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Maurício Novaes Souza
Em 2016, o
grupo composto pelo 1% mais rico da população mundial deterá mais
riquezas do que todo os demais 99% da população mundial; entre os 62 milionários que concentram riqueza equivalente a
metade da população da Terra, 2 são brasileiros. O fato é que a riqueza global está cada vez mais concentrada nas mãos de uma
pequena e rica elite, que criou e manteve a sua vasta fortuna a partir de
atividades das áreas econômica, financeira e saúde. Empresas destes setores
gastam milhões de dólares por ano em atividades de lobby que visem promover um ambiente regulatório que protege e fortalece
ainda mais os seus interesses. A maior parte do lobbying realizado nos EUA tenta influenciar as questões orçamentárias
e fiscais, sobre os recursos públicos, que deveriam ser orientadas para
beneficiar todos os cidadãos, em vez de refletir os interesses dos lobistas
poderosos. Verdade seja dita: o Homem inventou modos de ficar rico à custa da
precariedade, pobreza e miséria de outros homens. Assim, os poderes e os
privilégios estão sendo usados para distorcer o sistema econômico, aumentando a
distância entre os mais ricos e o restante da população.
Nessa semana começará o Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça) - de quarta-feira (20) a sábado (23), e reunirá líderes
mundiais. Estudo
divulgado pela ONG britânica OXFAM INTERNATIONAL, de combate à pobreza, pretende impactar o Fórum mostrando a necessidade
de reverter o quadro mundial a cada ano mais favorável à concentração de
riqueza. Caso nada seja feito, a concentração de riqueza no mundo poderá se radicalizar ainda mais,
se governos, sociedades e os organismos financeiros multilaterais não adotarem
ou reforçarem suas políticas de distribuição de renda. Um relatório divulgado por
essa ONG aponta que em 2016 o grupo com 1% das pessoas mais ricas do planeta
vai superar as posses dos 99% mais pobres. Em 2014, enquanto o grupo de 1%
mantinha 48% de toda a riqueza, os 99% mais pobres detinham 52%. Desde 2010,
esses números seguem tendências inversas, que favorecem a concentração: o
estudo prevê que em 2016 os mais ricos vão superar 50% da riqueza total do
mundo.
Por conta desses dados, a Oxfam, cuja
diretora-geral, Winnie Byanyima, co-presidirá o Fórum em Davos, exigiu "a
realização, este ano, de uma cúpula mundial para reescrever as regras fiscais
internacionais". Segundo Winnie, "a amplitude das desigualdades
mundiais é vertiginosa", para quem "o fosso entre as grandes fortunas
e o resto da população aumenta rapidamente". Um detalhe que o relatório
observa é que, no universo dos mais pobres, que o modelo de concentração também
se reproduz. Dos 52% de riqueza do grupo, quase a totalidade está na mão dos
20% mais ricos, enquanto 80% da população contam com apenas 5,5% da riqueza
para garantir a sua sobrevivência. O relatório, cuja base temporal compreende o
período de 2010 a 2020, cita que a lista da Forbes com as 80 pessoas mais ricas
do planeta também segue ritmo de concentração. Em 2010, esse grupo detinha 1,3
bilhão de dólares, cifra que em 2014 subiu para 1,9 bilhão de dólares. Atualmente,
essas 80 pessoas possuem a mesma riqueza de 50% da população, que compreende
3,5 milhões de pessoas. Considerando a referência de 50% da riqueza, vê-se
também que o grupo de 80 pessoas tende a diminuir. Em 2010, um grupo de 388
pessoas detinha 50% da riqueza mundial, número que caiu para 80 no ano passado.
Entre as razões da concentração de riqueza, o relatório destaca os setores
econômicos que têm contribuído para esse estado que espelha a injustiça social.
Como
agravante, há de se considerar, a população mundial aumentará 37,3% até 2050,
passando dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9,2 bilhões (2,5 bilhões a
mais), o que equivale à população mundial de 1950. Este aumento será absorvido,
na sua maioria, pelos países em desenvolvimento, que devem passar de 6,1
bilhões de habitantes em 2016 para 7,9 bilhões de habitantes em 2050. Tal
crescimento preocupa em termos de trabalho e de produção de alimentos que
garantam a segurança alimentar. Prevê-se que os impactos e externalidades ambientais serão inestimáveis
nos países em desenvolvimento. Um grupo de ecólogos e economistas
dos Estados Unidos afirmou que o consumo e a destruição de recursos da natureza
por parte dos ricos entre as décadas de 1960 e 1990 deverão impor ao longo do
século XXI uma perda de US$ 7,4 trilhões da economia de países de renda per capita baixa e média.
A dívida externa dos países pobres nesse mesmo período atingiu US$ 1,7 trilhão.
O estudo aponta ainda um novo número do prejuízo que o dano ambiental no
período estudado causará à humanidade: US$ 47 trilhões.
O
que se verifica, de forma clara, é que esse cenário representa a degradação
social e ambiental: a riqueza e a pobreza; a opulência e a miséria. Dessa
forma, percebe-se que apesar do “progresso”, da maior conscientização das
pessoas e da pesquisa ter evoluído significativamente nos últimos tempos, os
problemas sociais e ambientais vêm se agravando de forma considerável. Na
verdade, os governos, as comunidades e os indivíduos não têm efetivamente
adotado uma postura proativa. A Revolução Industrial criou o modelo de
capitalismo atual, cujos processos de produção consideravam como pólos
excludentes o homem e a natureza, com a concepção desta como fonte ilimitada de
recursos à sua disposição. Esses problemas se tornam mais graves nos países
subdesenvolvidos ou periféricos, onde a crise socioambiental está diretamente
associada ao esgotamento de sua base de recursos. As lideranças mundiais devem
assumir um compromisso mais efetivo de pôr fim aos paraísos fiscais e a regimes
tributários prejudiciais, e reconhecer, definitivamente, que o atual modelo
precisa ser modificado.
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas
Degradadas, Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo
pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), é professor do IF Sudeste campus Rio
Pomba. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.
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