*Joara Secchi Candian
INTRODUÇÃO
A área de terra do planeta cobre um total de mais de 140 milhões de quilômetros quadrados – um pouco menos do que um terço da superfície da Terra. Os recursos da terra são finitos, frágeis e não-renováveis (ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS, 2002).
A atual produção mundial de alimentos é superior à capacidade de consumo dos seres humanos, mas, esta já se encontra seriamente reduzida em função do uso predatório dos recursos existentes. Se não fosse o bastante, as produções agrícolas sofrem a ação constante de desperdícios calamitosos. Porém, são inúmeras as regiões que enfrentam a fome, como inimigo maior (Revista FZVA, 2002).
Assim, podemos constatar que a fome não resulta de uma baixa produtividade ou de pouca produção de alimentos no mundo. A visão da miséria como a pior das poluições advém de uma desigualdade de crescimento, enquanto um fenômeno mundial, levando os países centrais a um superconsumo, e a maior parte da população mundial, à pobreza e fome. A realidade brasileira não é muito diferente dos padrões mundiais uma vez que, no Brasil, o problema da fome não é, primordialmente, uma questão de oferta, mas, basicamente, de demanda, dada a enorme desigualdade existente no país e a conseqüente marginalização de grande parte da população (FILHO, 1995).
Até 2030, as estimativas da FAO sugerem que 57 milhões de hectares adicionais serão utilizados para cultivo na África e 41 milhões de hectares na América Latina, representando aumentos de 25% e 20%, respectivamente (FAO, 2001). Essa expansão deve ocorrer necessariamente por meio de mais conversões de florestas e bosques ou pela conversão de áreas frágeis da zona semi-árida em terras próprias para cultivo. Ambas alternativas são graves motivos de preocupação ambiental. A degradação da terra leva a uma redução significativa de sua capacidade de produção. As atividades humanas que contribuem para a degradação da terra incluem o uso inadequado de terras agrícolas, práticas inadequadas de manejo da água e do solo, desmatamento, remoção da vegetação natural, uso freqüente de máquinas pesadas, excesso de pastagens, rotação incorreta de cultivos e práticas de irrigação inadequadas. As causas da degradação do solo incluem o excesso de pastagens (35%), o desmatamento (30%), as atividades agrícolas (27%), a exploração excessiva da vegetação (7%) e as atividades industriais (1%) (GACGC, 1994, citado em ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS, 2002).
DESENVOLVIMENTO
A agricultura brasileira tem freqüentado com assiduidade as páginas econômicas, nos últimos tempos, pelo menos através de três temas: sua contribuição ao crescimento do produto, sua posição no esforço exportador e sua responsabilidade na situação do abastecimento do mercado doméstico e no crescimento dos índices de custo de vida (BARROS & GRAHAM, 1978). O Brasil produz excessivamente soja, café, algodão, cacau, laranja, enfim, as monoculturas destinadas à exportação, produtos que, em sua maioria, não são consumidos pelos brasileiros. Por outro lado, o país produz pouco arroz, feijão e mandioca, produtos que constituem a base alimentar dos brasileiros e passaram a ser importado com dinheiro das assim chamadas divisas do superávit da balança comercial, resultante das exportações agrícolas (ANDRIOLI, 2009).
Essa é uma das formas de desigualdade que contribui para a concentração de renda nos países ricos e pobres e para o aumento da fome. Por exemplo, o Brasil é o maior produtor de café em grão do mundo. A Alemanha, país mais rico da Europa, é o maior exportador de café refinado do mundo sem produzir um único grão do produto (ANDRIOLI, 2009).
A produção para exportação pode reduzir a oferta doméstica de alimentos por dois caminhos simultâneos: uma substituição ao nível da composição da produção (cultivando-se mais soja ao invés de arroz feijão, pe) e alterações tecnológicas que privilegiam o uso intenso da terra e equipamento, reduzindo o emprego de moradores residentes e com eles as culturas de subsistência, cujos excedentes eventuais formavam uma importante parcela da oferta que chega aos centros urbanos (BARROS & GRAHAM, 1978).
A agricultura moderna é fortemente mediada pela questão da escala de produção. A mecanização intensiva pressupõe grandes áreas cultivadas que possam responder economicamente ao capital aplicado. Fertilizantes químicos, agrotóxicos e sementes geneticamente melhoradas completam o padrão tecnológico vigente, e são compatíveis com as grandes monoculturas. O conjunto sementes melhoradas e agroquímicos, no presente, é sinônimo de uniformidade genética e lucro certo, porém com maior vulnerabilidade às pragas e doenças, e, portanto, maior risco ambiental. No atual padrão produtivo, a indústria de insumos agrícolas causa graves danos ambientais, e as pressões que recebe dão indícios de alteração na sua forma de agir. Estão abertos os caminhos para mudanças na forma de produzir na agricultura (CARMO, 1998).
Segundo esta mesma autora, o rearranjo estrutural das indústrias alimentares está ocorrendo em nível mundial de acordo com as características internas de cada país, ou seja, em função do seu padrão econômico, nível tecnológico e perfil distributivo de renda o que propicia a maior ou menor incorporação de novos produtos à alimentação básica. O padrão intensivo de exploração agrícola poderá ser substituído sem ocorrer queda na produtividade, mas é mister que se invista na pesquisa agropecuária para aumentar a eficiência dos sistemas sustentáveis. É necessário um esforço da pesquisa no sentido de uma transição para uma nova agricultura, onde a manutenção e o aumento da fertilidade do solo, a preservação de outros recursos naturais e a permanência dos valores culturais das populações rurais sejam partes de um modelo de desenvolvimento com novas formas de produção e organização social. Uma exigência fundamental para a sustentabilidade é a manutenção ou a melhoria do potencial produtivo dos recursos da terra para atender às necessidades de populações atuais e futuras, concomitante com a sustentabilidade das funções vitais do ecossistema e de outros usos múltiplos da terra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção de alimentos terá de aumentar em 70% até 2050 para suprir a expansão da população mundial (FAO-Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação). Caso não sejam adotadas medidas urgentes, a entidade previu que cerca de 370 milhões de pessoas poderão passar fome daqui a 40 anos. A afirmação foi feita durante a abertura de um encontro de dois dias sobre a situação alimentar em 2050, quando a população mundial deverá ter passado dos atuais 6,7 bilhões para 9,1 bilhões. Jacques Diouf (Diretor-geral da FAO) citou as mudanças climáticas, que ameaçam reduzir o potencial de produção em algumas regiões. Na África e na Ásia, por exemplo, secas e enchentes provocadas pelo aquecimento global poderão representar uma queda na produção de 30% e 21%, respectivamente. Para que isso não ocorra, Diouf disse que deve haver um "foco especial nos pequenos fazendeiros, mulheres e famílias rurais e o acesso dessas pessoas à terra, água e sementes de alta qualidade" (REVISTA ABRIL, 2009). O padrão tecnológico está em transição, em fase de mudanças. A questão está em qual será a nova direção do progresso técnico na agricultura e se existe espaço para uma agricultura sustentável em bases científicas, com condições de competir com a agricultura convencional da revolução verde.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- ANDRIOLI, Antônio Inácio. Transgênico, produção de alimentos e combate à fome. In: Revista Espaço Acadêmico, nº 90, mensal, ano VII. Novembro/2009.
- BARROS, José Roberto M. de & GRAHAM, Douglas H. A agricultura brasileira e o problema da produção de alimentos. Dezembro/1978.
- CARMO, Maristela S. do. A produção familiar como locus ideal da agricultura sustentável. In:Agricultura em São Paulo, SP, vol. 1, nº 45, pág. 1-15, 1998.
· ESTADO DO MEIO AMBIENTE E RETROSPECTIVAS POLÍTICAS: 1972-2002, pág 64-93.
· FILHO, José Juliano de Carvalho. A produção de alimentos e o problema da segurança alimentar. In: Estudos Avançados, vol. 9, nº 24. São Paulo – SP, Maio/Agosto 2005.
· MARTINS, Calor Roberto & FARIAS, Roseli de Mello. Produção de alimentos x desperdício: Tipos, causas e como reduzir perdas na produção agrícola – Revisão. In: Revista FZVA, vol. 9, nº 1. Uruguaiana – RS, 2002.
· Produção de alimentos precisa aumentar em 70% até 2050. In: Revista Abril. Outubro/2009.
* Bacharel em Agroecologia – 6º período – IF Sudeste de Minas campus Rio Pomba
- Profº.: Maurício Novaes