A produção de
hortaliças caracteriza-se pelo uso intensivo do solo, água e insumos. Diante
dessa ação impactante sobre os recursos naturais, se faz necessário, buscar
novos sistemas de produção e adotar práticas conservacionistas do solo e da
água (Dalastra, 2010). Neste enfoque, o sistema de plantio direto (SPD)
representa um processo com possibilidade mais sustentável para o cultivo de
diversas olerícolas (Rissato et al., 2012).
O SPD fundamenta-se no
mínimo revolvimento do solo, na sua cobertura permanente e na rotação de
culturas (Fernandes, 2010) e apresenta como vantagens a redução no uso de
máquinas, melhoria da estrutura do solo, aumento da infiltração e retenção de
água no solo, redução das perdas de água por evaporação e escoamento
superficial, aumento da eficiência do uso de água pelas culturas, melhoria do
desenvolvimento do sistema radicular das plantas e controle de plantas
invasoras (Breda Júnior e Factor, 2009).
O SPD de hortaliças é
um sistema conservacionista em que o plantio das sementes ou transplantio das
mudas é feito diretamente sobre os restos culturais da lavoura anterior, sobre
adubos verdes ou ervas espontâneas em área de pousio temporário (Souza e
Rezende, 2006).
No plantio direto de hortaliças podem ser utilizados vários tipos de
cobertura do solo como a cobertura morta, a cobertura viva ou uso de plástico
de polietileno.
A cobertura morta pode
ser obtida de duas maneiras: pela importação de palhada de outra área como se
efetua tradicionalmente na cultura do alho (Allium
sativum L.) ou pelo cultivo de plantas de cobertura, fornecedoras de
palhada, e seu manejo (corte) no próprio local. Várias espécies como
leguminosas e gramíneas podem ser utilizadas, em cultivo exclusivo ou
consorciado, até mesmo aquelas de maior interesse econômico tais como milho,
soja e ervilha (Alcântara e Madeira, 2008).
De acordo com Alcântara
e Madeira (2008), a escolha da planta para cobertura morta dependerá de
diversos fatores: clima; esquema de rotação de culturas, devendo-se considerar
o tempo disponível para a formação de palhada; capacidade das culturas
hospedarem pragas e patógenos; características físicas do solo pela necessidade
de rompimento de camadas compactadas; características químicas do solo
considerando a necessidade de reciclagem de nutrientes e a velocidade na
disponibilização destes pela cobertura morta; utilidade comercial das plantas
de cobertura, entre outros. Se o desejado é a obtenção de uma cobertura morta
duradoura, opta-se pelo plantio de gramíneas como o milho, o milheto, o sorgo,
as aveias, entre outras. Caso seja uma cobertura morta de degradação mais
rápida para liberação de nutrientes a cultura sucessora, utiliza-se o nabo
forrageiro, o amaranto, as mucunas, as crotalárias, o lab-lab, as sojas, o
guandu, o feijão-de-porco, entre outras. A utilização de consórcios com plantas
de diferentes famílias é recomendada como milho e mucuna conseguindo assim
maior proteção do solo e liberação mais rápida dos nutrientes. Outro consórcio,
muito utilizado em regiões de clima ameno, é a combinação de aveia preta,
ervilhaca e o nabo forrageiro, o qual atua como descompactador do solo.
A vegetação espontânea
pode ser utilizada como planta de cobertura. Geralmente há predominância de
gramíneas, especialmente no verão. No entanto, há que se observar se estão
ocorrendo plantas espontâneas problemáticas como grama-seda, trapoeraba,
tiririca, losna, entre outras que poderão competir por água e nutrientes
durante o ciclo da cultura principal, invibilizando-a (Alcântara e Madeira,
2008).
A semeadura das
culturas de cobertura poderá ser realizada a lanço ou em linhas, sendo
necessária a incorporação da semente com auxílio de um rastelo ou grade
niveladora. A densidade de sementes e o espaçamento entre linhas a ser adotado
serão utilizados conforme recomendação técnica para cada espécie. As densidades
de semeio por metro linear nos consórcios são as mesmas dos cultivos solteiros
(Barradas et al., 2010).
O manejo da palha das
plantas de cobertura é realizado pela roçada ou acamamento com auxílio de alguns
equipamentos como roçadeira costal motorizada e rolo-faca, sem a utilização de
dessecantes químicos. Normalmente ocorre no pleno florescimento, antes da
existência de sementes viáveis. Nos casos em que as plantas de cobertura
apresentem alguma capacidade de rebrota, a exemplo do sorgo e milheto, seu
plantio em linha pode facilitar as capinas posteriormente, efetuando-se o
semeio ou o transplantio de mudas da hortaliça nas entrelinhas das espécies de
cobertura (Barradas et al., 2010).
A prática da cobertura
do solo com filme plástico também proporciona diversos benefícios ao agricultor
e ao ambiente, dentre os quais o controle de plantas invasoras, menor
evaporação da água do solo e economia de água de irrigação (Branco et al.,
2010). Estes autores recomendam dois tipos de cobertura para algumas espécies
hortícolas: bagaço de cana-de-açúcar que formou na superfície do solo uma
camada de palha de aproximadamente 35 mm e o plástico de polietileno dupla face
(prateado-preto) de 35 micras, fixado nas bordas dos canteiros com grampos de
arame. Concluíram que os cultivos de alface americana e de brócolis podem ser
realizados nestas duas coberturas do solo sem prejuízos de produtividade; o
tomateiro, a alface crespa, o feijão-vagem e o repolho foram mais produtivos no
“mulching” plástico.
Wamser et al. (2010) ao
avaliarem o efeito das culturas de cobertura do solo na produtividade de tomate
formaram a palhada da seguinte forma: no preparo do solo foi utilizada uma
gradagem leve. O pousio invernal foi formado pelo banco de sementes da área. As
culturas de inverno foram semeadas a lanço nas densidades 80 kg ha-1
de aveia preta e 14 kg ha-1 de nabo forrageiro nos cultivos
solteiros; e 40 kg ha-1 de aveia preta e 7 kg ha-1 de
nabo forrageiro no cultivo consorciado. Após a semeadura, realizou-se gradagem
leve para incorporar as sementes. No momento adequado, efetuou-se a roçada
destas plantas, inclusive a área de pousio, e utilizou-se um sulcador com disco
de corte para preparar a linha de plantio.
Para o cultivo de hortaliças
é necessário realizar análise química do solo, pelo menos uma vez por ano,
independente do tipo de fertilizante que se utiliza e das práticas adotadas. Se
houver necessidade de realizar a calagem, a quantidade de calcário a ser
utilizada deve ser calculada com base na análise química do solo. Deve-se
realizar o cálculo das dosagens de adubos para o plantio, levando-se em
consideração a análise do solo, a composição química do adubo e a exigência de
cada cultura (Souza e Alcântara, 2008).
De forma geral,
utilizam-se as mesmas recomendações de adubação do sistema orgânico, seja para
o transplante de mudas quanto para o semeio diretamente sobre a palha. Para o
transplante de mudas, a adubação pode ser feita de duas formas: a lanço em área
total anteriormente ao sulcamento com incorporação parcial dos fertilizantes
pelo revolvimento próximo ao sulco de plantio; simultaneamente ao sulcamento
pela adaptação de depósitos de adubo e mecanismos de distribuição nos sulcos.
Para a semeadura direta, a disposição de fertilizantes é feita nas linhas de
plantio, concomitantemente ao semeio (Madeira et al., 2004).
Diversos insumos
orgânicos e agroindustriais podem ser aplicados no cultivo de hortaliças como
esterco curtido; torta de mamona; casca de café; cinzas combinadas com torta de
mamona; cama de frango; farinha de ossos; composto orgânico; vermicomposto
(húmus de minhoca); fertilizantes organominerais; biofertilizantes aplicados
via solo e foliar; bokashis; adubos verdes como mucunas, crotalárias, guandu e
feijão de porco; entre outros. Somente
os fertilizantes minerais de origem natural e de baixa solubilidade são
permitidos em sistemas orgânicos de produção, como os fosfatos naturais, os
calcários e os pós de rocha (Souza e Alcântara, 2008).
Para a cultura da
cebola cultivada em sistema de plantio direto, a aplicação do adubo orgânico
pode ser a lanço, distribuída em toda a área antes do encanteiramento,
utilizando-se 10 t ha-1 de composto orgânico. Como alternativa pode
ser utilizada a mesma quantidade de composto de farelos ou de esterco bovino
curtido ou metade de esterco de aves. Além do fertilizante orgânico, uma vez
constatado teores baixos de fósforo na análise de solo se deve aplicar de 100 a
200 g m2 de termofosfato no plantio (Madeira et al., 2004).
Segundo
Pereira e Melo (2008), a incidência das plantas espontâneas, nas áreas de
cultivo, depende de vários fatores que variam de acordo com o tipo de
hortaliça, uma vez que são cultivadas em diferentes espaçamentos, arranjos,
densidades populacionais e ciclos culturais. Além disso, as hortaliças
apresentam diferentes taxas de crescimento e arquitetura resultando em diferentes
índices de área foliar, cobertura do solo e graus de interceptação da luz
solar, fator essencial para o estímulo, germinação de sementes e ocorrência das
plantas espontâneas. As espécies hortícolas que cobrem mais rapidamente o solo,
geralmente reduzem a incidência das plantas espontâneas na área cultivada.
O manejo
das plantas invasoras no sistema de produção orgânica de hortaliças deverá ser
realizado mediante a adoção de técnicas como a permanência de cobertura vegetal
viva ou morta no solo; solarização antes da semeadura ou transplantio das
mudas; capina seletiva para eliminar as espécies mais agressivas; rotação de
culturas; aproveitamento do potencial alelopático de algumas plantas e
utilização de sementes e mudas isentas de plantas invasoras. Em pequenas áreas,
também é realizada a capina manual com auxílio de enxada ou de roçadeira costal
motorizada (Pereira e Melo, 2008).
Pela utilização de
algumas práticas culturais através do plantio de variedades adaptadas às condições
edafoclimáticas; uso de sementes de boa qualidade ou mudas com sistema
radicular bem desenvolvido; época de plantio, espaçamento e arranjo apropriados
para as diversas variedades; preparo do solo e adubações adequadas, consegue-se
direta ou indiretamente reduzir a infestação por plantas daninhas (Silva e
Silva, 2007).
Considerando-se as
olerícolas que se adaptam bem ao sistema de plantio direto e tendo como
motivação para a adoção desse sistema os potenciais benefícios físicos, químicos
e biológicos para o solo, é importante que se considere também os efeitos sobre
crescimento e produtividade da cultura, controle de plantas espontâneas, pragas
e patógenos, podendo refletir em redução de custos, adicionado aos efeitos
sobre a economia hídrica, já que a água tem se tornado um recurso escasso e
muitas das vezes é o principal fator limitante à produção agrícola em
determinadas regiões e, ou, épocas do ano.
Em sistemas de plantio
direto com hortaliças, inúmeros trabalhos, em diversas condições experimentais,
têm resultados que permitem recomendar a adoção deste sistema visto que a
produtividade pode ser próxima ao do cultivo com preparo convencional do solo.
REFERÊNCIAS
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de hortaliças. Brasília: Embrapa Hortaliças, 12p., julho, 2008.
(Circular Técnica, 64).
BARRADAS, C.A.A. Adubação verde. Niterói-RJ: Programa Rio Rural, julho, 2010.
(Manual Técnico, 25).
BRANCO, R.B.F; SANTOS, L.G.C; GOTO, R;
ISHIMURA, I; SCHLICKMANN, S; CHIARATI, C.S. Cultivo orgânico seqüencial de
hortaliças com dois sistemas de irrigação e duas coberturas de solo. Horticultura Brasileira, Brasília, v.28,
n.1, p.75-80, 2010.
BREDA JUNIOR, J. M.; FACTOR, T. L.
Oportunidades e dificuldades no plantio direto de hortaliças: o caso de são
José do Rio Pardo. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.27, p. S4033-S4035, 2009.
DALASTRA, G. M. Cultivo da mini abóbora na região oeste do Paraná em diferentes plantas
de cobertura, em dois sistemas de manejo de solo. 2010. 83p. (Trabalho de
conclusão de curso), UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon, 2010.
FERNANDES, D. Interferência
de plantas daninhas na produção e qualidade de frutos de melão nos sistemas de
plantio direto e convencional. 2010, 62f. Dissertação (Mestrado em
Fitotecnia),UFERSA, Mossoró, 2010.
MADEIRA, N.R.; RESENDE, F.V.; SOUZA, R.B.
2004. Sistema de Plantio Direto. Embrapa
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. Acessado
em: 09 de maio de 2013.
PEREIRA, W.; MELO, W.F. Manejo de plantas espontâneas no sistema de produção orgânica de
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RISSATO, B. B.; ECHER, M.M.; HACHMANN, T.L.;
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qualidade de cultivares de pak choi sobre diferentes coberturas de solo. In:
52º CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA. Viçosa, Anais... ABH: julho. 2012. (CD Rom).
SILVA, A. A.; SILVA, J. F. Tópicos em manejo de plantas daninhas.
Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2007. 367p.
SOUZA, J.L. de;
REZENDE, P.L. Manual de horticultura orgânica. 2 ed. Viçosa: Aprenda
Fácil. 2006. 843 p.
SOUZA, R.B.; ALCÂNTARA, F.A.; Adubação no sistema orgânico de produção de
hortaliças. Brasília-DF: Embrapa Hortaliças, 8p., julho, 2008.
(Circular Técnica, 65).
WAMSER, A.F; VALMORBIDA, J.; MUELLER, S.;
GONÇALVES, M.M; FELTRIM, A.L. Produtividade de tomate em função de sistemas de
plantio e plantas de cobertura do solo. Horticultura
Brasileira, Brasília, v.28, n.2, julho, 2010. (CD Rom).
* Técnica em Meio
Ambiente pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Pomba; Bacharel em
Agroecologia no IF Sudeste de Minas - Câmpus Rio Pomba; Lato Sensu em Gestão
Ambiental na FIJ - Faculdades Integradas de Jacarepaguá, no Pólo de Barbacena -
MG; Formação Pedagógica em
Ciências Biológicas (Licenciatura plena) na Universidade Vale do Rio Verde -
Câmpus Betim - MG; Mestre em Agroecologia na Universidade Federal de Viçosa - Câmpus Viçosa - MG; e doutoranda pela UFV.
Um comentário:
Descobri seu blog por acaso em uma pesquisa que estava fazendo da faculdade e não parei mais de ler, portanto não poderia de deixar de comentar sobre este e de forma geral dos que já li, você está de parabéns com esse blog apresentando os temas sempre com informações completas onde fica evidente a preocupação em passar a informação para o leitor.
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