sábado, 30 de novembro de 2019

Família Kern - A AGROECOLOGIA E O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR

ALINE MARCHIORI CRESPO
CLEBER CÁSSIO FERREIRA
DALILA DA COSTA GONÇALVES
FERNANDA PEREIRA SOARES CARIAS
INGRID GABRIELLA DA HORA CARRIÇO
                                        MÁRCIO FANTTINI POLESE


Trabalho apresentado à disciplina de Agroecologia do Programa de Pós-graduação em Agroecologia do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus de Alegre - IFES/Alegre, como requisito parcial para avaliação.


Orientador: Prof. Dr. Maurício Novaes Souza

INTRODUÇÃO

A “Revolução Verde” teve início a partir da década de 1950 nos Estados Unidos e na Europa, e nas décadas seguintes espalhou-se em outros países. Trata-se de um pacote tecnológico que tornou a agricultura dependente do uso intensivo de insumos externos e industriais, mecanização, biotecnologias como sementes geneticamente modificadas (híbridos e transgênicos) e ao monocultivo, trazendo algumas consequências para a saúde humana, e para o meio ambiente (MILLER, 2008).
As estratégias do agronegócio resultaram num processo de modernização tecnológica que garantiria a diminuição nos custos de produção e aumentos estrondosos de produtividade, como forma de suprir a demanda por alimentos no mundo. Entretanto, o que notoriamente vem se observando são destruições em todos os níveis, como os desequilíbrios naturais, através da extração excessiva dos recursos naturais, degradação do solo, poluição de rios e lagos; um aumento expressivo do êxodo rural devido à substituição da mão de obra pela mecanização; e a continuidade da fome no mundo. Segundo Cavalcanti (2003), o tipo de desenvolvimento que o mundo experimentou nos últimos 200 anos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, é insustentável.
Em meio às preocupações ambientais e opondo-se ao uso abusivo dos insumos agrícolas, a partir da década de 1980, a corrente agroecológica começou a ser mais difundida,  vem sendo estudados diversos sistemas de produção alternativos, empregados em diferentes condições ambientais, apresentando resultados satisfatórios do ponto de vista ecológico, agronômico, econômico e social. Segundo Altieri, (1998)  as estratégias de desenvolvimento devem incorporar não somente dimensões tecnológicas, mas também questões sociais e econômicas, o desenvolvimento tecnológico deve ser de fato culturalmente sensível, socialmente justo e economicamente viável.
Foi realizado um estudo de caso com agricultores de uma comunidade de alemães, no oeste de Santa Catarina, na vizinhança do rio Uruguai, município de São Carlos, conhecidos como a família Kern. Representados pela mãe Zuleica, Waldemir o pai, Davi, o filho de 17 anos e Luiza, a filha de 11 anos, que vivem em um sítio de apenas 6,5 hectares.
Com uma produção diversificada, conseguem ser praticamente autossuficientes, não fazem utilização de nenhum tipo de agroquímico, realizam o reaproveitamento de resíduos vegetais para adubação e cobertura morta nas culturas. Os filhos jovens permanecem na atividade, garantindo a sucessão familiar no meio rural. Este trabalho tem por principal objetivo sistematizar experiências vivenciadas pela família Kern dentro de uma perspectiva agroecológica.

REVISÃO DE LITERATURA
Desenvolvimento sustentável
O agronegócio é uma das principais atividades econômicas do Brasil, sendo considerado um dos líderes mundiais na produção e exportação de alimentos e fibras, este resultado advém da combinação de fatores, que desde a década de 80 vem sendo aprimoradas graças às inovações tecnológicas, extensão territorial cultivável e qualidade dos produtos, sem contar o clima tropical favorável a vários cultivos (CONCEIÇÃO E CONCEIÇÃO, 2014; MAPA, 2015).
Em 2018, mesmo em meio á crise econômica mundial, o agronegócio brasileiro contribuiu com 21% do PIB o que comprova sua efetiva participação na balança comercial, entretanto, o mercado consumidor vem passando por lentas mudanças e uma delas refere-se à procura por produtos mais saudáveis, aliado a isso a preocupação com os impactos ambientais resultados, e ou pelo seu mau uso, destaque para o uso intensivo e desordenado de insumos artificiais e da mecanização (SCHULTZ e NASCIMENTO, 2001).
Segundo Assis (2003) a preocupação ambiental tem despertado muitas discussões a respeito dos padrões de desenvolvimento sustentável e suas implicações econômicas, sociais, ambientais e culturais. O desenvolvimento sustentável visa à harmonia e a racionalidade entre o homem, natureza e os seres humanos (MOREIRA, 2003), seu principal objetivo é promover a qualidade de vida dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas, através da incorporação de atividades produtivas. O desenvolvimento sustentável deve ser “uma conseqüência do desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental “(BARBOSA, 2004).
Segundo Sachs (2004), para o desenvolvimento ser considerado sustentável ele deve ser socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no tempo.  Muitos autores  (Barbieri, 1997; Buarque, 1991; Daly, 1996; Sachs, 2000, 1993) já concluíram sobre a real e urgente necessidade da humanidade estabelecer seus limites de produção e principalmente de consumo. De acordo com a Global Footprint Network, no dia primeiro de agosto de 2018 a humanidade atingiu seu Earth Overshoot Day (dia de sobrecarga na terra) dia em que o consumo de recursos naturais, ultrapassou a capacidade de regeneração dos ecossistemas, a sobrecarga da terra tem sido assinalada cada vez mais cedo, o que é preocupante.

Agroecologia
Em oposição ao sistema de produção convencional advindo com a revolução verde, a agroecologia se apresenta como uma ciência integrada a princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, e vem se consolidando como uma importante atividade produtiva, incluindo seus estudos que se iniciaram na década de 70 (CANUTO,1998; GLIESSMAN, 2005). Segundo Altieri, (1998) a agroecologia é uma forma de produção agrícola que vem sendo valorizada pelo mercado por utilizar técnicas alternativas de produção e resgatar alguns elementos da agricultura tradicional que foram sendo perdidos ao longo dos anos, na agroecologia a produção deriva do equilíbrio entre plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos, é acima de tudo um estilo de vida. Ela “valoriza o conhecimento local e empírico dos agricultores, a socialização desse conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade” (GLIESSMAN, 2005, p. 54).
No sistema agroecológico técnicas como adubação verde e orgânica, reciclagem de nutrientes, rotação de culturas, policultivos, manejo integrado e biológico de pragas e doenças, conservação do solo e da água buscam minimizar os efeitos agressivos sobre o ambiente natural (COSTA NETO, 1999; VEIGA, 1994), “por um lado a agroecologia é o estudo de processos econômicos e de agroecossistemas, por outro, é um agente para as mudanças sociais e ecológicas complexas” (GLIESSMAN, 2005, p.56).

Agricultura familiar
Segundo Wanderley (1999), entende-se por agricultura familiar aquela propriedade em que a família ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho na unidade de produção. Desse modo, a agricultura familiar apresenta uma tríade relação entre a terra, o trabalho e a família, como unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família.
A agricultura familiar tem papel fundamental para a alimentação do povo brasileiro, constitui a base econômica de milhares de municípios brasileiros,  a diversificação de produção é um dos pontos primordiais para o sucesso, e o seu crescimento está ligado diretamente, à possibilidade de o agricultor conseguir aumentar a sua produtividade, a sua dispersão geográfica também é uma característica positiva pois ela aproxima os produtores dos consumidores, privilegiando, principalmente, as comunidades mais distantes das grandes cidades e, por consequência, dos grandes centros de distribuição, entretanto a agricultura familiar enfrenta grandes desafios na comercialização e organização de sua produção. No Brasil os agricultores familiares são de fato “pequenos” agricultores, com pequenas porções de terras, que dispõem de poucos conhecimentos técnicos, recursos financeiros insuficientes para garantir a sustentabilidade econômica deste setor. A produção agroecológica pode ser um modelo de produção destes agricultores a continuarem a produzir com qualidade e ambientalmente correto.
Para que a agricultura familiar tenha êxito é preciso intensificar a assistência técnica, crédito rural e políticas públicas, como PNAE (Programa Nacional Alimentação Escolar), PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), feiras municipais da agricultura familiar, Crédito Rural através do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento Agricultura Familiar), são políticas de incentivo a produção familiar, o agricultor entrega sua produção direto ao consumidor final.
Dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006) estimam que a Agricultura Familiar, com apenas 24,3% da área agrícola, seria responsável pela produção de quase 70% dos alimentos consumidos no país, sendo portanto de grande representatividade dentro do contexto do agronegócio, e do PIB, porém Hoffmann (2014) considera praticamente impossível avaliar, com precisão razoável, qual é a parcela da matéria-prima usada na produção dos alimentos consumidos no Brasil que se origina verdadeiramente da produção da agricultura familiar, segundo ele seria necessário analisar, pormenorizadamente, os canais de comercialização de todos os alimentos e das respectivas matérias-primas, sendo portando considerado um dado que não corresponde a realidade, entretanto ele aponta que a agricultura familiar tem se mostrado expressiva para embasar um conjunto de estratégias voltadas a promover a qualidade de vida no campo, Do Carmo (1998) aponta a agricultura familiar como "lócus ideal da agricultura sustentável.

Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS)

Em 1999, idealizado pelo agrônomo senegalês Aly Ndiaye, para atender pequenos produtores do munícipio de Petrópolis (estado do RJ), como objetivo principal a preservação do meio ambiente, priorizando um sistema agrícola integrado, suas unidades são definidas em áreas de produção integrada, com a exploração vegetal aliada à criação de animais, sua sustentabilidade depende, prioritariamente, de um bom manejo.
O PAIS baseia-se em instrumentos, técnicas e processos de baixo custo para a implantação de hortas em formato de mandalas, irrigadas por gotejamento, no centro da horta é instalado um galinheiro que produzirá o esterco utilizado como adubo para as plantas, e a sobra do plantio servirá de alimento para as aves. Para fortalecer e ampliar as ações de segurança alimentar nas regiões brasileiras que possuem os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano - IDH, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, tem aplicado o Projeto PAIS em vários munícipios do país (MDS, 2010).
O PAIS significa mais alimento, trabalho e renda no campo, incentiva o associativismo dos produtores e aponta novos canais de comercialização dos produtos, permitindo boas colheitas imediatas e futuras (BRITO, 2009).

Sistema de Produção - Modelo Mandala
O modelo MANDALA é de Desenvolvimento Holístico e Sistêmico Ambiental (DHSA). Promovendo a importância da dignidade humana por meio da disponibilização do conhecimento e organização de ambientes coexistentes de forma holística e sistêmica, praticando ações funcionais (CUNHA et al; 2008).

O Sistema Mandala consiste no consórcio da produção agrícola que é bastante desenvolvido em pequenas comunidades rurais, seu principal objetivo está ligado à diversificação das atividades agrícolas, tendo como finalidade a melhoria no padrão alimentar humano e elevar a renda com adoção de tecnologia apropriada de baixo custo de produção (ABREU et al; 2010).

A Mandala é uma estrutura consorciada de plantas e animais que garantem a subsistência familiar, porém, pode favorecer a produção de excedentes e também a inserção da família em empreendimentos sociais que consistem num método participativo para o planejamento e a organização da produção, que se caracteriza em círculos concêntricos para promover a melhoria da qualidade de vida, da produtividade econômica e das condições ambientais do campo e das cidades a partir de unidades rurais de produção familiar (ABREU et al, 2010).

A produção de alimentos nesse modelo é diversificada: leguminosas, hortaliças, frutas, etc. (MESIANO; DIAS, 2008). Em relação à produção e manejo, nesse sistema são criados animais de pequeno porte (Por exemplo: peixes, patos, galinhas), que complementa a dieta dos produtores, já que esses animais são fontes de carne e ovos (proteínas), mas também servem como fontes de adubo (fezes) e ajudam no controle de insetos invasores (controle biológico) (ABREU et al; 2010).

Agricultura Orgânica
O termo agricultura orgânica é utilizado de forma generalizada nos principais países do mundo. Mencionado em documentos oficiais de organismos internacionais (ONU, UNCTAD, FAO), é também encontrado na legislação brasileira, desde a Instrução Normativa Nº 7, 17/05/1999 (Brasil, 1999), consolidando-se com a Lei 10.831, de 23/12/2003 (Brasil, 2003). Para uma melhor compreensão do que é agricultura orgânica é necessário situar como este termo foi forjado e as transformações que vem passando ao longo do tempo. Na verdade, é necessário avaliar as transformações que ocorreram no setor agrícola paralelamente à interpretação da história da evolução econômica de uma forma geral. As relações entre o universo amplo e a agricultura são básicas para compreender como se concluiu o conceito atual.

Para alguns produtores e consumidores também, a agricultura orgânica é ficção de naturalistas inconsequentes, já para outros ela é uma revolução, a exemplo do que foi a Revolução Verde. Ainda há posições intermediárias, ressaltando que o processo de transformação sustentável deverá ser paralelo à agricultura moderna (BEZERRA e VEIGA, 2000). Tudo mostra que existe um desafiador caminho a ser conquistado na melhora da produtividade e da lucratividade da produção orgânica. Para Freitas (2002) a agricultura orgânica pode reduzir custos e ser comparada, tão rentável quanto o sistema químico convencional. Para que esse desafio possa ser enfrentado, é essencial que as características daqueles que atualmente empreendem a agricultura orgânica sejam compreendidas. Só assim poderão decidir se são desejáveis e necessários estímulos para a consolidação deste tipo de agricultura no Brasil.

Permacultura
A Permacultura, apesar de ser frequentemente apresentada como uma das correntes da agroecologia, pode ser compreendida como uma ciência em construção, semelhante a Agroecologia, visto que apresenta toda uma epistemologia própria, seus métodos são replicáveis e é composta por processos que englobam diversas áreas do saber (JACINTHO, 2007). O movimento permacultural desenvolveu-se na Austrália a partir da ideia da criação de agroecossistemas sustentáveis por meio da simulação dos ecossistemas naturais, priorizando as culturas perenes como elementos centrais (KHATOUNIAN, 2001).
Mollison (1999) aponta a construção do espaço permacultural, abordando os princípios do design, onde a permacultura não é vista como a paisagem em si, nem mesmo as habilidades de cultivo orgânico e agricultura sustentável, é mais que isso, objetiva-se planejar e estabelecer, manejar e aperfeiçoar esses e todos os outros componentes, famílias e comunidades rumo a um futuro sustentável (HOLMGREN, 2013). Como resultado direto da implantação de métodos permaculturais almeja-se “a integração harmônica entre pessoas e paisagem, provendo sua comida, energia, habitações e outros materiais e não matérias”. (MOLLISON, 1999).
Um outro aspecto fundamental, baseado em um dos princípios do funcionamento ecológico do planeta, o qual no planejamento permacultural é muito observado, se refere à interação entre cada elemento do sistema que se está planejando (ou manejando). Mollison (1999) afirma que mais importante do que a definição dos elementos (tipos de cultura, atividades produtivas, edificações, fontes de água e energia, entre outros), que comporão ou compõem um determinado agroecossistema projetado, é a definição de suas interconexões, de modo que os resíduos ou excedentes de um sejam reaproveitados por outros, fechando, assim, alguns ciclos internos ao agroecossistema (JACINTHO, 2007).
Nas palavras de David Holmgren, um dos fundadores da permacultura, Um bom design depende de uma relação harmoniosa e livre entre as pessoas e a natureza, na qual a observação cuidadosa e a interação racional provêm a inspiração, o repertório e os padrões para o design”. (HOLMGREN, 2002, p.13.) Como resultado desta “observação”, o autor afirma que, enquanto a agricultura tradicional é intensiva em trabalho humano e a industrial em energia fóssil, o design permacultural é intensivo em informação e planejamento.

METODOLOGIA
O vídeo foi apresentado pelo programa Globo Rural, mostrando o modo agroecológico sustentável e independente de viver da família Kern, sem depender quase nada dos comércios locais. Descendentes de alemães, composta por quatro pessoas, mãe, pai, filho e filha em uma propriedade de 6,5 hectares localizada na zona rural oeste de Santa Catarina, no município de São Carlos. A família possui uma renda de R$ 2.500,00, obtida com a venda dos queijos, hortaliças, plantas medicinais, pães e o leite produzidos na propriedade. São praticamente autossuficientes na alimentação, só fazendo compras de materiais que não produzem, com pouco gasto em mercado de aproximadamente 60,00/mês. São produzidos na propriedade, o leite, o queijo, a manteiga, a ricota, os pães, os ovos, a carne, gordura de porco, as hortaliças, feijão, arroz, milho, entre outros.
Através de um movimento de mulheres camponesas da comunidade, as mesmas fazem encontros promovendo a troca de sementes crioulas e troca de conhecimentos de geração em geração,  preservando a cultura, o conhecimento tradicional e as sementes, promovendo sua continuidade ao longo dos anos, para que toda a comunidade tenha diversidade de alimentos produzidos e autossuficiência alimentar.
Possuem assistência técnica de órgãos do governo como a Epagri, que os auxiliam nos cultivos, como na implantação e manutenção da horta mandala e o horto de plantas medicinais Vida e Saúde, que são utilizados como unidade demonstrativa para a comunidade local.
A família Ker ainda possui os filhos que são dois artistas que tocam músicas para contribuir na arrecadação da família em eventos regionais, além de ser um excelente pintor e estudantes.
Cabe destacar também, que toda a produção agropecuária da propriedade é com ausência de agrotóxicos e adubos químicos, adotando-se práticas agroecológicas sustentáveis na produção dos alimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste estudo de caso evidenciou-se a utilização de técnicas agroecológicas como ferramenta de suporte aos sistemas produtivos numa abordagem de Permacultura, integrando os aspectos agronômicos, ecológicos, socioeconômicos e de qualidade de vida, voltados ao uso sustentável dos agroecossistemas. Os agricultores/as integrantes das família Kern praticam sábias maneiras de organização e solidariedade intra e intergeracional que alimentam relações de interações e responsabilidade mútua, configurando-se em um processo de coevolução e transformação pessoal. Tais práticas são espontâneas e partilhadas apenas entre os envolvidos, expressas no contexto familiar e para a comunidade como um todo, ressaltando-se assim, a importância dos saberes tradicionais, construídos historicamente pelos camponeses. As práticas agroecológicas adotadas, demonstram que a agricultura familiar caracteriza-se como uma importante ferramenta para a promoção de um desenvolvimento rural mais democrático, menos agressivo ao meio ambiente e às pessoas, capaz de promover a inclusão social, a autonomia por meio da autogestão e proporcionar melhores condições de vida ao trabalhador rural.
Os sistema produtivo da propriedade é compreendido de maneira holística, no que tange a organização do componentes envolvidos e suas interações. Os componentes locais como, solo, água, as plantas, e os animais, estão interconectados entre si por meio da ação dos componentes abstratos, como a coevolução, a associação, a flexibilidade e o fluxo de energia,  sendo estes componentes, diretamente associados ao tempo de preparo da área para o cultivo, aos ciclos ecológicos e a ética, caracterizando-se como um ciclo totalmente fechado de produção. A base dos princípios agrícolas adotados no sistema corresponde a permacultura, sendo este, planejado de maneira que o próprio sistema possa prover a energia necessária para a manutenção, estimulando a diversidade e uma maior produção de alimentos, garantindo assim, a soberania e a segurança alimentar dessa família, tornando-os praticamente autossuficientes.
A aplicação dos princípios e conceitos de ecologia nas técnicas de manejo dos recursos naturais, tais como: nenhuma dependência de insumos químicos comerciais; uso de recursos renováveis localmente acessíveis; utilização de tecnologias sociais e de baixo custo que causam impactos benéficos aos meio ambiente local; aceitação e adaptação às condições locais de clima, solo,  e vegetação; manutenção a longo prazo da capacidade produtiva;  preservação da diversidade biológica; utilização e conservação de sementes crioulas; recuperação e preservação de nascentes; entre outras, evidencia que o modelo  de produção agrícola familiar condiz com os preceitos básicos de sustentabilidade, satisfazendo as necessidades da geração presente sem comprometer as gerações futuras, promovendo assim, uma transformação gradual e progressiva na economia e na sociedade, aumentando a capacidade produtiva, e permitindo igual acesso de oportunidade à todos, onde as potencialidades econômicas, sociais e culturais estejam de acordo com as dimensões ambiental, ética e política.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta maneira, pode-se perceber que o modelo permacultural contribuiu para mostrar que é possível fortalecer de maneira processual a autonomia dos agricultores/as de base familiar, considerando o conhecimento tradicional e apresentando alternativas de uso sustentável da terra a partir de práticas agroecológicas, preocupando-se com o redesenho dos agroecossistemas, onde, se valoriza os recursos locais e uma produção que não visa quantidade e valores elevados nos produtos, mas sim, a qualidade de vida e toda a história envolvida, corroborando para uma agricultura cada vez mais respeitosa aos limites da natureza.
Conclui-se que a Agricultura familiar possui força necessária para a produção do Desenvolvimento Rural Sustentável, principalmente se houver socialização de conhecimentos e saberes agroecológicos entre os agricultores, pesquisadores, estudantes, extensionistas, políticos e técnicos, e a participação ativa dos governos federais, estaduais e municipais.

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