sábado, 17 de maio de 2008

Visita técnica do CEFET-RP à EMBRAPA Sete Lagoas


* Por Maurício Novaes Souza
Publicado em: www.cefetrp.edu.br em 03-05-2008

No dia 7 de abril a turma de Agroecologia e funcionários do CEFET-RP, sob a coordenação da Professora Maria Dalva Trivellato e acompanhados pelo Professor Maurício Novaes, visitaram a EMBRAPA Sorgo e Milho, localizada em Sete Lagoas, MG. A visita técnica teve por objetivos conhecer dois projetos de repercussão nacional: o projeto “barraginhas” e a horta comunitária.

1) Projeto “Barraginhas”: Um projeto social para colheita de enxurradas
Os danos causados pela erosão em solos cultivados são reflexos de manejo inadequado de solos. No início da exploração de uma área virgem, quando as terras estão cobertas com matas ou pastagens naturais, a necessidade de conservação do solo é praticamente nula, pois o sistema está em equilíbrio e a erosão é mínima. Após o desmatamento para exploração da terra, verifica-se geralmente grande degradação causada pela erosão, principalmente na forma invisível, a erosão laminar, que remove o solo em suas camadas superficiais.
Com o desmatamento, foram introduzidas pastagens artificiais, com maior densidade de gado e conseqüente compactação do solo. Alguns produtores rurais mineiros, percebendo logo os danos que viriam a ocorrer em seus solos, começaram, a partir da iniciativa de alguns entusiastas, a construir barraginhas em regiões isoladas.
O Projeto Barraginha de Conservação do solo e da água tem um sentido social muito grande, pois a sua ação visa amenizar os efeitos de períodos de seca, veranicos, bem como garantir o suprimento de água de boa qualidade nas cisternas e cacimbas e do próprio córrego para as populações ribeirinhas, com diminuição significativa de poluição fecal, dentre outras. Com isso, haverá uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, o que poderá reduzir problemas de saúde e conseqüentes internamentos hospitalares, principalmente de crianças e idosos.
Outros efeitos benéficos decorrentes do sistema de barraginhas é amenizar enchentes, propiciar agricultura de safrinha pós-período chuvoso e permitir criatórios de peixes nos baixios, pela elevação do lençol freático, aflorando nos tanques. A oferta de água, em quantidade e qualidade compatíveis, ensejará uma redução nos custos de tratamento de água pelos órgãos públicos responsáveis, gerando um benefício para toda a sociedade. Na foto abaixo se observa um grupo de alunos da Agroecologia, próximos a uma barraginha, acompanhando a palestra do Mestre Luciano, funcionário da EMBRAPA e responsável pelo projeto.

Essa tecnologia, apesar de não ser nova, estava em esquecimento e praticamente sem uso. No ano de 1991, foi iniciada a construção das primeiras obras para contenções de enxurradas, na área experimental da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, Minas Gerais. Com forte mobilização local e regional, hoje há vários focos de ações em municípios mineiros, e em diversos estados brasileiros. Como exemplo, somente no município de Sete Lagoas-MG já foram construídas mais de 3.000 barraginhas. A eficiência desse sistema para a conservação do solo e água poderá ser aumentada com a adoção de outras práticas conservacionistas complementares, como, por exemplo, curvas de nível, plantio direto, plantio de matas de topo, matas ciliares, etc.

2) Horta Comunitária
Esse projeto surgiu a partir de uma parceria entre a Prefeitura de Sete Lagoas e a CEMIG. Foi elaborado pela EMBRAPA e hoje é supervisionado pela EMATER, com o apoio logístico da Prefeitura.
Consiste em aproveitar uma faixa de 3,5 km de avenida situada dentro de um bairro pobre de periferia, para a produção de verduras e legumes. No início o público atendido era apenas composto por aposentados. Hoje, além desse público, 25% é composto por famílias cujo chefe de família esteja desempregado.

Na Foto acima se observa um grupo de alunos da Agroecologia e o funcionário Sr. César do CEFET-RP, em conversa com um dos beneficiados do projeto. Este Senhor tem 78 anos de idade e trabalha o dia inteiro. Conta como a sua vida melhorou após sua entrada no projeto: em qualidade de vida, no aumento da auto-estima, e na melhoria da renda familiar. Cada família recebe um lote de 450 m2 e pode obter uma renda extra que varia entre R$ 300 e R$ 600.

Considerações
Essa é a filosofia do CEFET-RP: a busca incansável pelo Desenvolvimento Sustentável. Não existem limites por parte de seus professores, funcionários e alunos, com o apoio incondicional do Diretor Mário Sérgio Costa Vieira, em buscar novas tecnologias e projetos de sucesso que sejam viáveis de serem implantados em nosso município.
No caso das barraginhas, a oferta de água, em quantidade e qualidade compatíveis, ensejará uma redução nos custos de tratamento de água pelos órgãos públicos responsáveis, gerando um benefício para toda a sociedade. A contenção de águas de enxurrada nas barraginhas ocasionará a redução de assoreamento de córregos e rios, tão comuns em nosso município.
A comercialização de produtos horti-fruti-granjeiros em Rio Pomba poderia ser ampliada em função do aumento de produção gerado pelo incremento de disponibilidade de água em solos férteis, que é um dos principais benefícios do projeto, gerando expectativa e estímulo aos produtores rurais, e até mesmo pela população urbana. Isso fortalecerá as condições sócio-econômicas dos agricultores, que poderão associar-se na aquisição e utilização de implementos agrícolas e animais, na industrialização, transporte e comercialização.
Pode-se concluir, sem nenhum receio, que a idealização e realização de Projetos de baixo custo como estes, cumprem plenamente seus objetivos sócio-econômicos e ambientais. Abrem um novo horizonte para que novos programas de apoio e desenvolvimento possam surgir e, assim, contribuir com melhoria nas condições de trabalho e na qualidade de vida dos produtores rurais e de suas famílias. Trazem uma nova esperança e fôlego para adiar ou até mesmo evitar o êxodo rural – problema que já se manifesta em nosso município. O CEFET-RP tem profissionais preparados para o desenvolvimento de projetos como esses: no entanto, é fundamental a parceria com os órgãos municipais competentes.

* Maurício Novaes é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutorando em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do CEFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente, EAD em Gestão Ambiental e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É conselheiro do COPAM e da SEMAD - Zona da Mata, MG. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

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