NAÍM,
Moisés O fim do poder. São Paulo: Texto
Editores Ltda. 2013. 392p.
APRESENTAÇÃO
Entrei para a
vida acadêmica em 2001! Comecei a lecionar em 2003: já maduro (44) e fazendo
meu mestrado na UFV! Defendi a minha dissertação em maio de 2004. Desde então, fiquei
bem mais atento e questionador quanto ao comportamento das pessoas, das
Instituições, dos governos. Desde 2011, depois de ocupar um cargo de direção por
dois anos, período bastante conflituoso, não alcancei com a devida profundidade
o comportamento de um pequeno grupo dos colegas de trabalho (que achavam que eu
detinha certo poder e o queriam!), voltei a dar aulas. Imediatamente, percebi
uma diferença significativa na postura dos alunos. Passei a notar um enorme distanciamento e desinteresse por parte deles, a diversos
assuntos, por exemplo, aqueles relacionados à economia e à política. Fui
ficando bastante intrigado e preocupado: cheguei a pensar que eu é quem estava
com algum problema, resultante dos difíceis momentos passados nos anos
anteriores.
Talvez
até estivesse, também. Mesmo assim, sem certeza alguma, comecei a questionar: com
tantos problemas que vivenciamos no Brasil, por que o desinteresse pela
política? Parte da explicação pode ser pelo próprio estádio de degradação da
classe política: a corrupção, generalizada e sistêmica, dominou nosso País! A
cada dia é demonstrada maior incompetência e incapacidade de resolver as crises
que se agigantam: na educação, na saúde, na segurança pública, no emprego,
deixando a sociedade brasileira descrente e apreensiva. Os bastidores
revelam uma crise futura, que resulta em incertezas quanto aos modelos
políticos, institucionais, trabalhistas, previdenciários e éticos vigentes.
Emile Durkheim (1858-1917), sociólogo e político francês,
considerado como o principal arquiteto da ciência social moderna e
pai da sociologia, teorizou o conceito da Anomia em seus
livros “A divisão do trabalho social” e “O suicídio”, nos quais ele define o
termo como uma condição em que as normas sociais e morais não são claras: são
confundidas, pouco esclarecidas ou simplesmente ausentes! Durkheim diz que
mudanças bruscas e repentinas na sociedade fazem com que as normas, antes já
estabelecidas e satisfatórias, tornem-se obsoletas. Na sua visão, sob a tensão
de mudanças repentinas, regras sociais falham em manter a uniformidade com
atitudes e expectativas, consequentemente, quando estabelecidas de forma
inapropriada, resultam no desprezo por todas as outras regras. Logo, a intensa
frustração e ansiedade desenvolvem-se no homem enquanto o mesmo procura
satisfação. Dessa forma, o descontentamento se espalha pela sociedade e produz
um estado geral de anomia: falta de clareza, crueldade e desorientação pessoal.
Pouco tempo depois, lendo o livro “A serpente sem
casca”, do Roberto Amaral, ele comenta que situações críticas como as vividas
na atualidade, atingem a sociedade, ferindo-a no âmago, e a anomia popular
se transforma em indiferença que transita para o desapreço. Ou seja, não se
trata, apenas, da crise da democracia representativa, agônica. Para Amaral,
esta forma de delegação, se bem que relativamente jovem, é instituição em crise
não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, como em crise estão os partidos,
aqui e no mundo, como demonstram as recentes eleições europeias e a indiferença
do eleitorado brasileiro. Neste contexto, tão
confuso, ainda não tinha respostas para muitas de minhas perguntas.
Foi quando li o presente livro do
qual faço essa resenha: O Fim do Poder – ajudou-me a entender e a responder
grande parte de meus questionamentos!
TÍTULO DO LIVRO: O fim
do poder
SOBRE O AUTOR: Moisés Naím foi nomeado Ministro
de Comércio e Indústria da Venezuela aos 36 anos, em 1989. Desempenhou um
papel central no lançamento inicial das grandes reformas econômicas no final
dos anos da década de 1980 e início dos anos da década de 1990. Antes de seu
cargo ministerial, ele foi professor e reitor do IESA, uma escola de negócios e
centro de pesquisa em Caracas. Ainda jovem, foi o diretor dos projetos de
reformas econômicas e sobre a América Latina no Fundo Carnegie para a Paz Internacional. Naím também foi associado com o
Banco Mundial, onde serviu como Diretor Executivo. É editor-chefe da revista Foreign Policy, desde 1996. Em 2014, foi
nomeado um dos 100 principais pensadores globais. Seus argumentos passam por
setores tão amplos como a política, a guerra, os negócios, a filantropia e a
religião. A getAbstract, maior biblioteca mundial de conteúdo resumido, recomenda a análise do autor aos interessados nas novas tendências da sociedade. Segundo
Bill Clinton: “O fim do poder irá mudar a forma como você lê as notícias, como
você pensa sobre política e como olha para o mundo”. Outra recomendação de Naím
vem do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, que o selecionou como a primeira
opção da sua lista de leitura, transformando-o assim em um bestseller.
A TESE CENTRAL
DO LIVRO: o mundo, e as pessoas, vem passando por uma série de transformações.
Potências hegemônicas, tais como os Estados Unidos, têm de lidar, cada vez mais,
com limitações em sua atuação; além disso, as grandes companhias, anteriormente
privilegiadas, agora enfrentam a concorrência e a crescente ameaça dos pequenos
empreendimentos. O poder, na política ou na economia (nos negócios), está se
tornando mais fragmentado. Ao longo do livro, Naím discute as mudanças pelas
quais vem acontecendo no mundo desde meados do século XX: “as migrações e a
urbanização criaram novas redes políticas, sociais, culturais e profissionais,
e concentraram essas redes em núcleos urbanos investidos de um poder novo e
crescente”: Micro-poderes! Tudo isso emaranhado pelas redes sociais e a
internet. Naím explica porque o poder é hoje tão transitório e tão difícil de
manter e usar, examinando o papel das novas tecnologias e identificando as
forças que estão por trás dessas transformações. Em certo ponto, com destaque,
afirma: a excessiva concentração de poder resulta em dano social! Que é
notório...e talvez, aí tenha se dado o início da degradação do poder! Ao
finalizar o livro, ele discorre que não se trata do fim das grandes corporações
ou do conceito de potência hegemônica, mas sim de um fenômeno mais complexo, no
qual todos nós estamos envolvidos, e que está instaurando um paradigma inédito
na história da humanidade! Como propósito do livro, Naím diz: delinear e
examinar o processo de degradação do poder - suas causas, manifestações e
consequências.
OS
QUESTIONAMENTOS E ALGUMAS AFIRMAÇÕES DO LIVRO:
Naím, um dos
pensadores mais destacados da América Latina, analisa o que chama de grande
erosão de poder no mundo - uma onda que afeta políticos, empresas e
instituições. Para ele, “O poder, que pode parecer abstrato, mas para
aqueles que têm maior sintonia com ele, ou seja, os poderosos, seus altos e
baixos são sentidos de modo muito concreto: a capacidade de conseguir que os
outros façam ou deixem de fazer algo - está passando por uma transformação histórica.
Ele está se dispersando cada vez mais, e os tradicionais atores (governos,
exércitos, empresas e sindicatos) são confrontados com novos e surpreendentes
rivais - alguns muito menores em tamanho
e recursos.
Por que o
uso e a concentração do poder estão diminuindo? Por que o poder é fácil de ser
conquistado e perdido, porém muito mais difícil de ser gerido? Para Naím,
acostumamos interpretar mal ou até ignorar a magnitude, a natureza e as
consequências da profunda transformação que o poder está sofrendo nos tempos
atuais: é tentador focar apenas no impacto da internet e das novas tecnologias
de comunicação, mas é preciso entender as mudanças políticas e profundas
alterações nas expectativas, valores e normas sociais.
Em sua percepção, “o
poder está passando daqueles que têm mais força bruta para os que têm mais
conhecimentos, dos países do Norte para os do Sul e do Ocidente para o Oriente,
dos velhos gigantes corporativos para as empresas mais jovens e ágeis, dos
ditadores contumazes ao poder para o povo que protesta nas praças e nas ruas”.
E afirma: dizer que o
poder está indo de um país para o outro ou que está se dispersando pelos novos
atores não é suficiente - enquanto Estados, empresas, partidos políticos e
movimentos sociais brigam pelo poder (como sempre o fizeram), perdem
eficiência. Em poucas palavras, o poder não é mais o que era e nem como era.
Em sua visão, e muito
bem discutido na Exame.com, no Século XXI, o poder é mais fácil de se obter,
mais difícil de se utilizar e muito mais fácil de se perder. Das salas de
diretoria ao ciberespaço, a luta pela capacidade de influenciar é tão intensa
quanto antes, mas produz cada vez menos resultados, e afirma: tal situação não implica
em dizer que o poder tenha desaparecido, mas está mudado.
Um ponto importante do livro é quando Naím utiliza a formulação sociológica de Max Weber para explicar
que o poder no mundo moderno, sobretudo a partir do século XIX, organizou-se em
grandes instituições burocráticas. Isto é válido para os estados, os exércitos, as religiões, as empresas e tudo mais
que compõem tradicionalmente as estruturas que até aqui vem suportando as
grandes aventuras econômicas e políticas da modernidade. A burocratização da
guerra, por exemplo, tirou os generais da frente de batalha e os trouxe para
espaços onde se constroem estratégias e acompanha-se as batalhas de longe.
Em outro ponto marcante
do livro, discute: os presidentes dos Estados Unidos e da China, os presidentes
do banco JP Morgan, da petroleira Shell e da empresa de tecnologia Microsoft, a
diretora do jornal The New York Times, a diretora do FMI (Fundo Monetário
Internacional) e o papa, continuam poderosos: mas bem menos do que seus
predecessores.
As pessoas que ocupavam
tais cargos, não só enfrentavam menos adversários, mas também sofriam menos
restrições ao utilizar esse poder: seja de ativistas sociais, da mídia, de
rivais. Como resultado, os poderosos de hoje costumam pagar um preço mais alto
e mais imediato por seus erros do que seus antecessores (veja a Presidente
Dilma).
Ditadores estão vendo
seu poder enfraquecer! E as ditaduras estão reduzidas: em 1977, havia 89 países
governados por autocratas; por volta de 2011, esse número reduziu-se a 22.
Hoje, mais da metade da população mundial vive em democracias. As turbulências
da Primavera Árabe se fizeram sentir em todo o mundo.
NOVO CENÁRIO GLOBAL:
Surpreendido
pelas limitações do seu poder depois de se tornar ministro do governo
venezuelano, em 1989, Moisés Naím procura entender como outras pessoas e
organizações poderosas sofreram uma erosão semelhante àquela de sua influência.
O seu exame, bastante abrangente, de como as pessoas e instituições conquistam,
exploram e perdem o poder, oferece ótimos insights sobre porque governos não
conseguem fazer nada funcionar (Brasil???) e como start-ups obscuras
são capazes de superar abruptamente gigantes rivais nos dias atuais. Os grandes
conglomerados, religiões organizadas e nações poderosas ainda desfrutam de
grande poder, contudo Naím fornece evidências de que o poder mais disperso de
hoje em dia se mostra mais fácil de ser conquistado e perdido, porém muito mais
difícil de ser exercido (Veja o Presidente Temer, hoje no Brasil).
Para Naím, a demolição
da estrutura tradicional de poder está relacionada a mudanças na economia
global, na política, na demografia e nos fluxos migratórios (Veja o caso da
Síria e suas implicações). A queda dessas barreiras está transformando a
política local e a geopolítica, a competição entre as empresas para conquistar
consumidores ou entre as grandes religiões para atrair adeptos, assim como a
rivalidade entre organizações não governamentais.
O mundo dos negócios
também está sendo afetado por essa tendência. Os líderes de grandes corporações
com frequência exercem mais poder do que aqueles que são simplesmente ricos. Nos
dias atuais, os executivos ganham muito mais do que antes, mas sua posição no
topo tornou-se mais instável.
Em 1992, o presidente de
uma empresa que fizesse parte da lista das maiores companhias da revista
Fortune tinha uma probabilidade de 36% de manter seu emprego pelos próximos
cinco anos. Em 1998, essa probabilidade tinha caído para 25%. O mesmo acontece
com as corporações.
Em 1980, uma companhia
americana que fizesse parte do grupo das 5% maiores de seu setor tinha apenas
um risco de 10% de cair desse patamar em cinco anos. Duas décadas mais tarde,
essa probabilidade havia subido para 25%. Hoje, um olhar para a relação das 500
maiores companhias globais, mostra que muitas empresas novatas estão
substituindo os gigantes corporativos tradicionais.
Ao mesmo tempo, as
corporações se tornaram mais vulneráveis a escândalos capazes de destruir sua
reputação e seu valor de mercado. Um estudo concluiu que a probabilidade de um
desastre desse tipo ocorrer para as companhias que detêm marcas de prestígio
global subiu nas últimas décadas de 20% para 82%. A petrolífera BP e a
empresa de mídia News Corporation (de Rupert Murdoch), viram sua fortuna contrair
de forma abrupta como resultado de acontecimentos que prejudicaram sua
reputação.
Outra manifestação da
diluição do poder nos negócios são os membros de uma nova espécie: as
‘multinacionais de países pobres’, que substituíram ou até incorporaram algumas
das maiores companhias do mundo. Os investimentos procedentes de países em
desenvolvimento saltaram de 12 bilhões de dólares em 1991 para 210 bilhões em
2010.
A maior produtora de aço
do mundo, a ArceloMittal, é uma companhia indiana fundada em 1989. Quando os
americanos tomam sua tradicional Budweiser, estão na verdade desfrutando uma
cerveja produzida por uma companhia criada em 2004 por meio de uma fusão de nossa
cervejaria brasileira (AMBEV) com outra belga, que em 2008 conseguiu o controle
da Anheuser-Busch, tornando-se assim a maior fabricante de cerveja do mundo.
Seu presidente, Carlos Brito, é brasileiro.
Não se trata apenas de
um simples deslocamento de poder de um círculo de atores influentes para outro.
A principal explicação para a fragilização do poder tem a ver com fatores tão
diversos como o rápido crescimento econômico de muitos países pobres, o maior
acesso à saúde e à educação e até mesmo atitudes e tradições culturais. Hoje em
dia o planeta tem muito mais gente do que antes que não sofre de necessidade
desesperada de alimentos.
Afinal, o que mais
distingue hoje nossa vida da de nossos ancestrais não são as ferramentas que
usamos ou as regras que governam nossa sociedade. Mas, sim, o fato de sermos
muito mais numerosos, de vivermos mais tempo, de termos uma saúde melhor e de
que somos mais letrados e instruídos.
Essas mudanças têm
beneficiado inovadores e novatos em muitas áreas -incluindo, infelizmente,
terroristas, hackers e traficantes. Tais mudanças têm produzido oportunidades
para ativistas pró-democracia e criado caminhos alternativos de influência
política que driblam a estrutura formal e rígida do sistema político, tanto em
países democráticos como nos autoritários.
O poder, que até o final
do Século XX detivera o controle mundial dos destinos das nações, na época
concentrado nas mãos de poucos, cede espaço para um novo tipo de poder que Naím
denomina de micro-poderes! O micro-poder se apoia em fenômenos sociais que Naim
identificou por meio de três revoluções: a revolução do mais, a revolução da
mobilidade e a revolução da mentalidade, que graças às tecnologias que conectam
tudo a todos, sobretudo a Internet, causou um grande choque no mundo, que levou
a queda de várias formas de governo, mudanças de regimes políticos, mudanças nas
mentalidades das grandes organizações e mais transparência dos governos, entre
tantas outras mudanças.
Poucos teriam previsto
que, quando um pequeno grupo de ativistas malaios decidiu, no verão de 2011,
‘ocupar’ a praça Dataran, em Kuala Lampur, à imagem e semelhança dos indignados
que acamparam na Puerta del Sol, em Madri, isso iria originar um movimento para
ocupar a Wall Street, em Nova York, e desencadear iniciativas parecidas em dezenas
de cidades ao redor do mundo (inclusive em dezenas de cidades brasileiras).
Esses novos atores são
muito diferentes entre si: têm em comum o fato de não dependerem mais de porte,
geografia, história ou de uma tradição arraigada para deixar sua marca.
Organizações pequenas conseguem operar no plano internacional e ter repercussão
global.
Representam a ascensão
de um tipo de micro-poder, que antes tinha pouca chance de sucesso. A
degradação do poder é uma tendência que tem aberto espaços para novas
estruturas, novos empreendimentos e, pelo mundo todo, novas vozes e mais
oportunidades. Mas, para Naím, suas consequências para a estabilidade são
cheias de perigos.
Em exame.com, um
questionamento intrigante: como podemos manter os promissores avanços da
pluralidade de vozes e opiniões, dessas múltiplas iniciativas e inovações, sem
ao mesmo tempo cair numa paralisia incapacitante, que pode anular esse
progresso num piscar de olhos?
CONCLUSÕES:
O livro do ano em 2013
para o conceituado Financial Times não procura oferecer
respostas prontas. Mas afirma, até como o próprio nome indica: O FIM DE UMA
FASE. O poder não é uma coisa tangível, nem finito, mas, segundo o autor, a sua
mutação tem períodos mais ou menos concretos e delineados, temporalmente.
Partindo das recentes
crises que assolaram a economia Norte Americana e Europeia, Naím desenhou
em “O fim do poder” um quadro de mudança global, onde o poder pouco a
pouco terá mudado de mãos, ainda que, esse sentimento, não seja propriamente o
mais popular.
A queda do muro de
Berlim, o final da guerra fria e de alguns estados tiranos do leste Europeu, o
surgir da internet e da globalização, aceleraram o processo em um continente
que ainda estava em grande parte amarrado, alastrando pouco a pouco essas
mudanças para o resto do globo: em parte graças ao crescimento das economias,
da produção e abaixamento dos níveis de pobreza.
Porém, a União Soviética
convalesceu e, depois do 11 de Setembro, nada mais foi igual no que respeita à
forma como se travam batalhas no cenário de guerra. A China afirmou-se e outros
procuram fazê-lo por meio da força e dos programas de energia nuclear (Irã e
Coreia do Norte). A Inglaterra, sabiamente em sua visão, preferiu adiar a
adesão à moeda única, não se curvando a chanceler Alemã e honrando a
independência tão arduamente conquistada por sir Winston Churchill que,
certamente, repetiria com agrado uma de entre as suas muitas célebres frases:
«Attitude is a little thing that makes all the difference».
A igreja procura
recuperar tempo e espaço, reiterando os valores mais sacramentais para primeiro
plano e arrumando no “armário” as vestes ricas em ouro que foram a sua imagem
por séculos. Esquecendo por momentos a figura nacional mais importante no
domínio eclesiástico (Fátima), quase parece que entrámos num período de
“Floribelização”…
Os produtores e
revendedores de petróleo não estão propriamente na penúria e, da África, chegam
diariamente as imagens mais deprimentes que já nem merecem tempo de televisão,
tal é o seu grau repetitivo. O sistema democrático tornou-se antiquado e padece
de imutabilidade, favorecendo os partidos políticos estabelecidos que serão os
últimos a questioná-lo. O que mudou então?
O autor parece querer
olvidar estes fatos e, apoiando-se no seu passado como político, centra as
atenções na “primavera árabe” e na necessidade de «repensar os partidos
políticos, modernizar os seus métodos de recrutamento e reformular a sua
organização e operações…», como a base para o progresso e efetivação de um
poder menos concentrado e mais voltado para as pessoas.
Isso seria possível por
meio do aumento da educação e do surgimento de plataformas como a internet
(para os mais jovens convém relembrar que o seu acesso em escala global, só se
deu no princípio dos anos da década de 1990), hoje em dia um bem comum.
Só que os efeitos não
parecem ser imediatos e, enquanto houver quem negligencie a forma em favor do
dinheiro, as revoluções e o poder passam de mão, enquanto todo o resto vai
ficando semelhante.
Para Naím, a primeira e
talvez a mais importante conclusão deste livro, é a necessidade urgente de
mudar nossa maneira de pensar sobre o poder! O debate é intenso em relação ao
futuro do poder econômico: uns acreditam que haverá a concentração do poder
numa elite empresarial global; enquanto outros destacam a brutal concorrência e
os efeitos disruptivos das novas tecnologias e modelos de negócios, que criam
uma grande volatilidade entre aqueles que detêm o poder econômico.
Para Naím, impulsionada
pelas mudanças na maneira de adquirir, usar e manter o poder, a humanidade deve
e vai encontrar novas fórmulas de governar a si mesma.
E a política? Segundo
Naím, a maioria das pessoas não estão disponíveis para participações políticas
ou às causas sociais. São coisas de minorias. Naím relata o desabafo de Lena,
ex-vice-primeira-ministra-sueca e ministra das Relações Exteriores, com uma
mistura de exasperação e resignação na voz: “as pessoas se mobilizam mais por
questões específicas que afetam sua vida diária do que pelas ideologias
abstratas, abrangentes, representadas pelos partidos”. Com tamanha fragmentação
política, os partidos políticos dominantes perderam muito de seu poder
e de sua capacidade de servir seus eleitores. Além disso, está muito mais fácil
criar novos partidos: tem sido uma tendência mundial buscar novas lideranças.
Em uma análise dos
acontecimentos políticos, a maneira como o poder tem mudado obriga a procurar
variações nos métodos que funcionaram no passado para dar ao mundo maior
estabilidade e menos conflitos. Do ponto de vista pessoal, existe uma enorme
distância entre a percepção e a realidade do nosso poder: na maioria das vezes
atribuem-nos mais poder do que de fato temos: a distância entre nosso real
poder e o que as pessoas esperam de nós é o que gera as pressões mais difíceis
que qualquer chefe de Estado tem de suportar. De fato, o poder está cada vez
mais fraco, transitório e restrito: o mundo está sendo reconfigurado! O impulso anti-establishment dos micro-poderes pode derrubar tiranos, desalojar monopólios
e abrir novas e extraordinárias oportunidades, mas também levar ao caos e à
paralisia.
Para Naím, um dos aspectos
importantes da fragmentação do poder é a enorme mobilidade adquirida em tempos
de muita mobilização: se os emigrados fossem um país, ele seria o quinto mais
populoso do planeta. As revoluções do mais e da mobilidade criam e
fortaleceram uma nova classe média - cada vez mais exigente e distantes dos
velhos mecanismos de poder e de controle social. Isto acabou por produzir uma
revolução da mentalidade, que associada aos mecanismos que a tecnologia oferece
hoje, estão mudando o mundo, reconfigurando o poder e mudando a vida.
Belíssimo livro!
*
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão
Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de
Viçosa. Foi professor do IF SEMG campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de
Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.