segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Produção Agroecológica e Desenvolvimento Rural Sustentável


*por Maurício Novaes Souza1 e Wantuelfer Fernandes Gonçalves2


A revista “Veja” lançou uma edição especial, no final de 2009, intitulada “O ano zero da economia sustentável”. De fato, a revista é muito interessante e, não intencionalmente, faz um diagnóstico da sociedade atual em relação ao tema (que poderia ter o título substituído por “conhecimento zero da economia sustentável”). Além disso, conforme sugere o título, aponta que em anos recentes, principalmente nas duas últimas décadas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas, deram origem a uma nova linha de pensamento e comportamento, que sugerem, ou possibilitam, o fim da relação dicotômica economia e ecologia. Mas será que, de fato, depois de todos esses acontecimentos recentes na política, na economia, nas atividades agroindustriais, entre tantos outros, estamos caminhando para um modelo direcionado ao desenvolvimento sustentável? Nas áreas urbanas e rurais?

Para quem é da área rural, pode-se perceber semelhanças com a maior parte das recomendações sugeridas pela revista “Veja” com o modelo agrícola de substituição de insumos: trata-se de “Agroecologia”. A ideia geral deste novo modelo agropecuário de produção é o de substituição das partes com distorções, e não o de redesenhar um sistema focando os hábitos como fator principal. Tal atitude inevitavelmente mudaria a postura das empresas. No entanto, deve-se ter bastante cautela ao sugerirmos esse novo modelo, posto que, em longo prazo, adotar medidas ineficientes, ou pouco pesquisadas, pode tornar o trabalho desse grupo que sugere tais mudanças, que são imprescindíveis, desacreditado, o que dificultaria ações futuras.

Contudo, depois do encontro de Copenhagen e do relatório acusatório dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, de dezembro de 2009, centenas de palestras, entrevistas e discursos foram proferidos por pessoas que, institucionalmente, são ou se sentem autoridades no assunto ambiental. Todas são unânimes em tratar o problema vivencial do planeta de uma forma inteiramente em desacordo com a realidade.... mas insistem em defender que o desenvolvimento deve ser feito de forma sustentável.

De fato, deveríamos nos sentir desconfortáveis ao ouvirmos alguém defender o desenvolvimento sustentável para simplesmente ficar bem com a classe econômica e com os ambientalistas. Uns o fazem na intenção de colocar o desenvolvimento materialista em destaque; outros, inadvertidamente, se deixam levar para a semântica que transformou a expressão em “sustentabilidade”, palavra que também é bandeira dos defensores da ecologia. Percebemos que aquele discurso está sendo dirigido a ingênuos, a quem compete apenas balançar a cabeça, como concordância cômoda e irracional.

Segundo o ambientalista Maurício Gomide, os participantes da engrenagem econômica repetem e defendem o mesmo bordão, por ser conveniente aos seus interesses de ganância. O que o planeta precisa, e com urgência, é da reversão civilizacional das atividades nocivas que o estão degradando. A sustentabilidade se fará naturalmente, pois será consequência de atitudes que sustentarão a capacidade planetária de prover os meios de vida à biodiversidade. Até o presente momento, é possível reverter o caos que se anuncia... no futuro, é “im”previsível.

Na Conferência de Copenhagen, em dezembro de 2009, os impasses trouxeram de volta discussões antigas, sobre formas de superar problemas como a exigência de consenso para decisões. Segundo W. Novaes, as alternativas já foram discutidas em outras Conferências (COPs), como a de criar uma organização mundial só para o meio ambiente, separada da ONU. Só que ela enfrentaria problemas semelhantes: como ter regras universais sem a concordância de todos os países? O fato é que a urgência de decisões é implacável. Ainda há poucos dias a Organização Meteorológica Mundial advertiu que esta primeira década do Século XXI está sendo e será a mais quente desde 1850, com temperatura média superior à da década de 1990, que já fora mais quente que a de 1980. Há uma corrida contra o tempo, que não está sendo ganha.

Para concluir, há de se tocar no mérito, a reportagem da revista “Veja” citada no início deste artigo abre espaço para a discussão desses assuntos, além de apontar tendências de mercado. O produtor rural de vanguarda é aquele que consegue perceber essa nova realidade. Vale citar que a revista elegeu as 10 profissões mais importantes para o futuro, quando se pensa e se vislumbra o Desenvolvimento Sustentável: o perfil do agroecólogo se encaixa diretamente em sete (7) delas e indiretamente em mais uma (1).


1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF SEMG Rio Pomba e Diretor-Geral do IF SEMG São João del-Rei. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.


2. Graduando do Curso de Bacharel em Agroecologia do IF SEMG Rio Pomba. E-mail: wantuelfer@yahoo.com.br.

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