sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O desafio da sustentabilidade para o comércio varejista

* Por Maurício Novaes Souza

A tão discutida retomada do crescimento, intensamente discutida nos dias atuais, não é suficiente para a solução dos diversos problemas e não é a melhor alternativa para se chegar ao Desenvolvimento Sustentável. É necessário que haja, paralelamente à transformação da estrutura produtiva que garanta a recuperação do dinamismo econômico, políticas que promovam uma maior eqüidade social.

Há de se considerar que a ideia de objetivar o desenvolvimento sustentável revela, inicialmente, a crescente insatisfação com a situação criada e imposta pelos modelos vigentes de desenvolvimento e de produção das atividades humanas. Resulta de emergentes pressões sociais pelo estabelecimento de uma maior eqüidade social. De acordo com Luiz Carlos de Macedo, Assessor do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e Professor de pós-graduação e co-autor de livros e artigos sobre Responsabilidade Social Empresarial, Sustentabilidade, Varejo Sustentável e Comunicação, o setor varejista brasileiro, cheio de dilemas e problemas encontrados pelo caminho, tem encontrado na sustentabilidade um aprendizado constante.

Para esse mesmo autor, pelo fato de ser muito diversificado e possuir muitos ramos de atuação, as empresas estão em estágios distintos em relação às práticas sustentáveis. As micro e pequenas empresas, apesar de sempre estarem envolvidas com alguma iniciativa, ainda realizam mais projetos ligados à filantropia, tendo a comunidade do entorno como público-alvo. Já as médias e grandes empresas estão avançando para um estágio mais elevado, introduzindo aos poucos a sustentabilidade nas suas operações diárias e fazendo com que critérios sustentáveis sejam adotados e praticados por todos os seus públicos de interesse (“stakeholders”), principalmente, os funcionários, consumidores e fornecedores.

Esse resultado é reflexo de trabalho realizado, desde 2003, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), conhecido como “Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo”. Desde então, tem-se acompanhado diversas iniciativas de empresas varejistas brasileiras com o objetivo de ajudá-las a inserir práticas sustentáveis na gestão dos seus negócios. Atualmente o banco de práticas da FGV, disponível no Portal Varejo Sustentável, conta com centenas de projetos de responsabilidade social e sustentabilidade de varejistas de todas as regiões do Brasil.

Para Macedo, isso demonstra que o varejo está praticando a sustentabilidade de maneira constante. Contudo, isso não quer dizer que essas empresas são plenamente sustentáveis. No sentido de incorporar a sustentabilidade no dia a dia do seu negócio, grandes cadeias de varejo têm desempenhado um grande papel, no intuito de envolver toda a sua cadeia de valor para cumprir uma série de metas sustentáveis. Da mesma forma, outras redes, têm estimulado fortemente seus consumidores a entender e aplicar os conceitos de sustentabilidade no cotidiano. Essas redes estão disseminando os valores sustentáveis nas suas lojas “verdes”, bem como estão adotando soluções alternativas no oferecimento de embalagens nos pontos de venda.

É fato que o consumismo é atualmente um dos males da humanidade. Agrava os problemas ambientais. Como promotor do consumo, o varejo está assumindo a promoção do consumo consciente em vez de somente estimular o consumo desenfreado e irresponsável. O consumidor, mesmo que ainda de forma tímida, deseja que os produtos e serviços que consome contribuam positivamente para o seu bem estar e para as futuras gerações do planeta. Ele quer saber a origem e a história dos produtos, e a tendência é que esse comportamento aumente nos próximos anos.

Pela sua capilaridade e pela sua intensa relação com os consumidores, o varejo terá um leque de opções em aberto para assumir sua responsabilidade frente a uma série de assuntos relevantes para a sociedade e para a sobrevivência do seu negócio, com uma grande oportunidade de se beneficiar das atitudes sustentáveis como diferencial competitivo. Justamente por sua característica de agente intermediário na cadeia produtiva, o varejo pode dar uma contribuição muito significativa no campo da sustentabilidade. Hoje as empresas varejistas podem e devem promover o consumo consciente em suas ações de comunicação e no ponto de venda. Abaixo, segue uma lista de sugestões da Fundação Getúlio Vargas:

• O setor varejista pode reformar ou construir novas lojas com materiais e equipamentos que reduzam o consumo de recursos naturais e diminuam a emissão de gases, muitas vezes reduzindo também o custo da operação no médio e longo prazo.

• As empresas varejistas também têm a possibilidade de influenciar diretamente seus fornecedores para que sejam parceiros de suas iniciativas sustentáveis.

• Podem estimular parceiros a seguir critérios de fornecimento que levem em consideração o respeito à legislação fiscal e trabalhista, favorecendo a erradicação do trabalho infantil e escravo da cadeia produtiva.

• O varejo também pode estimular que os produtos comercializados dos fornecedores não sejam provenientes da exploração predatória dos recursos naturais.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

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