Sustentabilidade - A Cidade do Futuro
As grandes cidades brasileiras têm crescido e funcionado de forma
descontrolada. Nossa sociedade vive sujeita à poluição, depara-se
com trânsito caótico, desmata, polui e interfere de maneira predatória na
natureza. A falta de planejamento para o crescimento responsável e gestão de nosso
sistema urbano atinge de forma negativa em nossa qualidade de vida e impacta,
gravemente, o nosso futuro. O impacto disto influencia a temperatura, a umidade,
o vento e a própria pressão atmosférica sobre as regiões urbanas.
Ao nos depararmos com tantos problemas, encontramos também muitas possibilidades
de soluções que atenuariam o impacto de nossa existência, principalmente para o
bem do planeta. A ideia é criar as chamadas cidades sustentáveis, a “cidade do
futuro”. A essência da ideia se baseia em melhorar a qualidade de vida dos
moradores, explorando de maneira responsável seus recursos naturais.
Para o desenvolvimento dessas cidades seriam tomadas atitudes,
tais como a construção ou reestruturação de pequenos bairros, onde haveria
centros de convivência com escolas, hospitais, comércio, para que os habitantes
não perdessem tempo com deslocamento. Incentivos para conscientização em diminuição
de gastos com água e energia, desenvolvendo maior autossuficiência dos mesmos,
de tal forma a converter energia solar em luz elétrica e utilizar energia
eólica. O aquecimento de água seria feito por intermédio de painéis solares,
excluindo o uso de chuveiros elétricos. A coleta seletiva e reciclagem do lixo,
atrelados a tratamento de grande parte de seus resíduos, junto com tratamento
de esgoto, diminuiriam os danos causados aos rios e mares. O meio de transporte
público adotado seria o metrô, com ônibus circulando apenas em rotas específicas
e reduzidas. Carros passariam a ser elétricos, como medida de redução da
emissão de poluentes; e seriam criadas ciclovias para pedestres e ciclistas. Revitalização
e criação de mais espaços verdes. E, em vez de asfalto, as ruas seriam
pavimentadas com blocos permeáveis, facilitando a infiltração da água e
ajudando a prevenir alagamentos.
Em suma, a cidade traria mais qualidade de vida a seus habitantes,
além de beneficiar a natureza, uma vez que todos os recursos utilizados teriam
formas simples de serem reaproveitados. Agora, cabe a nós, cidadãos, a reflexão
de todos nossos atos e hábitos, para só então realizarmos todas essas mudanças.
Antes da reestruturação de cidades e das formas de energia e geração de lixo,
precisamos reestruturar o pensamento e omodo como interagimos com o meio
ambiente.
Entrevista
1 - No seu ponto de vista, essas
mudanças estão muito longe de serem concretizadas?
A
natureza era considerada fonte inesgotável de recursos até meados do Século XX.
Acreditava-se que existia para ser estudada, compreendida e explorada, desde
que fosse utilizada em benefício da humanidade e suprisse seus ilimitados
desejos. Observa-se o eterno dilema entre desenvolvimento econômico e
preservação/conservação da natureza. Para agravar a situação, o avanço
tecnológico apontava que existiriam soluções para todos os problemas. Depois da
enorme degradação resultante de tais procedimentos e pensamentos, a
sustentabilidade deixou de ser modismo e desponta como tendência no mundo para
um novo modelo de desenvolvimento econômico, para uma “economia verde”,
inclusiva e responsável, que exige a adoção de uma série de medidas.
2 - Você acha possível adotar todas
essas medidas?
O
início deste Século e milênio nos impõe a urgência de pensarmos novas
alternativas diante do mundo, das relações e, portanto, das organizações.
Dependemos de pensamentos e ações que determinam nossa cultura e, ao mesmo
tempo, são determinados por ela. As sociedades, em sua diversidade múltipla,
ditam regras e normas que são aceitas e incorporadas moralmente pelas comunidades,
no intuito, cada vez mais frequente, de adequar e unificar procedimentos e
critérios, que não apenas distinguem os povos, mas, sobretudo, aproximam os
indivíduos membros de um grupo.
Dessa
forma, nos dias atuais, para que tais medidas sejam adotadas, as lideranças
mais responsáveis, sejam elas oriundas da administração pública, do meio
empresarial ou do terceiro setor, não deveriam divergir sobre a necessidade de
continuarmos a gerar atividade econômica que permita garantir a sobrevivência
de nosso Planeta: que passará dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9 bilhões
em um horizonte inferior a 30 anos. Há de se considerar que o ano de 2010
representou um marco no qual pela primeira vez na história da humanidade a população urbana superou a população rural.
Recentemente, o cenário mundial tem sido pautado por exigências de todos os
envolvidos (stakeholders): sociedade civil, investidores, financiadores e
consumidores, que obrigam as empresas, as corporações, o setor público, todos
enfim, a considerarem o impacto de suas atividades em seus procedimentos diários,
mitigando-os, reduzindo-os, eliminando-os.
3 - Quais iniciativas precisam ser
tomadas para iniciar esse processo de mudança das cidades atuais para as
cidades sustentáveis?
A
educação é fundamental. Da população e dos setores produtivos. Para
exemplificar, os setores imobiliários e da construção civil, atividades que
mais geram resíduos, contribuem massissamente na produção de gases de efeito
estuda e alteram o meio ambiente; as exigências se acentuam pelo elevado
impacto ambiental e social das atividades da extração de matérias-primas,
fabricação de materiais, projeto, construção e uso e operação de edificações,
empreendimentos e obras pesadas, até ao final da vida útil das edificações. A
sustentabilidade, no entanto, não se restringe às questões ambientais. Os
resultados financeiros e os resultados sociais gerados pelas empresas,
permeados pela ética e responsabilidade social e empresarial, são fundamentais
para o desenvolvimento sustentável do setor da construção e do mercado
imobiliário, com a parceria e fiscalização do setor público (não conivência,
como se tem observado).
Na
elaboração da “Agenda 21”, nasceu um movimento denominado de “Construção
Sustentável”, que visa o aumento das oportunidades ambientais para as gerações
futuras e que consiste em uma estratégia ambiental com visão holística. Repensa
toda a cadeia produtiva e leva em consideração os processos produtivos, com
preocupações extensíveis à saúde dos trabalhadores envolvidos no processo e
considera os consumidores finais das edificações. Fundamenta-se na redução da
poluição, na economia de energia e água, na minimização da liberação de
materiais perigosos no ambiente, na diminuição da pressão de consumos sobre
matérias-primas naturais, no aprimoramento das condições de segurança e saúde
dos trabalhadores, e na qualidade e custo das construções para os usuários
finais.
O
atual momento exige que as empresas e os empresários se tornem cada vez mais
aptos a compreenderem e participarem das mudanças estruturais que abrangem os
aspectos econômicos, ambientais e sociais. Em alguns países, em algumas
cidades, as companhias estão sendo incentivadas pela administração pública a
gerenciar seu sistema produtivo de tal forma que se evite a ocorrência de
impactos ambientais e sociais, por meio de estratégias apropriadas. Nos últimos
anos houve progressos surpreendentes na área de gerenciamento ambiental. Mais
recentemente, o mesmo ocorreu quanto à conscientização sobre a responsabilidade
social e a crescente compreensão dos desafios de se produzir e de se viver sustentavelmente.
4 – Para você, qual cidade brasileira está mais próxima dessas mudanças?
Poucas são as
cidades brasileiras que adotam, de fato, o pacote de medidas citados acima.
Contudo, sem dúvidas, a cidade de Curitiba, capital do Paraná, por ser uma
grande cidade, é sem dúvida aquela que pode ser considerada um modelo. Foi a
primeira cidade brasileira que trabalhou de forma responsável tais conceitos
relativos à sustentabilidade. À época, seu prefeito, o urbanista Jaime Lerner,
foi o grande idealizador desse novo modelo.
Recentemente, nesse ano de 2012, o “Mother
Nature Network” (órgão internacional que analisa em todo o mundo a
sustentabilidade das cidades) fez uma nova lista das cidades mais verdes do
mundo. Para entrar no ranking, não bastava apenas apresentar sistemas de coleta
de lixo, meio de transporte alternativo ou programas de reflorestamento. O
município precisava ser um exemplo completo de desenvolvimento sustentável para
outros grandes centros urbanos. O Brasil estava representado no Top10: Curitiba
aparece como a sexta cidade mais verde do mundo! Entre os pontos destacados
estão os 16 parques, 14 bosques e mais
de 1000 espaços verdes urbanos; a legislação ambiental, que protege a vegetação
local; os 70% dos resíduos reciclados; o plantio de 1,5 milhão de árvores em
suas vias e estradas.
Há também pequenas cidades, como Gramado e
Canela, no Rio Grande do Sul; Castelo, no Espírito Santo; entre outras. Considerando
o índice “Qualidade de Vida”, as três primeiras cidades brasileiras são do
interior paulista: Araraquara, Indaiatuba e Vinhedo. Mas são exceções; afinal,
temos 5.564 municípios no Brasil.
5 – Você acredita que as pessoas se adaptariam a esse novo modelo
de vida?
Não há dúvida que sim. Entretanto, a vida contemporânea nos
coloca a possibilidade da reflexão sobre a necessidade de se adotarem nova
postura e comportamento, que são influenciados pelo modo de pensar. Dizendo de
uma forma mais simples, os pensamentos determinam as práticas que se
estabelecem e se desenvolvem nas sociedades. Cada vez mais, a urgência e as
mudanças céleres nas diversas áreas do conhecimento nos indicam que a
aprendizagem dos indivíduos está em toda parte e em todos os tempos. Já
compreendemos que é necessário mudar, criar novas alternativas e desenvolver
critérios e procedimentos éticos diversificados, para sobrevivermos ao caos. É
preciso resistir e manter viva a esperança de transformação, num mundo cada vez
mais excludente e violento.
Infelizmente, estamos vivendo uma grave crise mundial, um
processo mundialmente desequilibrado, crise econômica e de valores éticos,
mesmo com avanços visíveis, como no Brasil. Apesar de já existirem, são poucos
os países, as empresas, que estão levando a sustentabilidade sob uma abordagem
holística, integral. De fato, poucas empresas observam esse aspecto, onde se
ouve muito discurso e pouca prática. No presente momento, ainda não é possível
se acreditar em sustentabilidade, pois não se vê as empresas com atitudes
verdadeiramente humanistas e ambientalmente preocupadas no ambiente de
trabalho. É fundamental que ao lado de um grande programa de capacitação da
população, devêssemos criar outro de fortalecimento das micro e pequenas
empresas. Elas podem ser a ferramenta mais importante para que se tenha um
desenvolvimento econômico e social equilibrado, com diminuição das disparidades
entre ricos e pobres e melhor distribuição de renda. Isso seria muito bom para
todos os setores produtivos da economia.
As Instituições de Ensino e Pesquisa, como aquela onde
trabalho, o Instituto Federal Sudeste de Minas, campus Rio Pomba, e tantas
outras Organizações|Instituiçoes dispersas por todo o Brasil, poderão
contribuir significativamente nesse processo de desenvolvimento e implantação
de um novo modelo. Quanto às empresas, várias têm demonstrado que é possível
ganhar dinheiro, proteger o meio ambiente e ser socialmente responsável: é uma
questão de opção e atitude – dependerá de cada um de nós.
* Professor MAURÍCIO NOVAES SOUZA , é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela UFViçosa. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Assessor da FAPEMIG. É autor de centenas de artigos, livros e responsável pela Coluna "Ambiente Sustentável" no Zwela Angola, Houston, EUA; e da coluna “Ambiental” do Informativo da ACIRP, desde 2006. Visite o Blog do Prof. Novaes Souza. (www.mauriciosnovaes.blogspot.com).
Um comentário:
Empresas sérias e com tecnologias de ponta se preocupam com o crescimento das cidades e oferecem soluções para um desenvolvimento sustentável de cidade do futuro!
http://www.siemens.com.br/desenvolvimento-sustentado-em-megacidades/
Alessandra Ribeiro
Postar um comentário