*Maurício
Novaes Souza
Na última semana do segundo turno, o então
candidato Jair Bolsonaro, diante do risco de queda nas pesquisas de intenção de
votos, sinalizou que não iria fundir os ministérios da Agricultura e do Meio
Ambiente. O objetivo era passar a imagem de um candidato do diálogo, que não
desejava impor suas ideias, em um momento em que era taxado pelo PT como um
político de viés autoritário. Ou seja, ele queria se contrapor aos ataques
petistas e afastar a imagem de candidato sem abertura a negociações. Na
quarta-feira, dia 24 de outubro, ele concedeu entrevista e comentou as críticas
de ambientalistas à proposta de fundir as duas pasta, afirmando: "Está
havendo um ruído nessa área e eu sou uma pessoa que estou aberto para o
diálogo, pode ser que a gente não encampe essa proposta realmente". Em
seguida, aliados de Bolsonaro deram como certa a decisão de que os ministérios
da Agricultura e Meio Ambiente continuariam existindo de forma independente. Agora,
o futuro ministro da Casa
Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), informou nesta terça-feira (30) que o
presidente eleito Jair Bolsonaro decidiu manter a fusão dos ministérios da
Agricultura e do Meio Ambiente!
Essa
notícia acontece justo hoje, nesta mesma terça-feira, quando foi divulgado o
relatório “Living Planet Report”, publicado pela WWF, organização
não-governamental ambientalista, e a Sociedade Zoológica de Londres. Dados
revelam que as populações de vertebrados silvestres como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios sofreram uma
redução de 60% entre 1970 e 2014, devido à ação humana. Segundo o mesmo
relatório, as atuais taxas de extinção são entre 100 e 1000 vezes superiores às
taxas de extinção existentes anteriormente, antes de o Homem se tornar um
“fator proeminente de pressão”. Ou seja, os humanos são em boa parte os
responsáveis. De fato, temos a
honra duvidosa de ser a espécie mais mortífera nos anais da biologia.
Segundo esse mesmo relatório, as principais ameaças “estão
diretamente ligadas às atividades humanas, incluindo perda e degradação de
habitats e sobre-exploração da vida selvagem”. A maior causa do declínio da
vida selvagem é a destruição dos habitats naturais, seguido da morte de animais
para alimentação humana e do excesso de pesca nos oceanos. A América do Sul e
Central são as regiões do mundo mais afetadas. “Tudo o que é construído nas
sociedades modernas, com os seus benefícios e luxos, é providenciado pela
natureza e vamos continuar a precisar destes recursos naturais para sobreviver
e prosperar. Cada vez mais, a investigação prova o valor incalculável da
natureza para a nossa saúde, riqueza, alimentação e segurança”, destaca Marco
Lambertini, diretor-geral da WWF Internacional - “À medida que melhor
compreendemos a nossa confiança no sistema natural, torna-se claro que a
natureza não é apenas ‘algo agradável de se ter’”. "Preservar a
natureza não é apenas proteger os tigres, pandas, baleias e animais que
apreciamos (...). É muito mais: não pode haver um futuro saudável e próspero
para os homens em um planeta com o clima desestabilizado, os oceanos poluídos,
os solos degradados e as matas derrubadas e degradadas, um planeta despojado de
sua biodiversidade".
O declive da fauna afeta todo o planeta, com regiões
especialmente prejudicadas, como os trópicos, segundo a 12ª edição do relatório
publicado com a Sociedade Zoológica de Londres e baseado no acompanhamento de
16,7 mil populações de 4 mil espécies. O décimo relatório revelava uma redução
de 52% entre 1970 e 2010 e nada parece deter o declínio, que agora é de 60%. A
zona Caribe/América do Sul revela um quadro "aterrador": uma perda de
89% em 44 anos. América do Norte e Groenlândia sofreram as menores reduções da fauna, com
23%. Europa, Norte da África e Oriente Médio apresentaram um declive de 31%. A
primeira explicação é a perda dos habitats devido à agricultura intensiva, à
mineração e à urbanização, que provocam o desmatamento e o esgotamento dos
solos.
No Brasil, além da
fusão dos Ministérios, que enfraquece o Setor Ambiental, o novo governo, em seu
programa de governo, não menciona medidas concretas sobre desmatamento ou no
aquecimento global, a selva amazônica se reduz cada vez mais, assim como o
cerrado, diante do avanço da agricultura e da pecuária. Alto índice de devastação da Amazônia pode fazer ecossistema chegar a
ponto de ‘não retorno’, entrando em colapso. Segundo o Relatório Planeta
Vivo, lançado hoje (30/10/2018) em cem países, a Amazônia já perdeu 20% de sua
área. Se o desmatamento ultrapassar a marca de 25%, o ecossistema chegará a um
“ponto de não retorno” e pode entrar em colapso, deixando de ser uma floresta.
Nessa condição, atingirá o ponto onde a relação
resistência/estresse será maior que um, fazendo com que a resiliência do sistema,
ou seja, a sua capacidade de regeneração, seja negativa!
Em nosso país, temos 3.286 espécies, sendo que 785 estão criticamente em
perigo, que é o pior estágio, e a maioria na Mata Atlântica, nosso bioma mais
desmatado! Infelizmente, o governo federal não investe em modelos de
desenvolvimento econômico que valorizam a floresta em pé, como explorar seu
potencial para a indústria química e cosmética, ou então incentivar o
ecoturismo. Mundialmente, apenas 25% dos solos estão livres da marca do
homem. Em 2050, o índice cairá para 10%, segundo pesquisadores do IPBES. A isso
se soma o excesso de pesca, a caça proibida, a contaminação, as espécies
invasoras, as doenças e as mudanças climáticas.
De acordo com o
relatório, "O desaparecimento do capital natural é um problema ético, mas
também tem consequências em nosso desenvolvimento, nossos empregos, e começamos
a ver isto", assinalou Pascal Canfin, diretor-geral do WWF França. "Pescamos
menos que há 20 anos porque as reservas diminuem. O rendimento de alguns
cultivos começa a cair. Na França, o trigo está estancado desde os anos 2000.
Estamos jogando pedras em nosso próprio telhado".
Os economistas avaliam os "serviços
devolvidos pela natureza" (água potável, polinização, estabilidade dos
solos, alimentos, energia, etc.) em 125
trilhões de dólares anuais. Sua destruição, portanto, pode provocar também
um dano financeiro inestimável. A cada ano, o dia em que o mundo consumiu todos
os recursos que o planeta pode renovar anualmente chega mais cedo. Em 2018 foi
em 1º de agosto.
"O futuro das
espécies não parece chamar a atenção suficiente dos líderes" mundiais,
alerta a WWF, que defende "elevar o nível de alerta" e provocar um
amplo movimento, como se fez pelo clima. "Que todo o mundo compreenda que
o status quo não é uma opção". "Somos
a primeira geração que tem uma visão clara do valor da natureza e do nosso
impacto nela. Poderemos também ser a última capaz de inverter esta
tendência", advertiu a WWF, que pede uma ação antes de 2020, "um
momento decisivo na história". "Uma porta sem precedentes se fechará
rápido". A análise adverte que os seres humanos já empurraram quatro
fronteiras necessárias para assegurar uma “operação” normal do planeta, como o
ataque à biosfera e as mudanças climáticas. Daí partem índices perigosos, como
o fato de que, segundo as estatísticas, 90% das aves marinhas têm fragmentos de
plástico no estômago — em 1960, eram apenas 5%. E, também, a perda de metade
dos corais de águas rasas em apenas 30 anos.
Dada essa realidade, é possível ainda fazermos
algo? O relatório traça ainda um caminho para inverter o panorama ou, pelo
menos, para mitigar os estragos que têm sido feitos. Em um plano de 30 anos,
entre 2020 e 2050, a WWF propõe que, em primeiro lugar, seja definido um
objetivo “claro e específico para recuperar a biodiversidade”, criado um
conjunto de “indicadores medíveis e relevantes” para se conseguir analisar o
progresso e, por fim, redigido um acordo para um lote de medidas que ajudem a
cumprir o objetivo inicialmente definido. Segundo o relatório, “A cada dia que
passa, as provas são mais fortes de que a sobrevivência da humanidade
depende do nosso sistema natural, no entanto continuamos a destruir a saúde da
natureza numa escala alarmante. É claro que os esforços para travar a perda de
biodiversidade não estão a funcionar. É por isso que a WWF, em cooperação com
as universidades de conservação e ciência de todo o mundo, pedem o acordo
internacional mais ambicioso jamais feito: um novo acordo global para a
natureza e as pessoas – para virar a curva da perda da biodiversidade”.
“Precisamos fazer crescer radicalmente a relevância da natureza.”
Segundo o Diretor de
Ciências da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), que forneceu um dos
indicadores usados no relatório, Ken Norris reconhece que as estatísticas são
“assustadoras”, mas diz que nem tudo está perdido: temos a oportunidade de
projetar um novo caminho que nos permita coexistir de forma sustentável com a
natureza da qual dependemos. Os autores do relatório propõem a criação de um
“conjunto de ações coletivas, juntamente com um roteiro para metas, indicadores
e métricas para reverter a perda da natureza”, que incluiria cenários para
mudanças no uso da terra, na dieta e no trato a unidades de conservação.
A escolha da data para o lançamento
do relatório foi estratégica. No início deste mês, o Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas divulgou uma lista de medidas que devem ser cumpridas
para limitar o aquecimento do planeta em 1,5 grau Celsius em relação ao período
pré-industrial. E daqui a algumas semanas serão realizadas a Conferência do
Clima, na Polônia, e a Convenção de Diversidade Biológica, no Egito. Este é
mais um passo para uma série de acordos globais que devem ser assinados em 2020,
quando serão revistos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, segundo Mariana
Napolitano, acrescentando que o momento político brasileiro influenciará a
performance do país nas negociações e o modo como é visto pela comunidade
internacional - o presidente eleito Jair Bolsonaro deve reconhecer e manter as
boas conquistas da área ambiental. Temos um dos maiores recursos de água doce e
de biodiversidade. O que ocorre aqui, o modo como lidamos com as metas
climáticas, repercute em todo o mundo.
Em meu livro
mais recente, “Degradação ambiental e procedimentos de recuperação ambiental”,
comento sobre as mudanças que aconteceriam em nosso planeta, caso nossa espécie
deixasse de existir. Contudo, demonstro que não seja necessário que ocorra a
nossa extinção para que o planeta se recupere; mas faz-se urgente aprendermos a
conviver em harmonia e amor com o semelhante e também com as demais espécies
que vivem em “nosso planeta”. Agindo dessa forma, seremos Homo sapiens mais reflexivos e melhores, buscando sempre as
mudanças necessárias a “manutenção” da nossa espécie. Que o governo que
assumirá no início de 2019 pense em tudo isso e faça a sua parte!
Fontes
consultadas:
*
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão
Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de
Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES
campus de Alegre. E-mail: mauricios.novaes@ifes.edu.br.
Um comentário:
Não entendi. A fusão dos Ministérios implica em negar a necessidade de se trabalhar estas questões citadas ou mesmo implica em impedir que o façam? Vamos considerar a afirmação do NOVO Presidente que disse que está "aberto ao diálogo", quem hj representa o Ministério do Meio Ambiente, já apresentou propostas ao novo governo justificando a manutenção da pasta e este foi terminantemente desfavorável à permanência do Ministério? Qual a justificativa? Queria compreender o q está envolvido. Não sei nem o nome do ministro empossado hj.
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