* Por
Silvane de Almeida Campos
A falta de saneamento básico e ambiental pode
acarretar grandes problemas à saúde pública e ao meio ambiente, uma vez que o
saneamento envolve a questão do abastecimento de água, tratamento de esgoto e o
gerenciamento dos resíduos sólidos, dentre outros (SILVESTRIN et al., 2009).
Segundo Ribeiro (2000) o gerenciamento
inadequado dos resíduos sólidos urbanos (RSUs) é uma das problemáticas
enfrentadas pela sociedade atual devido à realização incorreta de manuseio,
acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final desses
resíduos. Essa carência pode prejudicar a qualidade das águas de mananciais
superficiais e subterrâneos, do ar e do solo.
O aumento populacional e a expansão
industrial contribuem para crescente geração de resíduos que vem se agravando
cada vez mais pelo seu gerenciamento inadequado. Os resíduos resultam da
realização de diversas atividades da comunidade, sejam elas de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição pública (LEME e JÓIA, 2006).
O gerenciamento dos resíduos sólidos
refere-se a aspectos tecnológicos e operacionais, envolvendo fatores
administrativos, gerenciais, econômicos, ambientais e de desempenho produtivo e
de qualidade. Está relacionado à prevenção, redução, segregação, reutilização,
acondicionamento, coleta, transporte e destinação final (LIMA, 2001).
Visando
atingir o objetivo da política de desenvolvimento urbano, a Resolução nº
307/2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA criou instrumentos
para avançar no sentido da superação dessa realidade, tornando obrigatória, em
todos os municípios do país e no Distrito Federal, a implantação pelo poder
público local de Planos Integrados de Gerenciamento dos Resíduos da Construção
Civil, como forma de eliminar os impactos ambientais decorrentes do descontrole
das atividades relacionadas à geração, transporte e destinação desses
materiais. Também determina, para os geradores, a adoção de medidas que
minimizem a geração de resíduos e sua reutilização ou reciclagem; ou, quando
for inviável, que eles sejam reservados de forma segregada para posterior
utilização.
A nova
política de gestão dos resíduos da construção e demolição visa buscar a
superação da condição atual presente na grande maioria dos municípios
brasileiros, caracterizada pela ação corretiva, adotando soluções de caráter
preventivo e criando condições para que os agentes envolvidos na cadeia
produtiva possam exercer suas responsabilidades sem produzir impactos
socialmente negativos.
As
bases para a gestão eficiente dos resíduos de acordo com as diretrizes da
Resolução CONAMA nº 307/2002 são: minimizar a sua geração, reutilizar materiais
aproveitáveis, reciclar o máximo possível e dispor adequadamente os resíduos
finais.
A Norma Brasileira nº 10.004/04 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004) classifica os resíduos sólidos de
acordo com os riscos potenciais ao ambiente, ou seja, perigosos, não perigosos,
inertes e não inertes.
O
acondicionamento adequado dos resíduos sólidos, o planejamento da coleta e
transporte e a realização de serviços de limpeza complementares devem ser
feitos com qualidade, produtividade e custo mínimo (MONTEIRO et al., 2001).
Os resíduos sólidos são materiais
heterogêneos (inertes, minerais e orgânicos) resultantes das atividades humanas
e da natureza, os quais podem ser parcialmente utilizados, gerando, entre
outros aspectos, proteção à saúde pública e economia de recursos naturais.
Segundo Lima e Chenna (2009) os resíduos
sólidos constituem problemas sanitário, ambiental, econômico e estético.
Portanto, é nos centros urbanos que a remoção e o destino final destes resíduos
exigem a participação efetiva das autoridades municipais, dos munícipes e da
indústria para se conseguir recolhimento, remoção, transporte, tratamento e
disposição em condições de promover um alto padrão de qualidade de vida para a
população. Neste contexto, ocorre a necessidade de serem discutidas atitudes
adequadas e responsáveis pela sociedade em geral na limitação da geração do
lixo. A educação ambiental se faz necessária para trabalhar a sensibilização e
conscientização de todos os envolvidos.
Os resíduos urbanos apresentam um elevado
grau de heterogeneidade; isto é, possuem características diferenciadas e, por
isso, é necessário adotar soluções diferentes para algumas parcelas
constituintes desses resíduos. Isso é especialmente válido para aqueles
materiais que representam os maiores volumes, em geral, os resíduos da
construção civil, popularmente conhecidos como entulho.
Embora a Construção
Civil seja reconhecida como uma das mais importantes atividades para o
desenvolvimento econômico e social, por outro lado, comporta-se, ainda, como
grande geradora de impactos ambientais, quer seja pelo consumo de recursos
naturais, pela modificação da paisagem ou pela geração de resíduos.
Praticamente toda atividade na construção civil gera entulhos. Isso porque
ocorrem desperdícios nas obras, que podem ou não ser inerentes a ela. As perdas
podem acontecer por motivos diversos como a má organização do canteiro de
obras; armazenamento dos materiais em locais impróprios; manuseio inadequado do
material e no seu transporte (CAMPANA, 2009).
Segundo este mesmo
autor, o entulho, em vez de ser misturado a outros tipos de resíduos
(domiciliares, comerciais ou públicos) deve ser coletado diferenciadamente ou
acumulado em locais apropriados, podendo ser reciclado e adequadamente
reintegrado ao meio, por intermédio de seu reaproveitamento (“in natura” ou
como matéria-prima) em novas obras públicas ou privadas.
O Brasil encontra-se no processo de
consolidação urbana e nesse contexto, a geração dos resíduos da construção
civil é expressiva na produção de resíduos em geral, sendo a sua destinação
tratada como um problema urbano com implicações ambientais graves e de saúde
pública (SINDUSCON-MG, 2008).
Conforme a Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná (SEMA, 2008), a disposição final dos
resíduos sólidos urbanos deve ser feita após a realização prévia de um
diagnóstico preliminar da situação atual do município, considerando tipo,
origem e quantidade de resíduos sólidos produzidos e características dos locais
de disposição final. Com os resultados obtidos no diagnóstico preliminar, será
possível determ inar o plano de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos do
município.
Em meio a esta problemática dos resíduos
sólidos urbanos, sobretudo, os resíduos da construção civil, a reciclagem se
comporta com uma forma de manejo sustentável para esta atividade tão importante
e ao mesmo tempo intensamente impactante. A reciclagem é um termo genericamente
utilizado para designar o reaproveitamento de materiais beneficiados como
matéria-prima para um novo produto. Muitos materiais podem ser reciclados e os
exemplos mais comuns são o papel, vidro, metal e plástico. Portanto, a grande
solução para os resíduos sólidos é aquela que prevê a máxima redução da
quantidade de resíduos na fonte geradora. Quando os resíduos não podem ser
evitados, deverão ser reciclados de tal modo que seja o mínimo possível o que
tenha como destino final os aterros sanitários (LIMA e CHENNA, 2009).
Já a segregação de materiais dos resíduos
sólidos tem como objetivo principal a reciclagem de seus componentes. Portanto
a reciclagem é o resultado de uma série de atividades, pelas quais, materiais
que se tornaram lixo ou estão no lixo, são coletados, separados e processados
para serem usados como matéria-prima na manufatura de novos produtos (ALMEIDA e
VILHENA, 2000). E os resíduos que não são reciclados e reaproveitados tem como
destinação final lixões, aterro controlado, aterro sanitário, incineração e compostagem
(SILVESTRIN et al., 2009).
Gerenciar os resíduos de forma integrada
significa limpar o município por um meio de coleta e transporte adequado e
tratar os resíduos sólidos urbanos adequadamente usando tecnologias compatíveis
com a realidade local. A coleta mal planejada dificulta o transporte, que por
sua vez, sendo mal planejado, gera resíduos e um respectivo tratamento
inadequado não atinge os objetivos de gerenciar os resíduos e garantir um
destino ambientalmente correto dos resíduos sólidos (SCHNEIDER, 2001, apud
SILVESTRIN et al., 2009).
Justificativa
O
entulho da construção civil que seja resultante de desperdícios na execução de
obras quer da execução de reformas ou da demolição de edificações “antigas”,
tornou-se dentre os resíduos sólidos urbanos o que mais causa impacto
ambiental. Trata-se de um resíduo de grande massa e volume, ocupando, portanto,
muito espaço nos aterros e locais de descarte clandestinos. Seu transporte, em
função do volume e peso, torna-se oneroso. Este tipo de resíduo sólido
apresenta como características particulares à predominância de materiais
inertes e passíveis de reaproveitamento. A partir dele, é possível produzir
agregados como areia e brita para uso em pavimentação, contenção de encostas,
canalização de córregos e uso em argamassas e concreto.
O entulho enquadra-se no tipo de resíduos
especiais que por apresentarem características qualitativas e, ou,
quantitativas, exigem um manejo diferenciado em comparação com os demais tipos
de resíduos, tanto no seu recolhimento, transporte, tratamento e, ou destinação
final.
Cada
município brasileiro possui obrigatoriamente o Estatuto da Cidade que tem como
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana. Mediante algumas diretrizes gerais, criou a garantia do
direito a cidades sustentáveis, prevendo a necessidade de proteção e
preservação do ambiente natural e construído, com a justa distribuição dos
benefícios e ônus decorrentes da urbanização, exigindo que os municípios adotem
políticas setoriais articuladas e sintonizadas com o seu Plano Diretor. Uma
dessas políticas setoriais, que pode ser destacada, é a questão da gestão dos
resíduos sólidos, neste caso, os resíduos da construção civil e demolição.
A construção
sustentável é um sistema construtivo que procura diminuir os impactos ao
ambiente e seus usuários, por meio do uso de materiais de baixo impacto
ambiental durante o processo de fabricação. Utilizam tecnologias inteligentes e
socialmente responsáveis para uso racional dos recursos naturais, como a água e
energia elétrica, além da diminuição da poluição no ambiente construído.
O setor da
construção civil apresenta um grande desafio: como conciliar uma atividade
produtiva desta magnitude com as condições que conduzam a um desenvolvimento
sustentável consciente, menos agressivo ao ambiente? É uma pergunta ainda sem
respostas satisfatórias. Sem dúvida, por ser uma questão bastante complexa,
requer grandes mudanças culturais e ampla conscientização de toda sociedade.
Apesar de causar tantos problemas, o entulho
deve ser visto como fonte de materiais de grande utilidade para a construção
civil. Seu uso mais tradicional - em aterros - nem sempre é o mais racional,
pois ele serve também para substituir materiais normalmente extraídos de
jazidas ou pode se transformar em matéria-prima para componentes de construção,
de qualidade comparável aos materiais tradicionais.
A reciclagem dos
entulhos proporciona a possibilidade de resgate social, por intermédio da
geração de emprego e renda possibilitados pelo fomento à indústria da
reciclagem. Inclui-se no modelo de construção sustentável, que tem como
principais pilares o uso consciente dos recursos naturais e a gestão do meio
ambiente, fazendo a ponte para o desenvolvimento auto-sustentável de nosso país
(SINDUSCON-MG, 2008).
Lembramos ainda que
o gerenciamento adequado dos resíduos produzidos pelas empresas do setor,
incluindo a sua redução, reutilização e reciclagem além de se configurar em
atitude de responsabilidade social e ambiental torna o processo construtivo
mais rentável e competitivo. Por conseqüência, impulsiona o desenvolvimento
econômico e social (SINDUSCON-MG, 2008).
O processo de reciclagem, no entanto, além de
preservar o ambiente, também gera renda, reduz significativamente a poluição
dos recursos hídricos, edáficos e atmosféricos. Muitas empresas estão
reciclando materiais como uma maneira de reduzir os custos de produção de seus
produtos. Outro importante benefício gerado pela reciclagem é a quantidade de
novos empregos que ela tem gerado nos grandes centros urbanos. Muitos munícipes
sem emprego formal (com carteira registrada) estão buscando trabalho nesse ramo
e conseguindo renda para manter seus familiares.
Literatura
citada
ALMEIDA M. L. O; VILHENA. A. Lixo Municipal, Manual de Gerenciamento
Integrado. Ed. IPT/CEMPRE. Publicação IPT 2622. V. 01. São Paulo – SP, p.
03. 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: resíduos sólidos -
classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
CAMPANA, Antônio Hermes. Gestão de Resíduos da Construção e Demolição (RCDs) gerados no
município de Vitória – ES. 57 f. Monografia. (Pós-graduação Latu Sensu em
Gestão Ambiental), Faculdades Integradas de Jacarepaguá, Vitória-ES, 2009.
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
(2002). Resolução Nº 307, de 5 de julho
de 2002. Ministério das Cidades, Secretaria Nacional
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