.


Referências

ARRUDA JÚNIOR, L.C. Implantação e manejo de pastagens num sistema de produção agroecológico. 2008. 94f. (Trabalho de conclusão de curso) – Escola Agrotécnica Federal de Concórdia, Concórdia, SC, 2008.

DIAS-FILHO, M.B. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. Belém, PA. 3ª Ed. Embrapa Amazônia Oriental, 2007.190p.

EMATER-MG – EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. 2009.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censo Agropecuário, 2006.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Estimativa, 2009.

IGA – Instituto de Geociências Aplicadas – 2009.

KONDO, M.; RESENDE, A. Recuperação de Pastagens Degradadas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte/MG, v.22, n.210, p.36-44, maio/jun. 2001.

MARTINS, S.V. Recuperação de Áreas Degradadas: Ações em áreas de preservação permanente, voçorocas, taludes rodoviários e de mineração. Viçosa: Editora Aprenda Fácil, 2009. 270p.

OLIVEIRA, L.A. Manejo Ecológico das pastagens. Apostila da Disciplina Manejo Ecológico de Pastagens do Curso Superior em Agroecologia. Rio Pomba: CEFET, 2007. 87p.





*Doutoranda e Mestra em Agroecologia e Bacharel em Agroecologia pelo IF Sudeste de Minas campus de Rio Pomba.


O QUE DEVO FAZER PARA OBTER ELEVADAS PRODUTIVIDADES EM SOJA?



*Silvane de Almeida Campos

Na prática, o crescimento, desenvolvimento e rendimento da cultura da soja (Glycine max L.), resultam da interação entre o potencial genético de uma determinada cultivar com o ambiente. Os produtores, por intermédio de práticas de manejo, podem manipular o ambiente de produção. No entanto, vários cuidados devem ser tomados para que a cultura da soja expresse sua produção potencial, que vão desde a escolha da cultivar, ao adequado ambiente de cultivo. Requer cuidados quanto à escolha da área, na implantação da lavoura, no manejo, no momento da colheita e da secagem.

Escolha da área
Na escolha da área, características como relevo, textura e drenagem devem ser consideradas, evitando-se solos excessivamente arenosos, com menos de 15% de argila, com baixa capacidade de armazenamento de água e nutrientes e alta suscetibilidade à erosão. O excesso de água no solo pode causar danos ao sistema radicular das plantas de soja. No entanto, considera-se a umidade ideal para o cultivo da soja quando o solo atinge 50 a 80% da sua capacidade de campo.
Precisa-se realizar o mapeamento das glebas, a correta amostragem do solo e sua análise química e física. Seguir as recomendações de calagem e de adubação para a cultura da soja. A calagem além de neutralizar o alumínio trocável será uma forma de suprimento de Ca e Mg. No período de 4 a 5 anos, se houver necessidade, deverá realizar nova calagem.

Definição da melhor cultivar de soja a ser utilizada
As cultivares de soja são influenciadas por fatores ambientais como a fertilidade do solo, a disponibilidade hídrica, a temperatura, a luminosidade e a ocorrência de doenças. Na prática, o crescimento, desenvolvimento e rendimento da soja resultam da interação entre o potencial genético de um determinado cultivar com o ambiente. Existe interação perfeita entre a planta de soja e o ambiente, de maneira que, quando ocorrem mudanças no ambiente, também ocorrem no desenvolvimento da planta. Na escolha da cultivar, sugere-se atenção à área de indicação, ciclo, resistência a doenças e exigências em épocas e densidades de semeadura, além de altitude e condições de solo.
O produtor precisa definir a cultivar de soja a ser utilizada de acordo com o grupo de maturidade predominante na região, pois cada cultivar tem uma faixa limitada de adaptação em função do seu grupo de maturidade. Também, deverá levar em consideração a capacidade para alto potencial produtivo, a resistência ao acamamento e as principais doenças que afetam a cultura e conhecimento sobre o fotoperíodo crítico que interferirá no comportamento da cultivar (desenvolvimento e floração).
Fazer o levantamento do histórico da área a ser cultivada com soja é de fundamental importância. Com isso o produtor poderá escolher, com grande chance de acerto, a cultivar mais apropriada para cada gleba, sendo resistente a maioria das doenças verificadas.
É recomendado o uso de cultivar resistente a deiscência da vagem.
O produtor que optar pela soja intacta (Bt RR2), que é resistente a lagarta Bt e tolerante ao herbicida Glyphosate, precisa-se realizar a área de refúgio.

Cultivo de plantas de cobertura antecedendo a cultura da soja
Em busca de um sistema de produção mais sustentável, o cultivo da soja deverá ser realizado em sistema de plantio direto. Este sistema fundamenta-se na ausência de revolvimento do solo, na permanência da sua cobertura e na rotação de culturas. Para esse sistema, recomenda-se o uso de plantas de cobertura adaptadas às condições edafoclimáticas da região. Estas plantas apresentam particularidades de manejo que devem ser conhecidas e utilizadas de forma a obter os melhores resultados em função da cobertura de solo, controle de invasoras, alta relação C/N (carbono/nitrogênio), reciclagem de nutrientes e facilidade de semeadura da soja com melhor desempenho da plantadeira.
O manejo das culturas de cobertura pode ser realizado por roçadeira, segadeira, rolo-faca ou herbicidas durante a fase de floração, antes que ocorra a maturação das sementes. Mantém-se a palha seca distribuída uniformemente sobre a superfície, garantindo a proteção do solo. Os herbicidas mais utilizados para esse fim são o 2,4-D, Diquat, Glyphosate e Paraquat que deverão ser aplicados de acordo com as dosagens recomendadas e no momento propício, a fim de garantir melhor eficiência da prática. O cultivo da soja em sistema de plantio direto traz vantagens como redução da erosão, aumento do aporte de matéria orgânica no solo, supressão de plantas espontâneas, infiltração de água e conservação da umidade, propicia melhorias nas propriedades do solo, manutenção de inimigos naturais na área, além da redução dos custos de produção.

Semeadura
O produtor após definir a cultivar de soja, antes da semeadura, deverá fazer o teste de germinação com papel toalha ou leito de areia e utilizar as sementes com vigor igual ou maior que 80%, pois o sucesso do estabelecimento da lavoura dependerá da boa qualidade das sementes.
Para maior precisão na semeadura recomenda-se também confirmar o peso médio de 100 sementes.
Deverá tratar as sementes com fungicida, aplicar os micronutrientes molibdênio e cobalto que irão atuar no processo de fixação biológica de N2 (FBN) e, também, realizar os procedimentos adequados para a inoculação das sementes com estirpes de bactérias do gênero Bradyrhizobium, no dia do plantio, e caso seja o primeiro ano de cultivo da soja na área, deverá usar 3 vezes a dose indicada. A inoculação das sementes é indispensável, pois a fixação biológica de nitrogênio atmosférico é a principal fonte de N a cultura da soja.
Quando se utilizar fungicidas no tratamento de sementes, pode-se aplicar 2 a 3 g de Co/ha e 12 a 25 g de Mo/ha via pulverização foliar, entre os estádios fenológicos V3 a V5 que contribuirão para aumentar a eficiência da FBN. Não se deve aplicar fertilizado nitrogenado em excesso, pois se ultrapassar 20 kg de N mineral reduzirá a fixação biológica.
Deverá respeitar a época de semeadura mais indicada para a região em função da umidade, temperatura e fotoperíodo que são fatores importantes para a definição da duração do ciclo, altura da planta e produção de grãos. Devido à sensibilidade da soja ao fotoperíodo, a adaptabilidade de cada cultivar varia à medida em que se desloca o seu cultivo em direção ao sul ou norte de acordo com a variação da latitude. Normalmente a semeadura da soja ocorre no período compreendido entre outubro a 15 de dezembro.
O solo, por ocasião da semeadura, deve apresentar boa umidade em todo o perfil para garantir boa germinação e emergência das plântulas, e alta taxa de crescimento das plantas na fase inicial. Adequada condição de umidade e aeração do solo aumentará a chance de obtenção da população de plantas desejada, em número e uniformidade. Cultivares de soja que apresentam ciclo de 100 dias necessitam de 700 a 800 mm de chuva para promover adequadas condições de germinação e emergência, desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, maturação e colheita.
A temperatura média do solo, adequada para a semeadura da soja, vai de 20 ºC a 30 ºC, sendo 26 ºC a temperatura ideal para uma emergência rápida e uniforme.
É fundamental realizar o plantio na profundidade correta (3 a 4 cm) que influenciará na emergência das plântulas, na velocidade de emergência, no estande final, altura das plantas e produtividade de grãos de soja.
Quanto ao espaçamento entrelinhas, de modo geral, os resultados mais favoráveis em termos de rendimento são obtidos com os menores espaçamentos (40 a 50 cm).
A população de plantas e a densidade de semeadura deverá ser a recomendada para à cultivar de soja escolhida pelo produtor.
Após o manejo das plantas de cobertura e a preparação das sementes, efetua-se a semeadura da soja com plantadeiras especializadas para o plantio direto previamente reguladas e testadas quanto ao dosador de semente, o controlador de profundidade e o compactador de sulco. O sucesso da lavoura inicia-se pela semeadura bem feita.

Análise foliar
Deve-se proceder a análise foliar, coletando-se a 3ª folha (3º trifólio desenvolvido) com pecíolo, pois a interpretação destas análises permite identificar os nutrientes que estão interferindo na produtividade da lavoura e agir para sua correção, contribuindo para melhorar as recomendações de adubação, evitando-se as deficiências nutricionais. Uma adubação mais equilibrada é fundamental para o melhor desempenho da cultura.
Manejo preventivo de doenças
Com a adoção do manejo preventivo de doenças, o produtor deverá observar, periodicamente, sua lavoura com auxílio de uma lupa e, quando necessário, realizar o controle o mais rápido possível, aumentando-se a chance de êxito no controle de determinada doença, principalmente a ferrugem asiática causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd., considerada uma das principais doenças que afeta a cultura com alto potencial de dano, entre outras. Quando a ferrugem asiática já está instalada, o uso de fungicidas é, até o momento, o principal método de controle, seguindo-se as informações a respeito das épocas e número de aplicações que são fundamentais para um controle mais eficiente do fungo.

Controle de pragas
Para o controle de pragas na cultura da soja, o produtor deverá realizar, semanalmente, o monitoramento da lavoura com o pano-de-batida.
É importante diversificar as cultivares fazendo-se a rotação destas na mesma área, evitando-se o aumento de doenças radiculares, pois entre as cultivares há níveis diferentes de suscetibilidade às doenças e nematoides de galha e de cisto (problema atual).
Na rotação de culturas, devem-se alternar os cultivos de soja com outras culturas em cada ano agrícola, por exemplo, para controlar nematoides cultiva-se o milho seguido da soja, de milho, de algodão, de milho e da soja. Assim, a área permanecerá sem o cultivo da soja por três anos consecutivos, aumentando-se a eficiência do controle desta praga.
O Manejo Integrado de Pragas é uma das indicações para controle da lagarta Helicoverpa armigera na lavoura da soja, praga que gerou grande prejuízo aos produtores na safra passada. Medidas de verificação das lavouras devem ser adotadas sistematicamente para que não haja aplicações desnecessárias de defensivos biológicos ou químicos, preservando os inimigos naturais. Segundo a Embrapa, os inimigos naturais estão agindo no controle desta nova praga.

Controle de plantas invasoras
As plantas invasoras competem com a soja por luz, água e nutrientes. Operações de cultivo, uso de herbicidas, obtenção de estandes uniformes e rotação de culturas são métodos úteis para controlar estas plantas indesejáveis.
O reconhecimento prévio das plantas invasoras predominantes na área, a serem controladas, é condição básica para a escolha do herbicida adequado e para a obtenção de resultados eficientes com esse método de controle. Deve-se utilizar herbicidas pós-emergência para as condições locais. É importante conhecer as especificações do produto antes de sua utilização e a regulagem correta do equipamento de pulverização e não aplicar quando houver presença de alta intensidade de orvalho e/ou imediatamente após uma chuva; em presença de ventos fortes (> 8 Km/h); quando as plantas de soja e as infestantes estiverem sob estresse hídrico; pode-se utilizar baixo volume de calda de aplicação (mínimo de 100 L/ha), se as condições climáticas forem favoráveis e observadas as recomendações do fabricante (tipo de bico, produtos); a aplicação deve ser realizada em ambientes com umidade relativa superior a 60%.
Em áreas menores, as plantas invasoras também poderão ser controladas com utilização de roçadeira motorizada costal, ficando a critério do produtor.

Fase reprodutiva
Não poderá faltar água e nutrientes durante a fase compreendida entre a floração e enchimento dos grãos.
Se a densidade de plantas for adequada, o rendimento (peso total das sementes) pode ser dividido em três componentes: o número total de vagens produzidas por planta, número de sementes produzidas por vagem e o peso por semente (tamanho da semente). Geralmente a maioria dos ganhos na produção resulta de aumentos no número total de vagens por planta, principalmente quando se obtêm maiores rendimentos. Os limites superiores para o número de sementes por vagem e o tamanho das sementes são definidos geneticamente. Condições de estresse como temperatura alta ou deficiência de umidade reduzem o rendimento em virtude da redução de um ou mais destes componentes de produção.

Colheita
É prática comum fazer a dessecação da soja com uso de Paraquat, no estádio fenológico R7, com a finalidade de antecipar a sua colheita.
Colhe-se a soja com teor de umidade entre 13 e 15%, utilizando-se as colheitadoras para o sistema de plantio direto, que são bastante sofisticadas.
Plantas com altura acima de 60 cm, por ocasião da maturação, contribui para reduzir as perdas de grãos na operação de colheita, o que não deve ultrapassar de 0,5 a 1 saco/ha.
A não ocorrência de plantas infestantes na área favorecerá a eficiência da colheita.

Secagem dos grãos de soja
Após a colheita, os grãos de soja são submetidos ao processo de secagem. Durante a secagem, a água deve ser evaporada para que os grãos reduzam sua umidade a níveis que possibilitem armazenamento seguro. Este procedimento requer cuidados, pois grãos de soja com maior umidade deverão ser secados em temperatura menor, evitando-se o cozimento destes.
Na secagem artificial, a fonte de calor pode ser variável. A secagem de sementes mediante convecção forçada do ar aquecido compreende, essencialmente, dois processos simultâneos: movimento de água do interior para a superfície da semente, em virtude do gradiente de potencial hídrico entre as duas regiões e a transferência de água da superfície da semente para o ar circundante. Esse tipo de secagem permite o controle da temperatura, do fluxo do ar de secagem e do tempo de exposição das sementes ao ar aquecido, fatores fundamentais para garantir a eficiência do processo.
A secagem natural é baseada nas ações do vento e do sol para a remoção da umidade das sementes. Cuidados especiais devem ser tomados para que as sementes não sofram aquecimento excessivo e que a secagem ocorra do modo mais uniforme possível. Este método é indicado para reduzida quantidade de sementes. Apesar de apresentar baixo custo, é um método lento, e as sementes não devem ser expostas em camadas superiores a 4-6 cm, com revolvimento periódico. Apresenta desvantagens que decorrem do intensivo uso de mão de obra, uma vez que as operações geram baixo rendimento e o processo é totalmente dependente das condições climáticas disponíveis.
Diante do exposto, se houver um planejamento e manejo adequado do cultivo da soja em sistema de plantio direto, o produtor terá grande chance de incrementar a produtividade com obtenção de lucros bastante satisfatórios e maior sustentabilidade da produção.


*Doutoranda e Mestra em Agroecologia e Bacharel em Agroecologia pelo IF Sudeste de Minas campus de Rio Pomba. 

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Agropecuária, Utopia Regressiva e a Era dos Extremos!


*Maurício Novaes Souza

A expressão “Utopia Regressiva” vem sendo muito empregada nos meios políticos. Nesse artigo vou usá-la para fazer um paralelo entre os modelos agropecuários existentes em nosso país, onde o novo e o antigo vêm se confrontando, comprometendo a transição para o Desenvolvimento Sustentável – nesse modelo, a ausência de imaginação é um modo de impedir novas construções! De acordo com Freitas Neto, no Jornal da Unicamp, na história das culturas e povos do ocidente, o domínio do tempo atual apresenta questões e cobranças imediatas que estão em diálogo com o passado e com o futuro. Hoje, há sentimentos controversos: desejos de mudança, recuperação de elos com o passado e, paradoxalmente, uma aparente e incômoda ausência de projetos ou de manifestações utópicas.
Em “A Utopia” (1516), de Thomas More, são identificadas questões em um período de transições entre dois mundos: o antigo, com suas mazelas; e o novo, com suas virtudes. A utopia é herdeira da viagem – não apenas como um ato, mas como uma metáfora dos caminhos a serem seguidos para se chegar a um ponto ideal. Este ponto ideal é outro aspecto marcante do discurso utópico: nele, realidade e ilusão se fundem. O utópico, desse modo, não é o impossível, mas apenas – como indica a etimologia - o que ainda não é. Na América, a junção de aspectos religiosos legados pelo cristianismo, o passado ligado às comunidades indígenas e o ideário socialista, durante muito tempo, fez com que a agricultura fosse uma atividade econômica de subsistência - sem espaço nos dias atuais.
Em artigo recente em “O Estado de São Paulo”, Xico Graziano comenta que missões estrangeiras desembarcam no Brasil para conhecer nosso modelo de agricultura tropical: plantio direto na palha, com até três safras na mesma área/ano, integração lavoura-pecuária, silvicultura, fruticultura, genética animal de ponta, onde se busca produtividade com qualidade e, recentemente, responsabilidade socioambiental. Embora admirada e temida pelos concorrentes externos, muitos enxergam a agropecuária nacional como se o campo ainda fosse dominado pelos latifundiários: visão incorreta! Segundo Graziano, essa surpreendente e reiterada dissintonia entre a realidade e sua interpretação o motivou, juntamente com Zander Navarro, a publicar o livro Novo Mundo Rural, onde defendem a necessidade de se adotarem novas perspectivas, conceitos e teorias, para a correta compreensão da dinâmica atual de nossa agropecuária.
De fato, uma nova situação produtiva passou a dominar o campo, desde a estabilização da moeda a partir do Plano Real. De essencialmente rural, o Brasil transformou-se numa nação urbanizada. Sua agricultura, antes na base da “enxada”, tornou-se altamente produtiva. Surgiu o competitivo e agressivo agronegócio - embora tão marcantes sejam as modificações tecnológicas e socioeconômicas, alguns observadores da agricultura brasileira – pesquisadores, agentes sociais ou políticos – continuam a tratá-la como se permanecessem adormecidos no tempo. Qual a razão dessa atitude? A força do paradigma gerado pelo tradicionalismo e o medo do novo. A modernização capitalista do campo, alavancada pela globalização e ancorada nas novas tecnologias, superou o dilema histórico – é verdade que não se alterou a estrutura concentrada da propriedade da terra. Por outro lado, pode-se afirmar que foi extremamente progressista, por ter provocado uma mudança impressionante, em termos econômicos e tecnológicos, elevando fortemente a produtividade no campo. Existem, claro, setores marginalizados do processo, o que é muito ruim. De qualquer forma, o tempo não recua. Independentemente de julgamentos de valor, ou mesmo de avaliações éticas: quem permanecer apegado aos raciocínios antigos, mais confunde do que compreende o nosso desenvolvimento agrário e seus desafios futuros. O olhar de muitos sobre a economia agrária ainda continua apegado às memórias do passado. Contudo, o futuro dos milhões de pequenos agricultores passa pelo apoio governamental, aliado ao desenvolvimento tecnológico e à sua integração aos mercados de consumo. Ou seja, um olhar para o futuro, longe da utopia regressiva e saudosista. Os processos de degradação ambiental e de exclusão social dos pequenos agricultores se aceleram simultaneamente à consolidação da agricultura de larga escala. Na visão de Graziano, para que os pequenos no campo vençam, é preciso capitalizá-los.
Afinal, o Desenvolvimento Sustentável é uma alternativa ou uma utopia? A proposta de compromisso com a preservação do meio ambiente para as atuais e futuras gerações como indissociável do conceito de desenvolvimento, e que preconiza ser indispensável à erradicação da pobreza e a inserção social, é a que mais de perto determinou o que se entende hoje como sustentabilidade, sem reduzir a importância dos demais princípios – essa é a lógica, não utópica, e também moderna, da AGROECOLOGIA - ciência que estabelece as bases para a construção de estilos de agriculturas sustentáveis e de estratégias de desenvolvimento rural sustentável.
Nessa era de extremos, apesar de a população da Terra ter atingido sete bilhões de habitantes, nunca existiu tanta fartura e disponibilidade de meios. Falta melhor distribui-los! Além disso, a riqueza acumulada seria suficiente para garantir a todos satisfatórias condições de qualidade de vida. Diante desses números, a superação de alguns desafios é essencial. De acordo com Torelly, são eles: 1) restabelecer as relações entre economia e ecologia; 2) controlar o crescimento populacional; 3) controlar o crescimento econômico e incentivar a distribuição de renda; 4) aumentar o consumo de alimentos dos países pobres e emergentes; 5) universalizar e baratear as inovações tecnológicas. Além do rápido declínio dos recursos renováveis e não renováveis, e de desastres ecológicos em grande escala, corremos um elevado risco de conflitos multinacionais.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauricios.novaes@ifes.edu.br.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A Contribuição do Sítio Santa Rita para o Desenvolvimento do Turismo em Pedra Menina, situada na Região do Caparaó



Alunos: Anderson Luiz Kruger, Elton Souza dos Santos e Ismael Rafane da Silva Amorim

Disciplina: Economia dos Recursos Naturais – Pós-graduação em Agroecologia do IFES campus de Alegre

O Problema: A região do Caparaó compreende onze (11) cidades, sendo uma das regiões mais visitadas do Espírito Santo. Possui lindas paisagens formadas por cachoeiras, matas com trilhas e vegetação preservada. Uma das cidades desta região abriga um distrito, conhecido como Pedra Menina (por possuir uma formação rochosa com o formato de uma mulher deitada de perfil). Apesar do ar bucólico e do potencial agrícola da região, as famílias de agricultores vêm sofrendo nos últimos tempos com problemas financeiros, em sua grande maioria por não conseguirem dar conta de produzir alimentos. Parte deste problema se deve a infertilidade do solo devido, principalmente, ao seu mau uso. Outro grande problema está ligado ao abandono destas terras agricultáveis, que pode ser explicado pelo processo de sucessão, cujos filhos, na busca de algo melhor, têm migrado para as grandes cidades. Isso tem tornado a região pouco habitável e pouco interessante para o turismo da região.

Justificativa: A falta de mão de obra e o baixo valor dos produtos produzidos na região é uma das causas da falta de sucessores nas pequenas propriedades. Com a automação se consegue diminuir a mão de obra, e com a busca de se produzir cafés de qualidade, aumenta a padronização e agrega valor ao produto no momento da comercialização, proporcionando maior rentabilidade, melhoria na qualidade de vida na propriedade rural e diminui o êxodo dos sucessores da propriedade.

Objetivos Gerais: Melhorar a qualidade de vida e a permanência dos sucessores do Sítio Santa Rita, localizado no distrito de Pedra Menina.

Objetivos Específicos:
·         Produzir café de alta qualidade;
·         Manter qualidade com pouca mão de obra através da automação;
·         Comercializar café direto ao consumidor através de uma cafeteria.

Materiais e Métodos: Devido à falta de mão de obra qualificada na comunidade para a prestação de serviço na produção de um café de qualidade, o proprietário sentiu a necessidade de desenvolver tecnologias capazes de suprir tal problema. Em parceria com a Caparaó Junior, foi realizado o planejamento de produção de café no sítio Santa Rita, a fim de melhorar a qualidade, a gestão e comercialização do café produzido na propriedade.

Resultados e Discussão:
Com o trabalho da Caparaó Junior no Sítio Santa Rita, um dos filhos (Jhone Milanez Borges de Lacerda) do produtor tomou ciência do curso de graduação em Tecnologia em Cafeicultura no IFES - Campus de Alegre e despertou o interesse em cursá-lo. Neste curso, o mesmo pode ter conhecimento de tecnologias de automação específicas para o mercado de café, trazendo-as para a propriedade.
Ao melhorar todo o processo produtivo, aliado ao ganho do prêmio de um dos melhores cafés do Brasil, resolveram ampliar seu mercado com atendimento direto ao consumidor final, criando na propriedade a “Cafeteria”. Aliado à natureza da comunidade, passaram a oferecer serviços de hotelaria e agroturismo.
Com o sucesso do café da propriedade, a filha do produtor (Miriam) e o genro (Fred) também passaram a trabalhar única e exclusivamente na propriedade: ela como administradora do local e ele na cafeteria.

Considerações Finais:
A região do Caparaó tem grande potencial agrícola e turístico, tendo os cafés especiais da região sempre entre os primeiros colocados nas mesas de competições de café de qualidade. A região vem atraindo muitos turistas, porém a infraestrutura para abrigar turistas ainda é incipiente.
Percebe-se que grande parte desse potencial é afetado devido o fator de sucessão de proprietários, onde os herdeiros buscam melhor qualidade de vida nos grandes centros, não permanecendo na região.

Entretanto, pode-se ver com a experiência do Sítio Santa Rita, que é totalmente possível e benéfico ao turismo da região investir no mercado final de café, trazendo o consumidor até a propriedade, explorando assim os dois grandes potenciais regionais, turístico e agrícola, além de tornar a região interessante e lucrativa para os herdeiros dos proprietários.

domingo, 29 de outubro de 2017

Turismo rural nas pequenas propriedades de Venda Nova do Imigrante

CLEIDIANE DA CUNHA OLIVEIRA e JULIELSON ATAIDE DE OLIVEIRA

Pré-projeto como uma exigência da disciplina: Economia dos Recursos Naturais – Pós-graduação em Agroecologia.

Professor: Maurício Novaes


Introdução
O Município de Venda Nova do Imigrante, criado em 10 de maio de 1988 desmembrando-se de Conceição do Castelo, possui uma área de 188,9 km2, compreendendo, além da sede, os distritos de São João de Viçosa e Alto Caxixe além de outras 12 comunidades. Situa-se na região serrana do Espírito Santo, às margens da rodovia BR 262, com uma altitude variando de 630 a 1550 metros.
Venda Nova começou a ser colonizada por volta de 1892, basicamente por imigrantes italianos, cuja cultura permanece viva em seus descendentes e na vida da comunidade vendanovense. No entanto bem antes a região era habitada por índios, provavelmente Puris, dos quais foram encontrados muitos objetos pela primeira leva de imigrantes que aqui chegaram.
A comunidade que surgiu com a chegada dos primeiros imigrantes em 1892 conserva traços fortes da cultura dos mesmos, principalmente o espírito comunitário e progressista, manifestados em 1922 com a construção da primeira escola, a instalação da linha telefônica em 1925, a criação da Cooperativa Agrária de Lavrinhas (1927) ou mesmo a construção dos primeiros 20 km de estrada em regime de mutirão. Venda Nova se expandiu mantendo sua identidade sem maiores afluências de estranhos, até que se viu "rasgada" pela BR 262 (Rodovia Presidente Costa e Silva), nos idos de 1957, experimentando um crescimento extraordinário, graças ao impulso dado com a ligação com grandes centros, como Vitória e Belo Horizonte.
Com a chegada da rodovia foi se abrindo um leque para economia do município, devido à ligação de duas capitais, uma do estado de Minas Gerais e a outra do estado do Espírito Santo, perfazendo um ótimo senário para o agroturismo do município.
O município Venda Nova é referência em todo o país como o berço do Agroturismo, modalidade de turismo rural que associa a vivência do cotidiano agrícola ao lazer, à visitação e à valorização do meio ambiente. Reconhecido como Capital Nacional do setor pela Abratur em 1993, o Agroturismo no município hoje envolve 70 propriedades, com 300 famílias e 1.500 pessoas diretamente atuantes, com destaque para a confecção artesanal e caseira de produtos típicos, principalmente na culinária (embutidos como o socol, doces, geleias, licores, biscoitos, etc.).

Justificativa
Antes da colonização italiana, grandes fazendas de café de propriedade dos portugueses floresceram no altiplano serrano, onde mais tarde nasceria Venda Nova. Entre as fazendas destacam-se: Providência, Lavrinhas, Tapera, Bananeiras, Bicuíba e Viçosinha. Junto com os portugueses vieram os negros escravos, que lidavam na lavoura. Contudo, com a abolição da escravatura, essas fazendas caíram no abandono até que surgissem os colonos, imigrantes italianos, originários da Região do Vêneto (Itália), atraídos pela procura de terras nas localidades de São Pedro do Araguaia, Matilde, São Martinho e Carolina, sendo inicialmente cerca de 20 a 20 famílias, entre elas: Perim, Caliman, Zandonadi, Altoé, Bragato, Venturim, Falcheto, Brioschi, Sossai, Carnielli, Cola, Minetti, Lorenzoni, Delpupo, Tonolli, Ambrozim, Scabello, Mazzoco, Fioreze e Mascarello.
Com o tempo essas fazendas grandes foram sendo dividas entre as famílias, formando assim pequenas propriedades familiares. Agora só agricultura e pecuária não era suficiente para sustentar as famílias no campo.

Objetivo geral
Implementar uma nova renda para os agricultores familiares com uma visão de turismo.

Objetivo Específico
- Reunir os agricultores para capacitação;
- Fazer um levantamento do potencial de produção de cada propriedade;
- Criar uma rota turística entre as propriedades.

Público alvo beneficiário
O público beneficiado serão os pequenos proprietários, os mesmo estarão aumentando sua renda através do turismo. Seus produtos comercializados na própria propriedade.
Resultados esperados
Aumentar a renda das famílias envolvidas no projeto de agroturismo;
Aumentar geração de emprego pelas famílias na comunidade;
Aumentar o fluxo de turistas no município.
Metodologia
Esse projeto será desenvolvido pelos consultores do Sebrae, que realizarão palestras, cursos e oficinas com produtores.
Discussão
As famílias se reuniram e formaram um polo de agroturismo no município de Venda Nova, com apoio do Sebrae. Entretanto, a expansão do agroturismo no município veio através da necessidade de uma renda para complementar a que já tinha na propriedade. Com o apoio do Sebrae capacitando os produtores e pela localização do município, fica próximo a BR 262 que liga duas capitais Belo Horizonte e Vitória, proporcionou o sucesso do agroturismo nesse município. 

Considerações Finais
O sucesso do negócio está relacionado ao planejamento, apoio de um órgão especializado que capacita os pequenos produtores, onde o mesmo são orientandos onde deve investir seus lucros.
O agroturismo de Venda Nova de Imigrante é um exemplo de sucesso, todo rendimento do agroturismo contempla os pequenos agricultores.


Resenha: Biografia do Abismo

Resenha:  Biografia do Abismo Autores: Graciandre Pereira Pinto Maurício Novaes Souza Título do livro: Biografia do Abismo   Referência ...