quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O QUE DEVO FAZER PARA OBTER ELEVADAS PRODUTIVIDADES EM SOJA?



*Silvane de Almeida Campos

Na prática, o crescimento, desenvolvimento e rendimento da cultura da soja (Glycine max L.), resultam da interação entre o potencial genético de uma determinada cultivar com o ambiente. Os produtores, por intermédio de práticas de manejo, podem manipular o ambiente de produção. No entanto, vários cuidados devem ser tomados para que a cultura da soja expresse sua produção potencial, que vão desde a escolha da cultivar, ao adequado ambiente de cultivo. Requer cuidados quanto à escolha da área, na implantação da lavoura, no manejo, no momento da colheita e da secagem.

Escolha da área
Na escolha da área, características como relevo, textura e drenagem devem ser consideradas, evitando-se solos excessivamente arenosos, com menos de 15% de argila, com baixa capacidade de armazenamento de água e nutrientes e alta suscetibilidade à erosão. O excesso de água no solo pode causar danos ao sistema radicular das plantas de soja. No entanto, considera-se a umidade ideal para o cultivo da soja quando o solo atinge 50 a 80% da sua capacidade de campo.
Precisa-se realizar o mapeamento das glebas, a correta amostragem do solo e sua análise química e física. Seguir as recomendações de calagem e de adubação para a cultura da soja. A calagem além de neutralizar o alumínio trocável será uma forma de suprimento de Ca e Mg. No período de 4 a 5 anos, se houver necessidade, deverá realizar nova calagem.

Definição da melhor cultivar de soja a ser utilizada
As cultivares de soja são influenciadas por fatores ambientais como a fertilidade do solo, a disponibilidade hídrica, a temperatura, a luminosidade e a ocorrência de doenças. Na prática, o crescimento, desenvolvimento e rendimento da soja resultam da interação entre o potencial genético de um determinado cultivar com o ambiente. Existe interação perfeita entre a planta de soja e o ambiente, de maneira que, quando ocorrem mudanças no ambiente, também ocorrem no desenvolvimento da planta. Na escolha da cultivar, sugere-se atenção à área de indicação, ciclo, resistência a doenças e exigências em épocas e densidades de semeadura, além de altitude e condições de solo.
O produtor precisa definir a cultivar de soja a ser utilizada de acordo com o grupo de maturidade predominante na região, pois cada cultivar tem uma faixa limitada de adaptação em função do seu grupo de maturidade. Também, deverá levar em consideração a capacidade para alto potencial produtivo, a resistência ao acamamento e as principais doenças que afetam a cultura e conhecimento sobre o fotoperíodo crítico que interferirá no comportamento da cultivar (desenvolvimento e floração).
Fazer o levantamento do histórico da área a ser cultivada com soja é de fundamental importância. Com isso o produtor poderá escolher, com grande chance de acerto, a cultivar mais apropriada para cada gleba, sendo resistente a maioria das doenças verificadas.
É recomendado o uso de cultivar resistente a deiscência da vagem.
O produtor que optar pela soja intacta (Bt RR2), que é resistente a lagarta Bt e tolerante ao herbicida Glyphosate, precisa-se realizar a área de refúgio.

Cultivo de plantas de cobertura antecedendo a cultura da soja
Em busca de um sistema de produção mais sustentável, o cultivo da soja deverá ser realizado em sistema de plantio direto. Este sistema fundamenta-se na ausência de revolvimento do solo, na permanência da sua cobertura e na rotação de culturas. Para esse sistema, recomenda-se o uso de plantas de cobertura adaptadas às condições edafoclimáticas da região. Estas plantas apresentam particularidades de manejo que devem ser conhecidas e utilizadas de forma a obter os melhores resultados em função da cobertura de solo, controle de invasoras, alta relação C/N (carbono/nitrogênio), reciclagem de nutrientes e facilidade de semeadura da soja com melhor desempenho da plantadeira.
O manejo das culturas de cobertura pode ser realizado por roçadeira, segadeira, rolo-faca ou herbicidas durante a fase de floração, antes que ocorra a maturação das sementes. Mantém-se a palha seca distribuída uniformemente sobre a superfície, garantindo a proteção do solo. Os herbicidas mais utilizados para esse fim são o 2,4-D, Diquat, Glyphosate e Paraquat que deverão ser aplicados de acordo com as dosagens recomendadas e no momento propício, a fim de garantir melhor eficiência da prática. O cultivo da soja em sistema de plantio direto traz vantagens como redução da erosão, aumento do aporte de matéria orgânica no solo, supressão de plantas espontâneas, infiltração de água e conservação da umidade, propicia melhorias nas propriedades do solo, manutenção de inimigos naturais na área, além da redução dos custos de produção.

Semeadura
O produtor após definir a cultivar de soja, antes da semeadura, deverá fazer o teste de germinação com papel toalha ou leito de areia e utilizar as sementes com vigor igual ou maior que 80%, pois o sucesso do estabelecimento da lavoura dependerá da boa qualidade das sementes.
Para maior precisão na semeadura recomenda-se também confirmar o peso médio de 100 sementes.
Deverá tratar as sementes com fungicida, aplicar os micronutrientes molibdênio e cobalto que irão atuar no processo de fixação biológica de N2 (FBN) e, também, realizar os procedimentos adequados para a inoculação das sementes com estirpes de bactérias do gênero Bradyrhizobium, no dia do plantio, e caso seja o primeiro ano de cultivo da soja na área, deverá usar 3 vezes a dose indicada. A inoculação das sementes é indispensável, pois a fixação biológica de nitrogênio atmosférico é a principal fonte de N a cultura da soja.
Quando se utilizar fungicidas no tratamento de sementes, pode-se aplicar 2 a 3 g de Co/ha e 12 a 25 g de Mo/ha via pulverização foliar, entre os estádios fenológicos V3 a V5 que contribuirão para aumentar a eficiência da FBN. Não se deve aplicar fertilizado nitrogenado em excesso, pois se ultrapassar 20 kg de N mineral reduzirá a fixação biológica.
Deverá respeitar a época de semeadura mais indicada para a região em função da umidade, temperatura e fotoperíodo que são fatores importantes para a definição da duração do ciclo, altura da planta e produção de grãos. Devido à sensibilidade da soja ao fotoperíodo, a adaptabilidade de cada cultivar varia à medida em que se desloca o seu cultivo em direção ao sul ou norte de acordo com a variação da latitude. Normalmente a semeadura da soja ocorre no período compreendido entre outubro a 15 de dezembro.
O solo, por ocasião da semeadura, deve apresentar boa umidade em todo o perfil para garantir boa germinação e emergência das plântulas, e alta taxa de crescimento das plantas na fase inicial. Adequada condição de umidade e aeração do solo aumentará a chance de obtenção da população de plantas desejada, em número e uniformidade. Cultivares de soja que apresentam ciclo de 100 dias necessitam de 700 a 800 mm de chuva para promover adequadas condições de germinação e emergência, desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, maturação e colheita.
A temperatura média do solo, adequada para a semeadura da soja, vai de 20 ºC a 30 ºC, sendo 26 ºC a temperatura ideal para uma emergência rápida e uniforme.
É fundamental realizar o plantio na profundidade correta (3 a 4 cm) que influenciará na emergência das plântulas, na velocidade de emergência, no estande final, altura das plantas e produtividade de grãos de soja.
Quanto ao espaçamento entrelinhas, de modo geral, os resultados mais favoráveis em termos de rendimento são obtidos com os menores espaçamentos (40 a 50 cm).
A população de plantas e a densidade de semeadura deverá ser a recomendada para à cultivar de soja escolhida pelo produtor.
Após o manejo das plantas de cobertura e a preparação das sementes, efetua-se a semeadura da soja com plantadeiras especializadas para o plantio direto previamente reguladas e testadas quanto ao dosador de semente, o controlador de profundidade e o compactador de sulco. O sucesso da lavoura inicia-se pela semeadura bem feita.

Análise foliar
Deve-se proceder a análise foliar, coletando-se a 3ª folha (3º trifólio desenvolvido) com pecíolo, pois a interpretação destas análises permite identificar os nutrientes que estão interferindo na produtividade da lavoura e agir para sua correção, contribuindo para melhorar as recomendações de adubação, evitando-se as deficiências nutricionais. Uma adubação mais equilibrada é fundamental para o melhor desempenho da cultura.
Manejo preventivo de doenças
Com a adoção do manejo preventivo de doenças, o produtor deverá observar, periodicamente, sua lavoura com auxílio de uma lupa e, quando necessário, realizar o controle o mais rápido possível, aumentando-se a chance de êxito no controle de determinada doença, principalmente a ferrugem asiática causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd., considerada uma das principais doenças que afeta a cultura com alto potencial de dano, entre outras. Quando a ferrugem asiática já está instalada, o uso de fungicidas é, até o momento, o principal método de controle, seguindo-se as informações a respeito das épocas e número de aplicações que são fundamentais para um controle mais eficiente do fungo.

Controle de pragas
Para o controle de pragas na cultura da soja, o produtor deverá realizar, semanalmente, o monitoramento da lavoura com o pano-de-batida.
É importante diversificar as cultivares fazendo-se a rotação destas na mesma área, evitando-se o aumento de doenças radiculares, pois entre as cultivares há níveis diferentes de suscetibilidade às doenças e nematoides de galha e de cisto (problema atual).
Na rotação de culturas, devem-se alternar os cultivos de soja com outras culturas em cada ano agrícola, por exemplo, para controlar nematoides cultiva-se o milho seguido da soja, de milho, de algodão, de milho e da soja. Assim, a área permanecerá sem o cultivo da soja por três anos consecutivos, aumentando-se a eficiência do controle desta praga.
O Manejo Integrado de Pragas é uma das indicações para controle da lagarta Helicoverpa armigera na lavoura da soja, praga que gerou grande prejuízo aos produtores na safra passada. Medidas de verificação das lavouras devem ser adotadas sistematicamente para que não haja aplicações desnecessárias de defensivos biológicos ou químicos, preservando os inimigos naturais. Segundo a Embrapa, os inimigos naturais estão agindo no controle desta nova praga.

Controle de plantas invasoras
As plantas invasoras competem com a soja por luz, água e nutrientes. Operações de cultivo, uso de herbicidas, obtenção de estandes uniformes e rotação de culturas são métodos úteis para controlar estas plantas indesejáveis.
O reconhecimento prévio das plantas invasoras predominantes na área, a serem controladas, é condição básica para a escolha do herbicida adequado e para a obtenção de resultados eficientes com esse método de controle. Deve-se utilizar herbicidas pós-emergência para as condições locais. É importante conhecer as especificações do produto antes de sua utilização e a regulagem correta do equipamento de pulverização e não aplicar quando houver presença de alta intensidade de orvalho e/ou imediatamente após uma chuva; em presença de ventos fortes (> 8 Km/h); quando as plantas de soja e as infestantes estiverem sob estresse hídrico; pode-se utilizar baixo volume de calda de aplicação (mínimo de 100 L/ha), se as condições climáticas forem favoráveis e observadas as recomendações do fabricante (tipo de bico, produtos); a aplicação deve ser realizada em ambientes com umidade relativa superior a 60%.
Em áreas menores, as plantas invasoras também poderão ser controladas com utilização de roçadeira motorizada costal, ficando a critério do produtor.

Fase reprodutiva
Não poderá faltar água e nutrientes durante a fase compreendida entre a floração e enchimento dos grãos.
Se a densidade de plantas for adequada, o rendimento (peso total das sementes) pode ser dividido em três componentes: o número total de vagens produzidas por planta, número de sementes produzidas por vagem e o peso por semente (tamanho da semente). Geralmente a maioria dos ganhos na produção resulta de aumentos no número total de vagens por planta, principalmente quando se obtêm maiores rendimentos. Os limites superiores para o número de sementes por vagem e o tamanho das sementes são definidos geneticamente. Condições de estresse como temperatura alta ou deficiência de umidade reduzem o rendimento em virtude da redução de um ou mais destes componentes de produção.

Colheita
É prática comum fazer a dessecação da soja com uso de Paraquat, no estádio fenológico R7, com a finalidade de antecipar a sua colheita.
Colhe-se a soja com teor de umidade entre 13 e 15%, utilizando-se as colheitadoras para o sistema de plantio direto, que são bastante sofisticadas.
Plantas com altura acima de 60 cm, por ocasião da maturação, contribui para reduzir as perdas de grãos na operação de colheita, o que não deve ultrapassar de 0,5 a 1 saco/ha.
A não ocorrência de plantas infestantes na área favorecerá a eficiência da colheita.

Secagem dos grãos de soja
Após a colheita, os grãos de soja são submetidos ao processo de secagem. Durante a secagem, a água deve ser evaporada para que os grãos reduzam sua umidade a níveis que possibilitem armazenamento seguro. Este procedimento requer cuidados, pois grãos de soja com maior umidade deverão ser secados em temperatura menor, evitando-se o cozimento destes.
Na secagem artificial, a fonte de calor pode ser variável. A secagem de sementes mediante convecção forçada do ar aquecido compreende, essencialmente, dois processos simultâneos: movimento de água do interior para a superfície da semente, em virtude do gradiente de potencial hídrico entre as duas regiões e a transferência de água da superfície da semente para o ar circundante. Esse tipo de secagem permite o controle da temperatura, do fluxo do ar de secagem e do tempo de exposição das sementes ao ar aquecido, fatores fundamentais para garantir a eficiência do processo.
A secagem natural é baseada nas ações do vento e do sol para a remoção da umidade das sementes. Cuidados especiais devem ser tomados para que as sementes não sofram aquecimento excessivo e que a secagem ocorra do modo mais uniforme possível. Este método é indicado para reduzida quantidade de sementes. Apesar de apresentar baixo custo, é um método lento, e as sementes não devem ser expostas em camadas superiores a 4-6 cm, com revolvimento periódico. Apresenta desvantagens que decorrem do intensivo uso de mão de obra, uma vez que as operações geram baixo rendimento e o processo é totalmente dependente das condições climáticas disponíveis.
Diante do exposto, se houver um planejamento e manejo adequado do cultivo da soja em sistema de plantio direto, o produtor terá grande chance de incrementar a produtividade com obtenção de lucros bastante satisfatórios e maior sustentabilidade da produção.


*Doutoranda e Mestra em Agroecologia e Bacharel em Agroecologia pelo IF Sudeste de Minas campus de Rio Pomba. 

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