quarta-feira, 25 de março de 2020

Resenha - Agroecologia: uma ciência do campo da complexidade


Programa de Pós-Graduação em Agroecologia
Instituto Federal do Espírito Santo campus de Alegre

Mestrando: José Carlos Venâncio da Páschoa

Professor: Maurício Novaes

Disciplina: AGROECOLOGIA E SUSTENTABILIDADE

RESENHA
Agroecologia: uma ciência do campo da complexidade. Francisco Roberto Caporal (org.). José Antônio Costabeber e Gervásio Paulus. Brasília: 2009. 111p.
Os autores descrevem o presente livro utilizando vivências do extensionismo e suas teses de mestrado e doutorado, identificando e sugerindo a complexidade da agroecologia como novo paradigma. Neste sentido, abordam o papel estratégico que pode assumir a Agroecologia em favor da busca da soberania e segurança alimentar. É vista como uma ciência com perspectiva epistemológica desafiadora, que inclui, para desespero de alguns professores, pesquisadores e extensionistas, a necessidade de integração entre saberes populares e conhecimentos técnico-científicos.
É chegada a uma convicção, pelos autores, que a Agroecologia é uma ciência que exige um enfoque holístico e uma abordagem sistêmica. As relações indissociáveis entre sociedade/indivíduo/natureza/economia/cultura/política a partir de um enfoque multidisciplinar, ou mesmo transdisciplinar.
Questionam: os efeitos danosos dos modelos convencionais de desenvolvimento e de agricultura chegaram aos seus limites? Talvez? O que se sabe, com certeza, é que os monocultivos, baseados nas práticas e tecnologias da chamada “Revolução Verde”, têm sido responsáveis por um conjunto de externalidades que levaram a uma crise socioambiental sem precedentes na história da humanidade. O que se sabem é que a Revolução Verde veio para acabar com a fome e acabou por piorar a situação, o que pode ser observado no trecho: “Pelo contrário, o que vimos, além do aumento da fome, foi uma permanente, crescente e continuada destruição dos diferentes biomas, o aumento das áreas em processo de desertificação (e dos programas hipócritas para reduzi-la), bem como o aumento da erosão dos solos, a perda e exportação da fertilidade e da água (a valores que não estão embutidos nos custos de produção do empresário individual e que não aparecem nas contas do PIB). Vimos crescer também a contaminação dos aquíferos, dos rios, dos mares e, pior, dos alimentos.” Os autores finalizam abordando as alternativas e a necessidade imediata de estratégias voltadas aos princípios de agroecologia para combater a fome com alimento saudável e de qualidade.
Entretanto, foi somente a partir dos debates realizados durante o II Congresso Brasileiro de Agroecologia, realizado pela Associação Brasileira de Agroecologia, em Florianópolis, no ano de 2005, onde foi apresentada a proposta de que a Agroecologia passasse a ser tratada como um novo paradigma, que decidiram enfrentar o desafio de escrever o primeiro artigo que compõe este livreto. Este artigo já foi publicado no Uruguai e no Brasil, e tem sido referência para os debates, embora sua divulgação continue muito restrita. De lá para cá, temos encontrado cada vez mais colegas que, como nós, acreditam que de fato estamos vivendo um período profícuo de construção paradigmática.

Sobre a palavra Agroecologia
O emprego mais antigo da palavra agroecologia diz respeito ao zoneamento agroecológico, que é a demarcação territorial da área de exploração possível de uma determinada cultura, em função das características edafoclimáticas necessárias ao seu desenvolvimento. A partir de 1980, esse conceito passou a ter outra conotação: para Gliessmann (2001), é a aplicação dos princípios e conceitos da ecologia ao desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis.
Para Altieri (1989), a agroecologia é uma ciência emergente que estuda
os agroecossistemas integrando conhecimentos de agronomia, ecologia, economia e sociologia. Para outros, trata-se apenas de uma nova disciplina científica. Para Guzmán (2002), a agroecologia não pode ser uma ciência, pois incorpora o conhecimento tradicional que por definição não é científico.
No entanto, consideramos que a agroecologia é uma ciência em construção,
com características transdisciplinares integrando conhecimentos de diversas outras ciências e incorporando, inclusive, o conhecimento tradicional; porém, este é validado por meio de metodologias científicas (mesmo que, às vezes, sejam métodos não-convencionais).

Matriz disciplinar ou o novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável
Foi mencionado no primeiro capítulo deste livro, que a agroecologia é entendida como um novo paradigma e vem ganhando destaque como matriz disciplinar, sendo totalizadora, integradora e holística, gerando subsídios para o desenvolvimento rural sustentável.
No segundo parágrafo já evidencia a agroecologia que reconhece e se nutre dos saberes, conhecimentos e experiências dos agricultores (as), dos povos indígenas, dos povos da floresta, dos pescadores (as), das comunidades quilombolas, bem como dos demais atores sociais envolvidos em processos de desenvolvimento rural, incorporando o potencial endógeno, isto é, presente no “local”. Fortalece a ligação e necessidade do elo entre os aspectos já citados: ecológicos, econômicos, sociais, políticos, éticos e culturais, apoiando-se do saber popular atrelado ao saber científico.
Neste capítulo, observa-se a abordagem agroecológica proposta por Guzmán Casado et al. (2000), agrupando os elementos centrais da Agroecologia em três dimensões: a) ecológica e técnico-agronômica; b) socioeconômica e cultural; e c) sócio-política.
Estas dimensões não são isoladas, como já dito anteriormente ao longo deste livro, deve ser interligada. Neste sentido, como matriz disciplinar integradora, tem a necessidade de criar um novo enfoque paradigmático, capaz de unir os saberes populares com os conhecimentos criados por diferentes disciplinas científicas, de modo a dar conta da totalidade dos problemas e não do tratamento isolado de suas partes.
Assim, agroecologia é defendida como uma nova ciência em construção, como um novo paradigma, cujos princípios e bases epistemológicas apontam a convicção de que é possível reorientar o curso alterado dos processos de uso e manejo dos recursos naturais, de tal forma a ampliar a inclusão social, reduzir os danos ambientais e fortalecer a segurança alimentar e nutricional, com a oferta de alimentos sadios para todos os brasileiros. O texto conclui reconhecendo os enormes desafios para esta mudança paradigmática e sugere a necessidade de uma nova solidariedade intra e intergeneracional que dê sustentação a uma ética da sustentabilidade que evite que caminhemos todos para o mesmo abismo.
O novo enfoque científico passa a reorientar processos produtivos e estratégias de desenvolvimento que sejam capazes de contribuir para minimizar os impactos ambientais negativos gerados pela agricultura convencional e, ao mesmo tempo, sugerir estratégias que possam vir a ser adotadas para um desenvolvimento socialmente mais apropriado e que preserve a biodiversidade e a diversidade sociocultural.
Segundo Gliessman (2000), podemos distinguir níveis fundamentais no processo de transição para agroecossistemas mais sustentáveis:
NIVEL 1: Aumento da eficiência e eficácia das práticas convencionais para reduzir o consumo e uso de insumos e de outros recursos caros, escassos e, ou, ambientalmente danosos;
NIVEL 2: Substituição de insumos e práticas convencionais por práticas alternativas;
NIVEL 3: Redesenho do agroecossistema utilizando uma série de processos e relações com bases ecológicas; e
NIVEL 4: Restabelecer uma conexão mais direta entre quem produz e quem consome o alimento, com o objetivo de estabelecer uma cultura de sustentabilidade que considera as interações entre todos os atores e componentes do sistema alimentar.

É fundamental que se busquem novas abordagens para o enfrentamento dos problemas agrícolas e agrários, que reconheçam na diversidade cultural um componente insubstituível, que partam de uma concepção inclusiva do ser humano no meio ambiente, com estratégias apoiadas em metodologias participativas, enfoque interdisciplinar e comunicação horizontal. Enquanto ciência integradora de distintas disciplinas científicas, a Agroecologia tem a potencialidade para constituir a base de um novo paradigma de desenvolvimento rural sustentável.
Deverá trabalhar com as possibilidades observando todos os fatores sociais, econômicos, ecológicos, culturais, políticos e éticos, já que tudo está intimamente interligado. Há de se valorizar o potencial endógeno e a independência de insumos externos, além de proporcionar maior diversidade e manutenção do equilíbrio harmônico do ambiente, buscando superar conceitos do sistema cartesiano e da herança degradante da Revolução Verde.
Mesmo apresentada às diversas áreas e conhecimentos sobre a agroecologia, o tema realmente é complexo e requer mais estudos e principalmente a perseverança e paciência de seus praticantes. Além disso, o saber popular e saber científico devem estar atrelados - o que possibilita uma maior compreensão e melhor entendimento e tratamento ao meio ambiente. Neste sentido, buscando a sustentabilidade na produção rural e a soberania alimentar, será garantido a autossustentabilidade e a possibilidade de uso dos recursos naturais para as gerações atuais e futuras.

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