ALINE MARCHIORI CRESPO
CLEBER CÁSSIO FERREIRA
DALILA DA COSTA GONÇALVES
FERNANDA PEREIRA SOARES CARIAS
INGRID GABRIELLA DA HORA CARRIÇO
MÁRCIO FANTTINI POLESE
Trabalho apresentado à disciplina de Agroecologia
do Programa de Pós-graduação em Agroecologia do Instituto Federal do Espírito
Santo, Campus de Alegre - IFES/Alegre, como requisito parcial para
avaliação.
Orientador: Prof. Dr. Maurício Novaes Souza
INTRODUÇÃO
A “Revolução Verde”
teve início a partir da década de 1950 nos Estados Unidos e na Europa, e nas
décadas seguintes espalhou-se em outros países. Trata-se de um pacote tecnológico que tornou
a agricultura dependente do uso intensivo de insumos externos e industriais,
mecanização, biotecnologias como sementes geneticamente modificadas (híbridos e
transgênicos) e ao monocultivo, trazendo algumas consequências para a saúde
humana, e para o meio ambiente (MILLER, 2008).
As estratégias do agronegócio resultaram num processo de modernização tecnológica que garantiria a diminuição nos
custos de produção e aumentos estrondosos de produtividade, como forma de
suprir a demanda por alimentos no mundo. Entretanto, o que notoriamente vem se
observando são destruições em todos os níveis, como os desequilíbrios naturais,
através da extração excessiva dos recursos naturais, degradação do solo,
poluição de rios e lagos; um aumento expressivo do êxodo rural devido à
substituição da mão de obra pela mecanização; e a continuidade da fome no
mundo. Segundo Cavalcanti (2003), o tipo de
desenvolvimento que o mundo experimentou nos últimos 200 anos, especialmente
depois da Segunda Guerra Mundial, é insustentável.
Em meio às preocupações ambientais e opondo-se ao uso abusivo dos insumos
agrícolas, a partir da década de 1980, a corrente agroecológica começou a ser
mais difundida, vem sendo estudados
diversos sistemas de produção alternativos, empregados em diferentes condições
ambientais, apresentando resultados satisfatórios do ponto de vista ecológico, agronômico, econômico e social. Segundo
Altieri, (1998) as estratégias de
desenvolvimento devem incorporar não somente dimensões tecnológicas, mas também questões
sociais e econômicas, o desenvolvimento tecnológico deve ser de fato
culturalmente sensível, socialmente justo e economicamente viável.
Foi realizado um estudo de caso com agricultores de uma comunidade de alemães, no oeste de Santa
Catarina, na vizinhança do rio Uruguai, município de São Carlos, conhecidos
como a família Kern. Representados pela mãe
Zuleica, Waldemir o pai, Davi, o filho de
17 anos e Luiza, a filha de 11 anos, que vivem em um sítio de apenas 6,5 hectares.
Com uma produção diversificada, conseguem ser praticamente
autossuficientes, não fazem utilização de nenhum tipo de agroquímico, realizam
o reaproveitamento de resíduos vegetais para adubação e cobertura morta nas
culturas. Os filhos jovens permanecem na atividade, garantindo a sucessão
familiar no meio rural. Este trabalho tem por principal objetivo sistematizar experiências vivenciadas pela família Kern dentro de
uma perspectiva agroecológica.
REVISÃO DE
LITERATURA
Desenvolvimento sustentável
O agronegócio
é uma das principais
atividades econômicas do Brasil, sendo considerado um dos líderes mundiais na
produção e exportação de alimentos e fibras, este resultado advém da combinação
de fatores, que desde a década de 80 vem sendo aprimoradas graças às inovações tecnológicas, extensão territorial cultivável e qualidade dos
produtos, sem contar o clima tropical favorável a vários cultivos (CONCEIÇÃO E CONCEIÇÃO, 2014;
MAPA, 2015).
Em 2018, mesmo em meio á
crise econômica mundial, o agronegócio brasileiro contribuiu com 21% do PIB o
que comprova sua efetiva participação na balança comercial, entretanto, o mercado consumidor vem passando por lentas
mudanças e uma delas refere-se à procura por produtos mais saudáveis, aliado a
isso a preocupação com os impactos ambientais resultados, e ou pelo seu mau
uso, destaque para o uso intensivo e desordenado de insumos artificiais e da
mecanização (SCHULTZ e NASCIMENTO, 2001).
Segundo Assis (2003) a preocupação ambiental tem despertado muitas
discussões a respeito dos padrões de desenvolvimento sustentável e suas
implicações econômicas, sociais, ambientais e culturais. O desenvolvimento
sustentável visa à harmonia e a
racionalidade entre o homem, natureza e os seres humanos (MOREIRA, 2003), seu
principal objetivo é promover a qualidade de vida dentro dos limites da capacidade de
suporte dos ecossistemas, através da incorporação de atividades produtivas. O desenvolvimento sustentável deve ser “uma
conseqüência do desenvolvimento social, econômico e da preservação ambiental
“(BARBOSA, 2004).
Segundo Sachs (2004), para o desenvolvimento ser considerado sustentável
ele deve ser socialmente includente, ambientalmente sustentável
e economicamente sustentado no tempo.
Muitos autores (Barbieri, 1997; Buarque, 1991; Daly, 1996;
Sachs, 2000, 1993) já concluíram sobre a real e urgente necessidade da
humanidade estabelecer seus limites de produção e principalmente de consumo. De
acordo com a Global Footprint Network, no dia primeiro de agosto de
2018 a humanidade atingiu seu Earth Overshoot Day (dia de sobrecarga na terra) dia em que o consumo
de recursos naturais, ultrapassou a capacidade
de regeneração dos ecossistemas, a sobrecarga da terra tem sido assinalada
cada vez mais cedo, o que é preocupante.
Agroecologia
Em oposição ao sistema de produção convencional
advindo com a revolução verde, a agroecologia se apresenta como uma ciência
integrada a princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, e vem se consolidando como
uma importante atividade produtiva, incluindo seus estudos que se iniciaram na
década de 70 (CANUTO,1998; GLIESSMAN,
2005). Segundo Altieri, (1998) a agroecologia é uma forma de produção agrícola que vem sendo valorizada
pelo mercado por utilizar técnicas alternativas de produção e resgatar alguns
elementos da agricultura tradicional que foram sendo perdidos ao longo dos
anos, na agroecologia a produção deriva do equilíbrio entre plantas, solo,
nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos, é acima de tudo um estilo
de vida. Ela “valoriza o conhecimento local e empírico dos agricultores, a
socialização desse conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da
sustentabilidade” (GLIESSMAN,
2005, p. 54).
No sistema agroecológico técnicas como adubação verde e orgânica, reciclagem de
nutrientes, rotação de culturas, policultivos, manejo integrado e biológico de
pragas e doenças, conservação do solo e da água buscam minimizar os efeitos
agressivos sobre o ambiente natural (COSTA NETO, 1999; VEIGA, 1994), “por um
lado a agroecologia é o estudo de processos econômicos e de agroecossistemas,
por outro, é um agente para as mudanças sociais e ecológicas complexas” (GLIESSMAN, 2005, p.56).
Agricultura familiar
Segundo Wanderley (1999),
entende-se por agricultura familiar aquela propriedade em que a família ao
mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho na unidade de produção. Desse
modo, a agricultura familiar apresenta uma tríade relação entre a terra, o
trabalho e a família, como unidade de produção agrícola onde propriedade e
trabalho estão intimamente ligados à família.
A agricultura familiar tem papel fundamental para a
alimentação do povo brasileiro, constitui a base econômica de milhares de
municípios brasileiros, a diversificação de produção é um dos pontos primordiais para o
sucesso, e o seu crescimento está ligado diretamente, à possibilidade de o
agricultor conseguir aumentar a sua produtividade, a sua dispersão geográfica
também é uma característica positiva pois ela aproxima os produtores dos
consumidores, privilegiando, principalmente, as comunidades mais distantes das
grandes cidades e, por consequência, dos grandes centros de distribuição,
entretanto a agricultura familiar enfrenta grandes desafios na comercialização
e organização de sua produção. No Brasil os agricultores familiares são de fato
“pequenos” agricultores, com pequenas porções de terras, que dispõem de poucos
conhecimentos técnicos, recursos financeiros insuficientes para garantir a
sustentabilidade econômica deste setor. A produção agroecológica pode ser um modelo de produção
destes agricultores a continuarem a produzir com qualidade e ambientalmente
correto.
Para que a agricultura
familiar tenha êxito é preciso intensificar a
assistência técnica, crédito rural e políticas
públicas, como PNAE (Programa Nacional Alimentação Escolar), PAA (Programa de
Aquisição de Alimentos), feiras municipais da agricultura familiar, Crédito
Rural através do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento Agricultura
Familiar), são políticas de incentivo a produção familiar, o agricultor entrega sua produção
direto ao consumidor final.
Dados do Censo Agropecuário
(IBGE, 2006) estimam que a Agricultura Familiar, com apenas 24,3% da área agrícola, seria responsável pela produção de quase 70% dos
alimentos consumidos no país, sendo portanto de grande representatividade
dentro do contexto do agronegócio, e do PIB, porém Hoffmann (2014) considera
praticamente impossível avaliar, com precisão razoável, qual é a parcela da
matéria-prima usada na produção dos alimentos consumidos no Brasil que se
origina verdadeiramente da produção da agricultura familiar, segundo ele seria
necessário analisar, pormenorizadamente, os canais de comercialização de todos
os alimentos e das respectivas matérias-primas, sendo portando considerado um
dado que não corresponde a realidade, entretanto ele aponta que a agricultura
familiar tem se mostrado expressiva para embasar um conjunto de estratégias
voltadas a promover a qualidade de vida no campo, Do Carmo (1998) aponta a
agricultura familiar como "lócus ideal da agricultura sustentável”.
Produção Agroecológica Integrada e
Sustentável (PAIS)
Em 1999, idealizado pelo agrônomo
senegalês Aly Ndiaye, para atender pequenos produtores do munícipio de
Petrópolis (estado do RJ), como objetivo principal a preservação do meio
ambiente, priorizando um sistema agrícola integrado, suas unidades são
definidas em áreas de produção integrada, com a exploração vegetal aliada à
criação de animais, sua sustentabilidade depende, prioritariamente, de um bom
manejo.
O PAIS baseia-se em instrumentos,
técnicas e processos de baixo custo para a implantação de hortas em formato de
mandalas, irrigadas por gotejamento, no centro da horta é instalado um
galinheiro que produzirá o esterco utilizado como adubo para as plantas, e a
sobra do plantio servirá de alimento para as aves. Para fortalecer e ampliar as
ações de segurança alimentar nas regiões brasileiras que possuem os mais baixos
Índices de Desenvolvimento Humano - IDH, o Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome - MDS, tem aplicado o Projeto PAIS em vários munícipios do
país (MDS, 2010).
O PAIS significa mais alimento,
trabalho e renda no campo, incentiva o associativismo dos produtores e aponta
novos canais de comercialização dos produtos, permitindo boas colheitas
imediatas e futuras (BRITO, 2009).
Sistema de
Produção - Modelo Mandala
O modelo MANDALA é de Desenvolvimento
Holístico e Sistêmico Ambiental (DHSA). Promovendo a importância da dignidade
humana por meio da disponibilização do conhecimento e organização de ambientes
coexistentes de forma holística e sistêmica, praticando ações funcionais (CUNHA
et al; 2008).
O Sistema Mandala consiste no
consórcio da produção agrícola que é bastante desenvolvido em pequenas
comunidades rurais, seu principal objetivo está ligado à diversificação das
atividades agrícolas, tendo como finalidade a melhoria no padrão alimentar
humano e elevar a renda com adoção de tecnologia apropriada de baixo custo de
produção (ABREU et al; 2010).
A Mandala é uma estrutura consorciada
de plantas e animais que garantem a subsistência familiar, porém, pode
favorecer a produção de excedentes e também a inserção da família em
empreendimentos sociais que consistem num método participativo para o
planejamento e a organização da produção, que se caracteriza em círculos
concêntricos para promover a melhoria da qualidade de vida, da produtividade
econômica e das condições ambientais do campo e das cidades a partir de
unidades rurais de produção familiar (ABREU et al, 2010).
A produção de alimentos nesse modelo é
diversificada: leguminosas, hortaliças, frutas, etc. (MESIANO; DIAS, 2008). Em
relação à produção e manejo, nesse sistema são criados animais de pequeno porte
(Por exemplo: peixes, patos, galinhas), que complementa a dieta dos produtores,
já que esses animais são fontes de carne e ovos (proteínas), mas também servem
como fontes de adubo (fezes) e ajudam no controle de insetos invasores
(controle biológico) (ABREU et al; 2010).
Agricultura Orgânica
O termo agricultura orgânica é
utilizado de forma generalizada nos principais países do mundo. Mencionado em
documentos oficiais de organismos internacionais (ONU, UNCTAD, FAO), é também
encontrado na legislação brasileira, desde a Instrução Normativa Nº 7,
17/05/1999 (Brasil, 1999), consolidando-se com a Lei 10.831, de 23/12/2003 (Brasil,
2003). Para uma melhor compreensão do que é agricultura orgânica é necessário
situar como este termo foi forjado e as transformações que vem passando ao
longo do tempo. Na verdade, é necessário avaliar as transformações que
ocorreram no setor agrícola paralelamente à interpretação da história da
evolução econômica de uma forma geral. As relações entre o universo amplo e a
agricultura são básicas para compreender como se concluiu o conceito atual.
Para alguns produtores e consumidores
também, a agricultura orgânica é ficção de naturalistas inconsequentes, já para
outros ela é uma revolução, a exemplo do que foi a Revolução Verde. Ainda há
posições intermediárias, ressaltando que o processo de transformação
sustentável deverá ser paralelo à agricultura moderna (BEZERRA e VEIGA, 2000).
Tudo mostra que existe um desafiador caminho a ser conquistado na melhora da
produtividade e da lucratividade da produção orgânica. Para Freitas (2002) a
agricultura orgânica pode reduzir custos e ser comparada, tão rentável quanto o
sistema químico convencional. Para que esse desafio possa ser enfrentado, é
essencial que as características daqueles que atualmente empreendem a
agricultura orgânica sejam compreendidas. Só assim poderão decidir se são
desejáveis e necessários estímulos para a consolidação deste tipo de
agricultura no Brasil.
Permacultura
A Permacultura, apesar de ser frequentemente apresentada
como uma das correntes da agroecologia, pode ser compreendida como uma ciência
em construção, semelhante a Agroecologia, visto que apresenta toda uma epistemologia própria, seus métodos são replicáveis e é composta por
processos que englobam diversas áreas do saber (JACINTHO, 2007). O movimento
permacultural desenvolveu-se na Austrália a partir da ideia da criação de agroecossistemas
sustentáveis por meio
da simulação dos ecossistemas naturais, priorizando as culturas perenes como
elementos centrais (KHATOUNIAN, 2001).
Mollison (1999) aponta a construção do espaço
permacultural, abordando os princípios do design, onde a permacultura não é vista como a paisagem
em si, nem mesmo as habilidades de cultivo orgânico e agricultura sustentável,
é mais que isso, objetiva-se planejar e estabelecer, manejar e aperfeiçoar
esses e todos os outros componentes, famílias e comunidades rumo a um futuro
sustentável (HOLMGREN, 2013). Como resultado direto da implantação de métodos permaculturais almeja-se “a integração harmônica entre pessoas
e paisagem, provendo sua comida, energia, habitações e outros materiais e não matérias”. (MOLLISON, 1999).
Um outro aspecto fundamental, baseado em um dos princípios do funcionamento ecológico do planeta, o qual no planejamento permacultural é muito observado, se refere à interação entre cada elemento do
sistema que se está
planejando (ou manejando).
Mollison (1999) afirma que mais importante do que a definição dos elementos (tipos de cultura, atividades produtivas,
edificações, fontes de água e energia, entre outros), que comporão ou compõem um determinado agroecossistema projetado, é a definição de suas interconexões, de modo que os resíduos ou excedentes de um sejam reaproveitados por outros,
fechando, assim, alguns ciclos internos ao agroecossistema (JACINTHO, 2007).
Nas palavras de David Holmgren, um dos fundadores da
permacultura, “Um bom design depende de uma
relação harmoniosa e livre entre
as pessoas e a natureza, na qual a observação cuidadosa e a interação racional provêm a inspiração, o repertório e os padrões para o design”. (HOLMGREN, 2002, p.13.) Como resultado desta “observação”, o autor afirma que, enquanto a agricultura tradicional
é intensiva em trabalho humano
e a industrial em energia fóssil, o design permacultural
é intensivo em informação e planejamento.
METODOLOGIA
O
vídeo foi apresentado pelo programa Globo Rural, mostrando o modo agroecológico
sustentável e independente de viver da família Kern, sem depender quase nada
dos comércios locais. Descendentes de alemães, composta por quatro pessoas,
mãe, pai, filho e filha em uma propriedade de 6,5 hectares localizada na zona
rural oeste de Santa Catarina, no município de São Carlos. A família possui uma
renda de R$ 2.500,00, obtida com a venda dos queijos, hortaliças, plantas
medicinais, pães e o leite produzidos na propriedade. São praticamente
autossuficientes na alimentação, só fazendo compras de materiais que não
produzem, com pouco gasto em mercado de aproximadamente 60,00/mês. São
produzidos na propriedade, o leite, o queijo, a manteiga, a ricota, os pães, os
ovos, a carne, gordura de porco, as hortaliças, feijão, arroz, milho, entre
outros.
Através
de um movimento de mulheres camponesas da comunidade, as mesmas fazem encontros
promovendo a troca de sementes crioulas e troca de conhecimentos de geração em
geração, preservando a cultura, o
conhecimento tradicional e as sementes, promovendo sua continuidade ao longo
dos anos, para que toda a comunidade tenha diversidade de alimentos produzidos
e autossuficiência alimentar.
Possuem
assistência técnica de órgãos do governo como a Epagri, que os auxiliam nos
cultivos, como na implantação e manutenção da horta mandala e o horto de
plantas medicinais Vida e Saúde, que são utilizados como unidade demonstrativa
para a comunidade local.
A
família Ker ainda possui os filhos que são dois artistas que tocam músicas para
contribuir na arrecadação da família em eventos regionais, além de ser um
excelente pintor e estudantes.
Cabe
destacar também, que toda a produção agropecuária da propriedade é com ausência
de agrotóxicos e adubos químicos, adotando-se práticas agroecológicas
sustentáveis na produção dos alimentos.
RESULTADOS
E DISCUSSÕES
Neste
estudo de caso evidenciou-se a utilização de técnicas agroecológicas como
ferramenta de suporte aos sistemas produtivos numa abordagem de Permacultura,
integrando os aspectos agronômicos, ecológicos, socioeconômicos e de qualidade
de vida, voltados ao uso sustentável dos agroecossistemas. Os agricultores/as
integrantes das família Kern praticam sábias maneiras de organização e
solidariedade intra e intergeracional que alimentam relações de interações e
responsabilidade mútua, configurando-se em um processo de coevolução e
transformação pessoal. Tais práticas são espontâneas e partilhadas apenas entre
os envolvidos, expressas no contexto familiar e para a comunidade como um todo,
ressaltando-se assim, a importância dos saberes tradicionais, construídos
historicamente pelos camponeses. As práticas agroecológicas adotadas,
demonstram que a agricultura familiar caracteriza-se como uma importante ferramenta
para a promoção de um desenvolvimento rural mais democrático, menos agressivo
ao meio ambiente e às pessoas, capaz de promover a inclusão social, a autonomia
por meio da autogestão e proporcionar melhores condições de vida ao trabalhador
rural.
Os
sistema produtivo da propriedade é compreendido de maneira holística, no que
tange a organização do componentes envolvidos e suas interações. Os componentes
locais como, solo, água, as plantas, e os animais, estão interconectados entre
si por meio da ação dos componentes abstratos, como a coevolução, a associação,
a flexibilidade e o fluxo de energia,
sendo estes componentes, diretamente associados ao tempo de preparo da
área para o cultivo, aos ciclos ecológicos e a ética, caracterizando-se como um
ciclo totalmente fechado de produção. A base dos princípios agrícolas adotados
no sistema corresponde a permacultura, sendo este, planejado de maneira que o
próprio sistema possa prover a energia necessária para a manutenção,
estimulando a diversidade e uma maior produção de alimentos, garantindo assim,
a soberania e a segurança alimentar dessa família, tornando-os praticamente
autossuficientes.
A
aplicação dos princípios e conceitos de ecologia nas técnicas de manejo dos
recursos naturais, tais como: nenhuma dependência de insumos químicos
comerciais; uso de recursos renováveis localmente acessíveis; utilização de
tecnologias sociais e de baixo custo que causam impactos benéficos aos meio
ambiente local; aceitação e adaptação às condições locais de clima, solo, e vegetação; manutenção a longo prazo da
capacidade produtiva; preservação da
diversidade biológica; utilização e conservação de sementes crioulas;
recuperação e preservação de nascentes; entre outras, evidencia que o
modelo de produção agrícola familiar
condiz com os preceitos básicos de sustentabilidade, satisfazendo as
necessidades da geração presente sem comprometer as gerações futuras,
promovendo assim, uma transformação gradual e progressiva na economia e na
sociedade, aumentando a capacidade produtiva, e permitindo igual acesso de
oportunidade à todos, onde as potencialidades econômicas, sociais e culturais
estejam de acordo com as dimensões ambiental, ética e política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta
maneira, pode-se perceber que o modelo permacultural contribuiu para mostrar
que é possível fortalecer de maneira processual a autonomia dos agricultores/as
de base familiar, considerando o conhecimento tradicional e apresentando
alternativas de uso sustentável da terra a partir de práticas agroecológicas,
preocupando-se com o redesenho dos agroecossistemas, onde, se valoriza os
recursos locais e uma produção que não visa quantidade e valores elevados nos
produtos, mas sim, a qualidade de vida e toda a história envolvida,
corroborando para uma agricultura cada vez mais respeitosa aos limites da
natureza.
Conclui-se
que a Agricultura familiar possui força necessária para a produção do
Desenvolvimento Rural Sustentável, principalmente se houver socialização de
conhecimentos e saberes agroecológicos entre os agricultores, pesquisadores,
estudantes, extensionistas, políticos e técnicos, e a participação ativa dos
governos federais, estaduais e municipais.
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