por Stephen Kanitz
Muitos leitores
perguntaram ao longo deste mês qual era a minha agenda oculta. Meus textos são
normalmente transparentes, sou pró-família, pró-futura geração, pró-eficiência,
pró-solidariedade humana e responsabilidade social. Mas, como todo escritor,
tenho também uma agenda mais ou menos oculta. Sempre que posso dou uma
alfinetada nas pessoas arrogantes e prepotentes.
Uma vez no governo,
parece que ninguém mais ouve. Eles confundem ser donos do poder com ser donos
da verdade. Fora do governo, continuam não ouvindo e, quando escrevem em
revistas e jornais, é sempre o mesmo artigo: "Juro que eu nunca
errei". Toda nossa educação "superior" é voltada para falar
coisas "certas". Você só entra na faculdade se tiver as respostas
"certas". Você só passa de ano se estiver "certo".
Nosso sistema de
ensino valoriza mais a certeza do que a dúvida. Valoriza mais os arrogantes do
que os cientificamente humildes. É fácil identificar essas pessoas, elas jamais
colocam seus e-mails ou endereços nos artigos e livros que escrevem. Para quê,
se vocês, leitores, nada têm a contribuir? Elas nunca leram Karl Popper a
mostrar que não existem verdades absolutas, somente hipóteses ainda não
refutadas por alguém. Pessoalmente, não leio artigos de quem omite seu endereço
ou e-mail. É perda de tempo. Se elas não ouvem ninguém, por que eu deveria
ouvi-las ou lê-las? Todos nós deveríamos solenemente ignorá-las, até elas se
tornarem mais humildes e menos arrogantes. Como não divulgam seus e-mails,
ninguém contesta a prepotência de certas coisas que escrevem, o que aumenta
ainda mais a arrogância dessas pessoas.
O ensino inglês e o
americano privilegiam o feedback,
termo que ainda não criamos em nossa língua – a obrigação de reagir à
arrogância e à prepotência dos outros. Alguém precisa traduzir bullshit, que é dito na lata,
sempre que alguém fala uma grande asneira. Recentemente, cinco famosos
economistas brasileiros escreveram artigos diferentes, repetindo uma insolente
frase de Keynes, afirmando que todos os empresários são "imbuídos de
espírito animal". Se esse insulto fosse usado para caracterizar mulheres,
todos estariam hoje execrados ou banidos. "A proverbial arrogância de
Larry Summers", escreveu na semana passada Claudio de Moura e Castro, "lhe
custou a presidência de Harvard." Lá, os arrogantes são banidos, mas aqui
ninguém nem sequer os contesta. Especialmente quando atacam o inimigo público
número 1 deste país, o empreendedor e o pequeno empresário.
Minha mãe era
inglesa, e dela aprendi a sempre dizer o que penso das pessoas com quem
convivo, o que me causa enormes problemas sociais. Quantas vezes já fui
repreendido por falar o que penso delas? "Não se faz isso no Brasil, você
magoa as pessoas." Existe uma cordialidade brasileira que supõe que
preferimos nunca ser corrigidos de nossa ignorância por amigos e parentes, e
continuar ignorantes para sempre. Constantemente recebo e-mails elogiando minha
"coragem", quando, para mim, dizer a verdade era uma obrigação de
cidadania, um ato de amor, e não de discórdia.
O que me convenceu a
mudar e até a mentir polidamente foi uma frase que espelha bem nossa cultura:
"Você prefere ter sempre a razão ou prefere ter sempre amigos?". Nem
passa pela nossa cabeça que é possível criar uma sociedade em que se possa ter
ambos. Meu único consolo é que os arrogantes e prepotentes deste país, pelo
jeito, não têm amigos. Amigos que tenham a coragem de dizer a verdade, em vez
dos puxa-sacos e acólitos que os rodeiam. Para melhorar este país, precisamos
de pessoas que usem sua privilegiada inteligência para ouvir aqueles que as
cercam. Se você conhece um arrogante e prepotente, volte a ser seu amigo. Diga
simplesmente o que você pensa, sem medo da inevitável retaliação. Um dia ele
vai lhe agradecer.