terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A insustentabilidade e os descaminhos do consumismo revelados em o “Estado do Mundo”


* Por Maurício Novaes Souza1 e Maria Angélica Alves da Silva2

Em um artigo recentemente intitulado “Um novo mercado e a necessária formação de gestores ambientais”, apontamos a urgente e necessária formação de profissionais com perfil diferenciado daqueles que atualmente são formados pela maioria das Instituições de Ensino, em todo o mundo. Recentemente, o Instituto AKATU pelo Consumo Consciente lançou a versão em português do relatório “Estado do Mundo – 2010”, uma das mais importantes publicações periódicas mundiais sobre sustentabilidade. O livro, produzido pelo World Watch Institute (WWI) – organização com sede em Washington (EUA), traz anualmente um balanço com números atualizados e reflexões sobre as questões ambientais. Neste ano, o tema é “Transformando Culturas – do Consumismo à Sustentabilidade” e aborda as mudanças no consumo, sob a ótica da economia, negócios, educação, mídia e movimentos sociais.

Segundo dados do referido relatório, na última década a humanidade aumentou seu consumo de bens e serviços em 28%. Somente em 2008 foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares. Para produzir tantos bens, é preciso usar cada vez mais recursos naturais, que são escassos. Entre 1950 e 2005, a produção de metais cresceu seis vezes, o consumo de petróleo subiu oito vezes e o de gás natural, 14 vezes. Atualmente, um europeu consome em média 43 quilos em recursos naturais diariamente – enquanto um americano consome 88 quilos – ou seja, um volume superior ao próprio peso da maior parte da população.

Além de excessivo, o consumo é desigual. Em 2006, os 65 países com maior renda, que somam 16% da população mundial, foram responsáveis por 78% dos gastos em bens e serviços. Somente os americanos, com apenas 5% da população mundial, consumiram 32% do consumo global. De acordo com o relatório, caso todos consumissem como os americanos, o planeta só comportaria uma população de 1,4 bilhão de pessoas. Há de se considerar que atualmente somos aproximadamente 7 bilhões, e projetam-se 9 bilhões para 2050.

A pior notícia é que nem mesmo um padrão de consumo médio, equivalente ao de países como Tailândia ou Jordânia, seria suficiente para atender igualmente todos os habitantes do planeta. A conclusão do relatório não deixa dúvidas: sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade e não o consumismo, não haverá esforços governamentais ou avanços tecnológicos capazes de salvar a humanidade dos riscos ambientais e de mudanças climáticas. De acordo com Mattar, presidente do AKATU em entrevista ao jornal diário DAE/SABESP, o “Estado do Mundo” é um choque de realidade, cujo conteúdo impulsiona a todos a agirem em benefício da Terra. Vejamos algumas importantes considerações encontradas no relatório, sobre:

Economia e Negócios

No âmbito da economia e negócios, uma dos aspetos fortemente recomendados pelo relatório é a “reavaliação do papel das grandes corporações”. O documento considera o poder de alcance do setor: “em 2006, as 100 maiores companhias transnacionais empregavam 15,4 milhões de pessoas com um volume de vendas de US$ 7 trilhões — o equivalente a 15% do produto mundial bruto” e conclui que “um sistema econômico sustentável dependerá de convencer as companhias, por meio de um conjunto de estratégias, de que a condução de seus negócios deverá ser conduzida de maneira sustentável”. No âmbito social, empresarial e pessoal, a compreensão e a adoção de práticas de sustentabilidade são limitadas. Mudar uma organização costuma ser um processo ainda mais longo do que o da mudança pessoal, onde se requer mudanças profundas em sua cultura organizacional. Para essas companhias, a sustentabilidade tem papel fundamental como um conjunto de valores que integram a prosperidade econômica, a gestão ambiental e a responsabilidade social, ou seja: lucro, planeta e pessoas. Para alcançar esse nível de mudança, os líderes devem apresentar visões arrojadas e devem envolver suas organizações em discussões diversas, mais profundas, sobre o objetivo e a responsabilidade da empresa em oferecer valor verdadeiro para os clientes e a sociedade.


· Educação - Segundo o relatório, uma pesquisa anual com alunos de primeiro ano de faculdades nos Estados Unidos investigou durante mais de 35 anos as prioridades de vida dos alunos. No transcorrer desse tempo, a importância atribuída a ter boa situação financeira aumentou de pouco mais de 40% para quase 80%, enquanto a importância atribuída à construção de uma filosofia de vida plena de sentido diminuiu de 75% para pouco mais de 45%. E “este não é um fenômeno apenas americano”, ressalta o documento. Para romper com o padrão do consumismo, todos os aspectos da educação terão de ser pautados pela sustentabilidade. Hábitos, valores, preferências – todos são, em grande medida, formados na infância. E durante a vida, a educação pode ter um efeito transformador sobre quem aprende. Portanto, explorar essa instituição poderosa será essencial para redirecionar a humanidade para culturas de sustentabilidade. A partir de então, a educação funcionará como ferramenta poderosa para criar sociedades sustentáveis.


Mídia

A maior parte da mídia ainda reforça o consumismo, mas existem esforços no mundo todo para que seu vasto poder e alcance seja utilizado para promover culturas sustentáveis. Segundo o relatório, 83% das residências no mundo têm aparelhos de televisão e 21 em cada 100 pessoas têm acesso à “internet”. Entretanto, a maior parte da mídia ainda reforça o consumismo, apesar de existirem esforços no mundo todo para que seu vasto poder e alcance seja utilizado para promover culturas sustentáveis. De acordo com DAE/SABESP, por meio de ações publicitárias globais, o setor de água engarrafada ajudou a criar a impressão de que água na garrafinha é mais saudável, mais saborosa e está mais na moda do que a boa e velha água da torneira - mesmo quando estudos demonstram que algumas marcas engarrafadas são menos seguras do que a água da rede e custam de 240 a 10 mil vezes mais. A indústria de água engarrafada movimenta hoje US$ 60 bilhões e vendeu 241 bilhões de litros de água em 2008, mais que o dobro da quantidade vendida em 2000.

O fato é que no futuro, há de se perceber, que os avanços científicos e tecnológicos voltados para o setor produtivo deverão permitir a implantação de indústrias limpas, que estão na base de um crescimento econômico mais equilibrado e integrado como o meio ambiente. O primeiro passo para uma grande mudança é consumir menos e poder utilizar os recursos naturais de maneira sustentável. Tem-se de ter a consciência que os recursos são limitados, logo o consumo não pode ser ilimitado. A sociedade e seus movimentos sociais atuais, em sua grande maioria, carecem de uma visão equilibrada e integrada do meio ambiente, holística e sistêmica, que favoreça a própria gestão de nosso Planeta.


· Para que haja uma nova ordem mundial...

... é preciso que na Economia e nos Negócios se percebam que os modos de produção necessitam de um novo modelo. Além da preocupação exclusiva focada meramente no crescimento econômico quantitativo, é preciso que se busquem produtos e serviços que se diferenciem por novos atributos voltados principalmente ao meio ambiente e desenvolvimento social. Não seria este crescimento mais qualitativo? Mais sustentável? O que seria necessário fazer para tornar esta idéia uma realidade? No meio urbano, a implantação de sistemas de gestão ambiental que estimulem a produção mais limpa seria uma alternativa; na área rural, os modelos de produção agroecológicos podem ser considerados fortemente inseridos nessas propostas...

...na Educação, a questão ambiental deverá ser trabalhada de forma diferenciada para que se criem profissionais Éticos – é sabido que a Educação Ambiental é o caminho mais curto para esse fim e para que se obtenham sistemas sustentáveis; contudo, a sua efetiva inclusão no currículo, de forma incompreensível, vem sendo mundialmente protelada.

... quanto à Mídia, que abarca a complexidade e os descaminhos do mundo globalizado em que se vive, dada a sua penetração e poder de influência, poderia contribuir de forma incomensurável se assumisse uma postura coerente de estímulo às boas práticas de responsabilidade social e ambiental...

.... e quais seriam os benefícios imediatos dessas mudanças??? Será o Desenvolvimento Sustentável, a Melhoria da Qualidade de Vida e a própria Sobrevivência Humana.

1. Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor-Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: mauricios.novaes@ifsudestemg.edu.br.

2. Pedagoga e Especialista em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Diretora de Desenvolvimento Educacional do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. E-mail: gecamau@yahoo.com.br.

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