sábado, 23 de setembro de 2017

Economia Ambiental: contribuições para a alteração dos modos de produção e consumo


* Maurício Novaes Souza

O tempo necessário para que o desenvolvimento da Terra permitisse criar as condições necessárias para que a vida em sua superfície pudesse se desenvolver a ponto de gerar a enorme diversidade que habita o planeta atualmente, foi de aproximadamente 3 bilhões de anos. Desde períodos imemoriais, dos primeiros primatas ao moderno homo sapiens, o homem se viu na necessidade de interagir com o meio em que vive de forma a retirar da natureza toda espécie de recursos necessários à sua sobrevivência - dos alimentos à energia.
Sabe-se que o clima do nosso planeta é um complexo sistema resultante da interação de cinco fatores: a atmosfera, os oceanos, as regiões com gelo e neve (criosfera), os organismos vivos (biosfera) e os solos, sedimentos e rochas (geosfera), todos eles, por sua vez, em estreita ligação com o sol. Somente nesses termos é possível compreender os fluxos e ciclos de energia e matéria da atmosfera, imprescindível para investigar as causas e os efeitos de possíveis alterações em nosso Planeta capazes de produzirem, por exemplo, as mudanças climáticas – um dos assuntos mais polêmicos e controversos desde o início deste século!
Além desses 5 fatores, deve-se considerar, de forma destacada, o fator ANTRÓPICO - resultante da atividade humana. A “antropogênese”, que estuda a origem e o desenvolvimento da espécie humana, especialmente como objeto de investigação científica, verificou que, em seus processos produtivos, uma série de impactos e degradação ambiental tem sido gerada, recriando, aceleradamente, novos ambientes. Como consequência, paralelamente, pode ser estabelecida uma série de efeitos colaterais – EXTERNALIDADES, que poderão facilitar, dificultar ou mesmo impedir o desenvolvimento e a qualidade de vida dos seres humanos, à medida que alteram os ecossistemas. Para se discutir o papel e as contribuições da Economia Ambiental nesses dias atuais, devem-se conhecer a origem, entender como e quando esses problemas começaram a se agravar, e como tem sido árdua a busca por um novo modelo de produção e de desenvolvimento - é possível prosperidade sem crescimento?
            A partir dos anos da década de 1960, emerge a ideia da necessidade de uma nova postura relacionada aos procedimentos e usos dos recursos naturais. Já nos anos da década de 1980 surge o conceito de “desenvolvimento sustentável”, que revela, inicialmente, a crescente insatisfação com a situação criada e imposta pelo modelo de produção capitalista. Resulta de emergentes pressões sociais pelo estabelecimento de uma melhor distribuição de renda que permitisse maior equidade. Indica o desejo social de sistemas produtivos que, simultaneamente, conservem os recursos naturais e forneçam produtos mais saudáveis, sem comprometer os níveis tecnológicos já alcançados de segurança alimentar. Dessa forma, a proposta de implantação desse novo modelo deverá ser bem mais complexa do ponto de vista metodológico, demandando disponibilidade, aptidão e cooperação dos ensinamentos específicos, assumindo perspectivas interdisciplinares.
No campo da economia geral o objetivo do conhecimento é a investigação da origem, distribuição e emprego de bens escassos. Do ponto de vista ambiental é significativo considerar que neste processo é inerente o emprego de recursos naturais renováveis e não renováveis, devendo estar ciente, contudo, que ao lado de produtos úteis, são também gerados novos elementos e substâncias residuais nocivas ao ambiente, capazes de gerar poluição e degradação. Da mesma forma que na economia geral, na ciência econômica ambiental são incorporadas ciências naturais, conhecimentos técnicos, jurídicos, conhecimentos de ciências sociais e morais, na análise, formulação de conceitos e propostas de comportamento.
A proteção ambiental foi introduzida no ensino da economia e da economia empresarial a partir dos anos da década de 1970: inicialmente de forma hesitante; entretanto, nas últimas décadas, como uma forte tendência, em virtude da conscientização sobre o significado da escassez dos recursos naturais e das exigências do mercado em face de um novo tipo de consumidor. Como resultado, a variável ambiental passou a ser incluída na origem da exploração econômica e consequentemente, incorporada à teoria econômica. Isto significou avançar, não apenas sobre “inputs” que afetam preços de mercado, sobre objetivos tradicionais da produção ou sobre as relações de produção e consumo, mas também, sobre os processos de entrada (“input”), e processo de saída (“output”), como um todo. As reflexões sobre estas contribuições concentram-se na verdade sobre a teoria da produção, e por isto mesmo, de grande significado para a teoria econômica.
O processo de produção se fundamenta na mobilização de um conjunto de recursos denominados de fatores de produção que incluem recursos ambientais, recursos humanos, bens de produção, capital, capacidade tecnológica e empresarial. O capital natural (bens ambientais ou recursos naturais) constitui a base sobre a qual se exercem as atividades produtivas e encontra-se na origem de todo o processo de produção. Os bens ambientais cujo estoque e qualidade podem ser influenciados pela atividade econômica por meio do desgaste, sobrecarga ou melhoria ambiental são: a atmosfera, a superfície terrestre, o solo, o subsolo, a água e a biocenose (organismos vivos).
A conscientização relacionada ao limite da disponibilidade de bens ambientais para uma população demandante crescente levou a evolução da ciência econômica para uma nova abordagem - A ECONOMIA AMBIENTAL - pode ser definida como a ciência econômica que inclui a variável ambiental em suas teorias, análise e cálculos de custo. Em sua abrangência incorpora partes de uma economia política, bem como de uma economia industrial. Como parte importante da economia política, a ciência econômica ambiental incorpora a tarefa de desenvolver propostas que eleve a prosperidade social, por intermédio da maximização do bem-estar relacionado à elevada qualidade de vida. Algumas tarefas da economia ambiental estão ligadas à obtenção de princípios para que o processo produtivo consiga eliminar a separação entre economia e ambiente, tais como: a) alcançar um entendimento das exigências ambientais da economia e do crescimento econômico; b) reformar os indicadores econômicos para que incluam a variável ambiental; c) sugerir conceitos para uma economia ambiental; d) recomendar sistemas produtivos que não depredem o estoque de recursos ambientais; e e) desenvolver um modelo de produção que possua a filosofia exigida e adotada pelos Sistemas de Gestão Ambiental, particularmente aquelas da série ISO 14.000. Esta será necessariamente a evolução da ciência econômica no século 21.
Percebe-se que as empresas, as indústrias, as propriedades rurais e as diversas comunidades não estão aproveitando efetivamente os seus recursos, bem como o seu potencial de transformação dos produtos, da matéria-prima florestal e agroflorestal, e da administração de seus efluentes e resíduos gerados durante os processos produtivos, urbanos e rurais, em produtos de maior valor agregado. Fazem-se urgentes mudanças destes modelos de produção, sendo necessário: a) inicialmente, o conhecimento da História e dos fatores e principais atividades que geram degradação; b) a recuperação ambiental fundamentada na ética e dentro dos princípios do desenvolvimento sustentável; c) a elaboração de tecnologias apropriadas que poupem e conservem os recursos naturais; d) maior rigor na concessão do licenciamento ambiental, condicionando-o à adoção de sistemas de gestão ambiental (SGA) e incluindo, inclusive, a contabilidade ambiental e a valoração de passivos e ativos ambientais, bem como a avaliação de risco ambiental nos procedimentos diários das empresas; e) a efetividade no monitoramento e na fiscalização pelos órgãos responsáveis, com a participação de toda a sociedade, já politizada e ambientalmente educada; e f) a adoção de políticas públicas que favoreçam a internalização de externalidades positivas e a mitigação das externalidades negativas, como o estímulo à implantação dos SGA’s e a elaboração de projetos ambientais que não considere apenas as questões de ordem econômica mas, incondicionalmente, aquelas de ordem ambiental!
A gestão ambiental de um sistema tem por objetivo assegurar seu bom funcionamento e seu melhor rendimento, mas também sua perenidade e seu desenvolvimento. O SGA busca melhorar o desempenho ambiental e a operacionalização de uma organização, levando a empresa a adotar uma postura preventiva ao invés de corretiva. Dessa forma, são evitados os desperdícios, por meio da redução no uso de matéria-prima e da prática de reciclagem dos resíduos. Com essa medida, economizam-se recursos e a própria produção de resíduos, reduzindo os impactos negativos ao meio ambiente e gerando lucros para a empresa. Esse também deve ser o papel da Economia Ambiental, a partir da implementação de projetos que estimulem a prática de atividades sustentáveis.
Sugere-se mudança do atual modelo de produção, dada a visível insustentabilidade verificada até o presente momento. Atualmente, a adoção de Sistemas de Gestão Ambiental pelas empresas, urbanas e rurais, deve ser vista como uma prioridade - não apenas do ponto de vista de preservação ou conservação da natureza, mas como uma ferramenta de auxílio ao fortalecimento das Economias Geral e Ambiental.
Há de se considerar que projeto ambiental, na maioria das vezes possui enfoque social - é um conjunto de tarefas relacionadas entre si, com metas, orçamento e cronograma definidos, a priori, em parceria com os agentes interessados (instituição executora, financiadores, beneficiários, comunidade e sociedade), com a finalidade de alcançar um objetivo específico de desenvolvimento social ou humano, realizadas, geralmente, por organizações sem fins lucrativos.

* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Economia e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

Fonte: SOUZA, Maurício Novaes. INTRODUÇÃO à ECONOMIA AMBIENTAL. Apostila do Curso de Economia Ambiental. Belo Horizonte: Instituto de Educação Tecnológica (IETEC), 2006. 206p.


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