*Maurício Novaes
Souza
Sem dúvida,
o Brasil é um país de incontáveis contrastes: enquanto já se vivem a Quarta Revolução Industrial em
algumas cidades, ou mesmo regiões, encontramos populações que ainda se encontram
como nos tempos anteriores aos da Primeira Revolução Industrial, no final do Século XVII, quando surgiu
a máquina a vapor. Hoje, são os robôs integrados em sistemas ciberfísicos os
responsáveis por uma transformação socioeconômica radical - tal processo, já
bem conhecido pela classe acadêmica e econômica, vem sendo chamado “Quarta
Revolução Industrial”, ou Indústria 4.0. É marcada pela convergência de
tecnologias digitais, físicas e biológicas. Esta revolução, que a maioria da
sociedade ainda desconhece, mudará o mundo radicalmente, em uma velocidade
jamais vivenciada...e já está mudando!
No livro “A Quarta Revolução Industrial”, de
Klaus Schwab, estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará
fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua
escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer evento
que o ser humano tenha experimentado anteriormente. Os "novos poderes" da
transformação virão da engenharia genética e das neurotecnologias - áreas que
parecem misteriosas e distantes para o cidadão comum. Além disso, é a fusão de
diversas tecnologias que a diferencia das anteriores - sua interação entre os
domínios físicos, digitais e biológicos. É a nanotecnologia, sequenciamento
genético, novas máquinas, computação quântica, energias renováveis, que são exemplos
deste movimento, tendo como marco inicial a virada do Século XXI, com uma onda
de novas descobertas, e tem como base o avanço da tecnologia digital. As repercussões impactarão em como somos e como nos
relacionamos até nos lugares mais distantes do planeta: a revolução afetará o
mercado de trabalho, o futuro do trabalho e a desigualdade de renda. Suas
consequências impactarão a segurança geopolítica, o ambiente e o que é
considerado ético.
Como sou educador, do ponto de vista profissional e
dos empregos, já temos
elementos que nos apontam que precisamos repensar os impactos sobre o mercado
de trabalho. Modelos de negócio, padrões de consumo, formas de se produzir e
trabalhar, estão sendo drasticamente modificados. Dezenas de profissões
desaparecerão ou serão substituídas – nossos Institutos e Universidades estão
preparados? Trabalhadores e movimentos sindicais buscam compreender não só as
tendências do desemprego tecnológico, mas a nova dinâmica do mercado de
trabalho. Categorias como a dos bancários e metalúrgicos, já afetados, debatem calorosamente
o tema, que afetará a vida de todos. Sabemos que hoje a tecnologia e o
conhecimento são medidas para diminuir os custos, aumentar a produtividade e
gerar mais lucro – ou seja, a tecnologia pode e deve ser vista como algo
próspero, mas também temerária!
Do ponto vista da economia de recursos naturais, diversos assuntos hoje
vivenciados nos levam a repensar a problemática ambiental. A discussão teve início
desde a criação do universo e nas inúmeras fases
evolutivas até atingir sua forma atual. Isso nos faz repensar nosso modo de vida, pois somos a única espécie
capaz de promover impactos e desequilíbrio em nosso habitat. Vivemos em um sistema dinâmico e todos os corpos
estão em mútua interação, com toda a tecnologia a nossa disposição. Diante de
toda revolução industrial e tecnológica, seguida do crescimento populacional e
maior demanda pelos recursos naturais, discutirmos formas de redução/reutilização
e modelos menos consumistas é indispensável.
No
entanto, o modelo industrial atual de produção é sustentado por uma sociedade
de consumo, estruturado em uma política que se baseia na reposição do produto:
ao invés de estimular a duração dos bens, que são feitos com tempo de uso limitado,
a famosa obsolescência planejada, faz com que em pouco tempo seja necessária
uma nova aquisição do mesmo produto por uma versão atualizada. A influência da publicidade
alimenta essa questão estética/egoísta de consumismo, acarretando a segregação
social. Além dos problemas sociais, os problemas ambientais, de intoxicação de
alimentos, poluição do ar e da água e mudanças de temperaturas globais são
consequências de tal ato.
Ao
mesmo tempo, a tecnologia poderá ser uma parceira para a solução de problemas
ambientais de forma indireta: o efeito
deflacionário dos preços com a nova revolução industrial, e também dos efeitos
da distribuição de renda a favor do capital em detrimento do trabalho (precarização
e arrocho dos salários e, portanto, do consumo); poderá impor o caminho para o
consumo mais sustentável. Por outro lado, considerando que o avanço tecnológico
para muitos produtos e serviços possuem baixos custos marginais, o consumidor
será o maior beneficiário dessa revolução com produtos e serviços praticamente
sem custo – o que estimularia o consumo!
De
fato, a tecnologia trará, no médio e longo prazo, redução nas diferenças entre
pobres e ricos, em face da acessibilidade. Contudo, há incontáveis questões
sobre o impacto das economias em desenvolvimento e a quarta revolução
industrial. As tecnologias serão aproveitas para o desenvolvimento e aceleração
do ritmo econômico? Esta nova revolução poderá inverter o estreitamento das
lacunas entre as economias em termos de renda, habilidades, infraestrutura,
finanças e outras áreas? Como as economias em desenvolvimento podem aproveitar
as oportunidades desta nova revolução? O meio ambiente proverá recursos para
essas novas demandas? Afinal, sobreviveremos? São questões que ainda ninguém é
capaz de responder!
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em
Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de
Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de
Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauricios.novaes@ifes.edu.br.