*Silvane
de Almeida Campos
Na prática, o crescimento, desenvolvimento
e rendimento da cultura da soja (Glycine
max L.), resultam da interação entre o potencial genético de uma
determinada cultivar com o ambiente. Os produtores, por intermédio de práticas
de manejo, podem manipular o ambiente de produção. No entanto, vários cuidados devem
ser tomados para que a cultura da soja expresse sua produção potencial, que vão
desde a escolha da cultivar, ao adequado ambiente de cultivo. Requer cuidados
quanto à escolha da área, na implantação da lavoura, no manejo, no momento da
colheita e da secagem.
Escolha
da área
Na escolha da área, características como
relevo, textura e drenagem devem ser consideradas, evitando-se solos excessivamente arenosos, com menos de 15%
de argila, com baixa capacidade de armazenamento de água e nutrientes e alta
suscetibilidade à erosão. O excesso de água no solo pode causar danos ao
sistema radicular das plantas de soja. No entanto, considera-se a umidade ideal
para o cultivo da soja quando o solo atinge 50 a 80% da sua capacidade de
campo.
Precisa-se realizar o mapeamento das
glebas, a correta amostragem do solo e sua análise química e física. Seguir as recomendações
de calagem e de adubação para a cultura da soja. A calagem além de neutralizar
o alumínio trocável será uma forma de suprimento de Ca e Mg. No período de 4 a
5 anos, se houver necessidade, deverá realizar nova calagem.
Definição
da melhor cultivar de soja a ser utilizada
As cultivares de soja são influenciadas
por fatores ambientais como a fertilidade do solo, a disponibilidade hídrica, a
temperatura, a luminosidade e a ocorrência de doenças. Na prática, o
crescimento, desenvolvimento e rendimento da soja resultam da interação entre o
potencial genético de um determinado cultivar com o ambiente. Existe interação
perfeita entre a planta de soja e o ambiente, de maneira que, quando ocorrem
mudanças no ambiente, também ocorrem no desenvolvimento da planta. Na escolha
da cultivar, sugere-se atenção à área de indicação, ciclo, resistência a
doenças e exigências em épocas e densidades de semeadura, além de altitude e condições
de solo.
O produtor precisa definir a cultivar de
soja a ser utilizada de acordo com o grupo de maturidade predominante na
região, pois cada cultivar tem uma faixa limitada de adaptação em função do seu
grupo de maturidade. Também, deverá levar em consideração a capacidade para
alto potencial produtivo, a resistência ao acamamento e as principais doenças
que afetam a cultura e conhecimento sobre o fotoperíodo crítico que interferirá
no comportamento da cultivar (desenvolvimento e floração).
Fazer o levantamento do histórico da área
a ser cultivada com soja é de fundamental importância. Com isso o produtor poderá
escolher, com grande chance de acerto, a cultivar mais apropriada para cada
gleba, sendo resistente a maioria das doenças verificadas.
É recomendado o uso de cultivar resistente
a deiscência da vagem.
O produtor que optar pela soja intacta (Bt
RR2), que é resistente a lagarta Bt e tolerante ao herbicida Glyphosate, precisa-se realizar a
área de refúgio.
Cultivo
de plantas de cobertura antecedendo a cultura da soja
Em busca de um sistema de produção mais
sustentável, o cultivo da soja deverá ser realizado em sistema de plantio direto.
Este sistema fundamenta-se na ausência de revolvimento do solo, na permanência
da sua cobertura e na rotação de culturas. Para esse sistema, recomenda-se o
uso de plantas de cobertura adaptadas às condições edafoclimáticas da região. Estas
plantas apresentam particularidades de manejo que devem ser conhecidas e
utilizadas de forma a obter os melhores resultados em função da cobertura de
solo, controle de invasoras, alta relação C/N (carbono/nitrogênio), reciclagem
de nutrientes e facilidade de semeadura da soja com melhor desempenho da
plantadeira.
O manejo das culturas de cobertura pode
ser realizado por roçadeira, segadeira, rolo-faca ou herbicidas durante a fase
de floração, antes que ocorra a maturação das sementes. Mantém-se a palha seca
distribuída uniformemente sobre a superfície, garantindo a proteção do solo. Os
herbicidas mais utilizados para esse fim são o 2,4-D, Diquat, Glyphosate e Paraquat que deverão ser aplicados
de acordo com as dosagens recomendadas e no momento propício, a fim de garantir
melhor eficiência da prática. O cultivo da soja em sistema de plantio direto
traz vantagens como redução da erosão, aumento do aporte de matéria orgânica no
solo, supressão de plantas espontâneas, infiltração de água e conservação da
umidade, propicia melhorias nas propriedades do solo, manutenção de inimigos
naturais na área, além da redução dos custos de produção.
Semeadura
O produtor após definir a cultivar de
soja, antes da semeadura, deverá fazer o teste de germinação com papel toalha
ou leito de areia e utilizar as sementes com vigor igual ou maior que 80%, pois
o sucesso do estabelecimento da lavoura dependerá da boa qualidade das
sementes.
Para maior precisão na semeadura
recomenda-se também confirmar o peso médio de 100 sementes.
Deverá tratar as sementes com fungicida, aplicar
os micronutrientes molibdênio e cobalto que irão atuar no processo de fixação
biológica de N2 (FBN) e, também, realizar os procedimentos adequados
para a inoculação das sementes com estirpes de bactérias do gênero Bradyrhizobium, no dia do plantio, e
caso seja o primeiro ano de cultivo da soja na área, deverá usar 3 vezes a
dose indicada. A inoculação das sementes é indispensável, pois a fixação
biológica de nitrogênio atmosférico é a principal fonte de N a cultura da soja.
Quando se utilizar fungicidas no
tratamento de sementes, pode-se aplicar 2 a 3 g de Co/ha e 12 a 25 g de Mo/ha
via pulverização foliar, entre os estádios fenológicos V3 a V5 que contribuirão
para aumentar a eficiência da FBN. Não se deve aplicar fertilizado nitrogenado
em excesso, pois se ultrapassar 20 kg de N mineral reduzirá a fixação
biológica.
Deverá respeitar a época de semeadura mais
indicada para a região em função da umidade, temperatura e fotoperíodo que são
fatores importantes para a definição da duração do ciclo, altura da planta e
produção de grãos. Devido à sensibilidade da soja ao fotoperíodo, a
adaptabilidade de cada cultivar varia à medida em que se desloca o seu cultivo
em direção ao sul ou norte de acordo com a variação da latitude. Normalmente a
semeadura da soja ocorre no período compreendido entre outubro a 15 de
dezembro.
O solo, por ocasião da semeadura, deve
apresentar boa umidade em todo o perfil para garantir boa germinação e
emergência das plântulas, e alta taxa de crescimento das plantas na fase
inicial. Adequada condição de umidade e aeração do solo aumentará a chance de
obtenção da população de plantas desejada, em número e uniformidade. Cultivares
de soja que apresentam ciclo de 100 dias necessitam de 700 a 800 mm de chuva
para promover adequadas condições de germinação e emergência, desenvolvimento
vegetativo e reprodutivo, maturação e colheita.
A temperatura média do solo, adequada para
a semeadura da soja, vai de 20 ºC a 30 ºC, sendo 26 ºC a temperatura ideal para
uma emergência rápida e uniforme.
É fundamental realizar o plantio na
profundidade correta (3 a 4 cm) que influenciará na emergência das plântulas,
na velocidade de emergência, no estande final, altura das plantas e
produtividade de grãos de soja.
Quanto ao espaçamento entrelinhas, de modo
geral, os resultados mais favoráveis em termos de rendimento são obtidos com os
menores espaçamentos (40 a 50 cm).
A população de plantas e a densidade de
semeadura deverá ser a recomendada para à cultivar de soja escolhida pelo
produtor.
Após o manejo das plantas de cobertura e a
preparação das sementes, efetua-se a semeadura da soja com plantadeiras
especializadas para o plantio direto previamente reguladas e testadas quanto ao
dosador de semente, o controlador de profundidade e o compactador de sulco. O sucesso da lavoura inicia-se pela
semeadura bem feita.
Análise
foliar
Deve-se
proceder a análise foliar, coletando-se a 3ª folha (3º trifólio desenvolvido) com
pecíolo, pois a interpretação destas análises permite identificar os nutrientes
que estão interferindo na produtividade da lavoura e agir para sua correção,
contribuindo para melhorar as recomendações de adubação, evitando-se as
deficiências nutricionais. Uma adubação mais equilibrada é fundamental para o melhor
desempenho da cultura.
Manejo
preventivo de doenças
Com a adoção do manejo preventivo de
doenças, o produtor deverá observar, periodicamente, sua lavoura com auxílio de
uma lupa e, quando necessário, realizar o controle o mais rápido possível,
aumentando-se a chance de êxito no controle de determinada doença,
principalmente a ferrugem asiática causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd., considerada uma das principais doenças
que afeta a cultura com alto potencial de dano, entre outras. Quando a ferrugem
asiática já está instalada, o uso de fungicidas é, até o momento, o principal método
de controle, seguindo-se as informações a respeito das épocas e número de
aplicações que são fundamentais para um controle mais eficiente do fungo.
Controle
de pragas
Para o controle de pragas na cultura da
soja, o produtor deverá realizar, semanalmente, o monitoramento da lavoura com
o pano-de-batida.
É importante diversificar as cultivares
fazendo-se a rotação destas na mesma área, evitando-se o aumento de doenças radiculares,
pois entre as cultivares há níveis diferentes de suscetibilidade às doenças e
nematoides de galha e de cisto (problema atual).
Na rotação de culturas, devem-se alternar
os cultivos de soja com outras culturas em cada ano agrícola, por exemplo, para
controlar nematoides cultiva-se o milho seguido da soja, de milho, de algodão,
de milho e da soja. Assim, a área permanecerá sem o cultivo da soja por três
anos consecutivos, aumentando-se a eficiência do controle desta praga.
O Manejo Integrado de Pragas é uma das
indicações para controle da lagarta Helicoverpa
armigera na lavoura da soja, praga que gerou grande prejuízo aos produtores
na safra passada. Medidas de verificação das lavouras devem ser adotadas
sistematicamente para que não haja aplicações desnecessárias de defensivos
biológicos ou químicos, preservando os inimigos naturais. Segundo a Embrapa, os
inimigos naturais estão agindo no controle desta nova praga.
Controle
de plantas invasoras
As plantas invasoras competem com a soja
por luz, água e nutrientes. Operações de cultivo, uso de herbicidas, obtenção
de estandes uniformes e rotação de culturas são métodos úteis para controlar estas
plantas indesejáveis.
O reconhecimento prévio das plantas
invasoras predominantes na área, a serem controladas, é condição básica para a
escolha do herbicida adequado e para a obtenção de resultados eficientes com
esse método de controle. Deve-se utilizar herbicidas pós-emergência para as
condições locais. É importante conhecer as especificações do produto antes de sua
utilização e a regulagem correta do equipamento de pulverização e não aplicar quando
houver presença de alta intensidade de orvalho e/ou imediatamente após uma
chuva; em presença de ventos fortes (> 8 Km/h); quando as plantas de soja e as
infestantes estiverem sob estresse hídrico; pode-se utilizar baixo volume de
calda de aplicação (mínimo de 100 L/ha), se as condições climáticas forem
favoráveis e observadas as recomendações do fabricante (tipo de bico,
produtos); a aplicação deve ser realizada em ambientes com umidade relativa
superior a 60%.
Em áreas menores, as plantas invasoras também
poderão ser controladas com utilização de roçadeira motorizada costal, ficando
a critério do produtor.
Fase
reprodutiva
Não poderá faltar água e nutrientes
durante a fase compreendida entre a floração e enchimento dos grãos.
Se a densidade de plantas for adequada, o
rendimento (peso total das sementes) pode ser dividido em três componentes: o
número total de vagens produzidas por planta, número de sementes produzidas por
vagem e o peso por semente (tamanho da semente). Geralmente a maioria dos
ganhos na produção resulta de aumentos no número total de vagens por planta,
principalmente quando se obtêm maiores rendimentos. Os limites superiores para
o número de sementes por vagem e o tamanho das sementes são definidos
geneticamente. Condições de estresse como temperatura alta ou deficiência de
umidade reduzem o rendimento em virtude da redução de um ou mais destes
componentes de produção.
Colheita
É prática comum fazer a dessecação da soja
com uso de Paraquat, no estádio fenológico R7, com a finalidade de antecipar a
sua colheita.
Colhe-se a soja com teor de umidade entre
13 e 15%, utilizando-se as colheitadoras para o sistema de plantio direto, que
são bastante sofisticadas.
Plantas com altura acima de 60 cm, por
ocasião da maturação, contribui para reduzir as perdas de grãos na operação de
colheita, o que não deve ultrapassar de 0,5 a 1 saco/ha.
A não ocorrência de plantas infestantes na
área favorecerá a eficiência da colheita.
Secagem
dos grãos de soja
Após a colheita, os grãos de soja são
submetidos ao processo de secagem. Durante a secagem, a água deve ser evaporada
para que os grãos reduzam sua umidade a níveis que possibilitem armazenamento
seguro. Este procedimento requer cuidados, pois grãos de soja com maior umidade
deverão ser secados em temperatura menor, evitando-se o cozimento destes.
Na secagem artificial, a fonte de calor
pode ser variável. A secagem de sementes mediante convecção forçada do ar
aquecido compreende, essencialmente, dois processos simultâneos: movimento de
água do interior para a superfície da semente, em virtude do gradiente de
potencial hídrico entre as duas regiões e a transferência de água da superfície
da semente para o ar circundante. Esse tipo de secagem permite o controle da
temperatura, do fluxo do ar de secagem e do tempo de exposição das sementes ao
ar aquecido, fatores fundamentais para garantir a eficiência do processo.
A secagem natural é baseada nas ações do
vento e do sol para a remoção da umidade das sementes. Cuidados especiais devem
ser tomados para que as sementes não sofram aquecimento excessivo e que a
secagem ocorra do modo mais uniforme possível. Este método é indicado para
reduzida quantidade de sementes. Apesar de apresentar baixo custo, é um método
lento, e as sementes não devem ser expostas em camadas superiores a 4-6 cm, com
revolvimento periódico. Apresenta desvantagens que decorrem do intensivo uso de
mão de obra, uma vez que as operações geram baixo rendimento e o processo é
totalmente dependente das condições climáticas disponíveis.
Diante do exposto, se houver um planejamento
e manejo adequado do cultivo da soja em sistema de plantio direto, o produtor
terá grande chance de incrementar a produtividade com obtenção de lucros bastante
satisfatórios e maior sustentabilidade da produção.
*Doutoranda
e Mestra em Agroecologia e Bacharel em Agroecologia pelo IF Sudeste de Minas
campus de Rio Pomba.
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