* Maurício
Novaes Souza
Vivemos um momento dramático em nosso País! Se não
bastasse a crise política, temos, entre outras, a crise econômica, a crise
institucional e a crise no judiciário. A corrupção e tantos desmandos de um
governo que a cada dia demonstra maior incompetência e incapacidade de resolver
tantas crises. Este cenário, sem dúvida, não afeta apenas o setor produtivo, mas
a sustentabilidade ambiental, em todos os seus aspectos. Os bastidores revelam uma crise de
futuro que resulta em incertezas quanto aos modelos políticos, institucionais,
trabalhistas, previdenciários e éticos vigentes.
O desmatamento amazônico, por
exemplo, voltou a subir nos últimos dois anos, colocando em risco o cumprimento
da meta brasileira de reduzir em 37% as emissões nacionais de gases do efeito
estufa acordada no âmbito da ONU. Na recente viagem do presidente Michel Temer nesse mês de junho para Oslo, o governo da Noruega anunciou o
corte de pelo menos 50% no valor enviado para o Brasil em projetos de combate
ao desmatamento. O anúncio foi feito em uma reunião entre as autoridades de
Oslo e o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.
O fato é que o orçamento do Ministério do Meio
Ambiente está menor (de novo). Em um esforço para garantir o cumprimento
do superávit primário, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
anunciou na semana passada o contingenciamento de R$ 42,1 bilhões do orçamento
federal de 2017. Neste aperto orçamentário, o Ministério do Meio Ambiente
perdeu 43% da sua verba para despesas discricionárias, ou seja, aquela verba que o órgão tem liberdade
de decidir como gastar. Dos R$ 782 milhões previstos no orçamento para custeio
e investimento, sobraram 446,5 milhões de reais. Esse valor deverá custear os combustíveis
utilizados nos veículos do Ministério e das autarquias, principalmente o Ibama
e o ICMBio, nas ações de comando e controle contra o desmatamento na Amazônia -
que ano passado teve aumento de 29% - e no combate a incêndios dentro das
Unidades de Conservação, só para citar exemplos mais óbvios. O Instituto Chico
Mendes, sozinho, é responsável por gerir 326 Unidades de Conservação federais.
Nesse ambiente, e para agravar
ainda mais a situação, o Congresso procura flexibilizar as regras do
licenciamento ambiental, sem que haja uma ampla discussão entre os atores
envolvidos. Entre tantas batalhas a ser travadas para reinstituirmos a
estabilidade no país, ainda nos dividimos pela falsa dicotomia entre ruralistas
e ambientalistas.
A ampliação da
consciência ambiental em nível nacional é um imperativo da necessidade de
construção de uma nova perspectiva de desenvolvimento. Coloca-se, portanto, o
desafio de superação do atual modelo, historicamente insustentável. Os
problemas econômicos, sociais e ambientais continuam como desafios políticos e
sociais a ser resolvidos para a construção desta nova sociedade, na qual se possam oportunizar novas demandas em busca do
desenvolvimento sustentável de nosso país.
A construção deste
desenvolvimento coloca, na agenda da sociedade brasileira, a necessidade de
investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação. Os investimentos
realizados pelo Estado, além de serem ainda insuficientes, não são devidamente
avaliados: nem quanto à sua aplicação, nem quanto aos resultados obtidos na
qualificação acadêmica e profissional. O desempenho do Brasil em educação, na
formação da juventude, embora tenha melhorado nos últimos 25 anos, fica muito a
desejar, comparado internacionalmente.
Neste
contexto, fica evidente a urgência de uma reforma política, fundamental para a
superação da grave crise política, econômica, social e de valores em que vive a
sociedade brasileira na conjuntura atual, abrindo caminhos para uma nova
relação entre o Estado, o mercado e a sociedade civil. Impõe-se a necessidade de um novo pacto político
para ampliação da democracia e realização das reformas tão urgentes e necessárias
– sem elas, não haverá desenvolvimento sustentável!
* Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas
Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela
Universidade Federal de Viçosa. Foi professor do IF Sudeste de Minas campus Rio
Pomba. Atualmente, IFES campus de Alegre. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.
3 comentários:
Triste realidade a que estamos vivenciando! Depois te tanta luta para termos um pouco de avanços, quanto a proteção de nossas faunas e floras, vemos novamente voltar a tempos de pura exploração, sem considerar a finitude dos recursos...pergunto, onde iremos chegar?
Ainda torço para o bom senso humano!
Até!
Parabéns Maurício, triste realidade de um País que não leva nada a sério, cujos dirigentes mandato após mandato desprezam nosso Meio ambiente e principalmente nosso povo, pois essa conta será paga no futuro.
Muito bom, o artigo demonstra a realidade da crise política e suas consequências, parabéns!
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