quinta-feira, 7 de dezembro de 2017


*Silvane de Almeida Campos

Diagnosis of the pastures of the municipality of Rio Pomba, MG


Resumo: O objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico das pastagens do município de Rio Pomba, MG. Foi realizada pesquisa bibliográfica e entrevista a 20 produtores rurais do município com aplicação de questionário com perguntas abertas. Procedeu-se a programação das visitas às propriedades dos produtores sorteados aleatoriamente. Foram abordados temas referentes ao uso, conservação e degradação das pastagens e o grau de conhecimento dos produtores sobre algumas alternativas agroecológicas. A partir desta pesquisa, fez-se uma avaliação do nível de conhecimento dos produtores e análise de todos os dados levantados nesta pesquisa. Pela visita aos estabelecimentos rurais, concluiu-se pela observação que as pastagens do referido município se encontram em diferentes estádios de degradação, predominando o nível mais crítico, com tendência à exaustão dos recursos naturais, tornando a pecuária local inviável economicamente. A maioria dos produtores rurais entrevistados desconhece os processos de degradação das pastagens e os métodos de recuperação e conservação.

Palavras-chave: Pastagem. Degradação ambiental. Agroecologia. Sustentabilidade.

Abstract: The aim of this study was a diagnosis of pastures of Rio Dove, MG. Bibliographic search was performed and an interview with 20 farmers in the municipality with a questionnaire with open questions. Proceeded to schedule visits to the properties of randomly selected producers. Were discussed regarding the use, conservation and pasture degradation and degree of knowledge of producers about some agroecological alternatives. From this research, it was an assessment of the level of knowledge of producers and analysis of all data collected in this study. By visiting the farms, it was concluded by observing that the pastures of the municipality are at different stages of degradation, predominantly the most critical level, with a tendency to exhaustion of natural resources, making the local livestock uneconomical. Most farmers interviewed are unaware of the processes of degradation of pastures and the methods of recovery and conservation.

Keywords: Pasture. Environmental degradation. Agroecology. Sustainability.


Introdução

Na região Zona da Mata Mineira como em todo Brasil a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades (MARTINS, 2009). O cenário de destruição da Mata Atlântica deu origem à implantação de lavouras, especialmente de café (Coffea arabica L.), que ao longo dos anos foi sendo substituída por áreas de pastagem e tornando-se a fonte mais comum de alimentação animal. A partir da década de 1970, ocorreu no país o processo de renovação das pastagens tropicais com a substituição de pastagens nativas degradadas por espécies exóticas provenientes do continente africano, tais como gramíneas dos gêneros Brachiaria, Panicum e Andropogon que se adaptaram bem as condições edafoclimáticas da Zona da Mata de Minas Gerais. Nos primeiros anos os produtores obtiveram ganho na produtividade, mas a falta de adubação e a ausência de manejo adequado, entre outros fatores, ocasionaram o processo de degradação, que ao longo dos tempos se intensificou (OLIVEIRA, 2007).
O município Rio Pomba, localizado na Zona da Mata Mineira, destaca-se pela degradação das pastagens como resultado do manejo inapropriado dos recursos naturais. Nestas condições, verifica-se a baixa capacidade produtiva da atividade pecuária, a forte descapitalização dos produtores, o desestímulo destes frente a esta atividade econômica e o indesejável êxodo rural. A degradação de pastagens é o processo evolutivo de perda de vigor, de produtividade, capacidade de recuperação natural para sustentar os níveis de produção e a qualidade exigida pelos animais. Além disso, perde-se a capacidade de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras, surgem áreas com solo exposto, favorecendo o processo erosivo, culminando com a degradação avançada dos recursos naturais, em razão do manejo inadequado (KONDO e RESENDE, 2001).
Em Rio Pomba - MG, o cenário de degradação das pastagens não difere do restante do país. Práticas como desmatamento; queimadas; aração vertical; cultivo exclusivo de Brachiaria spp.; formação de pastagem sem prévia análise de fertilidade do solo; falta de adubação de reposição; taxa de lotação incompatível com a capacidade suporte (superlotação animal) e o pastejo contínuo não permitem a manutenção do equilíbrio do complexo solo-forrageira-animal que é responsável pela produtividade satisfatória da pastagem em longo prazo. Estas técnicas insustentáveis passaram de geração a geração causando muita agressão ao ambiente e prejuízos econômicos aos produtores rurais. Segundo OLIVEIRA (2007), há necessidade de adotar mudanças no paradigma atual para promover a conservação e a sustentabilidade às próximas gerações.
De acordo com ARRUDA JÚNIOR (2008), com a degradação dos ecossistemas se torna um desafio viabilizar sistemas de produção com eficiência energética e conservação do ambiente. Neste contexto, a pecuária leiteira enfrenta um grande desafio em aumentar a produção com redução de custos.  Alternativas agroecológicas como construções de terraços em nível e de Barraginhas, consórcio leguminosa-gramínea, arborização de pastagem, manejo da regeneração natural, Sistemas Agroflorestais e Pastoreio Racional Voisin têm potencial para reverter este quadro de degradação das pastagens, mediante ação antrópica, tendo a natureza como sua aliada.
Entender o fenômeno da degradação de pastagem e as suas causas é essencial para formular estratégias de recuperação da produtividade dessas áreas, reduzindo, assim, as pressões de desmatamento que visam à formação de novas pastagens (DIAS-FILHO, 2007).
O objetivo principal deste trabalho foi realizar um diagnóstico das pastagens do município de Rio Pomba – MG.


Localização do município

O município de Rio Pomba localiza-se na região Zona da Mata de Minas Gerais (Figura 1). Está distante 244 Km da capital, na Latitude 21º16'31” S e Longitude 43°10'38” W. Ocupa uma área de 251,760 Km² (Instituto de Geociências Aplicadas – IGA, 2009) e apresenta uma população de 17.359 habitantes (IBGE,  estimativa 2009), temperatura média de 21º C, numa altitude média de 441 m (IBGE, 2006). Apresenta o índice médio pluviométrico anual de 1.581mm.



FIGURA 1 - Localização geográfica de Rio Pomba, MG. Fonte: Prefeitura municipal de Rio Pomba, MG, 2010.

O principal recurso hídrico do município é o Rio Pomba, pertencente à Bacia do Paraíba do Sul. O relevo apresenta 5% de sua área plana, 25% ondulada e 70% montanhosa. O solo predominante é o Latossolo Vermelho-amarelo de textura média.
O município é composto de 19 (dezenove) comunidades rurais, onde residem 923 famílias sendo a maioria de trabalhadores rurais (EMATER-MG, Rio Pomba, 2009). Apresenta 466 estabelecimentos agropecuários, sendo 85% pequenos produtores (entre 1 - 50 ha), 11% médios produtores (entre 51-100 ha) e 4% grandes produtores (entre 101 - 200 ha), (IBGE – Censo Agropecuário, 2006). Concentra 20% de sua população na Zona Rural sendo predominantemente constituída por agricultores familiares que representam um significativo número dos estabelecimentos agropecuários com bovinos (IBGE – Censo Agropecuário, 2006).  Atualmente, a atividade agropecuária se destaca em 4º lugar da economia agrícola do município. Os proprietários rurais tradicionalmente exercem a bovinocultura de leite e corte com predominância na pecuária leiteira, somando um total de 428 pecuaristas, ocupando uma área de 9.491 ha de pastagens naturais e 3.801 ha de pastagem formada (EMATER – MG, 2009).
O município é ocupado predominantemente por pastagens de Brachiaria spp.  exclusiva que possuem baixa produtividade provocada pelo extrativismo da pecuária extensiva. Estas pastagens, na maioria das vezes, são estabelecidas em áreas menos nobres das propriedades (áreas marginais), em locais de topografia acentuada, em solos de baixa fertilidade e muito ácidos, enfim, em áreas da propriedade que não são utilizadas para agricultura.
Um dos indícios de que uma pastagem se encontra em estádio de degradação é quando, em período favorável ao crescimento e desenvolvimento da forrageira, período chuvoso, esta não consegue atingir a condição de rebrota normal, havendo necessidade de intervenção antrópica como medidas de recuperação do agroecossistema.
O cenário atual mostra que a degradação ambiental vem aumentando devido à utilização de áreas indevidas para agropecuária, situação agravada pelo manejo inadequado das pastagens, solo e água. Como consequência, a perda de fertilidade natural do solo acarreta na diminuição da produtividade dos pastos que vem decrescendo ano após ano, fazendo com que aumente o empobrecimento dos produtores (OLIVEIRA, 2007).
Vale ressaltar que a exploração do solo no município de Rio Pomba – MG de forma extrativista, onde ocorre somente a retirada dos nutrientes do solo e nada é reposto a fim de restabelecer as condições de sustentabilidade natural, vem de muitas décadas, permanecendo até os dias atuais. A prática do fogo empregada, anos após anos, como sendo a alternativa mais econômica de eliminar as espécies invasoras das pastagens, ao invés de se contratar mão-de-obra para a roçada, contribuiu para o depauperamento dos recursos edáficos das propriedades do município e, consequentemente, dos recursos hídricos.


Metodologia

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para se conhecer as possíveis causas de degradação das pastagens, as práticas conservacionistas do solo e água e algumas técnicas agroecológicas em prol do desenvolvimento rural sustentável.
Aplicou-se um questionário com perguntas abertas a 20 produtores rurais do município de Rio Pomba – MG do total de 626 produtores cadastrados na EMATER-MG Rio Pomba, para levantamento do que diz respeito à formação, degradação, recuperação e manutenção das pastagens. Durante a aplicação do questionário, teve-se o cuidado de permitir total liberdade aos entrevistados, de modo, a não exercer nenhuma influência nas respostas.
A relação dos produtores rurais foi disponibilizada pela EMATER-MG Rio Pomba, onde foi realizada a escolha aleatória dos produtores. A partir desse momento, foi elaborada a programação das visitas aos estabelecimentos rurais e ao término das entrevistas foi feita a análise dos dados levantados nas pesquisas.


Resultados e discussão
Nível de escolaridade dos produtores rurais
Pode-se observar pela Figura 2 que entre os 20 produtores rurais entrevistados no município de Rio Pomba – MG, 80% possuem 1º Grau incompleto, 10% concluíram o ensino fundamental e 10% concluíram curso superior.


FIGURA 2 - Nível de escolaridade dos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Os que possuem 1º Grau incompleto alegaram que na época em que deveriam ter estudado não tiveram oportunidade, pois precisavam ajudar os pais a trabalharem no campo e não recebiam incentivos para os estudos.
Serviço de Assistência Técnica
No transcurso da pesquisa foi perguntado aos produtores rurais se conheciam os órgãos de Assistência Técnica que prestam serviços ao município de Rio Pomba - MG. Foi perguntado também se a propriedade recebia assistência técnica e se a mesma é programada, ou seja, se há um calendário; e se as propriedades recebiam assistência técnica na formação, recuperação e manutenção das pastagens.
Observa-se pela Figura 3 que 100% dos produtores entrevistados responderam que conhecem o engenheiro agrônomo da EMATER-MG Rio Pomba. Destes, 90% recebem assistência técnica gratuita e ocasional somente pela EMATER-MG do município, enquanto, os 10% restantes recebem assistência gratuita e ocasional deste mesmo órgão e também da Prefeitura Municipal de Rio Pomba - MG com um programa relacionado à inseminação artificial de bovinos, completamente gratuito. Embora os produtores rurais recebam assistência técnica ocasional esta ainda é deficiente.


FIGURA 3 - Serviço de Assistência Técnica prestado aos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Alguns produtores relataram que quando precisam de orientação técnica para sanar alguma dúvida comparecem a EMATER-MG. Contudo, observou-se a insatisfação de um produtor rural quanto ao programa de assistência técnica do município:

“O extensionista da EMATER-MG, de vez em quando, aparece aqui na minha propriedade. Muito raramente”. (Pequeno produtor, 1º Grau incompleto).

A capacitação dos produtores e o acompanhamento da assistência técnica são fatores primordiais para que haja o uso sustentável das pastagens. Entretanto, essa condição não vem sendo alcançada ou devidamente promovida.

Projeto relacionado à formação, reforma ou manutenção de pastagem com acompanhamento técnico

Pode-se analisar pela Figura 4 que no município de Rio Pomba – MG os 20 produtores rurais entrevistados não possuem projeto de formação, reforma e manutenção de pastagens com acompanhamento técnico.


FIGURA 4 - Falta de projeto relacionado à formação, reforma ou manutenção de pastagem com acompanhamento técnico para os produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Grande parte das áreas de pastagem foi formada apenas com conhecimento dos próprios produtores e utilizaram o modelo convencional (aração, gradagem e semeadura). Os produtores não se pronunciaram a respeito de reforma ou manutenção da pastagem.

Exploração pecuária: objetivo da propriedade

A Figura 5 demonstra que 80% dos produtores entrevistados apresentam como objetivo da propriedade a pecuária leiteira e 20% destes a pecuária de corte.
A maioria destes produtores segue a tradição de trabalhar com a pecuária leiteira. Essa cultura herdada de pais para filhos ainda é preservada mesmo que a renda proveniente do leite não seja satisfatória. Os gastos com concentrados e medicamentos para o rebanho (bovinos) e outros insumos adquiridos para a produção do leite elevam os custos de produção e o preço do produto (leite) é estipulado pelo mercado, tornando essa alternativa inviável economicamente aos trabalhadores rurais. Os produtores permanecem desestimulados e buscam novas alternativas para incrementar a renda. Estes somente conseguem sobreviver no campo com renda adicional, diferentemente da pecuária, como o cultivo de algumas espécies (fumo, pimenta); criação de animais (suínos e aviários); aposentadoria; prestação de serviços à prefeitura (transporte de alunos); produção de queijos para queijaria Santa Maria; confecção de biscoitos caseiros e doces de frutas comercializados em feiras livres. Um dos produtores entrevistados é vereador. Outro produtor alegou que a esposa precisa trabalhar em Tabuleiro - MG para ajudar nas despesas domiciliares. Um dos entrevistados exerce a profissão de engenheiro agrônomo.


FIGURA 5 - Objetivo da propriedade em relação à exploração pecuária de Rio Pomba, MG.

Um produtor demonstrou o seu descontentamento em relação ao seu rendimento, argumentando que:
“A renda mensal proveniente da venda do leite, após o pagamento de ração e remédio para o gado, o que sobra não paga a conta de luz da minha casa”. (Médio produtor rural, 1º Grau incompleto, 65 anos).

Degradação da pastagem

Pela Figura 6 percebe-se que 25% dos produtores rurais entrevistados foram informados sobre a degradação de pastagens, as possíveis causas e os prejuízos que esta degradação ocasiona aos proprietários rurais. A maioria dos entrevistados (75%) não foi informada quanto ao processo de degradação da pastagem.


FIGURA 6 - Informação sobre degradação de pastagem aos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

Estes desconhecem completamente as causas que levam a degradação deste agroecossistema. Isto ajuda a explicar o motivo pelo qual as pastagens do município se encontram em diferentes estádios de degradação com predomínio do nível mais elevado de degradação física, química e biológica do solo.
Há, portanto, uma necessidade de informar os produtores rurais sobre este assunto e conscientizá-los da importância de se preservar e conservar os recursos naturais.

Formação da pastagem

Na Figura 7, observa-se que a maioria dos entrevistados (55%) disse que formaram suas pastagens num período de 12 a 20 anos; 20% destes formaram num período de 5 a 12 anos e 25% dos entrevistados não sabem quando suas áreas de pastejo foram implantadas, pois no momento em que adquiriram as propriedades as pastagens já existiam. Do total dos produtores que sabem o tempo de formação de suas pastagens (75%), a maioria representada por 73,33% estabeleceram a forrageira baseados no conhecimento popular e também porque a maioria dos vizinhos ou conhecidos usava o sistema convencional; 20% dos que responderam a pesquisa contaram que receberam orientação técnica ao procurarem pela EMATER-MG do município e somente um produtor (6,67%) detinha conhecimento técnico suficiente para implantar sua pastagem e, além disso, neste período, prestava serviço voluntário a EMATER-MG.


FIGURA 7 – Tempo de formação das pastagens do município Rio Pomba - MG.

A maioria dos produtores formou as pastagens de modo convencional (aração, gradagem, adubo químico e semeadura), alegando ser a técnica mais rápida e menos onerosa em relação à contratação de mão-de-obra para trabalho manual. Alguns pecuaristas, representados pela minoria, escolheram técnicas de produção mais sustentáveis: a) semearam a lanço a Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha cv. Marandu (capim Braquiarão) na plantação do milho (Zea mayz L.). b) Arrancaram as espécies invasoras, jogaram as sementes e as misturaram na terra com auxílio da enxada, deixando as invasoras sobre a pastagem com intuito de incorporar matéria orgânica no sistema; afirmaram que este procedimento é mais demorado e a pastagem foi formada, gradativamente, somente com uso de mão-de-obra familiar. c) Um produtor utilizou arado de tração animal e semeou Brachiaria spp. a lanço. d) Um pequeno produtor trabalhou com integração lavoura-pecuária, quando após a colheita do milho, formou o pasto semeando a lanço um coquetel de forrageiras (Brachiaria decumbens, Brachiaria brizantha cv. Marandu, Tifton, Tanzânia, capim gordura - Melinis minutiflora).

Recuperação e conservação de pastagem

Por intermédio da Figura 8 nota-se que somente 15% dos produtores que responderam a pesquisa obtiveram alguma informação sobre recuperação e conservação de pastagem. A maioria dos produtores, representada por 85%, não foi informados sobre o procedimento de recuperar e conservar o pasto.


FIGURA 8 - Informação sobre recuperação e conservação de pastagem aos produtores rurais de Rio Pomba, MG.

A tomada de decisão para proceder à recuperação de uma pastagem e a escolha da tecnologia a ser aplicada dependerá do estádio de degradação em que esta se encontra e dos recursos financeiros disponíveis pelo produtor.  
O uso da adubação para recuperar a fertilidade do solo ou adaptar meios para isso com auxilio de algumas práticas como integração lavoura-pecuária, uso de leguminosas, adubação verde, arborização de pastagens, emprego dos sistemas agroflorestais (silvipastoril e agrossilvipastoril) torna-se uma estratégia agroecológica para recuperar ambientes alterados, reduzindo custos quando comparados aos sistemas de produção tradicionais. A adoção de técnicas agroecológicas será indispensável no processo de recuperação e conservação das pastagens do município, a médio e longo prazo, por meio do aporte de matéria orgânica no agroecossistema, fixação biológica de nitrogênio pelas espécies leguminosas e uso de práticas conservacionistas nas pastagens.


Conclusão

A maioria dos produtores rurais entrevistados desconhece os processos de degradação das pastagens e os métodos de recuperação e manutenção.
Os produtores não realizam práticas sustentáveis, por questões diversas como a falta de: informação; recursos financeiros; apoio dos órgãos competentes (incentivos governamentais, subsídios estatais) e assistência técnica.
A recuperação de pastagens degradadas requer investimento muito elevado, em alguns casos semelhantes àqueles referentes ao seu estabelecimento. Desta forma, a busca de sistemas de produção sustentável é premente. Torna-se importante que os produtores modifiquem suas estratégias de utilização das pastagens incorporando novas técnicas de manejo.
As alternativas agroecológicas mencionadas neste trabalho têm potencial para reverter o panorama de degradação em que as pastagens do referido município se encontram, em médio e longo prazo, proporcionando sustentabilidade sócio-econômica e ambiental às famílias rurais. Para isso, efetivamente, deverão ser elaboradas e implementadas políticas públicas com tais características, ou seja, com caráter marcadamente sócio-ambiental, e com disposição descentralizadora.


Referências

ARRUDA JÚNIOR, L.C. Implantação e manejo de pastagens num sistema de produção agroecológico. 2008. 94f. (Trabalho de conclusão de curso) – Escola Agrotécnica Federal de Concórdia, Concórdia, SC, 2008.

DIAS-FILHO, M.B. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. Belém, PA. 3ª Ed. Embrapa Amazônia Oriental, 2007.190p.

EMATER-MG – EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. 2009.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censo Agropecuário, 2006.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Estimativa, 2009.

IGA – Instituto de Geociências Aplicadas – 2009.

KONDO, M.; RESENDE, A. Recuperação de Pastagens Degradadas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte/MG, v.22, n.210, p.36-44, maio/jun. 2001.

MARTINS, S.V. Recuperação de Áreas Degradadas: Ações em áreas de preservação permanente, voçorocas, taludes rodoviários e de mineração. Viçosa: Editora Aprenda Fácil, 2009. 270p.

OLIVEIRA, L.A. Manejo Ecológico das pastagens. Apostila da Disciplina Manejo Ecológico de Pastagens do Curso Superior em Agroecologia. Rio Pomba: CEFET, 2007. 87p.





*Doutoranda e Mestra em Agroecologia e Bacharel em Agroecologia pelo IF Sudeste de Minas campus de Rio Pomba.


O QUE DEVO FAZER PARA OBTER ELEVADAS PRODUTIVIDADES EM SOJA?



*Silvane de Almeida Campos

Na prática, o crescimento, desenvolvimento e rendimento da cultura da soja (Glycine max L.), resultam da interação entre o potencial genético de uma determinada cultivar com o ambiente. Os produtores, por intermédio de práticas de manejo, podem manipular o ambiente de produção. No entanto, vários cuidados devem ser tomados para que a cultura da soja expresse sua produção potencial, que vão desde a escolha da cultivar, ao adequado ambiente de cultivo. Requer cuidados quanto à escolha da área, na implantação da lavoura, no manejo, no momento da colheita e da secagem.

Escolha da área
Na escolha da área, características como relevo, textura e drenagem devem ser consideradas, evitando-se solos excessivamente arenosos, com menos de 15% de argila, com baixa capacidade de armazenamento de água e nutrientes e alta suscetibilidade à erosão. O excesso de água no solo pode causar danos ao sistema radicular das plantas de soja. No entanto, considera-se a umidade ideal para o cultivo da soja quando o solo atinge 50 a 80% da sua capacidade de campo.
Precisa-se realizar o mapeamento das glebas, a correta amostragem do solo e sua análise química e física. Seguir as recomendações de calagem e de adubação para a cultura da soja. A calagem além de neutralizar o alumínio trocável será uma forma de suprimento de Ca e Mg. No período de 4 a 5 anos, se houver necessidade, deverá realizar nova calagem.

Definição da melhor cultivar de soja a ser utilizada
As cultivares de soja são influenciadas por fatores ambientais como a fertilidade do solo, a disponibilidade hídrica, a temperatura, a luminosidade e a ocorrência de doenças. Na prática, o crescimento, desenvolvimento e rendimento da soja resultam da interação entre o potencial genético de um determinado cultivar com o ambiente. Existe interação perfeita entre a planta de soja e o ambiente, de maneira que, quando ocorrem mudanças no ambiente, também ocorrem no desenvolvimento da planta. Na escolha da cultivar, sugere-se atenção à área de indicação, ciclo, resistência a doenças e exigências em épocas e densidades de semeadura, além de altitude e condições de solo.
O produtor precisa definir a cultivar de soja a ser utilizada de acordo com o grupo de maturidade predominante na região, pois cada cultivar tem uma faixa limitada de adaptação em função do seu grupo de maturidade. Também, deverá levar em consideração a capacidade para alto potencial produtivo, a resistência ao acamamento e as principais doenças que afetam a cultura e conhecimento sobre o fotoperíodo crítico que interferirá no comportamento da cultivar (desenvolvimento e floração).
Fazer o levantamento do histórico da área a ser cultivada com soja é de fundamental importância. Com isso o produtor poderá escolher, com grande chance de acerto, a cultivar mais apropriada para cada gleba, sendo resistente a maioria das doenças verificadas.
É recomendado o uso de cultivar resistente a deiscência da vagem.
O produtor que optar pela soja intacta (Bt RR2), que é resistente a lagarta Bt e tolerante ao herbicida Glyphosate, precisa-se realizar a área de refúgio.

Cultivo de plantas de cobertura antecedendo a cultura da soja
Em busca de um sistema de produção mais sustentável, o cultivo da soja deverá ser realizado em sistema de plantio direto. Este sistema fundamenta-se na ausência de revolvimento do solo, na permanência da sua cobertura e na rotação de culturas. Para esse sistema, recomenda-se o uso de plantas de cobertura adaptadas às condições edafoclimáticas da região. Estas plantas apresentam particularidades de manejo que devem ser conhecidas e utilizadas de forma a obter os melhores resultados em função da cobertura de solo, controle de invasoras, alta relação C/N (carbono/nitrogênio), reciclagem de nutrientes e facilidade de semeadura da soja com melhor desempenho da plantadeira.
O manejo das culturas de cobertura pode ser realizado por roçadeira, segadeira, rolo-faca ou herbicidas durante a fase de floração, antes que ocorra a maturação das sementes. Mantém-se a palha seca distribuída uniformemente sobre a superfície, garantindo a proteção do solo. Os herbicidas mais utilizados para esse fim são o 2,4-D, Diquat, Glyphosate e Paraquat que deverão ser aplicados de acordo com as dosagens recomendadas e no momento propício, a fim de garantir melhor eficiência da prática. O cultivo da soja em sistema de plantio direto traz vantagens como redução da erosão, aumento do aporte de matéria orgânica no solo, supressão de plantas espontâneas, infiltração de água e conservação da umidade, propicia melhorias nas propriedades do solo, manutenção de inimigos naturais na área, além da redução dos custos de produção.

Semeadura
O produtor após definir a cultivar de soja, antes da semeadura, deverá fazer o teste de germinação com papel toalha ou leito de areia e utilizar as sementes com vigor igual ou maior que 80%, pois o sucesso do estabelecimento da lavoura dependerá da boa qualidade das sementes.
Para maior precisão na semeadura recomenda-se também confirmar o peso médio de 100 sementes.
Deverá tratar as sementes com fungicida, aplicar os micronutrientes molibdênio e cobalto que irão atuar no processo de fixação biológica de N2 (FBN) e, também, realizar os procedimentos adequados para a inoculação das sementes com estirpes de bactérias do gênero Bradyrhizobium, no dia do plantio, e caso seja o primeiro ano de cultivo da soja na área, deverá usar 3 vezes a dose indicada. A inoculação das sementes é indispensável, pois a fixação biológica de nitrogênio atmosférico é a principal fonte de N a cultura da soja.
Quando se utilizar fungicidas no tratamento de sementes, pode-se aplicar 2 a 3 g de Co/ha e 12 a 25 g de Mo/ha via pulverização foliar, entre os estádios fenológicos V3 a V5 que contribuirão para aumentar a eficiência da FBN. Não se deve aplicar fertilizado nitrogenado em excesso, pois se ultrapassar 20 kg de N mineral reduzirá a fixação biológica.
Deverá respeitar a época de semeadura mais indicada para a região em função da umidade, temperatura e fotoperíodo que são fatores importantes para a definição da duração do ciclo, altura da planta e produção de grãos. Devido à sensibilidade da soja ao fotoperíodo, a adaptabilidade de cada cultivar varia à medida em que se desloca o seu cultivo em direção ao sul ou norte de acordo com a variação da latitude. Normalmente a semeadura da soja ocorre no período compreendido entre outubro a 15 de dezembro.
O solo, por ocasião da semeadura, deve apresentar boa umidade em todo o perfil para garantir boa germinação e emergência das plântulas, e alta taxa de crescimento das plantas na fase inicial. Adequada condição de umidade e aeração do solo aumentará a chance de obtenção da população de plantas desejada, em número e uniformidade. Cultivares de soja que apresentam ciclo de 100 dias necessitam de 700 a 800 mm de chuva para promover adequadas condições de germinação e emergência, desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, maturação e colheita.
A temperatura média do solo, adequada para a semeadura da soja, vai de 20 ºC a 30 ºC, sendo 26 ºC a temperatura ideal para uma emergência rápida e uniforme.
É fundamental realizar o plantio na profundidade correta (3 a 4 cm) que influenciará na emergência das plântulas, na velocidade de emergência, no estande final, altura das plantas e produtividade de grãos de soja.
Quanto ao espaçamento entrelinhas, de modo geral, os resultados mais favoráveis em termos de rendimento são obtidos com os menores espaçamentos (40 a 50 cm).
A população de plantas e a densidade de semeadura deverá ser a recomendada para à cultivar de soja escolhida pelo produtor.
Após o manejo das plantas de cobertura e a preparação das sementes, efetua-se a semeadura da soja com plantadeiras especializadas para o plantio direto previamente reguladas e testadas quanto ao dosador de semente, o controlador de profundidade e o compactador de sulco. O sucesso da lavoura inicia-se pela semeadura bem feita.

Análise foliar
Deve-se proceder a análise foliar, coletando-se a 3ª folha (3º trifólio desenvolvido) com pecíolo, pois a interpretação destas análises permite identificar os nutrientes que estão interferindo na produtividade da lavoura e agir para sua correção, contribuindo para melhorar as recomendações de adubação, evitando-se as deficiências nutricionais. Uma adubação mais equilibrada é fundamental para o melhor desempenho da cultura.
Manejo preventivo de doenças
Com a adoção do manejo preventivo de doenças, o produtor deverá observar, periodicamente, sua lavoura com auxílio de uma lupa e, quando necessário, realizar o controle o mais rápido possível, aumentando-se a chance de êxito no controle de determinada doença, principalmente a ferrugem asiática causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd., considerada uma das principais doenças que afeta a cultura com alto potencial de dano, entre outras. Quando a ferrugem asiática já está instalada, o uso de fungicidas é, até o momento, o principal método de controle, seguindo-se as informações a respeito das épocas e número de aplicações que são fundamentais para um controle mais eficiente do fungo.

Controle de pragas
Para o controle de pragas na cultura da soja, o produtor deverá realizar, semanalmente, o monitoramento da lavoura com o pano-de-batida.
É importante diversificar as cultivares fazendo-se a rotação destas na mesma área, evitando-se o aumento de doenças radiculares, pois entre as cultivares há níveis diferentes de suscetibilidade às doenças e nematoides de galha e de cisto (problema atual).
Na rotação de culturas, devem-se alternar os cultivos de soja com outras culturas em cada ano agrícola, por exemplo, para controlar nematoides cultiva-se o milho seguido da soja, de milho, de algodão, de milho e da soja. Assim, a área permanecerá sem o cultivo da soja por três anos consecutivos, aumentando-se a eficiência do controle desta praga.
O Manejo Integrado de Pragas é uma das indicações para controle da lagarta Helicoverpa armigera na lavoura da soja, praga que gerou grande prejuízo aos produtores na safra passada. Medidas de verificação das lavouras devem ser adotadas sistematicamente para que não haja aplicações desnecessárias de defensivos biológicos ou químicos, preservando os inimigos naturais. Segundo a Embrapa, os inimigos naturais estão agindo no controle desta nova praga.

Controle de plantas invasoras
As plantas invasoras competem com a soja por luz, água e nutrientes. Operações de cultivo, uso de herbicidas, obtenção de estandes uniformes e rotação de culturas são métodos úteis para controlar estas plantas indesejáveis.
O reconhecimento prévio das plantas invasoras predominantes na área, a serem controladas, é condição básica para a escolha do herbicida adequado e para a obtenção de resultados eficientes com esse método de controle. Deve-se utilizar herbicidas pós-emergência para as condições locais. É importante conhecer as especificações do produto antes de sua utilização e a regulagem correta do equipamento de pulverização e não aplicar quando houver presença de alta intensidade de orvalho e/ou imediatamente após uma chuva; em presença de ventos fortes (> 8 Km/h); quando as plantas de soja e as infestantes estiverem sob estresse hídrico; pode-se utilizar baixo volume de calda de aplicação (mínimo de 100 L/ha), se as condições climáticas forem favoráveis e observadas as recomendações do fabricante (tipo de bico, produtos); a aplicação deve ser realizada em ambientes com umidade relativa superior a 60%.
Em áreas menores, as plantas invasoras também poderão ser controladas com utilização de roçadeira motorizada costal, ficando a critério do produtor.

Fase reprodutiva
Não poderá faltar água e nutrientes durante a fase compreendida entre a floração e enchimento dos grãos.
Se a densidade de plantas for adequada, o rendimento (peso total das sementes) pode ser dividido em três componentes: o número total de vagens produzidas por planta, número de sementes produzidas por vagem e o peso por semente (tamanho da semente). Geralmente a maioria dos ganhos na produção resulta de aumentos no número total de vagens por planta, principalmente quando se obtêm maiores rendimentos. Os limites superiores para o número de sementes por vagem e o tamanho das sementes são definidos geneticamente. Condições de estresse como temperatura alta ou deficiência de umidade reduzem o rendimento em virtude da redução de um ou mais destes componentes de produção.

Colheita
É prática comum fazer a dessecação da soja com uso de Paraquat, no estádio fenológico R7, com a finalidade de antecipar a sua colheita.
Colhe-se a soja com teor de umidade entre 13 e 15%, utilizando-se as colheitadoras para o sistema de plantio direto, que são bastante sofisticadas.
Plantas com altura acima de 60 cm, por ocasião da maturação, contribui para reduzir as perdas de grãos na operação de colheita, o que não deve ultrapassar de 0,5 a 1 saco/ha.
A não ocorrência de plantas infestantes na área favorecerá a eficiência da colheita.

Secagem dos grãos de soja
Após a colheita, os grãos de soja são submetidos ao processo de secagem. Durante a secagem, a água deve ser evaporada para que os grãos reduzam sua umidade a níveis que possibilitem armazenamento seguro. Este procedimento requer cuidados, pois grãos de soja com maior umidade deverão ser secados em temperatura menor, evitando-se o cozimento destes.
Na secagem artificial, a fonte de calor pode ser variável. A secagem de sementes mediante convecção forçada do ar aquecido compreende, essencialmente, dois processos simultâneos: movimento de água do interior para a superfície da semente, em virtude do gradiente de potencial hídrico entre as duas regiões e a transferência de água da superfície da semente para o ar circundante. Esse tipo de secagem permite o controle da temperatura, do fluxo do ar de secagem e do tempo de exposição das sementes ao ar aquecido, fatores fundamentais para garantir a eficiência do processo.
A secagem natural é baseada nas ações do vento e do sol para a remoção da umidade das sementes. Cuidados especiais devem ser tomados para que as sementes não sofram aquecimento excessivo e que a secagem ocorra do modo mais uniforme possível. Este método é indicado para reduzida quantidade de sementes. Apesar de apresentar baixo custo, é um método lento, e as sementes não devem ser expostas em camadas superiores a 4-6 cm, com revolvimento periódico. Apresenta desvantagens que decorrem do intensivo uso de mão de obra, uma vez que as operações geram baixo rendimento e o processo é totalmente dependente das condições climáticas disponíveis.
Diante do exposto, se houver um planejamento e manejo adequado do cultivo da soja em sistema de plantio direto, o produtor terá grande chance de incrementar a produtividade com obtenção de lucros bastante satisfatórios e maior sustentabilidade da produção.


*Doutoranda e Mestra em Agroecologia e Bacharel em Agroecologia pelo IF Sudeste de Minas campus de Rio Pomba. 

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