segunda-feira, 26 de junho de 2017

A crise política e suas implicações na sustentabilidade ambiental


* Maurício Novaes Souza

Vivemos um momento dramático em nosso País! Se não bastasse a crise política, temos, entre outras, a crise econômica, a crise institucional e a crise no judiciário. A corrupção e tantos desmandos de um governo que a cada dia demonstra maior incompetência e incapacidade de resolver tantas crises. Este cenário, sem dúvida, não afeta apenas o setor produtivo, mas a sustentabilidade ambiental, em todos os seus aspectos. Os bastidores revelam uma crise de futuro que resulta em incertezas quanto aos modelos políticos, institucionais, trabalhistas, previdenciários e éticos vigentes.
O desmatamento amazônico, por exemplo, voltou a subir nos últimos dois anos, colocando em risco o cumprimento da meta brasileira de reduzir em 37% as emissões nacionais de gases do efeito estufa acordada no âmbito da ONU. Na recente viagem do presidente Michel Temer nesse mês de junho para Oslo, o governo da Noruega anunciou o corte de pelo menos 50% no valor enviado para o Brasil em projetos de combate ao desmatamento. O anúncio foi feito em uma reunião entre as autoridades de Oslo e o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.
O fato é que o orçamento do Ministério do Meio Ambiente está menor (de novo). Em um esforço para garantir o cumprimento do superávit primário, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou na semana passada o contingenciamento de R$ 42,1 bilhões do orçamento federal de 2017. Neste aperto orçamentário, o Ministério do Meio Ambiente perdeu 43% da sua verba para despesas discricionárias, ou seja, aquela verba que o órgão tem liberdade de decidir como gastar. Dos R$ 782 milhões previstos no orçamento para custeio e investimento, sobraram 446,5 milhões de reais. Esse valor deverá custear os combustíveis utilizados nos veículos do Ministério e das autarquias, principalmente o Ibama e o ICMBio, nas ações de comando e controle contra o desmatamento na Amazônia - que ano passado teve aumento de 29% - e no combate a incêndios dentro das Unidades de Conservação, só para citar exemplos mais óbvios. O Instituto Chico Mendes, sozinho, é responsável por gerir 326 Unidades de Conservação federais.
Nesse ambiente, e para agravar ainda mais a situação, o Congresso procura flexibilizar as regras do licenciamento ambiental, sem que haja uma ampla discussão entre os atores envolvidos. Entre tantas batalhas a ser travadas para reinstituirmos a estabilidade no país, ainda nos dividimos pela falsa dicotomia entre ruralistas e ambientalistas.
A ampliação da consciência ambiental em nível nacional é um imperativo da necessidade de construção de uma nova perspectiva de desenvolvimento. Coloca-se, portanto, o desafio de superação do atual modelo, historicamente insustentável. Os problemas econômicos, sociais e ambientais continuam como desafios políticos e sociais a ser resolvidos para a construção desta nova sociedade, na qual se possam oportunizar novas demandas em busca do desenvolvimento sustentável de nosso país.
A construção deste desenvolvimento coloca, na agenda da sociedade brasileira, a necessidade de investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação. Os investimentos realizados pelo Estado, além de serem ainda insuficientes, não são devidamente avaliados: nem quanto à sua aplicação, nem quanto aos resultados obtidos na qualificação acadêmica e profissional. O desempenho do Brasil em educação, na formação da juventude, embora tenha melhorado nos últimos 25 anos, fica muito a desejar, comparado internacionalmente.
Neste contexto, fica evidente a urgência de uma reforma política, fundamental para a superação da grave crise política, econômica, social e de valores em que vive a sociedade brasileira na conjuntura atual, abrindo caminhos para uma nova relação entre o Estado, o mercado e a sociedade civil. Impõe-se a necessidade de um novo pacto político para ampliação da democracia e realização das reformas tão urgentes e necessárias – sem elas, não haverá desenvolvimento sustentável!

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.



quarta-feira, 21 de junho de 2017

SECAGEM DO CAFÉ


Breno Ribeiro Caçador

Trabalho apresentado a disciplina de Colheita e pós Colheita do Café, no Curso de Tecnologia em Cafeicultura, (IFES) Campus de Alegre -ES, como requisito avaliativo. Professor: Maurício Novaes Souza.

INTRODUÇÃO
No Brasil, segundo os aspectos tecnológicos envolvidos, utilizam-se basicamente dois métodos para secagem de café:
- O primeiro é a secagem em terreiros: esparrama-se o produto em pisos, que podem ser de cimento, de tijolo, de chão batido ou de asfalto;
- O segundo, secagem em secadores: força-se o ar aquecido a passar através da massa de grãos.
A secagem em terreiros, por ser de menor custo, é largamente utilizada pelas propriedades produtoras de café; no entanto, há algumas desvantagens atribuídas ao longo período de tempo que o produto permanece secando.
Por isso, pesquisas vêm sendo desenvolvidas para que esse método seja técnico e economicamente viável. A partir daí, foi desenvolvido um método que visa melhorar a eficiência de secagem em terreiros, bem como a qualidade final do produto por meio da redução do tempo de secagem e da área disponível.
Na secagem em terreiros o produto úmido é exposto ao sol em superfície planas podendo ser revolvido manualmente, com tração animal ou mecanicamente.
A principal vantagem da secagem em terreiros é o baixo custo com a energia uma vez que usa a radiação solar para aquecimento e remoção da água.
Sob o ponto de vista ambiental é o método de secagem mais correto, por não utilizar queima de combustíveis.
O tempo médio para secagem completa do café em terreiro é variável e depende das características do produto, bem como as condições climáticas de cada região, variando de 15 a 20 dias para o café natural, podendo chegar a 30 dias para condições desfavoráveis.

·         SECAGEM NATURAL
A secagem deve iniciar-se imediatamente após o término do descascamento. O café é esparramado em camadas finas no terreiro (não superiores a 2,5 cm) e revolvido com rodo dentado pelo menos 20 vezes ao dia para uniformizar a umidade e promover a rápida secagem da mucilagem, evitando-se que os grãos grudem uns aos outros. Após 4 a 5 horas de plena exposição ao sol, ou pelo menos de um dia seco, confirmar a completa secagem da mucilagem. Se estiver seca, colocar o café em leiras de 5-10cm de altura, todas as tardes, aumentando para 20-30cm até que se atinja o estádio de meia-seca.
Quando for utilizada a secagem mecânica, a temperatura da massa de café não deverá ultrapassar 38°C, usando-se, de preferência, secadores rotativos para evitar que o pergaminho grude nas paredes. Hoje, também se trabalha com terreiros suspensos, de tela de sombrite, cobertos (tipo estufa) ou não, de onde se obtém cafés de bebidas finas. Pode-se, no primeiro ou o segundo dia, trabalhar com o café no terreiro comum até perder a mucilagem e após esse período transferir para o terreiro suspenso. O importante é rodar o café o dia todo.

·         SECAGEM ARTIFICIAL
Existem diferentes modelos de secadores comercialmente disponíveis, recomendando-se utilizar, de preferência, secadores com fornalha de fogo indireto (trocador de calor) ou queimador de gás, para evitar que o café adquira odor de fumaça. Recomenda-se usar a própria casca do café como combustível. O secador deve ser carregado com café apresentando teor uniforme de umidade, o que permite otimizar o processo de secagem (maior rapidez e menor consumo de combustível). O café muito úmido, de início de colheita, com muitos frutos cerejas e verdes, deve sofrer uma pré-secagem em terreiro ou pré-secador antes de ir para o secador. A temperatura de secagem é extremamente importante. A fim de se obter bebida fina, a temperatura não deve nunca ultrapassar 39oC para o café em casca, medida na massa de café. Quando houver um percentual elevado de frutos verdes, a temperatura da massa deverá ser mantida abaixo de 30°C, para evitar a ocorrência de café verde-escuro e preto-verde. O processo de secagem não deve ser muito rápido, de forma a garantir uniformidade, segurança e economia da operação. Em geral, a secagem estará completada entre 24 e 36 horas.

·         SECADORES HORIZONTAIS
Os secadores rotativos são também conhecidos como pré-secadores, por poderem receber cafés ainda com alto teor de água. O ar aquecido é movimentado por um ventilador através do plenum, que nesse caso também funciona como duto para o transporte do ar até o final do secador. Essa dupla função do plenum pode resultar em uma distribuição desuniforme do ar ao longo do secador.

·         SECADORES VERTICAIS
Nos secadores verticais os frutos de café deslocam-se, por gravidade, em colunas verticais construídas com chapas metálicas perfuradas. Normalmente, é usado para a complementação da secagem iniciada nos secadores horizontais, quando esses operam como pré-secadores, ou na complementação da secagem dos cafés provenientes dos terreiros, e não precisam de elevadores para movimentar constantemente o café, essas secadores são ideais para cafés que estão com alto teor de água.

*      DIFERENTES TIPOS DE TERREIROS

·         TERREIRO DE TERRA BATIDA
Apesar de ainda ser frequentemente encontrado na maioria das pequenas propriedades cafeeiras e em regiões de baixo desenvolvimento, o terreiro de terra não é recomendado para a secagem do café. Seu uso está fortemente relacionado ao baixo custo de construção, pois envolve basicamente a limpeza do terreno e movimentação de terra. Além de produzir com frequência cafés de baixa qualidade, e não atende as exigências relacionada aos aspectos higiênico-sanitários.

·         TERREIRO DE CONCRETO
Preferencialmente, a secagem deve ser realizada em terreiros concretados. Em comparação com os terreiros de terra, favorecem a secagem mais rápida e a obtenção de cafés de melhor qualidade (REINATO, 2006).
Os terreiros de concreto construídos em placas favorecem a ocorrência de trincas, rachaduras, perda de parte do revestimento e emergência de várias plantas daninhas, não estando, portanto, de acordo com as recomendações técnicas para se obter uma adequada pavimentação. Tais problemas são favoráveis ao acúmulo de grãos de café que irão fermentar, podendo comprometer diversos lotes durante a secagem (BORÉM, 2004).

·         TERREIRO DE LAMA ASFÁLTICA
O elevado custo da pavimentação com concreto a princípio inviabilizaria o revestimento dos terreiros. Entretanto, alternativas de baixo custo tem sido usada com sucesso. O terreiro de lama asfáltica apresenta-se como uma boa alternativa do ponto de vista econômico, apesar de possuir uma baixa retenção de calor uma vez que é constituído por uma camada de 5mm de espessura servindo, tão somente como uma impermeabilização do terreiro de terra. Este tipo de terreiro não altera a qualidade do café, incluindo os cafés descascados secados em camadas finas e revolvidos intensamente, não transferindo aos grãos qualquer sabor ou aroma estranho.

·         TERREIRO SUSPENSO
É formado por várias caixas retangulares em malha de arame, formando esteiras com 3,0 x 1,5m, montadas em esteios de madeira com 0,8m de altura e cobertos com sombrite, esteiras ou outros revestimentos.
Os terreiros suspensos deverão estar localizados em locais ventilados e ensolarados evitando-se encostas próximas de grotas, com baixa incidência solar e elevada umidade relativa. Apresentam a vantagem de proporcionar um produto limpo e de preservar sua qualidade.

·         TERREIRO SECADOR OU TERREIRO HIBRIDO
Desenvolvido pela UFV/CBP&D-Café, visa contornar as dificuldades da secagem em terreiros convencionais. O terreiro secador nada mais é que um terreiro convencional, preferencialmente concretado, onde se adaptou um sistema de ventilação com ar aquecido por uma fornalha, para a secagem do café em leiras, na ausência de radiação solar direta ou em período chuvoso. Essa tecnologia já disponível para o cafeicultor, foi aprovada por produtores de diversas regiões do Brasil, caracterizando-se como mais uma alternativa para a secagem de café, onde é possível aliar baixo custo de implantação e qualidade final do produto, reduzindo assim expressivamente o custo de produção desta cultura.

·         ESTUFA
A estufa secadora é uma alternativa que permite a secagem de grandes quantidades de café, em regiões com dificuldades de encontrar terrenos planos próprios para a construção dos terreiros tradicionais, bem como, em locais com elevadas umidades relativas durante as noites e nas primeiras horas da manhã, com risco de formação de orvalho e reumedecimento do café seco.

Ø  Comentários:
Nos tempos atuais a utilização do terreiro de terra batida quase não é possível encontrar, pela sua baixa qualidade, e por causar danos na qualidade final do café, geralmente ele é encontrado em pequenas propriedades, produtor com pequena produção.
A procura de melhoria, inovação e tecnologia nas propriedades para garantir uma qualidade no seu produto é grande, pois o mercado de café vem crescendo nos últimos anos, os preços aumentam, e a procura do prático, e dos terreiros com durabilidade maior e economicamente melhor é grande.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível concluir que o uso do terreiro e secadores é essencial para o café, sabendo que o café seco de forma natural garante uma qualidade maior no produto final. A utilização de terreiros suspenso vem cada vez mais vem ganhando lugar nas propriedades, visto como um ponto positivo para os cafés de qualidade, bebida fina. A secagem através dos secadores horizontais e verticais induzem o café a chegar no ponto com mais rapidez, tirando parte da sua característica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SITE:

LIVRO:

Pós-colheita do café – Flávio Meira Borém

FUNGOS TOXIGÊNICOS E MICOTOXINAS EM CAFÉ


 Amanda Pacheco Sturião

Trabalho acadêmico  presentado à disciplina de Colheita e Pós-colheita do café do curso superior de Tecnologia em Cafeicultura do Instituto Federal do Espírito Santo – IFES como requisito para conhecimentos da referida disciplina. Professor: Maurício Novaes Souza.

RESUMO
Diversos fatores podem interferir na qualidade do café, especialmente aqueles relacionados às etapas pós-colheita de processamento e secagem. Algumas espécies de fungos podem se associar a grãos de café durante a pós-colheita, podendo ocasionar alterações indesejáveis.
Os fungos filamentosos se encontram associados aos frutos e grãos de café (Coffea arabica L.) durante todo o ciclo produtivo e podem, sob condições específicas, causar perdas de qualidade e em alguns casos produzir micotoxinas, que comprometem a segurança do produto final. As espécies de fungos encontradas em cafés brasileiros pertencem principalmente aos gêneros Aspergillus e Penicillium, estas são associadas à produção de micotoxinas. Micotoxinas são substâncias metabólicas produzidas por fungos e que ficam no produto armazenado como resíduo. A principal micotoxina estudada em café é a ocratoxina A (OTA).
Os fungos produtores de micotoxinas se encontram presentes nos ambientes das lavouras, preparo e armazenamento do café e sua relação com a qualidade e a segurança do produto final depende das condições ambientais, do manejo e do processamento de pós-colheita.
Nestes casos, os fungos podem ser separados em dois tipos:
·         
      Fungos de campo: são aqueles que contaminam os grãos durante o cultivo.
·     Fungos de armazenamento: são aqueles que contaminam os grãos na pós-colheita, no processo de armazenagem.

Os principais danos causados por fungos no café são:
·         Perda do valor nutritivo dos grãos;
·         Descoloração dos grãos;
·         Formação de micotoxinas;
·         Cheiro e sabor mofento;
·         Perda econômica.

Para que haja a prevenção da proliferação de fungos em grãos de café, são necessárias as seguintes recomendações:

·         Secar os grãos uniformemente e o mais cedo possível depois da colheita;
·         Não manter os grãos constantemente em contato com o chão;
·         Manter limpos e desinfetados os equipamentos de colheita e pós-colheita que serão utilizados;
·         Manter o galpão de armazenagem sempre limpos e com temperatura adequada;
·         Evitar a proliferação de insetos e roedores.

INTRODUÇÃO
São de grande importância as exigências no controle de qualidade e nas condições higiênico-sanitárias dos produtos oferecidos ao consumidor, e estão se tornando cada vez mais rigorosas, consequentemente, aumentando cada vez mais a atenção e preocupação dos consumidores e dos produtores. É questão de saúde pública no mundo a exposição humana a micotoxinas pelo consumo de alimento contaminada.
Diversos fungos encontram-se associados aos frutos e grãos de café durante todo o ciclo produtivo e podem causar perdas de qualidade do produto, produzindo odores e sabores desagradáveis e em alguns casos podem produzir metabólitos tóxicos (micotoxinas), comprometendo a característica de segurança do produto final.
As micotoxinas são substâncias com atividade tóxica em animais e seres humanos, produzidas por algumas espécies de fungos filamentosos, que podem estar presentes em alimentos. Não é possível eliminar por completo a sua presença em alimentos, por serem contaminantes naturais, porém, podem e devem ser reduzidos aos níveis que não apresentem riscos para a população e, além disso, não afetem na produção e na economia dos produtores, no caso da cultura do café. A micotoxina mais comum presente no café é a ocratoxina A (OTA), seguida pela aflatoxina (CHALFOUN, S. M.; PARIZZI, F. C.). Além de apresentar um perigo à saúde do consumidor, essas micotoxinas podem significar uma perda econômica significativa ao produtor.

OBJETIVOS
Conhecer e entender os fungos contaminantes de grãos é de extrema importância para aqueles que lidam com grãos armazenados. A contaminação desses microrganismos depende dos cuidados de manuseio nas fases de pré e pós-colheita, importantes para a manutenção da qualidade exigida no mercado cafeicultor internacional e, consequentemente, para a obtenção de melhores preços (Corrêa et al., 2003; Silva et al., 2003 e Pimenta & Vilela, 2003).

DESENVOLVIMENTO
A ocorrência de fungos de ocratoxina A (OTA) e a presença desta toxina no café tem sido evidenciados em amostras de café brasileiro e entre outros produtos agrícolas, como frutos, uvas, dentre outros, podendo ser contaminados desde a lavoura até o armazenamento. Essa micotoxina é considerada uma das mais prejudiciais para a saúde humana devido a sua toxicidade.
O uso excessivo de fungicidas e os riscos à saúde humana têm levado a pesquisas sobre formas alternativas como o controle biológico. As leveduras em co-cultivo com fungos filamentosos são capazes de inibir a produção de esporos e, assim, potencialmente diminuir a disseminação destes fungos no processamento de qualquer tipo de produto agrícola e consequentemente a contaminação dos alimentos com micotoxinas, como a Ocratoxina A.
A diversidade de fungos nos grãos de café depende de outros fatores como região geográfica, clima e método de processamento; os fungos de campo contaminam os grãos de café durante o cultivo, por estes requerem ambientes com umidade relativa superior a 80%.
Outro tipo de fungo comum em café é o mofo, sendo estes fungos, de armazenamento, que surge através dos esporos, células quase microscópicas que encontramos flutuando no ar. Os esporos preferem locais escuros e úmidos para realizar a reprodução. Em função desta característica, nota-se uma maior quantidade de mofo em ambientes úmidos, como paredes de tulhas, retenção de umidade do piso, podendo ocasionar a toxina nos grãos. Deve-se considerar que a faixa ideal de teor de água, ao final da secagem para grãos de café é de 11 a 12%, o que corresponde a 0,52 e 0,59 de atividade de água.


Processos de secagem propícios e não propícios para o desenvolvimento de fungos (BUCHELI et al., 2000):
·         Separação hidráulica: No lavador-separador de café há uma parte que flutua conhecido como boia. Café seco na árvore (passa), mal granado, entre outros. A fração boia é constituída por frutos que apresentam menor densidade, má formação dos grãos, injúrias causadas por insetos, “brocas”, etc... (BORÉM, 2008). Por isso é essencial que se faça a separação dos grãos para não haver a toxidez dos grãos cereja, de boa qualidade.
·         Processamento via seca: Verificou-se que esse tipo de preparo envolve também o maior nível de exposição ao risco de contaminação do produto final pela OTA, caso as condições ambientais sejam favoráveis ao desenvolvimento dos fungos e síntese de micotoxina ou a secagem seja feita de forma inadequada.
·         Processamento via úmida: Desde que a mucilagem constitui em excelente substrato para o desenvolvimento de fungos potencialmente produtores de OTA, sua remoção elimina um substrato muito favorável (BUCHELI e TANIWAKI, 2002).

Ø  Secagem do café:
A secagem em terreiros pode, sob determinadas condições ambientais, possibilitar o desenvolvimento de fungos potencialmente produtores de OTA e a síntese de micotoxína. (BORÉM 2008).
Alguns danos que podem ocorrer:
·         Perda do valor nutritivo dos grãos;
·         Descoloração dos grãos;
·         Redução da faculdade de germinação;
·         Calcinação de grãos;
·         Aumento da temperatura do produto armazenado até o ponto de combustão espontânea;
·         Cheiro e sabor mofentos;
·         Formação de micotoxinas;
·         Criação de um ambiente adequado para o desenvolvimento de espécies de insetos especiais, ou seja, indicadores de grão de baixa qualidade; e
·         Perda no valor econômico.
Como no controle de insetos e roedores, o controle da proliferação de fungos na massa de grãos fundamenta-se em cuidados a serem procedidos durante as operações de colheita, limpeza e secagem dos grãos; e equipamentos mecânicos.  Desta forma, são descritos a seguir algumas recomendações:
·         Realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita proceder a operação;
·         Ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza da massa de grãos e evitar danos mecânicos;
·         Desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita;
·         Proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza; removendo: impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos. Pois estes podem ser utilizados como substrato no desenvolvimento de fungos;
·         Proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução e uniformidade do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de fungos;
·         Monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que necessário, para uniformizar a temperatura; e
·         Adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a proliferação dos fungos está associada ao ataque destas pragas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado compreende em conhecer os diversos tipos de fungos e micotoxinas que afetam os grãos de café, os danos que eles causam e as prevenções para esses danos. Conclui-se que o café é um produto que depende de manuseio e armazenagem adequados, consequentemente, são necessárias uma maior atenção dos produtores para garantir a excelente qualidade final do produto, além de uma boa economia.  
Seguindo medidas simples, consegue-se evitar transtornos e perda de qualidade dos grãos produzidos e da reputação das entidades responsáveis pelo armazenamento.

REFERÊNCIAS
BATISTA, L. R.; CHALFOUN, S. M.; PRADO, G.; SCHWAN, R. F.; & WHEALS, A. E. (2003). Toxigenic fungi associated with processed green coffee beans (Coffea Arabica L.). International Journal of food Microbiology, v. 85, p. 293-300. 2008.
PIMENTA, C.J.; VILELA, E.R. Composição microbiana e ocratoxina A no café (Coffea arábica L.) submetido a diferentes tempos de espera antes da secagem. Ciênc. Agrotec.,Lavras. v. 27, n. 6, p. 1315-1320, 2003. SILVA,
C.F.; BATISTA, L.R.; SCHWAN, R.F. Incidência de Aspergillus produtores de micotoxinas em frutos e grãos de café (Coffea Arabica L.). Revista Brasileira de Armazenamento, Viçosa – Especial Café, MG, n. 7, p. 30-36, 2003. SILVA,
C.F.; BATISTA, L.R.; SCHWAN, R.F. Incidence and distribution of filamentous fungi during fermentation, drying and storage of coffee (Coffea Arabica L.) beans. Brazilian Journal of Microbiology, v. 39, p. 521-526. 2008.
CORRÊA, P.C.; JÚNIOR, P.C.A.; da SILVA, F.S.; RIBEIRO, D.M. Qualidade dos grãos de café (Coffea arábica L.) durante o armazenamento em condições diversas. Revista Brasileira de Armazenamento, Viçosa – Especial Café, MG, n. 7, p. 136-147, 2003.
PIMENTA, C.J.; VILELA, E.R. Composição microbiana e ocratoxina A no café (Coffea arábica L.) submetido a diferentes tempos de espera antes da secagem. Ciênc. Agrotec.,Lavras. v. 27, n. 6, p. 1315-1320, 2003. p
http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/82945/prevencao-da-producao-de-ocratoxina-pelos-fungos-toxigenicos-em-cafe-durante-o-armazenamento-e-trans/
http://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/fator-ph-e-inibio-da-produo-de-esporos-de-fungos-toxignicos-em-co-cultivo-com-leveduras-11830
http://www.agais.com/fungos.htm

quarta-feira, 14 de junho de 2017

A crise ambiental contemporânea

Por Marcos Costa Lima 
Grandes alterações na estrutura e função dos sistemas naturais da Terra representam uma ameaça crescente para a saúde humana e para a vida em geral em nosso planeta. Através de uma insustentável exploração de recursos naturais e humanos a civilização floresceu, mas agora corre o risco substancial, pelos efeitos da degradação, de não garantir o apoio da natureza à vida, no médio e longo prazo.
Os efeitos nocivos para a saúde humana por conta das mudanças no ambiente são muitos e graves:  as mudanças climáticas; a acidificação dos oceanos; a degradação dos solos; a escassez de água; a sobre-exploração da pesca e a perda de biodiversidade; o acúmulo de lixo tóxico inclusive resíduos nucleares; a redução das florestas e a poluição dos rios; as secas mais longas em várias partes do mundo. Tudo isso representa um sério desafio para a humanidade.
Segundo especialistas, estas tendências, que são de grande impacto, têm ocorrido, sobretudo, pelo paradigma estabelecido no capitalismo dominante, com a cristalização de um padrão de consumo, e de utilização de recursos naturais, altamente predatórios, com o agravante de uma população em crescimento, que deve atingir os 8,3 bilhões de habitantes em 2030 (O Brasil terá 223 milhões de habitantes no mesmo período).

A Comissão Lancet sobre a saúde do planeta identificou três categorias de desafios que têm de ser enfrentadas se se quiser manter e mesmo melhorar a saúde humana, em face das tendências ambientais cada vez mais danosas. São elas:
1) a tendência em se confiar excessivamente no crescimento do Produto Interno Bruto como medida de progresso humano e o fracasso em explicar os futuros danos, sob o aparente manto de ganhos nos dias de hoje, além do efeito desproporcional destes danos sobre as populações pobres e as nações em desenvolvimento, que não têm capacidade de se preparar para futuras catástrofes;
2) Falhas de conhecimento (de pesquisa e de informações fidedignas), uma histórica ausência de transdiciplinaridade no entendimento do problema, juntamente com uma falta de vontade ou incapacidade de lidar com a incerteza por parte dos governos na hora da tomada de decisões.
3) Falhas de implementação (desafios da governança), tais como o modus operandi de governos e instituições que retardam o reconhecimento e as respostas às ameaças, especialmente quando confrontado com incertezas, falta ou mesmo preterimento de recursos, considerando a questão ambiental não prioritária, além das defasagens entre o agir e seus efeitos.
As políticas deveriam buscar um equilíbrio entre progresso social (bem-estar), sustentabilidade ambiental e economia. Aí se encontra o grande dilema, uma vez que, sejam os governos, sejam as grandes corporações, estabelecem como prioridade a situação da economia, com um viés estreito, onde mais vale o funcionamento dos grandes conglomerados, bancos e multinacionais, e não o bem-estar geral.
Para abrigar uma população mundial que ultrapassa os 8 bilhões de pessoas será necessário alterar o sistema agrícola, privilegiando a pequena e média agricultura e não o agribusiness. A estrutura agrária mundial precisa de alterações rápidas e constantes, no sentido de redução dos latifúndios. Só assim os sistemas agrícolas podem enfrentar a desnutrição e mesmo a supernutrição, hoje ocorrendo não apenas nos países ricos, em função de uma alimentação processada em excesso. A agricultura é também um setor capaz de criar empregos e compensar o desemprego tecnológico.
Reduzir o desperdício, diversificar dietas, sobretudo diminuindo o consumo de carne bovina e minimizar os danos ambientais. Mas há que se cuidar também da educação, que dá maior condição aos mais pobres de entenderem o que está em jogo, e de lutarem por seus direitos. Os ganhos em alimentação saudável e orgânica se refletirão em ganhos em saúde, mas não dispensando os investimentos em médicos e hospitais, sobretudo numa visão preventiva.
Os dados apresentados pela Comissão Lancet são otimistas no tocante aos avanços na saúde humana. Eles afirmam que, hoje, estes dados são melhores do que em qualquer outro tempo da história. A expectativa de vida elevou-se dos 47 anos em 1950–1955, para 69 anos entre 2005–2010. A taxa de mortalidade em crianças menores que cinco anos decresceu substancialmente em escala mundial, de 214 por mil nascimentos em 1950–1955 para 59 em 2005–2010.

A extrema pobreza vem decrescendo nos últimos 30 anos, em que pese o crescimento no total da população nos países pobres de cerca de 2 bilhões. O relatório diz ainda que “esta redução da pobreza tem sido acompanhada por avanços sem precedentes na saúde pública, cuidados de saúde, educação, legislação de direitos humanos, e desenvolvimento tecnológico, que trouxe grandes benefícios, ainda que de forma desigual, à humanidade”.
Mas o relatório não contempla os aumentos das desigualdades, em escala planetária, tanto nos países do centro quanto naqueles da periferia. São muitos os estudos recentes que vêm chamando a atenção do problema, sobretudo desde os anos 1980, quando instalou-se mundialmente as prerrogativas do neoliberalismo e do Consenso de Washington.
O próprio PNUD já anunciava em estudo que por mais de 200 anos as desigualdades econômicas globais têm aumentado. No início da revolução industrial, as diferenças de renda per capita entre a Europa Ocidental e a periferia não ultrapassava 30% (Bairoch, 1981). Em 1820, a renda per capita dos países mais ricos era 3 vezes maior do que os mais pobres. Em 1870, foi 7 vezes; em 1913 era 11 vezes maior e em 1960, 30 vezes mais. Em 1997, um quinto da população mundial que vive nos países mais ricos era 74 vezes mais rica que o um quinto da população nos países mais pobres.
Segundo o Global Wealth Report 2014, realizado pelo banco Credit Suisse, a parcela de 1% da população adulta mais privilegiada detém praticamente metade da riqueza global. Portanto, a desigualdade no mundo está aumentando e isso representa um estímulo à recessão, muito embora a riqueza global das famílias no mundo tenha aumentado 8,3% em um ano, atingindo um novo recorde: US$ 263 trilhões em 2013, mais do que o dobro da riqueza registrada no ano de 2000, que era de US$ 117 trilhões. Os números são chocantes, quando sabemos que 8,7% das pessoas adultas concentram 82,1% da Riqueza Mundial, ao passo que 91,3%  das pessoas adultas concentram 17,9% da riqueza mundial.
Em Paris, dezembro de 2015, ocorrerá a XXI Conferência Internacional sobre a Mudança Climática (COP 21). Muito se tem especulado sobre os possíveis resultados, que vão do maior pessimismo a um otimismo que não tem muita justificativa. José Ramos Horta, prêmio Nobel da paz em 1996 e ex-presidente do Timor Leste, chama a atenção para a gravidade do problema, quando um novo informe baseado nos estudos de 413 cientistas de 58 países, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos concluiu que 2014 foi o ano mais quente da história. 
O contundente informe evidencia as tendências e as mudanças do sistema climático mundial, a exemplo dos vários tipos de gases de efeito estufa, das temperaturas na atmosfera, nos oceanos e na terra, no nível do mar, a redução na extensão do gelo marinho entre outros fenômenos graves.  Muitos cientistas já consideram a mudança climática irreversível.
São muitos os problemas e questões a serem enfrentadas na COP21, como a reafirmação do multilateralismo, enquanto espaço coletivo de tomada de decisões; sobre qual será o novo instrumento jurídico vinculante, que sob a Convenção deverá ser aplicável a todos os signatários. Qual será o conteúdo do novo acordo do Clima a entrar em vigor em 2020? O que cada país será responsável a implementar até 2020?
O documento elaborado em Lima, na COP 20, muito criticado, reafirmou o princípio das responsabilidades comunsmas diferenciadas. O texto base, que ainda deverá ser assinado, inclui temas operacionais decisivos como mitigação, adaptação, financiamento, transferência de tecnologia, capacitação e transparência para ações e para o apoio.
Outra questão preocupante é a compensação das emissões, que implica que o mundo (leia-se, os países ricos) possa continuar emitindo gases de efeito estufa desde que exista uma forma de os "compensar". O que torna iníquas as medidas concretas de redução das emissões. O Fundo Verde do Clima, que foi aprovado desde 2010, com um fundo que seria de US$ 100 bilhões anuais de2013 a 2020, ficou sem efeito e só em 2014 passou a receber recursos muito aquém do estabelecido, num valor de US$ 10 bilhões, aportados por 29 países, desenvolvidos e em desenvolvimento.
Ainda questões como o uso da terra, a agricultura climaticamente inteligente, a Cúpula dos Povos e as mobilizações da sociedade civil global para o enfrentamento do problema, estarão em pauta.
Em tempos de crise estrutural como a que vivemos, a responsabilidade sobre as condições de vida na Terra cabe a todos nós, mas sobretudo aos países ricos e seus governos, suas grandes corporações, que não apenas são os maiores predadores dos ecossistemas globais, mas que têm de fato as condições objetivas para enfrentar a tragédia. Karl Polanyi nos ensinou que “permitir que o mecanismo de mercado seja o único dirigente do destino dos seres humanos e do seu ambiente natural (...) resultaria  no desmoronamento da sociedade”.
O estado do planeta em que vivemos está ameaçado. Já é tempo de medidas que não sejam apenas paliativas, já é tempo de virar a página de um paradigma obsoleto.
Marcos Costa Lima é professor do Departamento de Ciência Política da UFPE, pós-doutorado na Université Paris XIII e integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais/GR-RI. Atualmente coordena o Instituto de Instituto de estudos da Ásia/UFPE
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-grri/a-crise-ambiental-contemporanea-5192.html

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