quarta-feira, 28 de maio de 2014

Recuperação de Áreas Degradadas do Sítio Bulcão – Aimorés, Minas Gerais


Estudo de Caso: Instituto Terra

Curso: Bacharel em Agroecologia
Disciplina: Recuperação de Áreas Degradadas
Professor: Maurício Novaes Souza
Aluna: Suzane Paiva Melo
Maio, 2014

Resumo executivo

O Instituto Terra foi fundado em abril de 1998, em Aimorés (MG), por Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado, com o objetivo de desenvolver ações de recuperação e educação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável no Vale do Rio Doce.
O Instituto fica localizado na Fazenda Bulcão, em Aimorés, Minas Gerais, com área de 676 ha e reconhecida como Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN). Por sinal, foi a primeira RPPN criada em uma área totalmente alterada, apenas portando um bom programa ambiental (conjunto de metas e projetos) dedicado a reabilitá-la em todos os seus aspectos.
As iniciativas do Instituto Terra apoiadas pelo programa BNDES Mata Atlântica incluem a restauração de dois sítios de reflorestamento na região, originalmente cobertos pelo bioma Mata Atlântica que, ao longo de décadas, foi sendo substituída por pastagens e lavouras. Atualmente, os fragmentos florestais remanescentes são raros no Vale do Rio Doce, e os problemas com o solo e com o balanço hidrológico estão mais acentuados.
Na RPPN Fazenda Bulcão, o projeto apoiado pelo BNDES consiste no enriquecimento da vegetação em 55 hectares da mata ciliar, além da implantação de um Laboratório de Sementes – um núcleo de pesquisa para seleção de espécies florestais mais resistentes e favoráveis à atividade de reflorestamento em áreas degradadas.
Com o objetivo de reconstruir o ecossistema florestal da região, por meio de diferentes formas de intervenção, recuperando os processos ecológicos e contribuindo para a manutenção da biodiversidade local, foi fundado o Instituto Terra, uma associação civil sem fins lucrativos voltada para preservação do meio ambiente com ênfase em reflorestamento, educação e pesquisa, onde em menos de 10 anos já foram plantadas 1 milhão de mudas. O Instituto é aberto a visitações, oferece cursos e desenvolve a extensão rural nas comunidades.

Área do projeto

A região do Vale do Rio Doce, onde está localizada a Fazenda, era originariamente coberta pelo bioma da Mata Atlântica em estado primitivo. No entanto, quando foi adquirida pelo casal, sua mata encontrava-se em acelerado estágio de desmatamento, havia perdas expressivas de nutrientes em seus solos expostos, sua fauna específica evadira-se e ocorriam graves ameaças às nascentes situadas em seu sítio.
Entre as alterações ambientais que motivaram esses impactos estavam (i) o processo de colonização da região, com a exploração comercial de madeira; (ii) o desmatamento generalizado; e (iii) atividades agrícolas e pecuárias mal planejadas e fadadas ao fracasso ambiental.
O conjunto das edificações do Instituto Terra está localizado num vale de cerca de 30 ha, criando assim um pequeno centro urbano, rodeado por florestas e dentro de um grande jardim. O antigo curral e sua balança foram transformados em escritórios, sala de exposição e refeitório.
Atrás, o Centro de Educação e de Recuperação Ambiental, com uma sala polivalente para 180 lugares, é ao mesmo tempo, auditório, cinema e teatro. Três salas de aulas com capacidade para 25 pessoas cada uma. A biblioteca, o laboratório e a secretaria do Centro. O almoxarifado, com uma grande varanda que serve de refeitório para os trabalhadores do campo. O alojamento dos professores, com seis suítes duplas. O alojamento dos alunos, com capacidade para 36 pessoas. Todos os edifícios têm acesso para pessoas com deficiências.
Em agosto de 2004 foi inaugurada uma área de residência dos alunos como parte da infraestrutura de um Centro de Reabilitação Ambiental e de Desenvolvimento Rural, com capacidade para receber até 30 alunos.

Descrição da organização executora do projeto e parcerias

O casal, que foi exilado na época da ditadura, ao voltar para o Brasil após a anistia, cansados de ver toda aquela degradação resolveram substituir as pastagens por florestas. O pai de Sebastião Salgado, assim como a maioria da população de Aimorés, achava um absurdo plantar florestas.
Foram anos de pesquisa até que a idéia foi crescendo junto com o apoio dos amigos, até que se criou o Instituto Terra, uma RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural, uma associação civil sem fins lucrativos, com reconhecimento difícil pelo histórico do local.     
 O Instituto Terra hoje é o segundo maior empregador de Aimorés, contando com um quadro de 55 funcionários com carteira assinada. Os projetos são financiados por empresas públicas e privadas além de fontes externas vindas de países como Itália, Espanha e EUA e também de doações de pessoas físicas  e jurídicas.

Descrição do meio físico

O relevo do município de Aimorés é predominantemente ondulado. A altitude máxima encontra-se na Serra da Mata Fria, situada a sul do município, que chega aos 1.118 metros, enquanto que a altitude mínima está no Rio Doce, chegando a 83 metros acima do nível do mar, em um trecho a nordeste da cidade.
O clima aimoreense é caracterizado, como tropical quente semiúmido, ou tropical com estação seca (tipo Aw segundo Köppen), tendo temperatura média anual de 25,2 °C com invernos secos e amenos e verões chuvosos com temperaturas elevadas.18 19 O município é conhecido por ser a cidade mais quente do estado de Minas Gerais. A precipitação média anual é de 1 062,6 mm, sendo julho o mês mais seco, quando ocorrem apenas 17,9 mm. Em dezembro, o mês mais chuvoso, a média fica em 202,0 mm.
O solo encontrado no local onde se deu início ao projeto era bem degradado, com pouca matéria orgânica, sem a presença de horizonte O e quase nada do horizonte A, marcado pela utilização inadequada de técnicas agrícolas, como aração do morro abaixo, topos de morros desmatados, gados circulando em áreas de nascentes.
A cidade era cortada pelo Rio Doce, que há alguns anos diminui significativamente sua vazão, se tornando quase inexistente, devido a transposição de parte de suas água para a criação de uma usina. Este cenário alertava aos moradores para a importância de se ter água em sua propriedade, mas pouco era feito para mantê-las, causando a extinção de nascentes e pequenos córregos.

Justificativa

O enriquecimento da mata ciliar vai favorecer o projeto de recuperação de Mata Atlântica em curso na Fazenda Bulcão e que está entre os maiores do Brasil em termos de área contínua. São 709,84 hectares que estão sendo reflorestados, sendo que 608,69 hectares se constituem em Reserva Particular de Patrimônio Natural – título recebido pelo Instituto Terra em 1998 e que conserva seu ineditismo por se tratar da primeira RPPN constituída em uma área degradada de Mata Atlântica com o compromisso de vir a promover um processo de recuperação ambiental associado a atividades educacionais.

Objetivos

Geral

Reconstituir o ecossistema florestal da região, por meio de diferentes formas de intervenção, recuperando os processos ecológicos e contribuindo para a manutenção da biodiversidade local.

Específicos

·         Reconstituir o bioma original da Mata Atlântica;
·         Contribuir para a recuperação da biota e da biodiversidade de fauna e flora;
·         Recuperar as águas do córrego Bulcão e Constância e de outras nascentes;
·         Recuperar as bacias hidrográficas da região;
·         Enriquecer a vegetação em 55 hectares da mata ciliar;
·         Implantar de um Laboratório de Sementes;
·         Criar corredores ecológicos para facilitar o trânsito da fauna;
·         Conscientizar a população da importância de se recuperar e preservar áreas de matas

Metodologia

É essencial demonstrar às pessoas sobre as questões do ambiente. Como produzir com ele, como conservá-lo, como preservá-lo, bem como fazer uma reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento adotado para a produção no campo brasileiro.
Através do Centro de Educação e de Recuperação Ambiental, unidade de treinamento do Instituto Terra, são ministrados cursos em módulos sobre temas tais como: ecologia, alteração ambiental, manejo florestal, agroecologia, sistemas agroflorestais, silvicultura, permacultura, educação ambiental, combate a incêndios, pronta-resposta a acidentes e outros.
A estratégia é trabalhar o público que demonstrava relevância na formação e difusão de ideias ambientais, tais como professores do ensino médio, prefeitos, secretários do ambiente, lideranças da sociedade civil e, sobretudo, os próprios produtores rurais.
O trabalho consistiu inicialmente, no isolamento da área ao redor e na retirada dos gados do pasto. Foram criadas parcerias com as escolas da cidade que ajudaram no primeiro plantio que teve de mudas de árvores, até então doadas, nos morros que cercavam a propriedade. A partir disso, passou a se fazer o monitoramento dessas plantas e a manutenção, pois os indivíduos dominantes eram, basicamente, capim colonião, uma gramínea bastante agressiva. Com o estabelecimento destas primeiras espécies, passou a ser implantada a técnica da muvuca, que constituía em uma mistura de terra, adubos e sementes.
Nesta mistura, também havia espécies armadilhas, ou seja, elas eram implantadas com a finalidade de atrair formigas cortadeiras e diminuir o ataque das mesmas em espécies florestais. Essa muvuca era espalhada ao longo dos terraços de base estreita que eram feitos em épocas de chuva, facilitando a germinação e pegamento das plântulas. Técnicas de nucleação por galhadas também foram implantadas, assim como o plantio aleatório, de espaçamento 2m x 2m, intercalando mudas pioneiras e secundárias.
Na propriedade são produzidas as mudas das árvores, assim como a coleta de sementes que é realizada nas proximidades pela equipe responsável. No viveiro onde se tinha problemas com a dormência das sementes, hoje se tem registrado mais de 300 espécies, contendo nome cientifico, popular, se tem ou não dormência e como tratar essa dormência. No último ano foram gastos 2.300 kg de sementes. São produzidas hoje mudas de mais de 60 espécies como Pau Brasil, Paracatu, Jequitibá entre outras. As mudas são plantadas na época das chuvas, com espaçamento de 4 m² por planta, sendo umas 2.300 plantas por há, na proporção de 60 pioneiras, 30 secundarias e 10 climax, com um custo variando entre R$ 7.000,00 por ha.
O projeto com a ajuda de um empresário da cidade é “vendido” para empresas de vários países, que passam a financiá-lo, em troca do crédito de carbono. Uma compensação ambiental que, para o município e seus moradores é de grande valor, econômico e ambiental, gerando  renda e garantindo além de uma melhor qualidade de vida daqueles, sua permanência na região.

Apresentação dos resultados

Em pouco mais de uma década, o sonho do casal já rendeu muitos frutos. Por conta da atuação do Instituto Terra, mais de 7.000 hectares de áreas degradadas estão em processo de recuperação na região e mais de 4 milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica já foram produzidas em seu viveiro para abastecer tanto os plantios na RPPN Fazenda Bulcão quanto os projetos de restauração que desenvolve na região.
A antiga fazenda de gado, antes completamente degradada, hoje abriga uma floresta rica em diversidade de espécies da flora de Mata Atlântica. A experiência comprova que junto a recuperação do verde, nascentes voltam a jorrar e espécies da fauna brasileira, em risco de extinção, voltam a ter um refúgio seguro.
Com o reflorestamento da RPPN Fazenda Bulcão, cujo primeiro plantio foi realizado em dezembro de 1999, o Instituto Terra está perto de concluir um projeto de recuperação de Mata Atlântica sem precedentes no Brasil em termos de área contínua.

Considerações Finais


O projeto desenvolvido pelo casal Lélia e Sebastião mostra o quão é possível que iniciativas de recuperação saiam do papel. Além de que, demonstram para a população daquele local e demais curiosos as vantagens da regeneração da Mata Atlântica e, principalmente, que esta regeneração pode acontecer em conjunto com as atividades econômicas da propriedade em questão, aumentando a renda e melhorando a qualidade de vida dos indivíduos.

sábado, 22 de março de 2014

A crise no abastecimento de água decorrentes da degradação dos ecossistemas aquáticos




* Por Maurício Novaes Souza


O dia 22 de março foi escolhido pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 22 de Fevereiro de 1993 como o “Dia Mundial da Água”. Essa escolha se deu devido à presença de grandes índices de poluição ambiental no planeta. A partir desta data, a ONU elaborou uma série de medidas cautelosas a favor da água e impôs a consciência ecológica em relação a este bem natural. Nesse mês de março, em todo o mundo, mais uma vez essa data é comemorada. Como se pergunta a todo ano, existe motivo real para comemoração? Ou teríamos pretextos suficientes para promover um dia de luto?

Apesar do Brasil ter 12% da água doce do mundo, a crescente demanda provoca aumento da poluição de rios, lagos e represas e pressiona fortemente os recursos hídricos. Sabemos que a água está distribuída de forma desigual pelo País. Regiões como São Paulo, por exemplo, têm acúmulo de população e pouca reserva de água. Já no Amazonas, ocorre o inverso. Além disso, há a questão da exploração dos aquíferos, pois muitos não são bem explorados, como na cidade de Manaus.

Com o aumento da pressão sobre os recursos hídricos, a resposta da natureza será mais lenta, provocando em determinados períodos escassez. Tudo na água se resume a uma relação de disponibilidade e demanda. Se continuarmos utilizando acima da disponibilidade, as reservas vão diminuir e coloraremos o abastecimento em risco, como acontece agora na cidade de São Paulo.

Na verdade, o modelo de desenvolvimento atual e como ele afeta as populações tem persistido na manutenção de erros graves. É realmente uma insanidade sem limites o que empresas e indivíduos vêm fazendo com o meio ambiente, interferindo em sua própria sobrevivência. É isso que se pode chamar de falso progresso (ou de desenvolvimento insustentável), mas que muitos teimam em chamar de crescimento econômico ou desenvolvimento sustentável.

De fato, percebe-se grande desconhecimento ou mesmo ignorância que tem origem no egoísmo humano e na percepção ilusória. Dessa forma, o mundo caminha para o crescimento “deseconômico”, que segundo o ilustre economista Herman Daly, ocorre quando aumentos na produção se dão à custa do uso de recursos e sacrifícios do bem-estar que valem mais do que os bens produzidos. Isso decorre de um equilíbrio indesejável de grandezas denominadas utilidade e desutilidade. Utilidade é o nível de satisfação das necessidades e demandas da população; de fato, é o nível de seu bem-estar. Desutilidade se refere aos sacrifícios impostos pelo aumento de produção e consumo. Pode incluir o uso de força de trabalho, perda de lazer, esgotamento de recursos, exposição à poluição e concentração populacional.

Segundo Loïc Fauchon, presidente do Conselho Mundial da Água, o comportamento humano com relação ao uso deste recurso é cada vez mais irrefletido e inconsequente. É preciso que se estabeleçam metas para a elaboração de um novo modelo de desenvolvimento e crescimento econômico. Deve-se haver a pretensão de apresentar resposta para escassez do recurso água provocada pelo crescimento da população, pelo desperdício, pelo consumo excessivo e pelo aumento da necessidade de energia.

Tal análise se justifica pelo fato de que a economia e o meio ambiente estão passando por uma crise sem precedentes. Em grande parte, o principal responsável é o modelo de desenvolvimento adotado pela maioria dos países. Para agravar ainda mais a situação, a atual crise econômica mundial tem trazido como solução o estímulo ao consumo – situação ainda mais ameaçadora às atuais situações ambientais. Esse modelo visa, efetivamente, a geração de lucros imediatos, não considerando os limites do crescimento; portanto, socialmente e ambientalmente não é sustentável.

Do ponto de vista social, 20% da população mais rica utilizam ¾ dos recursos naturais, causando a sua degradação. Do ponto de vista ambiental, considerando a Pegada ecológica, verifica-se que o ambiente está sendo usado além de sua capacidade de suporte e de reposição. Na verdade, o modelo de produção e consumo são os responsáveis pelas agressões cometidas sobre os ecossistemas aquáticos, indispensáveis para a sobrevivência da humanidade. A previsão é de que a população mundial, atualmente superior a 7 bilhões de habitantes, possa chegar a nove bilhões até meados deste século, o que aumentará consideravelmente a demanda de recursos hídricos.

Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), o número de pessoas com graves problemas para conseguir água chegará a 3,9 bilhões em 2030. A falta do saneamento nas cidades, em níveis mínimos que assegurem o bem-estar das populações, tem gerado um quadro de degradação do meio ambiente urbano sem precedentes, sendo os recursos hídricos um dos primeiros elementos integrantes da base de recursos naturais a sofrer tais efeitos.

No Brasil, caso o consumo de água continuar no ritmo atual, em 30 anos teremos problemas sérios de abastecimento, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste. Em algumas cidades já há uso competitivo da água a ponto de abastecimento público e produção de alimentos concorrerem pelo recurso. Na verdade, falta ao País uma cultura de gestão de água integrada e nacional, que ocorre de forma setorial, com políticas locais, enquanto deveria ser nacional e integrada. Existem boas iniciativas no Brasil, mas são todas pontuais e localizadas. Se fossem mais amplas, teríamos resultados mais efetivos.
Como consequência, e com o aumento acelerado da população, o mundo está enfrentando intensas mudanças globais, como migração, urbanização, mudança do clima, desertificação, seca, alteração do uso e degradação do solo, crises econômicas e alimentares. Caso continuemos a agir dessa forma, não respeitando os limites do crescimento, pouco restará para as gerações futuras. Como bem lembra Leonardo Boff, caso não se cuide do planeta a partir de uma visão sistêmica e holística, poderá submetê-lo à destruição de suas partes e inviabilizar a própria vida. Há inúmeras evidências que existem limites para o crescimento econômico, considerando que os recursos naturais são escassos.

A gestão das águas deve ser realizada por bacia hidrográfica, respeitando as características específicas de cada uma e da região em que estão. É preciso entender como cada bacia hidrográfica funciona, relacionar disponibilidade e demanda, analisar fontes de poluição, ter um banco de dados regional. Assim é possível fazer uma gestão sistêmica da água. No Brasil já existem comitês de bacias, mas eles ainda estão em fase de implantação e com andamento muito lento.

Faz-se necessário mudar a visão mais imediatista dos governantes por uma que contenha uma estratégia de futuro. O professor Tundisi adverte que o modelo atual de gestão do meio ambiente está relacionado a um tipo de economia, na qual o capital natural não está inserido. Sabemos que há limites para o crescimento. A Amazônia, por exemplo, tem um grande potencial hidrelétrico, mas não adianta abarrotar a região de usinas. Isso significa que estamos trocando evolução natural por economia. Precisa haver um equilíbrio, pois os efeitos podem ser irreversíveis. O capital natural é algo explorável, mas dentro de limites.

Respondendo à pergunta inicial: teve-se o que comemorar neste dia 22 de março de 2012? Não existe motivo para pleno luto, mas é muito cedo para comemorações, apesar das inúmeras iniciativas governamentais e organizacionais. A indústria, o comércio e a população devem refletir sobre a necessidade urgente de abandono às concepções anacrônicas ligadas à produção e ao consumo, adotando a sustentabilidade sócio-ambiental nas ações públicas e privadas, em todos os níveis, do local ao global. Essas deverão ser as propostas de um novo modelo guiado pelos princípios do “Desenvolvimento Sustentável”.



* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Assessor da FAPEMIG. E-mail: 
mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Estação de tratamento de água: o caso do Instituto Federal Campus-RP e curiosidades sobre SANEAMENTO BÁSICO

Laura Júlia da Costa Mendonça


Disciplina: Saneamento Ambiental e Rural
Prof: Mauricio Novaes


·        Introdução
As estações de tratamento de água ou também abreviado como ETA é um local em que realiza a purificação da água captada de alguma fonte para torná-la própria para o consumo e assim utilizá-la para abastecer uma determinada população. A captação da água bruta é feita rios ou represas que possam suprir a demanda por água da população e das indústrias abastecidas levando em conta o ritmo de crescimento. Antes que vá para o sistema de distribuição de água através de adutoras, passa por um processo de tratamento com várias etapas.
O processo de tratamento utiliza processos físicos e químicos para que a água adquira as propriedades desejadas que a tornem própria para o consumo. As estações utilizam grades para reter impurezas maiores como restos de vegetais, e em seguida a água segue para uma etapa de floculação quando através de agentes químicos, como o sulfato de alumínio, as partículas de sujeira se aglomeram para em seguida decantarem no fundo de um tanque.
Em seguida a água passa por uma etapa de filtração, passando através de filtros compostos por carvão, areia e cascalho. Por final, recebe aditivos químicos como a cal que corrige a acidez da água, o cloro que age como desinfetante e o flúor que é adicionado para reduzir o problema com cáries na população.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada pelo IBGE em 2008 a água tratada não chega a 21,4% das residências no país. Em São Paulo está localizada uma das maiores estações de tratamento do mundo, a de Guaraú, parte do Sistema Cantareira. Desde 1975 há obrigatoriedade da fluoretação da água tratada no país.

·        Desenvolvimento
No último dia 16 realizamos uma aula prática na estação de tratamento de água da nossa instituição de ensino. O tratamento é basicamente manual, a principio há uma sala onde os produtos que serão utilizados no tratamento são misturados, são eles, hipoclorito de sódio 12%, que sofre uma diluição até alcançar de 9 a 10%, são utilizadas três caixas d’água nesse processo a cada 250L de água são utilizados 6 de cloro (figura 1). Em seguida é colocado o sulfato de alumínio, utilizado para coagular a sujeira e em seguida sua decantação são diluídos 12 kg para cada 300 L, de água são utilizadas duas caixas d’água neste processo (figura 2), por último é colocada cal com a finalidade de ajustar o pH da água, é feita uma mistura de 20kg para 500L de água, sendo está de 30 em 30 dias aproximadamente (figura 3).
Já na área externa ficam localizados cinco caixas de concreto, tendo a primeira função de misturador (todos os produtos (exceto a Cal) diluídos na primeira etapa serão incorporados a água que chega da estação de pré-tratamento), a segunda, terceira e quarta contém britas que são usadas para diminuir a velocidade da água, fazendo com que o produto possa agir, e a ultima serve apenas para armazenar a água que seguirá para a terceira etapa do tratamento (figura 4).
Já com o processo de coagulação e decantação iniciados, a água é levada para um outro reservatório, este local é composto de quatro floculadores, um imenso decantador e quatro filtros (figura 5), após ser filtrada a água é levada para um reservatório onde é adicionado a Cal (figura 6).
São tratados cerca de 250 a 280 mil litros de água/dia, sendo o consumo da instituição cerca de 150 a 180 mil litros de água/dia. O restante é praticamente desperdiçado por não haver outro reservatório.
Desde a nascente até a estação de tratamento a água é trazida toda por gravidade, nenhuma bomba é usada neste processo, somente na limpeza.
Assim como a chegada da água a distribuição também é feita toda por gravidade. A limpeza da estação é realizada com a seguinte frequência: caixas de concreto para mistura e ação do produto são lavadas todos os dias, filtros, todos os dias, floculadores, 15 em 15 dias e o decantador de 6 em 6 meses.
Para saber se os níveis de produtos que estão sendo utilizados, estão dentro da norma permitida são realizados análises na água, de 2 em 2 meses por uma empresa de Ubá, que coleta a água e em seguida encaminha para uma empresa de Belo Horizonte, e na escola na frequência de 15 em 15 dias. Para o cloro é permitida uma quantidade de 0,5 a 2 ppm, é preciso ficar de olho também nos níveis de sulfato, pois altas concentrações dele pode causar um efeito reverso, ao invés de limpar a água ele irá sujá-la (figuras 7 a, b).
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Conclusão
Mesmo diante das dificuldades que o responsável técnico Carlos Alberto Pereira (Cabé) enfrenta, nos é oferecido uma água de qualidade dentro de todas as normas e padrões exigidos. Muitas coisas ainda têm para se aperfeiçoar como a transferência do pré-tratamento para dentro do setor de tratamento de águas e também a construção de outro reservatório para a água já tratada. No mais devemos sim dar mais atenção as nossas nascentes e rios pois são delas quem vem nossa fonte de vida.

·        Anexos

Fotos:

Figura 1: Local onde é diluído o hipoclorito de sódio 12% (até chegar à concentração de 9 a 10%, em média são colocados 250L de água, para 6 de cloro).


Figura 1a: Galões com Hipoclorito de sódio 12%.


Figura 2: Caixas de diluição de Sulfato de Alumínio, onde são utilizados 12kg do produto para cada 300L de água.

Figura 2 a: Local de armazenagem do Sulfato de Alumínio e da Cal.


Figura 3: Caixa de diluição da Cal, 20 Kg do produto, para 500L de água a cada 30 dias.


Figura 4: Caixas de concreto, onde a água recebe os produtos diluídos, e onde começaram a agir.

Figura 5: Terceira etapa de tratamento, composta de quatro floculadores (canto direito da imagem), no centro um imenso decantador e do lado esquerdo da imagem quatro filtros.


Figura 6: No fundo da imagem a caixa onde é armazenada a água já tratada e onde será adicionado a Cal.

Figura 7a: Analise realizada em Ubá.

Figura 7b: Analise realizada no Instituto Federal.
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Dados importantes e curiosidades

Números mais importantes:

·         Atendimento em água potável: quando consideradas as áreas urbanas e rurais do País, a distribuição de água atinge 81,1% da população.
·         O atendimento em coleta de esgotos: chega a 46,2% da população brasileira.
·         Do esgoto gerado, apenas 37,9% recebe algum tipo de tratamento. A região com maior índice de esgoto tratado é a Centro-Oeste, com 43,1%.
·         Crescimento das ligações:  entre 2009 e 2010, houve um crescimento de 2,2 milhões de ramais de água e de 2,4 milhões de ramais de esgotos no País.
·         Consumo de água por habitante no Brasil: apresentou crescimento de 7,1% em 2010 com relação a 2009: o consumo diário por habitante alcançou os 159 litros. A região com menor consumo é a Nordeste, com 117 litros por habitante por dia; já a região com maior consumo é a região Sudeste, com 186 litros por habitante por dia.
·         Perda de água: a média de perdas de água (faturamento) diminuiu 1,2 pontos percentuais em 2010 em relação a 2009, atingindo 35,9%.
·         Receitas totais geradas pelos serviços de água e esgotos:  alcançaram os R$ 70,5 bilhões em 2010.
·         Investimentos: em 2010 os investimentos do Governo em água e esgotos atingiram R$ 8,9 bilhões.
·         Postos de trabalho: em 2010 o setor de saneamento criou 64 mil novos postos de trabalho, atingindo um total de 671 mil empregos diretos e indiretos criados pelo setor.
Fonte: SNIS 2010 (Ministério das Cidades) 
·         Cada R$ 1 investido em saneamento gera economia de R$ 4 na área de saúde
Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2004.
·         O Brasil é o 9º colocado no ranking mundial “da vergonha” com 13 milhões de habitantes sem acesso a banheiro.
Fonte: Estudo Progress on Sanitation and Drinking Water – OMS/UNICEF, 2010.
·         Nas 100 maiores cidades do Brasil, municípios tratados no Ranking do Saneamento – base SNIS 2010, vivem 77 milhões de habitantes, ou seja, 40% da população brasileira.
·         Dos 77 milhões, em 2010 pouco mais de 90% da população tinha acesso a água potável, então quase 7 milhões de habitantes ainda não tinham acesso. 31 milhões não tinham acesso à coleta de esgotos em 2010.
·         Do volume de esgoto gerado nessas 100 cidades somente 36,28% é tratado, ou seja, são quase 8 bilhões de litros de esgoto lançados todos os dias nas águas brasileiras sem nenhum Tratamento.
·         20 das 100 cidades analisadas ofereciam água tratada a 100% de sua população
·         34 das 100 cidades possuíam índice de coleta de esgoto superior a 80% da população e apenas 5 delas atendiam a 100%: Belo Horizonte, Santos, Jundiaí, Piracicaba e Franca
·         Só 6 municípios possuíam índice de tratamento de esgoto superior a 80%. Sorocaba, Niterói, São José do Rio Preto, Jundiaí, Curitiba e Maringá.
·         Os 100 municípios investiram em melhorias no saneamento em média 28% da receita com esses serviços. Apenas 8 municípios investiram acima de 80% na ampliação e melhorias do sistema de água e esgotos - Ribeirão das Neves (MG), Recife (PE), Teresina (PI), Praia Grande (SP) e Vitória (ES).
·         A média de perdas de água para os 100 municípios foi de 40,46%, pior portanto que a média nacional que foi de 36% em 2010.
Fonte: Ranking Trata Brasil com avaliação dos serviços de saneamento nas 100 maiores cidades do País, base SNIS 2010.  

·         Em 2009 a participação dos domicílios atendidos pelo serviço de rede coletora ou por fossa séptica à rede coletora foi de 59,1%;
·         As regiões Norte e Nordeste tiveram as menores parcelas de domicílios atendidos por este serviço, com 13,5% e 33,8%, respectivamente, do total de domicílios da região, equivalentes a, respectivamente, 555 mil e 5,2 milhões de domicílios;
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Síntese dos Indicadores de 2009 – IBGE, 2010 

·         Investe-se muito pouco em saneamento, o que torna a universalização muito distante. Deveriam ser investidos 0,63% do PIB, mas efetivamente são investidos apenas 0,22%.
·         Menos de 30% das obras do PAC Saneamento foram concluídas até 2010 (Ministério das Cidades).
·         Estudo do Trata Brasil “De Olho no PAC”, que acompanha a execução de 114 grandes de saneamento em municípios acima de 500 mil habitantes, mostra que apenas 7% de obras foram concluidas até Dezembro de 2011. 60% destas obras estão paralisadas, atrasadas ou ainda não iniciadas.
Fonte: Pesquisa 'De Olho no PAC' - Instituto Trata Brasil 

Impactos à sociedade:

·         Por ano, 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades devido a problemas gastrointestinais ligados a falta de saneamento. A cada afastamento perdem-se 17 horas de trabalho.
·         A probabilidade de uma pessoa com acesso a rede de esgoto faltar as suas atividades normais por diarréia é 19,2% menor que uma pessoa que não tem acesso à rede.
·         Considerando o valor médio da hora de trabalho no País de R$ 5,70 e apenas os afastamentos provocados apenas pela falta de saneamento básico, os custos chegam a R$ 238 milhões por ano em horas-pagas e não trabalhadas.
·         De acordo com o DATASUS, em 2009, dos 462 mil pacientes internados por infecções gastrointestinais, 2.101 faleceram no hospital.
·         Cada internação custa, em média R$ 350,00. Com o acesso universal ao saneamento, haveria uma redução de 25% no número de internações e de 65% na mortalidade, ou seja, 1.277 vidas seriam salvas.
Fonte: Pesquisa Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro – Instituto Trata Brasil/FGV, 2010. 
·         A diferença de aproveitamento escolar entre crianças que têm e não têm acesso ao saneamento básico é de 18%;
·         11% das faltas do trabalhador estão relacionadas a problemas causados por esse mesmo problema;
·         Apesar do relevante aumento de arrecadação e renda resultantes de maior fluxo de pessoas em 20 destinos turísticos indicados pela Embratur, essas localidades acusam ainda um subinvestimento das necessidades básicas;
·         Cada 1 milhão investido em obas de esgoto sanitário gera 30 empregos diretos e 20 indiretos, além dos permanentes quando o sistema entra em operação. Com o investimento de R$ 11 bilhões por ano reivindicado pelo setor de saneamento, calcula-se que sejam gerados 550 mil novos empregos no mesmo período;
·         Se os investimentos em saneamento continuarem no mesmo ritmo, apenas em 2122 todos os brasileiros teriam acesso a esse serviço básico.
·         As 81 maiores cidades do país, com mais de 300 mil habitantes, despejam, diariamente, 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento algum, contaminando solos, rios, mananciais e praias do país, com impactos diretos a saúde da população.
Fonte: Pesquisa Saneamento, Educação, Trabalho e Turismo – Instituto Trata Brasil/FGV, 2008.

Ganhos ao cidadão e ao país:

·         Ao ter acesso à rede de esgoto, um trabalhador aumenta a sua produtividade em 13,3%, permitindo assim o crescimento de sua renda na mesma proporção.
·         Com a universalização do acesso a rede de esgoto, a estimativa é que a massa de salários, que hoje gira em torno de R$ 1,1 trilhão, se eleve em 3,8%, provocando um aumento na renda de R$ 41,5 bilhões por ano.
·         A universalização do acesso a rede de esgoto pode ainda proporcionar uma valorização média de até 18% no valor dos imóveis.
·         A valorização dos imóveis pode alcançar R$ 74 bilhões, valor 49% maior que o custo das obras de saneamento avaliado em R$ 49,8 bilhões (considerando apenas novas ligações).
·         Em longo prazo, o acesso à rede de esgoto implicaria um aumento na arrecadação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) na mesma proporção do valor médio dos imóveis, um ganho estimado de R$ 385 milhões ao ano. Já no Imposto Sobre Transferência de Bens de Imóveis (ITBI) o crescimento esperado é superior a R$ 80 milhões por ano.
Fonte: Pesquisa Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro – Instituto Trata Brasil/FGV, 2010. 

O Brasileiro conhece o tema 'Saneamento Básico' e a responsabilidade do Poder Público quanto a estes serviços?

·         Com o objetivo de verificar o nível de conhecimento do brasileiro sobre os serviços de saneamento básico, mais especificamente sobre o acesso à água potável, coleta e tratamento dos esgotos, o Instituto Trata Brasil realizou junto com o IBOPE uma pesquisa de opinião. Realizada com 1008 pessoas em 26 grandes municípios - com população acima de 300 mil habitantes-, o estudo revelou que os brasileiros estão mais críticos e bem informados sobre o assunto. Vejam alguns resultados: 
·         81% dos entrevistados souberam relacionar saneamento com os 4 serviços da área (água, esgotos, resíduos sólidos e drenagem)
·         Quase metade dos entrevistados (47%) afirmaram haver esgoto ou córrego correndo a céu aberto próximo da residência.
·         31% citaram o saneamento (Esgoto + Limpeza Pública + Coleta de Lixo + Abastecimento de água) como a área mais problemática, ficando atrás somente de saúde (61%), segurança (46%) e drogas (40%).
·         Metade dos entrevistados disse que se pudesse não pagaria para ter seu domicílio ligado à rede coletora de esgotos. Outros resultados explicam: Com relação à qualidade dos servi serviços, 58% afirmaram que o valor pago pela água / esgoto é caro em relação à qualidade do serviço prestado.
·         Sobre as melhorias nos serviços de saneamento no bairro onde moram, 41% afirmaram que houve melhora, 44% que permaneceram iguais e 11% que pioraram.
·         75% das pessoas afirmaram que, apesar dos problemas, não cobram melhorias nos serviços. 59% dos cidadãos afirmaram que mesmo quando foram feitas reclamações à Prefeitura ou empresa de água e esgotos reivindicando melhorias, nenhuma medida foi tomada.
·         A maioria dos entrevistados (68%) sabe que o Prefeito é o principal responsável pelos serviços da área de saneamento básico. No que se refere à fiscalização, a maior parte dos entrevistados (55%) diz caber também à Prefeitura e 18% ao governo do Estado. A Agência Reguladora, órgão realmente responsável, foi citada por apenas 1% dos entrevistados. 13% das pessoas não sabem.
Fonte: A percepção do brasileiro quanto ao saneamento básico e a responsabilidade do poder público - Instituto Trata Brasil/Ibope, 2012.
Referência Bibliográfica:

Resenha: Biografia do Abismo

Resenha:  Biografia do Abismo Autores: Graciandre Pereira Pinto Maurício Novaes Souza Título do livro: Biografia do Abismo   Referência ...