* Maurício Novaes Souza
O procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, ofereceu hoje, quinta-feira, 14-09-2017, nova denúncia contra o presidente
Temer, pelos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa. Também, foram denunciados por organização
criminosa os ministros do PMDB Eliseu Padilha (Casa
Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral);
os ex-ministros do PMDB Geddel Vieira Lima (Secretaria
de Governo) e Henrique Eduardo Alves (Turismo);
e o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Além disso, assim como Temer, foram denunciados por obstrução de Justiça os
executivos do grupo J&F Joesley Batista e Ricardo Saud,
cujos acordos de delação foram rescindidos pela Procuradoria Geral da República
(PGR). Lembram-se que o presidente em pronunciamento, em cadeia nacional, ano
passado, afirmou que caso houvesse denúncia, só assim, seus ministros seriam
afastados? Pois bem: hoje, ele resolveu que não!
Tempos sombrios os atuais! Vejam bem: todos os acima
citados, mesmo com todas as evidências, negam peremptoriamente! Temer, atolado
em denúncias de corrupção desde a delação do empresário Joesley Batista, tenta
sobreviver na presidência, contra a vontade do povo brasileiro: será? Ninguém
fala nada, e nada acontece! É quase inacreditável todo
o conteúdo da nova denúncia. De fato, é uma organização criminosa! Pensem bem: estamos
sendo governados por uma organização criminosa!!! Mas, o Brasil é surreal: por
incrível que possa parecer, a economia está descolada desse cenário político
caótico e semelha decolar! Parece que vivemos em dois Brasis, onde não conseguimos obter respostas para muitos de nossos questionamentos.
Feita a denúncia, qual foi o movimento da sociedade? E qual foi a
repercussão no meio político? Vejamos algumas - o deputado federal Alessandro
Molon (Rede-RJ) disse ao Globo.com: "É uma denúncia extremamente grave, que mostra que
na cadeira da Presidência da República está sentado o chefe de uma organização
criminosa que ordenou a compra do silêncio do operador financeiro desta
organização criminosa. Temer fez tudo isso para que os crimes dele ficassem
ocultos à Justiça e diante da gravidade desses fatos é inaceitável que a
Câmara, mais uma vez, impeça a Justiça de julgar Temer pelos crimes que ele
cometeu".
O
Senador Álvaro Dias (PR), líder do Pode no Senado, reforçou: "É uma denúncia fulminante que tem força jurídica,
especialmente, em função das provas acumuladas em várias delações. Certamente,
a Câmara terá enorme dificuldade na apreciação dessa nova denúncia. A imagem do
presidente está fragilizada diante da sociedade e do Congresso. Certamente,
custará caro ao país a manutenção do seu mandato. Eu creio que os episódios que
envolvem os delatores foram concluídos com a prisão deles, as providências
foram tomadas, de forma alguma, esses fatos [as reviravoltas nas delações]
comprometem a denúncia. Ao contrário, eu creio que a denúncia ganha força".
Por outro lado, Beto Mansur (PRB-SP),
deputado e vice-líder do governo na Câmara, comenta: "Entendemos que o procurador não pode
formular uma denúncia com base em uma gravação que está sendo investigada. Esse
processo tem que ficar paralisado até que a própria Procuradoria tire essas
dúvidas. Se o Supremo, na próxima semana, entender que temos que dar
continuidade a essa denúncia, vamos dar um trâmite rápido na Câmara. Estamos
vivendo uma época de muito 'denuncismo' no Brasil. Quem faz delação pode acusar
até a própria mãe." E o surpreendente Carlos Marun (PMDB-MS), deputado e vice-líder do PMDB na Câmara, amigo do
Temer, afirma: "A denúncia apresentada, se efetivamente for
baseada no áudio já conhecido e que não diz nada ou na palavra de Funaro,
tratar-se-á de uma denúncia fraca. E, nesse momento, a apresentação de uma
denúncia fraca se constitui uma irresponsabilidade grave e inconsequente. ”
Friamente, pensemos no momento vivido, no número de provas existentes, inclusive
gravações, filmagens, depoimentos, que não deixam dúvida sobre os fatos, mesmo
assim, provavelmente, dados os vieses dos depoimentos acima, Temer permanecerá
no cargo até o final de 2018! É inconcebível! É inadmissível! Alguns deputados
estão dizendo que a denúncia é sem consistência: como? Em qualquer país, mais
ou menos sério, para tais denúncias, em sã consciência, nenhum tipo de recurso
ou discussão caberiam! Que políticos são esses? Que
justiça é essa? De fato, a democracia está sendo seriamente atacada!
Cláudio
Lamacchia, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sentencia: "A segunda denúncia contra o presidente da
República, Michel Temer, que acaba de ser enviada pela Procuradoria Geral da
República ao Supremo Tribunal Federal, é gravíssima. Acusa-o de formar a
liderar uma quadrilha integrada pela cúpula de seu partido, o PMDB, de que
fazem parte alguns ministros de Estado. Teriam lesado os cofres de diversos
órgãos estatais. Jamais a República brasileira testemunhou crise de tais
proporções. No entanto, as instituições do Estado têm se mostrado rígidas e
atentas no cumprimento de suas missões. É preciso investigar e cumprir todas as
etapas previstas na liturgia jurídica, garantindo o contraditório e a ampla
defesa, sem protelações ou atalhos, evitando que se incorra em graves infrações
legais. Não é hora de estardalhaços, nem de tentativas de explorar
politicamente o quadro. Mais do que nunca, a regularidade institucional precisa
ser garantida pelo bom senso, lisura e serenidade. Não há outro caminho para
que o país supere a crise e dela saia mais fortalecido: só pela lei. Fora dela,
não há salvação."
Ou seja: de fato, vivemos um momento de declínio da
política e de parte das instituições brasileiras. O Congresso foi capturado
pelo poder econômico, não mais preocupado em se reeleger, mas em realizar seus
lucros neste mandato. A reforma política não sairá e tudo continuará como está?
E o STF? Nenhuma atitude efetiva? Ou seja, como dizia um de seus antigos
membros, Joaquim Barbosa, nos causam espécie! Agindo assim, observa-se que o STF
não se tornou apenas politizado, mas está partidarizado. O Executivo, não tem mais
resquícios morais: é o triste retrato esquizofrênico, exacerbado, da situação
nacional.
Ao
longo do dia os depoimentos continuaram, como o do Senador Paulo Bauer (SC),
líder do PSDB no Senado: "O procedimento do Janot de apresentar essa denúncia a 2
dias da saída do cargo tem um grau de açodamento, e tem uma característica que
deve ser questionada. Não terá como ele acompanhar o desenvolvimento do assunto
e nem o seu andamento. Deixa dúvidas sobre a sua confiança na instituição que
preside. Se os fatos existem, se há fundamentação, ele deveria muito tranquilamente
considerar que a sucessora dele tomasse a mesma providência que ele tomou. Eu
considero que hoje, o Janot como PGR já não tem a mesma credibilidade e a mesma
condição que tinha em um outro momento, por ele ter tanta pressa para fazer as
coisas".
Pressa? Com todos esses acontecimentos, e vários outros
ao longo do dia, como as investigações ao Ministro Blairo Maggi, não deveriam aparecer
decisões exemplares? O PMDB, partido de Temer e dos
denunciados, fez a seguinte nota: "O PMDB lamenta mais um ato de irresponsabilidade
realizado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Toda a sociedade
tem acompanhado os atos nada republicanos das montagens dessas delações. A
justiça e sociedade saberão identificar as reais motivações do procurador."
O fato é a sociedade vive uma depressão coletiva! Nós,
brasileiros, tanto a direita e a esquerda, não temos nada a comemorar. Nossas teses,
nossos projetos, desfazem-se a cada dia, com o fracasso do governo Temer e com
os escândalos de corrupção. A violência cometida contra a população brasileira
neste momento, não tem precedentes na história republicana. E o que me espanta
mais ainda: não há político ou partido algum nesse momento, que consiga mobilizar
a população. Sem dúvida alguma, ocorreu a deterioração da
política brasileira e, infelizmente, a sociedade não
consegue mais se organizar!
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas
Degradadas e Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e solo
pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus
Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre.
E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.
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