* Maurício Novaes Souza
Define-se área degradada ou ecossistema
degradado, como aquele que, após distúrbio, teve: a) eliminados juntamente com
a vegetação nativa, os seus meios de regeneração biótica como banco de
sementes, banco de plântulas, chuva de sementes e órgãos ou partes que
possibilitem a rebrota, inclusive com a perda da camada fértil do solo; b) a
fauna destruída, removida ou expulsa; e c) a qualidade e regime de vazão do
sistema hídrico alterados (CARPANEZZI et al., 1990; IBAMA, 1990).
Nessas condições, de acordo com essas mesmas
fontes, por apresentar baixa resiliência, ocorre a degradação ambiental devido à
perda de adaptação às características físicas, químicas e biológicas. Nesse
caso, o seu retorno ao estado anterior pode não ocorrer ou ser extremamente
lento, tornando necessária a ação antrópica para a recuperação desses
ecossistemas e possibilitar o restabelecimento do desenvolvimento socioeconômico.
Ecossistema perturbado, ou alterado, é aquele que sofreu distúrbio, mas manteve
meios de regeneração biótica. A ação humana não é obrigatória, sendo necessário
somente auxiliar na recuperação desse ambiente, pois a natureza pode se
encarregar da tarefa. Em ecossistemas degradados, a ação antrópica para a
recuperação quase sempre é necessária
Considerando que esses sistemas possuem energia
armazenada, pode-se considerar que o ambiente degradado apresenta a perda dessa
energia. BLUM (1998), identifica e sugere três tipos de energia envolvidos
nesses compartimentos:
Ø Gravitacional - é a energia que controla a maior parte de
movimentos dos sólidos, líquidos e gases, sendo determinante para alguns
fenômenos, tais como erosão e sedimentação;
Ø Conservada - é a energia existente e presente no material de
origem, sendo proveniente das forças internas da Terra, tais como pressão e
temperatura; e
Ø Solar - é a energia de maior importância para o crescimento e
desenvolvimento das espécies vegetais. Por meio do processo de fotossíntese, os
vegetais transformam o gás carbônico atmosférico em componentes orgânicos que
são transferidos ao solo.
Considerando-se esse conceito, no qual as
funções e uso do solo têm como base a sua energia armazenada, implica em dizer,
que degradação do solo significa a perda de suas funções e usos. Dessa forma, a
degradação ambiental pode ser definida nas formas específicas de energia.
Assim, todas as atitudes a serem definidas na recuperação ou no uso de áreas
degradadas, devem considerar o nível de energia no sistema (KOBIYAMA et al.,
2001).
Observa-se, entretanto, na maioria dos
conceitos relacionados à área degradada, a priorização em relacioná-la ao fator
solo ou terra. Sabe-se, porém, que ela engloba não apenas o solo, mas também a
água, o ar e os organismos. Sob esta visão, KOBIYAMA et al. (1993) definiram
degradação, como “processos e fenômenos do meio ambiente, naturais ou antropogênicos1, que prejudicam
as atividades de um ou mais organismos”. A partir dessa definição, conceituaram
área degradada considerando a sua entropia (S), que pode ser definida como a
divisão entre calor (Q) e temperatura (T), ou seja, dS = dQ/T. Entendem, assim, que
entropia representa a “sujeira” no sistema, resultando na desarmonia dos
processos envolvidos. Dentro dessa visão, área degradada é aquela que apresenta
maior entropia do que um ambiente equilibrado.
Para ODUM (1988), entropia é a medida da energia não
disponível que resulta das transformações, como nos processos de dispersão,
havendo queda de qualidade, posto não ocorrer tais processos, mesmo
espontâneos, sem a ocorrência de perdas. Então, quanto menor a entropia
(relação percentual entre a energia dissipada sem aproveitamento e a total
utilizada), maior é a eficiência do processo de transformação.
Tratando-se da recuperação propriamente dita, é comum a
citação de termos como recuperação, reabilitação e restauração como se fossem
um único processo. TOY e DANIELS (1998) definem três categorias de tratamento
de recuperação de solo:
• Reabilitação
- o solo é retornado à forma e produtividade em conformidade com a sua
capacidade de uso, incluindo sua estabilidade e equilíbrio ecológico, que não
contribua substancialmente para a deterioração ambiental e com os valores
estéticos circundantes;
• Recuperação
- o local é novamente hospitaleiro para organismos que eram originalmente
presentes ou outros que se aproximam das populações originais; e
• Restauração
- a condição do local no momento da perturbação é reproduzida depois da
ação.
Estes mesmos autores comentam que os termos reabilitação,
recuperação e restauração não foram uniformemente usados, sendo que outras
denominações variaram ao longo dos anos. As leis e regulamentos pertinentes
foram interpretados e cumpridos de diferentes modos, variando de acordo com o
tempo e com o lugar. Atualmente, o termo “recuperação” é o que vem sendo mais
utilizado no Brasil, mas com o entendimento que possibilidades alternativas de
usos do solo, devem permanecer.
De acordo com GRIFFITH et al. (2000), “a recuperação de
áreas degradadas (RAD), ou recuperação ambiental (RA), é um conjunto de ações
planejadas e executadas por especialistas de diferentes áreas do conhecimento
humano, que visam proporcionar o restabelecimento da auto sustentabilidade e do
equilíbrio paisagístico semelhantes aos anteriormente existentes, em um sistema
natural que perdeu essas características. As pesquisas em recuperação ambiental
têm enfocado tanto os problemas decorrentes das atividades agropecuárias,
florestais, minerárias, construção civil, urbanização e industrialização, como
aqueles decorrentes de processos naturais, tais como enchentes, incêndios,
secas, dilúvios e atividades sísmicas”.
Neste artigo,
recuperação ambiental é definida como o tratamento de áreas perturbadas para
criar pedopaisagens estáveis e condições edáficas para se sustentarem, mediante
uso do solo em sua condição predeterminante, exigindo condições mínimas de
manutenção. Além disso, as comunidades existentes no local recuperado, deverão
conviver com essa nova paisagem em harmonia, dentro de uma nova realidade socioeconômica,
onde haja maior equidade social: ou seja, propõe-se a recuperação socioambiental,
que garantirá, de fato, a auto sustentabilidade do ambiente.
NOTA:
1. No
sentido de «relativo à ação do homem sobre o ambiente» (dicionário da Porto
Editora), recomenda-se antrópico (como em «processos antrópicos»; cf. dicionário da
Priberam). Embora antropogênico seja empregado frequentemente com o mesmo significado,
a sua constituição remete para antropogénese, «estudo da origem e do desenvolvimento da espécie humana,
especialmente como objeto de investigação científica» (Dicionário Houaiss), e, portanto,
deve ser reservado para fazer referência a este tipo de estudo.
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em
Recuperação de Áreas Degradadas e Economia e Gestão Ambiental e Doutor em
Engenharia de Água e solo pela Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do
IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre.
E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.
Fonte: SOUZA, Maurício Novaes. Degradação e Recuperação
Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Viçosa, MG: UFV, 2004. 371p.
Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa,
2004.
Um comentário:
Bom dia professor Mauricio.
Belo e esclarecedor texto.
Importante tb a contribuição, diferenciando e orientando sobre o melhor uso de 'antrópico' de 'antropogênico'.
Grato por socializar seus conhecimentos.
Abç,
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