REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: MÉTODOS ALTERNATIVOS NO
CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS
AUTOR: ELISEO SALVATIERRA GIMENES. Monografia do curso
de pós-graduação em Agroecologia do IF Sudeste de Minas campus RIO POMBA-MG.
Orientador: Prof. Maurício Novaes Souza
Trabalho
apresentado à Disciplina de Cafeicultura Agroecológica do Curso de Tecnologia
em Cafeicultura do Instituto Federal do Espirito Santo, como requisito parcial
para avaliação.
Professor:
Maurício Novaes Souza.
INTRODUÇÃO
As formigas cortadeiras vem causando diversos prejuízos na
produção agrícola no Brasil e no mundo, muita das vezes à tornando inviável. As
formigas do gênero Atta spp., as
saúvas, e as do gênero Acromyrmex spp.,
as quenquéns, são as principais causadoras de danos nas diversas culturas.
Ainda não existe uma aplicação
lógica para o que motiva as formigas a cortar uma determinada planta, se seria
uma opção fisiológica, nutricional ou ambiental, para diferenciar as plantas
que serão atacadas.
Segundo ANJOS et. al. (1998), devido
à complexidade de sua organização social vários princípios da filosofia do
manejo integrado de pragas (MIP) não se aplicam as formigas. Apesar das
dificuldades, algumas filosofias propostas pelo MIP têm dado certo, como
exemplo, é de que é possível conviver com a formiga, desde que bem avaliado a
situação para que não haja prejuízos ao produtor, em fase de crescimento e
maturação do eucalipto. Para controle dessa praga, há importância na
preservação de reservas naturais e manejo de sub-bosques, para condições
favoráveis para estabelecimento de agentes alternativos de controle dessa
praga. Em fases de pré-plantio, plantio e rebrota é importante o controle
químico com imediata interrupção da atividade forrageadora desses insetos, pois
essa é uma fase crítica da cultura do eucalipto para formigas cortadeiras.
Grandes empresas estão preocupadas
com o aumento do uso de formicidas químicos. Há pouca pesquisa sobre
alternativas aos inseticidas convencionais, que apresentam grandes desvantagens,
como alto custo, baixa eficiência e elevados riscos de poluição, acúmulo de
produtos tóxicos no ambiente.
O presente trabalho foi feito com o objetivo
de identificar melhores alternativas para o controle alternativo das formigas
cortadeiras, reduzindo os impactos ambientais negativos.
1. MÉTODOS DE CONTROLE
Segundo BURG & MAYER
(2000) alguns danos econômicos provocados pelas formigas são: um formigueiro
adulto pode recolher 1000 Kg de folhas e talos por ano; 10 formigueiros
considerados velhos provocam uma redução de 50% da capacidade de pasto,
consumido até 21 Kg de capim/dia; um formigueiro de 10 m2, pode
matar 37 árvores, o que representa 8 m3 de madeira/alqueire/ano.
O manejo inadequado das
áreas cultivadas aumenta os danos causados pelas formigas, que aliado ao
desequilíbrio ecológico e a monocultura aumentam o uso de agrotóxicos cada vez
mais poluentes e que causam maior impacto ambiental. Novas alternativas de controle
de formigas cortadeiras ajuda a reduzir o uso irracional destes produtos
altamente tóxicos e, até mesmo a suprimi-lo.
O uso
inadequado de agrotóxicos, e o descaso dos aplicadores, são motivos de
preocupação há muito tempo, tanto com a própria saúde e com o meio ambiente,
por isso recomendações vindas de experiência de campo, relatadas por técnicos e
produtores vem sendo estudadas, para achar uma forma de reduzir o ataque de
formigas cortadeiras sem o uso de produtos químicos.
1.1 Controle Mecânico
Utilizando uma enxada ou uma pá, faz-se a escavação
dos ninhos na área infestada até que a rainha seja retirada e eliminada.
Pode ser feito até 3 meses depois da
revoada das saúvas: é viável em pequenas áreas e em formigueiros superficiais.
Segundo SILVA (2003), devido ao grande esforço físico feito para a escavação,
ele fica restrito a pequenas áreas. É mais eficaz no controle de Acromyrmex - quenquéns – cujos ninhos são pouco profundos.
1.2
Controle Cultural
Consiste na utilização de implementos agrícolas
durante a preparação do solo para o cultivo, são utilizados arados e grades que
podem eliminar as rainhas em formigueiros de até 1,5 metros de profundidade.
Na Colômbia, a principal razão da mortalidade de Acromyrmex landolti em pastagens é a
aração. Segundo DA SILVA (2003), esse tipo de controle pode ser visto como uma
técnica secundária de eliminação de formigueiros incipientes, pois essa técnica
não é suficiente para evitar danos significativos em pastagens altamente
infestadas.
1.3
Compactação
Método usado para fazer a
desorganização da colônia, tornando inativas por vários meses.
Utilizando
esse método repetitivamente ou aliando a outros métodos de controle, elas podem
até migrar para outros locais. Esse método causa desabamento das panelas e
danifica as formigas e seu ninho, assim elas passam muito tempo refazendo seu
ninho e diminuem seu ataque.
1.4
Barreiras Físicas
Usa-se cones invertidos de lata, plástico ou folha
metálica, para proteger árvores e mudas, o princípio de funcionamento é impedir
que as formigas cheguem as folhas, canaletas de água e pneus também funcionam,
mais tem uma desvantagem que servem também como criadores de mosquitos.
1.5
Tratamento de Sementes
Segundo BURG & MAYER (2000) o uso de sabonete
diluído em água para tratar sementes de hortaliças é usado para prevenção de
danos por formigas cortadeiras em geral.
1.6 Plantas Repelentes ou
Tóxicas
Quando a infestação é baixa, algumas espécies podem
ser usadas para repelir formigas cortadeiras (BURG & MAYER, 2000), entre
essas plantas, podem ser usadas a hortelã ou poejo, Mentha spp. e batata doce, Ipomea
batatas, essas plantas plantadas como bordadura servem de repelente.
Sabe-se que alguns compostos
químicos encontrados na batata doce tem uma ação fisiológica geral sobre as
formigas cortadeiras e um efeito inibitório no desenvolvimento da cultura do
fungo simbiótico (HEBLING et al. 2000), mais ainda são necessárias mais
pesquisas para descobrir quais compostos químicos responsáveis pelos efeitos
tóxicos e para avaliar seu potencial como inseticida e fungicida no controle de
formigas cortadeiras.
O gergelim (Sesamum
indicum), mamona, (Ricinus communis),
a ucuúba, (Virola sebifera ) e o
feijão de porco, (Canavalia ensiformis), são
plantas que princípios tóxicos contra o fungo que serve de alimento para a
formiga.
1.7
Produtos Repelentes
Produtos repelentes como barreira física e em faixa
contínua, têm sido usados para proteger e manter afastadas as formigas
cortadeiras. (BURG & MAYER, 2000). Borra de café, farinha de ossos, casca
de ovo moída e torrada, carvão vegetal e cinza de fogão à lenha, são produtos
que são usados como repelentes, são colocados ao redor dos canteiros e em
faixas de 15 cm de largura.
Tem outros produtos que são usados
na forma líquida (como macerados e preparados de extratos alcoólicos) como por
exemplo: macerado de piteira ou sisal (Agave
sisalana), macerado de angico (Piptademia
spp.) e macerado de pimenta
vermelha, outra forma de uso é moer as pimentas vermelhas, colher o seu suco e
diluir 1:1 em água, embeber em pano e amarrar ao redor de troncos de frutíferas
ou usar para pincelar os troncos como solução.
Segundo ABREU (1998), existem vários
produtos repelentes para o controle de formigas cortadeiras tais como: cânfora,
água com cinza, cal viva com água quente, cal com sulfato de amônio e creolina que
deverá ser pulverizada sobre os canteiros, mas sem atingir as folhas das
plantas.
1.8
Extrato de Plantas
Uma alternativa ao uso de produtos sintéticos, é o uso
de extratos de plantas, são produtos toxicidade e persistência, resultando em
um menor impacto ambiental. Esses produtos agem como barreiras de proteção para
as culturas, inibem a alimentação e a oviposição, retarda o desenvolvimento,
afetando a reprodução e causando a mortalidade de insetos e praga.
Espécies como o nim (Azadirachta indica), cinamomo (Melia azedarach), catiguas (Trichilia
spp.) e pimenta do reino (Pepper nigrum) tem
potencial de ação inseticida contra diversas espécies de insetos.
A família Piperaceae possui por
volta de 1000 espécies e todas contêm metabólitos secundários ativos, os quais
têm conhecidas propriedades inseticidas e medicinais. Compostos a base de amido
extraídos da planta do gênero Piper spp.,
chamados de “amidos piper’’, têm demonstrado efeito inseticida sobre a espécie Atta sexdens rubropilosa (PAGNOCCA et.
al. 2006).
Os extratos vegetais surgem como uma opção para o
manejo integrado de pragas e que associados a outras práticas, podem contribuir
para a redução de doses e aplicações de inseticidas químicos sintéticos, que
apresentam problemas aos organismos e ao ambiente (COSTA, et al.2004).
1.9 Fungos
Pode se dizer que de forma geral, as formigas
cortadeiras do gênero Acromymex atacam
todas as culturas, sendo essas florestais, agrícolas ou pastagens, nativas ou
exóticas. Mas também se for feita uma avaliação mais detalhada mostra que elas
selecionam espécies, cultivares e indivíduos que irão forragear, esta seleção
está relacionada a vários fatores, entre eles, o conteúdo de água, nutrientes e
substâncias do metabolismo secundário da planta que podem atuar como atrativos
ou repelentes.
Os fungos entomopatogênicos, são
usados em programas de controle microbiológico, pois são agentes biológicos que
controlam naturalmente o tamanho das populações de insetos. Insetos sociais são
mais difíceis de serem controlados, a estrutura e a organização social destes
insetos são as primeiras barreiras a serem vencidas. Todo inseticida, seja
químico ou biológico, deve agir sobre a colônia, matando a rainha (ou rainhas,
dependendo da espécie), as operárias e as formas imaturas.
Foram realizadas pesquisas em
condições naturais, envolvendo a aplicação direta e a utilização de iscas contendo
Beauveria bassiana para controle de Acromyrmex straitus, foram aplicadas
iscas contendo Beauveria bassiana diretamente
no interior de mais de 200 colônias de Acromyrmex,
em área de cultivo misto e em matas implantada de Eucalyptos saligna. No final da primeira semana já foram vistas
formigas com sintomas de infecção, a partir da segunda semana, observou-se uma
redução do forrageamento, desorganização nas trilhas e retirada dos ninhos de
grande número de formigas mortas, aos 2 meses a mortalidade das colônias
atingiu 87% na área de cultivo e misto e 83 % na mata de Eucalyptus saligna.
Em trabalho feito por REZENDE
(2007), é citado a utilização de vinagre como substância antifúngica no pão,
que consiste em deixar que elas carreguem para a panela do formigueiro a isca
alimentar, sendo também uma forma de controle.
É importante ressaltar que, diferentemente do
controle tradicional, o êxito dos programas de controle biológico reside nos
estudos regionalizados devido ás complexas interações ambiente-hospedeiro-patógeno,
o controle microbiológico de formigas cortadeiras parece ser uma alternativa
promissora e viável em contraposição ao uso de inseticidas químicos.
1.10 Homeopatia
A homeopatia estimula os sistemas de defesa destes
organismos de modo que resistam ás doenças e pragas, combatendo com seus
próprios meios, os vírus, os fungos, as bactérias e outros tipos de agentes. Se
estivermos enfraquecidos, sem reservas, teremos problemas porque nosso
organismo está fraco e sem resistência, fazer a homeopatia é fazer o
concentrado homeopático.
Um tipo de preparado é o nosódio,
feito a partir do agente causador da doença ou do desequilíbrio. O nosódio vivo
é preparado com agentes ou organismos vivos, o nosódio do inseto praga é feito
com insetos vivos.
O preparado homeopático de nosódio
(a partir da mesma praga, no caso com a mesma formiga), com (Apis mallifera) CH5 ou Belladona CH5 tem
mostrado controlar as formigas cortadeiras em geral.
1.11 Feromônios
Existem duas formas de utilização de feromônios no
controle de formigas de acordo com
WILCKEN
& BERTI (1994), a primeira é a desorganização do sistema social da colônia
com eventual enfraquecimento e morte da mesma, e a segunda forma é incorporação
de feromônios em iscas granuladas visando o aumento da sua atratividade ás
operárias, consequentemente o aumento do transporte para o interior do ninho.
1.12 Aumento
da Biodiversidade
O controle de pragas, inclusive de formigas, por
inimigos ou predadores naturais, é maior quando se tem uma maior diversidade
biológica no ambiente.
A criação de Sistemas Agroflorestais
(SAFs) e uso de corredores ecológicos, são formas de aumentar a biodiversidade,
onde traz uma situação onde o ambiente é variado, e a chance de uma espécie se
tornar praga é baixa, pois uma controla a outra.
2. Considerações Finais
Existem várias formas de se fazer o controle de
formigas cortadeiras, além dos métodos citados no trabalho! Outras práticas são
indispensáveis, tais como: adubação orgânica em quantidade e qualidade adequada, uso
de espécies e variedades adequadas, adubação e correção do solo, a conservação
do solo e a rotação de áreas de cultivos e a rotação de cultura.
As
formigas cortadeiras são uma das principais pragas dos setores florestal e
agrícola brasileiro, devido ao grande número de formigas por formigueiro, o
controle se torna um pouco mais difícil, e seu custo pode ser elevado se não
for feito de forma correta.
Reduzir
ao máximo o uso de venenos e a busca constante de alternativas que causem um
menor impacto negativo ao ambiente, é a base filosófica do manejo integrado de
pragas (MIP).