* Maurício Novaes Souza
A degradação da classe
política e o atual momento de crise em que vivemos se agrava a cada semana! A corrupção,
generalizada e sistêmica, dominou nosso País! O sistema político desabou: até quando persistirão esses
absurdos?
Até quando
suportaremos?
Em
meio a tantos acontecimentos, o Palácio do Planalto, preocupado com as
gravações, instalou no gabinete do presidente Michel Temer um aparelho
conhecido como "misturador de voz", que embaralha o conteúdo de uma
conversa gravada por celular ou outro tipo de aparelho eletrônico. Segundo o
Blog do Camarotti, o aparelho emite uma frequência sonora que danifica as vozes
gravadas na conversa. Quem tenta ouvir a gravação, percebe somente um chiado e
não consegue entender o que foi dito. Outras unidades do misturador também
foram instaladas nos gabinetes dos ministros. Quem entra no gabinete presidencial,
é obrigado a deixar o celular do lado de fora, justamente para evitar algum
tipo de gravação: diante dos últimos episódios, como o caso da “Família
Batista” (JBS), a segurança foi reforçada.
Já foi de grande
valia nas últimas semanas, posto que Temer recebeu muitos parlamentares em seu
gabinete: o Planalto empenhou R$ 1,9 bilhão em emendas parlamentares nos
últimos 15 dias e anunciou R$ 11,7 bilhões em linhas de crédito para obras de
infraestrutura e, na última quinta, realocou R$ 1,7 bilhão de recursos da
Saúde. O dinheiro foi direcionado para aqueles que votaram a favor do governo
na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e tinha como intuito evitar a
autorização do processo contra o presidente no Supremo (Folha de São Paulo e
G1)!
Para completar a semana, ao
desembarcar ontem (quinta-feira, 20) em Mendonza, na Argentina, para participar
da cúpula do Mercosul – reunião em que o Brasil irá assumir a presidência
rotativa do bloco – o presidente falou sobre o aumento da tributação sobre os
combustíveis - para ele, o brasileiro vai entender a medida: “A população vai
compreender, porque esse é um governo que não mente. Não dá dados falsos. É um
governo verdadeiro. Então, quando você tem que manter o critério da
responsabilidade fiscal, a manutenção da meta, a determinação para o
crescimento, você tem que dizer claramente o que está acontecendo. O povo
compreende"! Temer disse que era necessário o reajuste. “Isto é o fenômeno
da responsabilidade fiscal. E essa responsabilidade fiscal é que importou nesse
pequeno aumento do PIS/Cofins. Exatamente para manter, em primeiro lugar, a
meta fiscal que nós estabelecemos, em segundo lugar, para assegurar o
crescimento econômico, que pouco a pouco vem vindo. Vocês estão percebendo que,
aos poucos, o crescimento vem se revelando. Era preciso estabelecer este
aumento do tributo para manter esses pressupostos que acabei de indicar”,
afirmou em entrevista ao G1.
De acordo com a equipe
econômica, o aumento da tributação sobre os combustíveis irá gerar, durante o
restante do ano de 2017, uma receita adicional de R$ 10,4 bilhões para o
governo federal. Com a alta de tributos, o governo quer elevar a sua
arrecadação. Já com o bloqueio, pretende reduzir ainda mais os gastos públicos.
O objetivo das medidas é cumprir a meta fiscal de 2017, fixada em um déficit
(despesas maiores que receitas) de R$ 139 bilhões. A conta não inclui as despesas
com pagamento de juros da dívida pública. Pouco
antes da divulgação da nota, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, falou a
jornalistas que as medidas estão sendo adotadas devido à queda na arrecadação,
que está ligada à "recessão que herdamos nos últimos anos. Com o
novo corte anunciado (em março já havia cortado R$ 42,1 bilhões no orçamento de
2017), o contingenciamento total na peça orçamentária de 2017 ficará ao redor
de R$ 45 bilhões. Essa medida tende a afetar ainda mais os serviços públicos.
Segundo os ministérios da Fazenda e do Planejamento, porém, o valor adicional
do bloqueio, de R$ 5,9 bilhões, "deverá ser compensado por receitas
extraordinárias que ocorrerão ainda este ano."
É claro que tudo isso demonstra
uma série de contradições! Como poderá ocorrer a retomada de crescimento e a
tão esperada geração de empregos? A FIESP já se manifestou, colocando o “pato”
na porta de sua sede! Mas afinal, quais serão os efeitos desse aumento do preço
dos combustíveis sobre a inflação e a economia? Quais serão as consequências? Para especialistas, o aumento da gasolina e a elevação de
tributos compromete a recuperação econômica. De acordo com o consultor Roberto
Luís Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),
"O governo está jogando areia em cima de quem estava contribuindo para a retomada
da economia". É sabido que qualquer
reajuste adicional no combustível tem um impacto direto na inflação e nos
custos de quase toda a cadeia produtiva - da agricultura aos mais sofisticados
setores industriais. O reajuste, segundo analistas, vai provocar impacto de até
0,65 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e
prejudicar, principalmente, o setor agrícola, que tem uso intensivo de
transporte e é o que mais tem ajudado o Produto Interno Bruto (PIB).
Troster
advertiu que haverá um impacto em cadeia nos preços, pois a maioria dos
produtos depende do transporte rodoviário para chegar ao consumidor. Segundo
ele, isso pode elevar a inflação, interrompendo o ritmo de queda visto
recentemente. Na primeira quinzena de julho, o IPCA-15 fechou com alta de 2,78%
no acumulado em 12 meses, a menor taxa desde 1999. Para o economista, o governo
está usando o remédio errado. “A alta do PIS-Cofins não vai ser tão positiva
para a arrecadação e o governo ainda precisará adotar outras medidas. Se ele
tivesse mais coragem e tributasse, por exemplo, a renda fixa, que não contribui
para a recuperação da economia, a arrecadação seria muito maior, algo em torno
de R$ 48 bilhões se fosse nivelada a taxação em 28% do rendimento para qualquer
tipo de aplicação”, afirmou. As alíquotas atuais variam entre 15% - 22,5%
ao ano. “Esse seria um tipo de medida que estimularia o crescimento econômico e
não penalizaria os mais pobres: o país tributa mais quem tem menos renda”,
avaliou.
Para
Maison da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, o aumento de impostos conspira
contra o crescimento do País. Asfixia ainda mais o setor produtivo; mas disse
que enquanto o governo não cortar despesas e não realizar as reformas
necessárias, essa será a única alternativa para fechar as contas. De fato, deveríamos
pensar que estamos em uma fase de demanda baixa: se o aumento das alíquotas do
diesel e da gasolina for inteiramente repassado para o consumidor, o impacto no
IPCA será de até 0,65 ponto percentual, nas contas de Rafael Cardoso,
economista da Daycoval Investe. “É uma estimativa, mas o efeito deve ser menor,
porque a demanda está extremamente reprimida”. É provável o crescimento dos
preços de outros produtos devido ao “efeito cascata”, como transportes,
alimentos e bebidas, eletrônicos e toda a cadeia que depende do frete.
Na opinião de Cláudio
Porto, presidente da Macroplan, o governo tomou uma decisão difícil, já que
desrespeitar a meta de déficit seria um péssimo sinalizador para o mercado.
Para ele, uma eventual revisão do teto de R$ 139 bilhões precisaria de um
preparo político que o Executivo não tem. “As energias estão voltadas para a
própria sobrevivência do governo”, destacou. Segundo o especialista, o impacto
na inflação deve ser moderado, por conta do quadro recessivo e deflacionário.
O
fato é que o processo de recuperação da economia que parecia decolar, toma rumo
ao imprevisível. Quem afirmar que sabe o que irá acontecer, com certeza está
muito mal informado! A crise política agrava a crise econômica. Nesse cenário, dificilmente
será operada mudanças profundas no processo eleitoral e no sistema de partidos
– que são fundamentais! Enquanto não for possível uma drástica reforma
política, viveremos cenários como o atual: não se pode esperar dos atuais
quadros do Congresso nacional alterações legislativas que ameacem o mando
político e a máquina de eleições e reeleições.
Neste contexto político, tão confuso, dificilmente avançarão
propostas de reforma sistêmica e estrutural. Fica
evidente a urgência de uma profunda reforma política, fundamental para a
superação da grave crise econômica, social e de valores em que vive a sociedade
brasileira. É premente abrir caminhos para uma nova relação entre o Estado, o
mercado e a sociedade civil: a atual situação econômica do Brasil pode ser revertida, mas
se depender apenas da sociedade e dos empreendedores, sem a colaboração do
governo e da classe política, fica impossível.
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas
Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela
Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio
Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.
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