terça-feira, 23 de março de 2010

Comércio varejista e o desenvolvimento sustentável


*por Maurício Novaes Souza

Meio ambiente e desenvolvimento sustentável são assuntos em evidência nos dias atuais. Isso acontece em função da preocupação com os limites da exploração dos recursos naturais e da necessidade de se buscar alternativas de desenvolvimento compatíveis com a sustentabilidade do planeta. Dessa forma, a sustentabilidade é um diferencial de posicionamento e competitividade, um objetivo para qualquer tipo de empresa. Deve estar no cerne do negócio: não é preciso deixar para depois ou esperar que outras prioridades estejam resolvidas para então pensar a respeito. Os resultados e benefícios serão reais e crescentes, tanto para a empresa, como para a sociedade, numa relação onde todos se beneficiam.

Contudo, é preciso reafirmar a importância da liderança na efetividade da estratégia de sustentabilidade das empresas: se quem decide não tiver esta visão ou não estiver convencido do valor para o negócio, se o fizer sem convicção, por modismo ou influência de terceiros, tudo isso não irá passar de ideologia ou de ideias acadêmicas de pouca utilidade concreta e efetiva.

Isso porque, na prática, integrar aspectos econômicos, ambientais e sociais diminui custos (principalmente futuros), reduzem riscos, evita desperdícios, gera lucros. Além disso, em um investimento de longo prazo, constrói relacionamentos sólidos e duradouros com o público da empresa, em especial colaboradores, clientes e comunidade do seu entorno, criando com eles vínculos de confiança e lealdade.

De que forma isso acontece? Tomemos o setor de varejo como exemplo, onde empresas de qualquer porte têm processos sustentáveis mais rentáveis para implantar. Começando pela construção “verde”, assim denominada porque privilegia a conservação/preservação ambiental como critério para projetos e obras de lojas, com iluminação natural, materiais de origem certificada, reuso de água, descarte de entulho em local apropriado, entre outros. A construção sustentável tem um custo, em média, 15% mais elevado, mas se justifica pela redução de custos operacionais em curto prazo. Em 50 anos, a redução poderá chegar a 80%. Nesse mesmo direcionamento, programas de eficiência energética não só reduzem despesas com iluminação e equipamentos de refrigeração, como também buscam formas alternativas de geração e utilização de energia.

Na logística e na operação da loja, iniciativas como o descarte de embalagens junto às cooperativas e indústrias de reciclagem, geram emprego e renda. Como consequência, trazem economias que, em muitos casos, são revertidas para investimentos sociais da empresa, especialmente ligados à educação de crianças e jovens, projetos comunitários e conscientização ambiental. Assim, estará apresentando novos contornos para um assunto de grande relevância para toda a sociedade, atravessado por inúmeras implicações, como a garantia das condições de sobrevivência e qualidade de vida das gerações presentes e futuras.

Há de se considerar que o impacto ambiental do varejo é pequeno, quando comparado ao produzido por indústrias que usam recursos naturais ou emitem enormes quantidades de gases que contribuem para o agravamento do efeito estufa. Assumindo, porém, um trabalho de mobilização e conscientização no consumo, muitas redes estimulam uma mudança cultural importante junto aos consumidores, comercializando sacolas retornáveis, disponibilizando caixas de papelão para acondicionar as compras, desenvolvendo sacolas plásticas mais resistentes: geralmente mais caras, contudo mais econômicas pela utilização em menor quantidade.

Com tanto ênfase sobre as questões ambientais, os consumidores têm se tornado cada vez mais conscientes, participando ativamente de programas de coleta seletiva de embalagens, adquirindo produtos orgânicos, de marca própria sustentáveis ou de manejo sustentável (provenientes de comunidades, cooperativas e associações). Junto aos fornecedores, há frentes importantes, como a negociação para redução de tamanho e utilização de matéria-prima certificada nas embalagens, exigências contratuais proibindo práticas trabalhistas ilegais e discriminatórias. Colaboradores também pode ser alvo de práticas interessantes, desde a adesão a programas de voluntariado e relacionamento comunitário até o estímulo à participação no processo de sustentabilidade: prática já exercida pela NATURA há bastante tempo. A empresa pode, ainda, posicionar-se como “parceira” na solução de problemas locais e no desenvolvimento das comunidades em que atua, investindo no futuro.

Hoje, as atividades econômicas e seus efeitos sobre o meio ambiente são questões debatidas mundialmente e há esforços bem-sucedidos, embora insuficientes, no sentido de compensar ou minimizar os impactos ambientais negativos. Desta forma, ligados na evolução da sociedade, percebendo essa nova realidade e conscientes do atual papel das empresas no mundo e, ainda, com sua crença na proposta da sustentabilidade, empresários e executivos de vanguarda irão comemorar algo ainda visto por muitos como inconciliável: resultados e benefícios para o negócio ao lado de resultados e benefícios para a sociedade e o ambiente.


* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF SEMG Rio Pomba e Diretor-Geral do IF SEMG São João del-Rei. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

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