terça-feira, 15 de agosto de 2017

O RIDÍCULO POLÍTICO: efeito da deturpação da política na era do espetáculo!



Estive em Brasília nesse fim de semana: a cidade mais capitalista do Brasil! Como não podia deixar de ser, relembrando meus treze anos lá vividos, reencontrei parentes e amigos e, claro, conversamos o assunto que mais se falava em Brasília: política! O sentimento das pessoas de lá é semelhante ao daqui: muito espanto e desapontamento, beirando a indignação!!! Mas, infelizmente, observa-se na maioria das pessoas, apatia. Para agravar tal quadro, em todo o País, existe muita desinformação e extremismos: tanto de esquerda quanto de direita. O fato é que o atual momento político tem afastado as pessoas sérias da política! Quanto mais grave a fragilidade dos partidos políticos, mais aguda a crise de representação das casas legislativas (de acordo com pesquisa do IPSOS, 65% não confiam no Congresso!) Quais são as consequências?

Bem, agora mesmo, assistindo ao programa Diálogos, do Mário Sérgio Conti na Globonews, tive a oportunidade de assistir a entrevista da Filósofa Marcia Tiburi. Lançará seu novo livro agora à noite em Porto Alegre, cujo título é bastante sugestivo: Ridículo Político! Gostei tanto da nomenclatura utilizada, que já o comprei. Em seu livro, a escritora analisa fenômenos que tornam o cidadão um ser apático, o que coloca a democracia em risco. O argumento é construído a partir de conceitos simples, para que possam ser amplamente compreendidos. Para ela, um espectro ronda a política – o espectro do ridículo político. Esse fenômeno, que se revela em elogios à tortura no Congresso brasileiro, no governo de Donald Trump nos Estados Unidos e em outras manifestações, ganha uma análise consistente em seu livro.

A filósofa, que no ensaio anterior havia se dedicado ao fascismo, mostra-se agora preocupada com um contexto em que a regra é não tratar a política com seriedade. Trata de vergonha alheia, elite brega, cidadão otário, madamismo (culto à vida de madame), filosofia do rolê, falação de merda, minotaura, Valesca Popozuda, ipanemismo (relativo ao bairro Ipanema - classe média carioca) e esteticomania. As teses são apresentadas em cadeia, em capítulos curtos. Essa opção da autora, por termos populares e tópicos enxutos, talvez tenha como influência sua experiência na mídia. Acostumada com programas de TV, entrevistas e palestras disputadas, Marcia é muitas vezes reconhecida como pensadora pop, integrante de uma turma que inclui Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e Mario Sergio Cortella.

Mas o livro mostra uma ensaísta extremamente dura em relação à mídia e à sua moldura - o capitalismo. A obra dialoga com Theodor Adorno e Max Horkheimer, expoentes da Escola de Frankfurt e primeiros críticos, ainda na década de 1930, da indústria cultural: máquina capaz de transformar a arte em uma linha de produção de mercadorias. O francês Guy Debord, estudioso da sociedade do espetáculo, completa o trio de teóricos que inspiram a autora.

No final dos anos 1960, Debord apontou que, na sociedade capitalista, as relações sociais passaram a ser mediadas pelas imagens. Para ele, a realidade, o cotidiano das pessoas, é influenciada pela lógica mercadológica, borrando as fronteiras entre essência e aparência. A partir daí, Marcia sugere que, se a questão central hoje é aparecer, torna-se necessário acabar com os constrangimentos humanos que prejudicam a realização dessa regra social.

O primeiro efeito é o fim da vergonha: resultado que permite ao ridículo sair do armário sem qualquer inibição. O ridículo, aquilo que inicialmente não deveria ser visto por causar embaraços e desprazer, torna-se, assim, normal e estratégia de sobrevivência no mundo das imagens, da exposição total e do chamar atenção a qualquer preço. "Criamos uma espécie de dialética perversa entre amar a própria imagem, sermos vistos e acreditarmos que isso assegura, de algum modo, nosso existir", descreve a filósofa. Essa dinâmica, continua a autora, perpassa, nas diferentes classes sociais, diversas situações da vida cotidiana, como a necessidade de ostentar o próprio gosto, ouvindo música alta em local público, por exemplo. Há ainda o narcisismo nas redes sociais, as selfies, a plastificação do corpo e o culto ao exercício físico no qual não é a saúde a principal preocupação, mas sim a "servidão à imagem".

Marcia mostra como o ridículo passou a ser instrumentalizado na política. A política, transformada pela racionalidade publicitária, deixa de ser vista como uma "construção universal". O espetáculo deturpa a política e os direitos de aparecer, de se expressar, de representar e de ser representado. Esse contexto abre espaço ao bufão, o político que, utilizando o ridículo como capital eleitoral, brinca nos momentos em que deveria haver seriedade e encanta quem já não vê a política como o diálogo que nos torna humanos. O bufão é um personagem quase de ficção, simpático e populista, que, por tanta “falação de merda”, não parece estar dizendo a verdade.

Idiotizados pela estetização da política e pelo sistema neoliberal, os eleitores não acreditariam que os líderes que apoiam sejam de fato fascistas, homofóbicos e machistas. Se não levam a sério quem se propõe a liderar, também lavam as mãos de qualquer responsabilidade nas escolhas. Para Marcia, há nisso um risco altíssimo: "Assim, sem ter para onde ir, desarvorados, apatetados, muitos preferem cancelar a política, tomando-a como aquilo que faz mal, quando, na verdade, a reinvenção da experiência política seria a única chance de produzir algo de bom, enquanto seres sociais, seres relacionados uns aos outros, que, necessariamente, terão de compartilhar o mesmo espaço. Ou consumir-se em guerra".

TRECHO DO LIVRO:

"O termo ridículo é usado tanto para falar de algo insignificante, daquilo que não faria diferença, quanto para dar sinal de uma cena escandalosa. Neste livro, quer-se compreender seu potencial intimamente ligado, em nosso tempo, ao que podemos denominar o momento publicitário da política, que muito tem contribuído para a aniquilação de sua própria ideia como algo positivo. O problema é que a política não é algo que se destrói, mas algo que se transforma, e, nesse caso, podemos dizer que o ridículo político é sua deturpação. O que vem a ser política na era da racionalidade publicitária é a nossa questão. O ridículo político é um efeito da deturpação da política na era do espetáculo; é a deturpação do direto a aparecer, bem como do direito à expressão, do direito de representar e ser representado. Ridículo político seria, portanto, a forma visível da crise do político enquanto o poder o utiliza justamente para acobertar a crise."

Em um determinado trecho da entrevista, depois de todo esse diagnóstico da situação atual, Conti pergunta: há saída? Márcia responde que está muito preocupada com a alma das pessoas: como esse distanciamento e novas posturas se transformará em discurso? Para ela, a política é espaço para discursos - um deles é que o poder corrompe. Cita a Deputada Erundina, que dizia: se o poder não fosse bom, o homem não estaria lá!!!

O fato é que o povo se afastou da política! É como se fosse um local podre, corrupto! E acrescenta, pessimista - o problema maior é a indústria da corrupção: a corrupção sistêmica que corrompe a alma das pessoas. Para promover mudanças no médio e longo prazos, para Márcia, é preciso trabalhar a educação, trabalhar o discernimento: as pessoas hoje não conversam mais, e quando falam sobre política, e outros assuntos mais densos, o que se vê é gente falando asneiras, sem conhecimento de causa!

Para Márcia, diante da derrocada da política clássica, surge uma renovação, uma singularidade: periferias, sexualidade, todos que estão na contramão do estereótipo clássico... branco... europeu... heterossexual.... as minorias estão reivindicando espaço: como será esse novo mundo? Será a tendência e os novos dominantes?

A OBRA:
TIBURI, MARCIA. Ridículo Político. Porto Alegre: Record. 236 p.

Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/livros/noticia/2017/07/em-novo-livro-filosofa-marcia-tiburi-disseca-o-ridiculo-politico-9831068.html

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A classe política dos dias atuais: velhos mecanismos de poder e de controle social


* Maurício Novaes Souza

A política é feita de esperança: no entanto, tem sido destruída neste contexto tão confuso e sombrio dos tempos atuais! Não conseguimos obter respostas para muitas de nossas perguntas. Atolado em denúncias de corrupção após a delação do empresário Joesley Batista, da JBS, Temer tenta sobreviver na presidência contra a vontade do povo brasileiro. Nesse momento, congressistas que votarão sobre o pedido de investigação na Câmara dos Deputados estão depondo: contra e a favor de Temer! É quase inacreditável o que dizem! Parece que vivemos em dois Brasis!
Se focarmos no momento político vivenciado no Brasil, verificamos que é alarmante! A corrupção dominou nosso País! Generalizou-se, é sistêmica, nos governos municipais, estaduais e Federal, bem como em suas relações com a iniciativa privada. Somam-se aos desmandos de um governo que a cada dia demonstra maior incompetência e incapacidade de resolver tantas crises. Este cenário, sem dúvida, não afeta apenas o setor produtivo, mas todos os setores da sociedade civil. Os bastidores revelam uma crise futura, que resulta em incertezas quanto aos modelos políticos, institucionais, trabalhistas, previdenciários e éticos vigentes. Mas, já se pode afirmar: o sistema político ruiu e tem-se de pensar em um novo modelo.
Pensemos no momento vivido pelo Presidente Temer: o número de provas contra ele é enorme, inclusive as gravações, que não deixam dúvida sobre seu conteúdo e a finalidade daquele encontro, mesmo assim, provavelmente, dados os depoimentos que estou assistindo, ele permanecerá no cargo até o final de 2018! É inconcebível! É inadmissível! Se no áudio apresentado, o próprio Presidente não o contestou, essa é a maior prova! Alguns deputados estão dizendo que a denúncia é sem consistência: como? É uma declaração de culpa: não cabe, em sã consciência, nenhum tipo de recurso ou discussão! Que políticos são esses?  Em face destes casos, a reprovação de Temer chegou a 95%, segundo pesquisa do instituto IPSOS: como se explica um presidente com esta taxa de desaprovação permanecer no poder? Governará para poucos e, de fato, a democracia está sendo seriamente atacada!
As negociações espúrias continuam! Ontem, para conquistar votos da bancada ruralista, segundo informações da Istoedinheiro.com, o governo vai conseguir uma arrecadação líquida de R$ 2,139 bilhões com o Refis das dívidas do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) entre 2017 e 2020. Em contrapartida, a renúncia de tributos com os descontos do Refis e a redução da alíquota da contribuição do empregador rural para 1,2% será bem maior: R$ 5,44 bilhões nos próximos anos. O novo programa foi lançado ontem (01-08) por meio de medida provisória (MP) publicada no Diário Oficial da União e estava no centro de longa negociação com parlamentares da bancada ruralista que envolveu até mesmo apoio para a reforma da Previdência. A MP acabou sendo editada na véspera da votação da denúncia contra o presidente Temer na Câmara.
O novo Refis permite a regularização de dívidas tributárias relativas à contribuição ao Funrural devidas por produtores rurais pessoas físicas e adquirentes de produção rural. Na exposição de motivos, o governo argumenta que o programa se justifica devido ao recente reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à constitucionalidade da exigência da contribuição. O programa permite a liquidação dos débitos junto à Receita Federal e à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) vencidos até 30 de abril de 2017. Os pedidos de parcelamento deverão ser formalizados até 29 de setembro de 2017. A MP também reduz de 2% para 1,2% a alíquota base da contribuição do empregador rural incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização.
Segundo o governo, a redução da alíquota tem como objetivo ajustar a carga tributária do produtor rural pessoa física “tendo em vista a crescente mecanização da produção com a consequente redução de empregados e da folha salarial para muitos produtores, o que faz com que essa contribuição, na alíquota atual, represente peso muito grande no custo de produção desses produtores”. A renúncia total será de R$ 1,87 bilhão em 2018; R$ 1,81 bilhão em 2019; e 1,76 bilhão em 2020.
Ou seja: de fato, vivemos um momento de declínio da política brasileira. O Congresso foi capturado pelo poder econômico, não mais preocupado em se reeleger, mas em realizar seus lucros neste mandato. Em toda a semana passada foram dezenas de acordos que trarão prejuízos incomensuráveis para a população brasileira. E o Poder Judiciário? Nenhuma manifestação; ou seja, não se tornou apenas politizado, mas está partidarizado. E o Executivo não tem moral: é o triste retrato esquizofrênico, exacerbado, da situação nacional.
A população não consegue mais se organizar. Há certa depressão, onde se observa que os brasileiros, tanto à direita e à esquerda, não têm nada a comemorar. Nossas teses, nossos projetos, desfazem-se a cada dia, com o fracasso do governo Temer e com os escândalos de corrupção. A violência cometida contra os trabalhadores, aposentados, pequenos empresários, neste momento não tem precedentes na história republicana. A situação das Universidades e Institutos Federais é alarmante! E o que me espanta mais ainda: não há político ou partido algum nesse momento, que consiga mobilizar a população. Eis o grande problema!

O fato, sem dúvida alguma, é que ocorre a deterioração da política brasileira, a passos largos, que se agrava a cada dia. Os corruptos não se cansam de roubar o nosso país. Neste contexto, fica evidente a urgência de uma reforma política, fundamental para a superação da grave crise política, econômica, social e de valores em que vive a sociedade brasileira na conjuntura atual, abrindo caminhos para uma nova relação entre o Estado, o mercado e a sociedade civil: os velhos mecanismos de poder e controle social deverão ser sepultados!




* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

A nova classe média: exigente e distante dos velhos mecanismos de poder e de controle social


* Maurício Novaes Souza


Neste contexto tão confuso dos tempos atuais, não temos respostas para muitas de nossas perguntas. Desde que escrevi a minha dissertação de mestrado, entre 2002 e 2004, “Degradação ambiental e recuperação ambiental e desenvolvimento sustentável”, fiquei muito mais atento e questionador quanto ao comportamento do Homo sapiens -por que, com tanto conhecimento, o homem pode causar tanta degradação? Para responder a esses questionamentos, conhecer os tempos remotos de nossa espécie e como ela deixou de ser um animal qualquer com impacto insignificante no planeta para se tornar dona do mundo, capaz de destruí-lo com o apertar de alguns acionadores, sempre foi algo que me interessou saber, e foi por isso que fiquei muito feliz ao conhecer e ler recentemente o livro Sapiens: uma breve história da humanidade.
De forma bastante agradável, o livro mistura e articula conhecimentos de história, biologia, linguística, geografia, antropologia, sociologia, capitalismo, imperialismo, entre outros! É um livro diferente porque conta a história de um personagem que muda continuamente. Porém, este protagonista tão especial, não é uma pessoa, e sim toda uma espécie: Homo Sapiens! Seu autor é Yuval Noah Harari, doutor em História pela Universidade de Oxford, especializado em história mundial e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. A tese central do livro: o homem conseguiu sua supremacia incontestável sobre qualquer outra espécie nesse planeta devido à sua capacidade de criar e compartilhar mitos: ou seja, sua capacidade de criar ficção! Comenta sobre as revoluções recentes: do mais e da mobilidade, que criaram e fortaleceram uma nova classe média - cada vez mais exigente e distante dos velhos mecanismos de poder e de controle social; que acabou por produzir uma terceira revolução: da mentalidade, que associada aos mecanismos que a tecnologia oferece hoje, estão mudando o mundo, reconfigurando o poder e mudando a vida.
            Sapiens traça a trajetória da espécie pela sucessão de três revoluções: a cognitiva (quando nos tornamos astutos – há aproximadamente 70.000 anos); a agrícola (quando moldamos a natureza a nosso favor e começa a unificação da humanidade); e a científica/industrial (quando ganhamos um poder perigoso e nos tornamos deuses). Por toda a parte, e cada vez mais, as máquinas criadas pelo homem fazem o nosso trabalho. Nesse período tão recente, a família e a comunidade se enfraqueceram e são substituídas pelo poder do Estado e do mercado. Há extinção em massa de plantas e animais. Os humanos transcendem os limites do planeta Terra, as armas nucleares se tornam uma ameaça efetiva à sobrevivência da humanidade e dezenas de ecossistemas são degradados. Os organismos são moldados não mais pela chamada seleção natural, mas pela interferência do homem. Porém, nem toda essa evolução se transforma em nosso benefício. No quesito "multiplicação", a nossa espécie se saiu melhor que as demais. Mas será que esta multidão de pessoas vive melhor hoje que há 30.000 anos?
Harari destaca a capacidade de comunicação, que permitiu ao homem inventar mitos comuns ou ficções. Os três mais importantes são o dinheiro, a religião e o império: permitiram a união das pessoas pelos tempos e lugares. Muito interessante e altamente polêmico o autor dar a mesma origem para a religião, o dinheiro e para os governos. Para agravar a atual situação, a globalização e a modernidade trouxeram o colapso da família – “a revolução social mais momentosa que já se abateu sobre a humanidade” – e tem acabado também com o consolo da religião. Se as pessoas nos tempos medievais “acreditavam na promessa de eterna felicidade na vida após a morte” o livro sugere que, “eles podem, muito bem, terem vivido as suas vidas como muito mais significado e valor do que as pessoas seculares modernas, que em longo prazo não podem esperar nada, além do mais completo e sem sentido esquecimento”.
O fato é que mudamos tanto, em tão pouco tempo, que o Homo sapiens deixará efetivamente de existir. Os nossos descendentes podem se tornar irreconhecíveis para nós. O único procedimento que pode parar esta mudança, na opinião de Harari, minha também, é a possibilidade de uma catástrofe ambiental, que também pode acabar com nossa espécie: a humanidade verá mais um evento épico, quando nós seremos banidos nos próximos séculos. Seja porque ganhamos poderes de deuses e nos tornaremos irreconhecíveis para nós mesmos, ou porque iremos nos destruir por um desarranjo provocado no meio ambiente. Muito antes da Revolução Industrial, o Homo sapiens já era recordista, entre todos os organismos, em levar espécies de plantas e animais mais importantes à extinção. Segundo Harari, temos a honra duvidosa de ser a espécie mais mortífera nos anais da biologia.

O livro quebra os paradigmas mais arraigados na nossa sociedade: mostra da forma mais lógica possível como chegamos às nossas características atuais - políticos e lideranças empresariais e sociais deveriam lê-lo! Indiscutivelmente, esse livro me trouxe mais conhecimento, esclarecimento e reflexão, somando de forma significativa aos conhecimentos adquiridos na oportunidade de elaboração da minha dissertação, há 15 anos. Mesmo que eu não concorde com todas as opiniões do autor que estão implícitas na obra, eu admiro a lógica e a sua maneira agradável de escrever. Ao final, meio profético e assustador, aponta algumas mudanças necessárias para a manutenção de nossa espécie, coroando um livro que consegue, de forma geral, nos fazer entender, e ser, um Homo sapiens, no mínimo, mais reflexivo e melhor. Este é, decididamente, um livro que faz bem à cabeça do Sapiens.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

Avaliação dos índices de qualidades de mudas de café conilon em diferentes recipientes e substratos


Recipients and substrates and to the production of seedlings of coffee conilon
Mario Euclides Pechara da Costa JaeggiI, Julio Gradice SaluciII, Maurício Novaes SouzaIII, Silvane de Almeida CamposIV
1Universidade Estadual Norte Fluminense – UENF - RJ, Brasil. E-mail: mariopechara@hotmail.com; 2Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Espírito Santo – IFES – Campus Alegre, ES, Brasil. E-mail: juliosaluci@gmail.com; 3Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Espírito Santo – IFES – Campus Alegre, ES, Brasil. E-mail: mauricios.novaes@ifes.edu.br ; 4 Doutoranda em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa, MG, Brasil. E-mail: silvaneacampos@yahoo.com.br.
RESUMO
Uma estratégia para redução de custos de produção durante a fase de produção de mudas seria o aproveitamento de resíduos orgânicos com potencial fertilizante, bem como proporcionar destinação adequada aos mesmos. Objetivou-se avaliar o efeito de diferentes recipientes e substratos no crescimento e qualidade de mudas de cafeeiro conilon.  O delineamento adotado foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 4x3, com três repetições, sendo os fatores: quatro substratos (convencional produzido com terra de subsolo + esterco bovino na proporção de 3:1 v/v enriquecido com N-P-K recomendado para a cultura; composto orgânico constituído pela leguminosa feijão guandu + esterco bovino; vermicomposto e composto orgânico produzido com gramínea + esterco bovino) e três recipientes (tubete de 120 cm3, tubete de 280 cm3 e sacola plástica de 615 cm3). Aos 180 dias após a semeadura foram avaliados área foliar, número de folhas, altura da planta, diâmetro do caule, massa seca da parte aérea, radicular e total, relação altura da planta e diâmetro de caule, índice de qualidade de Dickson e relação massa seca da parte aérea e raiz. Mudas de cafeeiro conilon produzidas com substrato à base de leguminosa, em sacolas plásticas de 615 cm3 e em tubetes de 280 cm3, obtiveram melhor qualidade.  Este substrato também apresentou melhores valores médios para altura da planta e diâmetro do caule, quando utilizado nestes recipientes, sendo o mais indicado para a produção de mudas da cultura.
Palavras-chave: Coffea canephora, crescimento, substratos orgânicos, tubete, sacola, qualidade de mudas.
ABSTRACT
A strategy to reduce production costs during the seedling production phase would be the use of organic waste with potential fertilizer, and provide proper destination to them. To evaluate the effect of different containers and substrates in the grown and quality conilon coffee seedlings. The design adopted was randomized blocks, in 4x3 factorial design with three replications, the factors being: four substrates (conventional produced with subsoil + cattle manure in proportion 3:1 v/v supplemented with N-P-K recommended for culture; organic compost constituted by legume pigeon pea + cattle manure, vermicompost and organic compost produced with grass + cattle manure) and three containers (tube of 120 cm3, tube de 280 cm3 and plastic bag of 615 cm3). 180 days after seeding were evaluated leaf area, number of leaves, plant height, stem diameter, dry weight of shoot, root, and the total, plant height/stem diameter ratio, Dickson quality index and dry weight of shoot/root ratio. Conilon coffee seedlings produced with the substrate legume base, in plastic bags of 615 cm3 and tubes of 280 cm3, obtained better quality. This substrate also showed higher average values for plant height and stem diameter, when used in these containers, the most suitable for production of crop seedlings.
Key words: Coffea canephora, growth, organic substrates, polyethylene tube, plastic bag, quality seedlings.
INTRODUÇÃO
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café e o Estado do Espírito Santo o maior produtor de cafeeiro Conilon (Coffea canefora) do país (COVRE et al., 2013) destinado basicamente a três mercados: a exportação de grãos, a indústria de café solúvel e para fazer “blends” com o cafeeiro arábica, sobretudo, na referida indústria (PEREIRA et al., 2015).
Para a cafeicultura nacional, a qualidade da muda é de suma importância uma vez que passa por grandes transformações, tais como: o aumento da área plantada, a renovação do parque cafeeiro e a adequação aos sistemas de plantio atuais. Desta forma, o plantio de mudas vigorosas de cafeeiro é fundamental para um bom “pegamento”, diminuindo os gastos com a operação de replantio e contribuindo para o rápido crescimento inicial das mudas no campo (CARVALHO et al., 2008; ALVES; GUIMARÃES, 2010).
Além disso, a qualidade da muda está diretamente ligada à produtividade e à qualidade do produto final. Por isso, muitos esforços têm sido realizados para melhorar a qualidade e reduzir os custos de produção das mudas (TRAZZI et al., 2013), tendo como estratégia para redução de custos de produção, o aproveitamento de materiais orgânicos com potencial fertilizante mais acessíveis aos produtores, uma vez disponíveis na unidade rural ou região.
A tecnologia de produção de mudas do cafeeiro vem sendo alterada com pesquisas para determinação do tipo de recipiente, substrato, tempo e manejo das adubações e de irrigação adequados para sua produção com qualidade (HENRIQUE et al., 2011), sendo as sacolas plásticas, preenchidas com substrato constituído por terra e esterco bovino, e os tubetes de polietileno em diferentes tamanhos, com emprego de substrato comercial, os recipientes e substratos comumente utilizados na produção de mudas de cafeeiro (VALLONE et al., 2010a; VALLONE et al., 2010b). Para os tipos e capacidades de recipientes, CUNHA et al. (2002), SILVA et al. (2010) e VALLONE et al. (2010a) associam qualidade com redução do custo de produção que proporcione melhor crescimento às mudas de cafeeiro.
Com relação ao substrato, VALLONE et al. (2010a) relatam que a mistura de resíduos orgânicos ao substrato promove a melhoria das suas características químicas, físicas e biológicas, proporcionando um ambiente adequado para as raízes e a planta como um todo, notadamente no seu desenvolvimento, diminuindo o uso de solo e, por consequência, evitando os riscos de contaminação por pragas e doenças. Desta forma, os substratos devem apresentar adequada porosidade, alta capacidade de troca catiônica, boa retenção de água e serem produzidos de modo sustentável com viabilidade econômica (ALMEIDA et al., 2011).
Para isso, faz-se necessário a utilização de resíduos orgânicos na confecção de substratos para produção de mudas agrícolas, bem como dar destino adequado aos mesmos. Segundo CALDEIRA et al. (2008) a matéria orgânica é um dos componentes fundamentais dos substratos, cuja finalidade básica é aumentar a capacidade de retenção de água e a disponibilidade de nutrientes para as mudas. SILVA et al. (2013) relatam que a adubação com compostos orgânicos pode ser uma alternativa para melhorar a fertilidade do solo, no agroecossistema de café conilon.
Diante da relevância da utilização de resíduos alternativos para a produção de mudas agrícolas e avaliação dos tipos de recipiente, objetivou-se com a realização deste trabalho, avaliar o efeito de diferentes recipientes e substratos no crescimento e qualidade de mudas de cafeeiro conilon.
MATERIAL E MÉTODOS
Em março de 2014, estabeleceu-se um experimento em casa de vegetação, no Viveiro do Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre (IFES campus de Alegre), com coordenadas geográficas de 20º45’44” de latitude sul; 41º27’43” de longitude oeste e altitude de 134 m. Segundo classificação de Köppen o clima da região é do tipo “Aw”, inverno seco e verão chuvoso, com temperatura média de 23ºC e precipitação em torno de 1.200 mm anuais.
O delineamento estatístico foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 4x3, com três repetições de 15 plantas cada. Os tratamentos foram constituídos por quatro substratos: convencional produzido com terra de subsolo e esterco bovino curtido na proporção 3:1 v/v enriquecido com N-P-K recomendado para a cultura, sendo tradicionalmente utilizado em viveiro de mudas de cafeeiro; composto orgânico constituído pela biomassa da leguminosa feijão guandu (Cajanus cajan) e esterco bovino curtido na proporção 1:1 com maturação ocorrida em torno de 90 dias; o vermicomposto, húmus de minhoca, foi decorrente da inserção de minhocas (Eisenia foetida) em composto orgânico por período de 60 dias; e composto orgânico de gramínea produzido com aparas de gramas de jardins do Campus e esterco bovino curtido na proporção 1:1 conforme descrito por SOUZA et al. (2013), e três recipientes (tubete de 120 cm3 e tubete de 280 cm3 de polietileno e sacola plástica de 615 cm3). O solo utilizado nos tratamentos é distrófico, de barranco, pobre em nutrientes, enriquecido com esterco (3:1) e suplementado com NPK, segundo a recomendação de PREZOTTI et al. (2007).
No início de março, realizou-se a semeadura da cultivar “EMCAPER 8151 - Robusta Tropical” diretamente nos recipientes, distribuindo-se duas sementes a um (1) cm de profundidade do substrato. O desbaste foi efetuado logo após o aparecimento do primeiro par de folhas verdadeiras, eliminando-se as plantas menos vigorosas (MATTIELO et al., 2005). As mudas foram irrigadas por microaspersão, no início da manhã e final da tarde. A partir desta fase, receberam irrigação diversas vezes ao dia de acordo com a sua necessidade hídrica, em função da variação climática, até demonstrarem aptas para o transplantio no campo.
Aos 180 dias após a semeadura, avaliaram-se área foliar (AF), número de folhas completamente expandidas (NF), altura da planta (H), diâmetro do caule (DC), massa seca da parte aérea (MSPA), radicular (MSR) e total (MST), relação altura e diâmetro (H/DC), índice de qualidade de Dickson (IQD) e relação massa seca da parte aérea e radicular (MSPA/MSR).
A H, determinada a partir do nível do substrato até a gema apical, foi mensurada com régua milimetrada em cm; o NF por planta por contagem direta; o DC foi medido na altura do colo da planta com paquímetro digital em mm; a AF, expressa em cm2, foi estimada com medidor de área foliar LI-COR modelo LI-3000; para obtenção da MSPA e MSR, as plantas foram secas em estufa a 75 ºC até peso constante, logo após pesadas em balança analítica em g; a MST foi obtida pela soma da MSR e da MSPA. Com estes dados, foram calculadas as características indicadoras de qualidade de mudas, sendo H/DC, MSPA/MSR e o IQD = MST / (H/D + MSPA/MSR) (DICKSON et al., 1960).
Os dados coletados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de significância, por meio do software SISVAR versão 5.3 (FERREIRA, 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Constatou-se AF das mudas entre 15,65 a 65,72 cm2, com maiores valores para as mudas produzidas em sacolas em relação aos tubetes, independentemente dos substratos estudados (Tabela 1). DARDENGO et al. (2013) também verificaram para AF que os valores obtidos em sacolas (770 mL) superaram os de tubetes (120 mL), com exceção para o nível de 30% de sombreamento. As mudas que crescem em maior volume de substrato apresentam maiores valores para AF, característica que está relacionada à quantidade de reserva (carboidratos) e metabolizados, proporcionando mudas de qualidade (DIAS et al., 2009). Quanto maior AF maior a incidência de energia solar sobre as plantas. Sendo as folhas o órgão que mais possui clorofila, a produção de biomassa foliar aumenta a produção fotossintética, desta forma, promove também o crescimento da planta (VIEIRA & WEBER, 2015). A quantidade de AF é indicativo de produtividade para a cultura (BATISTA, 2010). BRAUN et al. (2009) notaram diferença estatística para AF de mudas de café conilon formadas em distintos substratos, sendo os substratos Plantmax® + terra e o caseiro os que apresentaram melhores resultados, quando se utilizou o solo de textura Argilo-arenosa.
O NF das mudas variou entre 9,66 a 17,00, sendo significativamente maior quando produzidas em sacolas e em tubetes de 280 cm3 comparadas aos tubetes de 120 cm3, independente dos substratos testados (Tabela 1). Tais resultados evidenciam que a capacidade volumétrica do recipiente influi diretamente no crescimento das plantas, limitando o desenvolvimento fisiológico, podendo afetar o crescimento da cultura após o transplantio das mudas.
DIAS et al. (2009) avaliando fontes de material orgânico (esterco bovino, húmus de minhoca e cama de peru) nas proporções 0, 20, 40, 60, 80 e 100% no substrato artificial (BioPlant-café) fertilizado com osmocote® (NPK 15-09-12) observaram que as fontes de material orgânico acrescentadas em proporções de até 40% do volume total do substrato artificial não alteram significativamente o número de pares de folhas de Coffea arabica L.. Conforme esses mesmos autores, o número de pares de folhas é uma variável a ser utilizada para definir o manejo das mudas em condições de viveiro e sua aclimatação para o plantio no campo.
As mudas apresentaram crescimento em altura entre 11,83 e 34,16 cm, observando-se maiores médias naquelas cultivadas em sacolas e em tubetes de 280 cm3 preenchidas com os substratos convencional, vermicomposto e de leguminosa (Tabela 1). Semelhantemente, SILVA et al. (2010) observaram que a H de mudas de cafeeiro conilon produzidas em sacolas (18x10 cm) foi significativamente superior as produzidas em tubetes cônicos (120 mL). DARDENGO et al. (2013) verificaram que a altura das mudas de cafeeiro conilon foi influenciada pelo recipiente, apresentando valor médio de H de 8,15 cm em tubetes (120 mL) e de 9,61 cm em sacolas (770 mL).
Cada composto orgânico, em função de suas respectivas doses, expressa de maneira diferenciada seu potencial de fornecimento de nutrientes às mudas de cafeeiro, podendo ou não ser fonte de determinado nutriente para as plantas. BRAUNET et al. (2009) observaram que o tipo de substrato influenciou no desenvolvimento das mudas.  DIAS et al. (2009), constataram que a adição de 40% de cama de peru ao substrato artificial (BioPlant-café fertilizado com osmocote® NPK 15-09-12) favoreceu o desenvolvimento das mudas do cafeeiro, enquanto o esterco bovino, independentemente da proporção utilizada, prejudicou o desenvolvimento destas. De acordo com BERILLI et al. (2014) uma das principais características observadas pelos produtores de mudas de cafeeiro para determinação do ponto de comércio é a altura das mudas.
Maior crescimento em diâmetro das mudas (2,70 mm) também foi verificado quando se utilizaram as sacolas e os tubetes de 280 cm3 repletos dos substratos convencional, vermicomposto e de leguminosa comparativamente aos tubetes de 120 cm3 de volume (2,00 mm) (Tabela 1).  De maneira similar, SILVA et al. (2010) constataram que mudas de café conilon formadas em sacolas (770 mL) apresentaram diâmetro superior ao obtido em tubetes de menor capacidade volumétrica (120 mL). Diferentemente, DARDENGO et al. (2013) observaram que o DC de mudas de cafeeiro conilon não foi afetado pelos recipientes, sendo os mesmos utilizados por SILVA et al. (2010).
GONZAGA et al. (2016) verificaram que a H e o DC das mudas de jatobá (Hymenaea courbaril L.), aos 210 dias após semeadura, não apresentaram diferença estatística entre os tipos de substratos avaliados, ficando a escolha do substrato de acordo com o custo e disponibilidade local para a produção de mudas da espécie nativa em questão.
Com relação à produção de MSPA das mudas, observou-se que as sacolas preenchidas pelos substratos convencional e contendo leguminosa proporcionaram maiores ganhos em biomassa da parte aérea, diferenciando estatisticamente dos tubetes e demais substratos testados. Foi observada uma média em MSPA entre 0,49 a 3,87 g planta-1 (Tabela 1). MENEGHELLI et al. (2016) verificaram que o uso do substrato convencional (solo + esterco bovino na proporção de 3:1) pode ser substituído pelos substratos contendo 10% e 30% de moinha, sem que haja diferença na MSPA de mudas clonais de café conilon, demonstrando o seu potencial de uso como substratos alternativos.
Para a MSR, os valores encontrados ficaram entre 0,39 a 1,11 g planta-1, não havendo diferença estatística entre recipientes e entre substratos avaliados (Tabela 1). BERILLI et al. (2014) também não notaram diferença significativa entre os tratamentos para MSR de mudas de cafeeiro conilon, avaliadas aos 120 dias após o plantio das estacas. Os tratamentos foram as proporções de 10, 20, 30 e 40% de lodo de curtume desidratado misturado ao solo e o substrato tradicional (solo + esterco bovino + areia na proporção de 1:1:1), indicando que o lodo de curtume não comprometeu o sistema radicular das mudas, promovendo um bom desenvolvimento do sistema radicular, o que pode estar relacionado ao elevado conteúdo de matéria orgânica presente neste material orgânico.
Quanto à MST, os resultados apresentaram um comportamento semelhante ao verificado para MSPA. As mudas alcançaram valores entre 0,91 a 4,93 g planta-1, sendo os maiores valores obtidos em sacolas preenchidas com substratos convencional e à base de leguminosa (Tabela 1). De modo geral, os resultados revelam o bom crescimento das mudas, cujos valores encontram-se acima da faixa estabelecida por MARANA et al. (2008) considerada como sendo razoável (1,0 a 1,8g ), excetuando-se as mudas produzidas em tubetes de 120 cm3 completados com vermicomposto (0,91 g planta-1). A produção de matéria seca permite avaliar o crescimento de plantas em resposta à radiação solar incidente, em que a quantidade total acumulada se constitui no reflexo direto da produção fotossintética líquida somada à quantidade de nutrientes (ENGEL, 1989). Diante dos resultados apresentados, é possível observar que o maior ganho de matéria seca ocorreu em sacolas, recipiente de maior volume, provavelmente em virtude dos altos teores de nutrientes disponibilizados por estes substratos.
GONZAGA et al. (2016) não encontraram diferença significativa para  MSPA, MSR e MST de mudas de jatobá, aos 210 dias após semeadura, quando formadas em diferentes substratos. Com relação aos recipientes testados, esses mesmos autores observaram que as sacolas plásticas de 15 x 20 cm proporcionaram maior produção destas variáveis, devido ao maior volume de substrato e, consequentemente, maior quantidade de nutrientes disponíveis em comparação aos tubetes com capacidade de 110 cm3.
A relação H/DC apresentou interação significativa entre recipientes x substratos. Os desdobramentos da interação e os valores médios detectados em função dos dois fatores estão apresentados na Tabela 1. Observou-se que as mudas formadas em sacolas e em tubetes de 280 cm3 alcançaram maiores médias significativas de H/DC comparados aos tubetes de 120 cm3, com exceção daquelas formadas em substratos à base de leguminosa que não apresentaram diferença estatística entre os recipientes avaliados. Independentemente dos substratos utilizados, as mudas produzidas em sacolas e em tubetes de 120 cm3 não apresentaram diferença estatística, enquanto que mudas formadas com substrato à base de gramínea, em tubetes de 280 cm3, proporcionaram maiores médias para esta relação.
De forma geral, notou-se elevados valores de H/DC que variaram de 5,67 a 28,65 indicando um efeito semelhante ao estiolamento, crescendo a muda mais em altura do que em diâmetro do caule, o que pode ser controlado com o manejo das condições no viveiro com redução nas adubações, irrigações e exposição à plena luz (MARANA et al., 2008). Esses mesmos autores estabeleceram para mudas de cafeeiro arábica, os valores médios de 4,0 para a relação H/DC que é uma variável muito utilizada como indicativo de qualidade de mudas, no entanto, VALLONE et al. (2010a) relatam que esta relação deve ser avaliada isoladamente uma vez que pode variar facilmente em função do tamanho da muda, dificultando comparações e interpretações dos dados. DARDENGO et al. (2013) verificaram para H/DC que os resultados obtidos em sacolas de 770 mL foram superiores aos em tubetes de 120 mL.
Observou-se que os recipientes estudados não influenciaram na relação MSPA/MSR das mudas cultivadas em substratos convencional e de gramínea. Entretanto, para os substratos à base de leguminosa e vermicomposto, maiores valores desta relação foram encontrados nas mudas formadas em sacolas (Tabela 1). Apenas as mudas produzidas em sacolas com substrato à base de leguminosa apresentaram valores mais adequados para MSPA/MSR de 4,22 uma vez que MARANA et al. (2008) propuseram para mudas de cafeeiro arábica os valores médios de 4,7 para esta relação. De forma geral, os baixos valores da relação MSPA/MSR verificados nesta pesquisa (inferiores a 4) indicam que as mudas não apresentaram bom desenvolvimento da parte aérea já que MARANA et al. (2008) consideram o intervalo entre 4 e 7 como sendo adequado.
A análise dos índices de qualidade H/DC e MSPA/MSR permitem avaliar a real qualidade das mudas, traduzindo-se em informações que podem auxiliar no manejo correto das mudas jovens de cafeeiro conilon em condições de viveiro. Desta forma, ao ser identificado o crescimento excessivo ou reduzido das mudas, pode-se alterar as condições de manejo como adubações, irrigações e sombreamento (DARDENGO et al., 2013). CONTARATO et al. (2010) relatam que o equilíbrio entre a parte aérea e o sistema radicular está intimamente relacionado com o desenvolvimento e a produtividade do cafeeiro.
Para o IQD observou-se interação significativa entre recipientes x substratos. Os desdobramentos da interação e os valores médios detectados em função dos dois fatores estão apresentados na Tabela 1. Maiores valores deste índice foram alcançados em mudas produzidas com substrato à base de leguminosa, em sacolas e em tubetes de 280 cm3, propiciando melhor qualidade de mudas. COVRE et al. (2013) relatam que maior valor de IQD indica melhor qualidade da muda. MARANA et al. (2008) estabeleceram para mudas de cafeeiro arábica os valores médios de 0,21 para o IQD que é considerado um bom indicador da qualidade de mudas por levar em conta em seu cálculo à robustez (MST) e o equilíbrio da distribuição da biomassa (H/DC e MSPA/MSR). A maior parte dos valores observados neste estudo são inferiores a 0,21 o que se atribui ao estresse gerado nas raízes das mudas que ocasiona maior alocação de fotoassimilados com redução da parte aérea, com consequente prejuízo ao desenvolvimento destas, corroborando os resultados apresentados por VICHIATO et al. (2004).
GONZAGA et al. (2016) não constataram diferença estatística para as características MSPA/MSR e IQD de mudas de jatobá quando produzidas em diferentes substratos, sendo avaliadas aos 210 dias após semeadura. Quanto aos recipientes estudados, os mesmos autores detectaram que as mudas formadas em sacolas plásticas de 15 x 20 cm promoveram maior relação de MSPA/MSR em comparação aos tubetes de 110 cm3, bem como o IQD.
CONCLUSÕES
Mudas de cafeeiro conilon produzidas com substrato à base de leguminosa, em sacolas plásticas de 615 cm3 e em tubetes de 280 cm3, obtiveram melhor qualidade. Este substrato também apresentou melhores valores médios para altura da planta e diâmetro do caule, quando utilizado nestes recipientes, sendo o mais indicado para a produção de mudas da cultura.
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